quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Fitzgerald

Francis Scott Key Fitzgerald nasceu no estado de Minnesota (EUA), em 1896, numa família católica irlandesa e é considerado um dos maiores escritores americanos do século XX. Começou a carreira literária em 1920 com Esse lado do paraíso, romance que lhe deu notoriedade e espaço em publicações de grande prestígio e que em pouco tempo vendeu mais 50 mil exemplares (quantidade fantástica para a época). Seu segundo romance, Os belos e malditos, foi lançado em 1922. Fascinado pelo mundo da elite, casou com uma bela mulher da alta sociedade, Zelda Sayre, mudou-se para a França e lá concluiu seu mais célebre romance, O grande Gatsby, em 1925.

O casamento introduz na vida do escritor um componente trágico: Zelda foi internada num hospício, em 1930. Em 1934, o autor lança o que, para ele, é seu melhor romance: Suave é a noite. Alcoólatra, Fitzgerald passa por um período de ostracismo, limitando-se a escrever roteiros cinematográficos. Em 1939, inicia o seu último trabalho, O ultimo magnata, deixando-o inconcluso. Morre em 1940.

Recentemente li três dos livros de Fitzgerald: Os belos e malditos, O grande Gatsby e O último magnata. Os três têm uma característica em comum: retratam a vida de futilidades da classe alta americana nos anos 20, a glamorosa e conturbada Era do Jazz. Os belos e malditos, conta a história de Anthony Patch e sua mulher, Glória. Ele um jovem herdeiro que, diante das desconfianças do avô milionário, é obrigado a viver com uma renda restrita, mesmo freqüentando os lugares mais badalados de Manhattan. Ela, linda, atraente, bem-humorada, estilosa, culta. Considerado um romance autobiográfico, ambos vão viver o esplendor da sociedade americana embalada pelo jazz, regada a muita bebida e dinheiro.

O grande Gatsby é considerado a obra prima de Fitzgerald. Nele, o dinheiro, o poder e a estabilidade são sinônimos de felicidade para Jay Gatsby, personagem título do livro. Vivendo numa suntuosa mansão, em badaladas festas e entre mulheres estonteantes, Gatsby não consegue a única mulher que lhe interessa, Daisy, casada com um milionário egoísta e insensível. O livro retrata a recusa da maturidade, a incapacidade de envelhecer e uma obstinação: a de continuarem todos jovens e ricos para sempre.

O ultimo livro de Fitzgerald, O último magnata, ficou inconcluso e só foi terminado pelo seu amigo, Edmund Wilson, a partir das anotações deixadas pelo autor. Essas anotações deixam claro que Fitzgerald ainda trabalharia muito no texto. O livro conta a história do produtor de cinema Monroe Stahr, autoritário no trabalho, mas um indivíduo solitário na vida pessoal. Tem muitas referências às estrelas de cinema de Hollywood e seu estilo de vida. Excessos, loucuras, glamour, bebida e dinheiro são ingredientes perfeitos para Fitzgerald compor grandes obras da literatura.

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Divagações de um ateu a beira da morte

Descobri que vou morrer. Aliás, disso sei desde que nasci. Explicando melhor: descobri que vou morrer muito em breve. Tenho uma doença que me consome. E, ao contrário do que me disseram, continuo não acreditando em Deus. O que me consola é que não é a doença da ignorância. Não vou morrer ignorante! Mas vou morrer do mesmo jeito. Será que faz alguma diferença? Acho que não. O que me aflige nesse momento não é a dita doença que me consome, mas as dúvidas que alimentei durante toda uma vida e que até hoje não obtive respostas. Sei que para a maioria das pessoas parece besteira levar uma vida inteira fazendo perguntas se essa mesma maioria já tinha as respostas prontas. O problema foi que eu nunca aceitei respostas prontas, preferi pensar a crer.

