quarta-feira, 31 de julho de 2013

Enquanto a noite não chega – Josué Guimarães

Em Enquanto a noite não chega, o escritor gaúcho Josué Guimarães aborda um tema que atormenta todos os seres humanos desde o início da sua existência: o fim da vida. Escrito em 1978, a história se passa numa cidade fictícia e gira em torno dos seus três últimos moradores: o casal Dom Eleutério e Dona Conceição e o amigo coveiro Teodoro, este último à espera da morte do casal para cumprir a sua última missão na cidade para depois partir.
Através de diálogos simples entre os personagens, onde um narrador se faz necessário para descrever as ações e sentimentos de cada um deles, o autor traça um panorama tocante, melancólico e nostálgico dos moradores da cidadezinha outrora rica e pungente. A única riqueza que restou é a memória dos tempos idos, sempre posta em dúvida pela escassez de comida e luminosidade.   

Décima obra do gaúcho Josué Guimarães, a novela Enquanto a noite não chega põe em confronto tempo e espaço, promove o encontro entre a vida e a morte, o passado e o futuro. Uma obra com as marcas registradas do escritor gaúcho: o lirismo, uma suave poesia e um final inesperado...

segunda-feira, 29 de julho de 2013

Cinema nacional: Feliz Natal

Caio (Leonardo Medeiros) tem 40 anos e é dono de um ferro-velho no interior. Durante a juventude, levou uma vida recheada de irresponsabilidade e aventuras perigosas, regada a drogas e álcool, o que o colocou em conflito com alguns membros da família e consigo mesmo. Depois de muitos anos afastado, resolve visitar a família na semana do Natal. O cenário encontrado é desolador: a mãe (Darlene Glória) é alcoólatra e viciada em barbitúricos, o pai (Lúcio Mauro) mantém uma relação com uma mulher bem mais nova e de passado duvidoso, o irmão (Paulo Guarnieri) e a cunhada (Graziela Moretto) estão com o casamento em crise.
O primeiro longa do ator Selton Melo, Feliz Natal, é uma produção de 2008 e não deixa dúvidas sobre a competência de Selton como diretor. Detalhe: Selton também assina o roteiro do filme em parceria com Marcelo Vindicatto. Além de competente como ator e diretor, Selton mostra versatilidade. Com planos rápidos e hiperaproximados, Selton não esconde a influência do diretor Luiz Fernando de Carvalho, que o dirigiu em Os Maias e Lavoura arcaica.
Deve ser destacada a atuação de Darlene Glória, que protagoniza a melhor cena do filme durante o almoço de natal em família, ao enumerar conceitos que não representam mais os valores daquela família, enquanto seus membros vão se retirando da mesa, entediados com o fato da matriarca (Bêbada e drogada) estar tocando num assunto que não interessa a ninguém. Não um filme fácil de ser assistido, cheio de dramas densos e profundos, típicos da maioria das famílias, mas vale a pena assistir.

     

sexta-feira, 26 de julho de 2013

Cauê Moura

Na semana passada, um amigo me falou de um sujeito que tinha uns vídeos escrotos no You Tube. Resolvi conferir. Não é que gostei! O sujeito tem cara de terrorista islâmico e é uma verdadeira metralhadora verborrágica. São dezenas de vídeos curtos (entre sete e nove minutos), onde ele fala sobre tudo, desde que sejam temas polêmicos. Recheados de palavrões, gírias, piadas e muitas abordagens ácidas, os vídeos disparam contra tudo e contra todos.
O sujeito em questão chama-se Cauê Moura, um publicitário de 25 anos, nascido em Jundiaí, interior de São Paulo. Cauê é responsável no You Tube pelo canal Desce a letra, que faz muito sucesso na internet, com mais de 1,5 milhão de inscritos e mais de 100 milhões de visualizações. Inclusive, o vlogueiro já ganhou um Shorty Awards no ano passado, o “Oscar do Twitter”. Cauê Moura é o que poderíamos chamar de webcelebridade, apesar dele detestar ser chamado disso.
Quem assiste pode até achar que a quantidade de palavrões e gírias é um exagero, mas é impossível não gostar da forma como ele aborda os temas, mesmo discordando de alguns pontos de vista. Em Pirâmide do fracasso, Cauê ataca os sistemas de pirâmides que se espalham pelo país e dispara: ” Todo brasileiro já ouviu falar dos esquemas da pirâmides. Metade não sabe o que é. Metade é brasileiro, que não desiste nunca de tirar proveito do próximo”. Outro petardo: “ Só tem um jeito de ficar rico com o sistema de pirâmide: Crie a sua!”.
Em outro vídeo, intitulado Mercado da fé, Cauê critica os pastores adeptos da chamada Teologia da Prosperidade. Ao final do vídeo, dispara: “A fé move montanhas...montanhas de dinheiro.” No vídeo Bandido bom é bandido morto?, ele faz duras críticas a sociedade brasileira, que discrimina até na hora de tratar os criminosos, dando mordomias “àqueles fdp de Brasília, e finaliza: Todo mundo quer ver o bandido morto, pelo menos até o bandido ser um parente seu”. Nesses casos, segundo Cauê, crime se transforma em “erro”.
A bola fora do vlogueiro foi quando ele decidiu falar sobre os protestos que varreram o país no último mês de junho. Claramente emocionado e feliz com os protestos, Cauê disse que “nunca pensei em sentir orgulho de ser brasileiro” e que “o povo acordou!”. É, Cauê, você terá que guardar seu orgulho por mais um tempo. Ao que parece, o povo levantou apenas pra fazer um xixizinho e voltou para o seu berço esplêndido...      

quarta-feira, 24 de julho de 2013

Dublinenses – James Joyce

Dublinenses, de James Joyce, foi publicado em 1914, dez anos depois de ter sido iniciado e após o autor ter sido obrigado pelo editor, Grant Richards, a fazer modificações em alguns contos do livro. Recebido com silêncio da crítica e do público, o livro se revelou, ao longo do século XX, o espelho do homem no alvorecer do século que então se iniciava. Todas as narrativas descrevem pessoas que estão em Dublin, mas poderiam está em qualquer lugar.
Ao contrário da imagem tão difundida da obra de Joyce como algo praticamente intransponível (que o diga Ulisses, Retrato de um artista quando jovem e Finnegan´s Wake) os quinze contos de Dublinenses têm uma prosa gostosa e são divididos pelo próprio autor em quatro temas: infância, adolescência, vida madura e vida pública, acabando por formar uma espécie de história moral da Irlanda, como definiu o próprio Joyce.
A inocência das crianças, cuja ausência de malícia é preenchida de forma imaginativa aparece em As irmãs, Arábia e O encontro. A juventude promissora e romântica aparece em contos como Eveline e Dois Galanteadores (esse último considerado muito obsceno pelo editor, obrigando Joyce a modificá-lo). Já a maturidade se apresenta em dois contos: Uma pequena nuvem e Contrapartida.
O conto que fecha o livro, Os mortos, serviu de base para o cineasta americano John Huston fazer seu último filme, em 1987. Um clássico de James Joyce, como todos os seus livros, só que com uma diferença: esse é acessível à simples mortais.     

segunda-feira, 22 de julho de 2013

Cinema nacional: O signo da cidade

Nunca tinha ouvido falar nem muito menos assistido O signo da cidade, mas me confesso surpreendido com o filme, que pode constar facilmente como um clássico do cinema nacional. O filme é uma produção de 2007, dirigido por Carlos Alberto Riccelli e roteirizado por Bruna Lombardi que também interpreta a personagem principal, Teca, uma astróloga que tem um programa diário numa rádio de São Paulo.
Trata-se de um mix de histórias que se entrelaçam a partir de telefonemas que ouvintes fazem para o programa de Teca contando seus problemas. As histórias dos ouvintes mostram a diversidade de sujeitos, de desejos e de sofrimentos numa grande cidade como São Paulo. Nos mostra, principalmente, o quanto a nossa sociedade é doente, recheada de infelicidades, enfermidades e dilemas.

Teca, ao mesmo tempo em que tenta resolver os problemas dos seus ouvintes, se depara com seus próprios fantasmas na pessoa do seu pai, interpretado por Juca de Oliveira, internado num hospital. A amiga da sua falecida mãe guarda um segredo que vai mudar a tempestuosa relação entre Teca e seu pai. Um filme que se mostra belo por expor os problemas de uma sociedade doente...  