Vou morrer. E o que vem depois? Tenho alma? Dizem que sim. Ela é eterna? Dizem que sim. Aí tenho uma pergunta de ordem prática: se a minha alma é eterna, como ficarão minhas roupas e meus sapatos? Minha alma calçará 38 (quando era adolescente) ou 44 (agora)? E as minhas calças? Vestirei 35, que era meu manequim aos 20 anos, ou 48, que é o meu manequim a beira da morte? Minhas roupas e sapatos ficarão folgados ou apertados? Pode parecer bobagem, mas tenho que me preocupar com meu bem estar na eternidade. Por falar nisso, a eternidade. Tenho 57 anos e, pelos prognósticos médicos, não chegarei aos 58. Quanto tempo viverei na eternidade? Mil, dois mil anos? Boa pergunta, não acham? Agora sei que morrerei dessa doença que me consome. E na eternidade? Do que morrerei? Ou não morrerei? São tantas perguntas que me falta o fôlego. Ou já será a morte se avizinhando?

O por vir me preocupa. Não por medo da ira divina (se por ventura ela existir). Mas por que o desconhecido me amedronta. Será que eu vou para o céu? Ou para o inferno? Em alguma dessas duas hipóteses, como se chega lá? Por cima? Por baixo? Todas essas indagações têm uma origem: quando era criança nunca tive um amigo imaginário, achei que não ficava bem tê-lo na idade adulta. Como conseqüência, abdiquei da fé em qualquer coisa que eu não pudesse ver, inclusive Deus. Sempre acreditei na realidade, que não desaparece quando deixamos de acreditar nela. Deus é surreal! Os peixinhos acreditam que quem troca a água do aquário é Deus. Nunca tive vocação para Vivíparo anão! O fôlego está me faltando...

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Paixão e fé na segundona

Quem me conhece sabe o quanto sou apaixonado por futebol. Não sou apaixonado apenas pelo meu time, sou apaixonado pelo esporte como um todo. É um esporte que desperta paixão e fé. Vi isso, mais uma vez, nesse final de semana assistindo à última rodada da série B do campeonato brasileiro. O Sport do Recife precisava vencer o já rebaixado Vila Nova – GO, em Goiânia. Tarefa fácil? Coisa nenhuma. Apesar do Vila ter entrado com um time reserva, o campo encharcado e vontade dos reservas dificultaram a vida do Sport. O placar foi um magro 1 X 0 para o Sport. Mas o suficiente para levá-lo à primeira divisão em 2012.

Mais emocionante do que o jogo foi ver as reações dos torcedores do Sport nas arquibancadas. Cerca de 5.000 abnegados e apaixonados torcedores acompanharam o time até Goiânia e deram um show de amor ao seu time. Era uma mistura de amor e fé de emocionar até os torcedores do Santa Cruz. Brincadeirinha. Não se brinca com rivalidades no futebol. As lágrimas se misturavam com a forte chuva que caía na cidade na hora do jogo. Orações e rezas se misturavam ao hino do clube em bocas repuxadas pelo choro de apreensão no início e de alegria no final. Terços se misturavam com bandeiras. Foi uma verdadeira mistura de amor fé. A torcida do Sport foi um espetáculo a parte.

Torci pelo Sport. Torci por que é rubro-negro como o meu time de coração, o Campinense. Torci por que é nordestino, como eu. Torço pelo sucesso dos times nordestinos, desde que não seja o grande rival do Campinense, o Treze. Já tinha torcido pela subida do Náutico para a série A. Agora foi a vez do Sport. Fiquei duplamente feliz por que não adiantou o Bragantino, principal concorrente do Sport à vaga na série A, atrasar o seu jogo. Prática deplorável ainda em voga no futebol brasileiro. Espero os dois nordestinos na série A ano que vem. Irei torcer para que façam uma boa campanha.

sábado, 26 de novembro de 2011

Mário Lago

Gosto e preciso de ti

Mas quero logo explicar

Não gosto por que preciso

Preciso sim, por gostar

(Mário Lago)

Mário lago, que faria cem anos hoje, é conhecido pela maioria pelas atuações nas novelas da Rede Globo. Mas ele não era apenas ator (e um grande ator), era também advogado, poeta, radialista, letrista, escritor e cantor. Mário nasceu no boêmio da Lapa em 26 de novembro de 1911 e viveu a época de ouro do samba e do florescimento da cultura popular brasileira no início do século XX. Filho do maestro Antônio Lago, logo depois de formado em direito e já militando no PCB, na década de 30, iniciou a carreira artística escrevendo, compondo e atuando no teatro de revista.

O primeiro grande sucesso veio em 1938 com “Nada Além”, em parceria com Orlando Silva: “Nada além/ Nada além de uma ilusão/Chega bem/Que é demais para o meu coração”. “Ai que saudades da Amélia”, em parceria com Ataulfo Alves fez tanto sucesso que “Amélia” tornou-se sinônimo de mulher submissa e dedicada aos trabalhos domésticos. Outra música de Mário Lago fez grande sucesso na voz de Carmen Miranda, a marchinha de carnaval “Aurora” (Se você fosse sincera/Ô ô ô Aurora). Apesar de dizer que preferia a televisão ao cinema, atuou em filmes como “Terra em transe” de Glauber Rocha (1967), "O Padre e a Moça", de Joaquim Pedro de Andrade (1966) e "São Bernardo", de Leon Hirszman (1972).

Na televisão, o que mais gostava de fazer, estreou em 1963, na série "Nuvem de Fogo". Em 1966, Mário Lago fez sua primeira novela, "Sheik de Agadir" da Rede Globo. Entre novelas, séries e minisséries, Mário participou de mais de 90 produções para TV. Sua última atuação foi na novela "O Clone", da TV Globo em 2001. Além da sua carreira artística, Mário dedicava-se à política. Ligado ao Partido Comunista Brasileiro (PCB) desde os tempos de faculdade de direito, em 1957 chegou a visitar a então URSS. Essa proximidade com os comunistas lhe rendeu várias prisões (1932, 1941, 1946, 1949, 1952, 1964 e 1969).

Segundo Monica Velloso, historiadora e autora da biografia Mário Lago: Boemia e política, Mário "sobreviveu" a duas ditaduras porque ele “interpretava” o tempo todo. "Ele contava que, graças as suas habilidades artísticas, era bem sucedido nos interrogatórios promovidos pelos militares. Foi o seu talento de ator e sua rapidez ao responder as perguntas que o salvaram dos momentos difíceis", revela a historiadora. Mário Lago atuou em várias campanhas políticas, como as Diretas Já. Com a volta da democracia no fim da década de 1980, passou a apoiar o PT nas eleições. Morreu em 30 de maio de 2002, aos 90 anos, de enfisema pulmonar.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

O tempo de hoje

A sociedade moderna não espera. Não há tempo a perder. Tempo é dinheiro e o dinheiro compra o tempo que não se pode perder. A velocidade nas locomoções encurta as distâncias e economiza o tempo. Não há tempo a perder. O prolixo não tem lugar, que venham os diálogos monossilábicos e objetivos. Vão-se os longos abraços com tapinha nas costas. Venham os apertos de mãos. Não há tempo a perder. O controle remoto economiza o tempo entre um canal e outro. Não há tempo para os lautos banquetes, que venham o fast food. É o tempo da comida pré-cozida e do forno microondas. É o tempo das efemeridades. É a ansiedade se sobrepondo ao desejo.

No ano de 2010, o percentual de cesarianas superou o de partos normais no Brasil. As cesáreas chegaram a 52% do total. Se observarmos somente o setor privado, esse número sobe para 80%. Para que esperar a natureza agir se podemos ir buscar a vida nas entranhas maternas? Para que esperar se podemos ir ao encontro? Um parto normal dura 8, 10, 12 horas. Uma cesárea, alguns minutos. O tempo urge. O próximo! A vida tem que ter hora para começar. Parte normal é artesanato, cesárea é linha de produção. O choro da vida tem que vir num piscar de olhos.

Pressa ao nascer, pressa para se livrar dos mortos. O luto é efêmero. O pranto é curto. Os mortos terão tempo de sobra para seus afazeres. Terão a enormidade da morte à disposição. Aos que ficam, sobra a falta de tempo. O luto era uma homenagem ao morto. Durante um período mínimo de trinta dias não se usava roupas coloridas, predominavam cores mais sombrias, ou mesmo o preto. Usava-se nem que seja uma fitinha preta no peito. Por um bom tempo não se escutava música na casa do morto. Música não combinava com o luto. Na sociedade moderna o luto é uma formalidade. O túmulo anseia pela presença do ausente. O tempo acabou.