sexta-feira, 19 de julho de 2013

Calypso: entre convulsões e conversões

Costumo dizer que não existe música boa e música ruim. Música é estado de espírito. Estava assistindo um vídeo de uma palestra do escritor Ariano Suassuna na Jornada Cultural de Santo André, que aconteceu no mês passado e sou obrigado a concordar com ele. Existe música ruim! Em um determinado trecho da palestra, o escritor resolveu tecer algumas críticas à banda Paraense Calypso. Podem até acusa-lo de ser elitista por desqualificar uma banda regional e sua música, mas sou obrigado a concordar com ele. A música da Banda Calypso é ruim! Não apenas a música, mas tudo na banda é ruim e de mau gosto.
O escritor levou o recorte de um jornal, cujo nome não consegui identificar, que trazia a manchete “Calypso: preferência nacional”. Olha, se a Banda Calipso é uma preferência nacional, eu tenho que descobrir com urgência onde estou vivendo. No corpo da reportagem, exalta-se a “genialidade” de Chimbinha, marido da vocalista Joelma, guitarrista e dono da banda. É... creio que pra fazer música ruim daquele jeito é necessário uma certa dose de genialidade. Uma inteligência mediana seria incapaz!
O mais bisonho foi o autor da reportagem ter afirmado que a Banda Calypso “tem uma coisa super brega que é a cara do Brasil”. Bom... eu não sou um primor de elegância, mas não sou brega. Ou será que não sou brasileiro? Me confundi todo agora... não sei onde estou vivendo e não sei de onde sou... essa reportagem me deixou em crise existencial...
A única certeza que tenho agora é que a Banda Calypso é, indiscutivelmente, a quintessência do mau gosto em todos os sentidos. As roupas parecem alegorias de carnaval (e um carnaval de péssima qualidade), as coreografias (de autoria da Joelma, se é que ela assume a culpa!) deixam os dançarinos como se estivessem à beira de um ataque epiléptico e as letras são de uma falta de criatividade apocalíptica.
Mas nem tudo está perdido: a própria Joelma anunciou que está encerrando as atividades com a Banda Calypso no final do ano que vem e que se tornará cantora gospel. Pronto! O casamento perfeito, pois pior do que a genialidade de Chimbinha, somente música gospel.        

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Frankenstein – Mary Shelley

Ao lado de Drácula, de Bram Stocker, Frankenstein, da inglesa Mary Shelley, é considerado o maior clássico da literatura de terror e está entre os maiores clássicos da literatura universal. Shelley era casada com o poeta Percy Shelley e escreveu o livro numa brincadeira entre ela, o marido e o amigo escritor Lord Byron. Era o ano de 1816 e a escritora tinha apenas 19 anos. Dos três, apenas ela terminou a sua história de terror, que veio a se tornar um clássico da literatura mundial.
O romance é narrado na forma de cartas escritas pelo Capitão Robert Walton a sua irmã, Margareth, de um lugar longínquo e frio, onde o Capitão tentava encontrar uma passagem para o Polo Norte. De acordo com as cartas enviadas a Margareth, o navio do Capitão encontrava-se preso ao gelo quando resgatou um sujeito chamado Victor Frankenstein que, alternando momentos de lucidez com lapsos de insanidades, narra a história, que é repassada a Margareth pelo irmão através das cartas.
O jovem Victor acreditando na ciência e no progresso e ciente de que poderia, através do conhecimento, romper a barreira entre a vida e a morte, cria, a partir de matéria morta, o ser que passou a ser conhecido pelo nome do seu criador. Ao conseguir tamanha proeza, o jovem Frankenstein se revelou fraco e medroso, e abandonou a sua criatura a própria sorte. A beleza do “monstro” Frankenstein está na complexidade do seu comportamento, alternando comportamentos da mais pura bondade com um sentimento cruel e vingativo, dependendo da forma como a sociedade o trata.

Frankenstein, de Mary Shelley, não é apenas uma história de terror, mas uma história de buscas, de superação, de conhecimento, de solidão.  Uma obra inquietante, que comove, que revolta e emociona. Inquestionavelmente, um clássico!    

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Cinema nacional: Embarque imediato

Wagner e sua namorada Jô deslizam pela esteira de bagagem do aeroporto e tentam embarcar cladestinamente num avião que os levará para os Estados Unidos, sonho do rapaz, mas são descobertos pela comissária Justina. É assim que começa Embarque imediato, uma produção de 2009, dirigida por Allan Fiterman, tendo no elenco monstros sagrados do cinema como José Wilker e Marília Pêra. Mas nem a presença dessas unanimidades salva o filme, que é enquadrado no gênero comédia, mas não se consegue esboçar nem o mais leve sorriso durante os 90 minutos que dura a aventura de Wagner.
Apesar de Wagner, interpretado por Jonathan Haagensen, ser o personagem principal, quem brilha é Marília Pêra, com Justina. Aliás, o filme parece ter sido feito com o objetivo de mostrar todo o talento da veterana atriz, como se isso fosse necessário. Na pele de Justina, supervisora no Aeroporto Tom Jobim, ela dança, canta e interpreta magistralmente a ex-cantora que tem um relacionamento com Fulano, interpretado por José Wilker, o proprietário trambiqueiro de uma agência de modelos gordinhas.

Para quem espera rir com uma comédia, o filme decepciona. Tudo acontece muito rápido, até mesmo para fazer piadas, e não há tempo para que a relação entre Wagner e Justina seja devidamente apresentada e solidificada. Para quem quer ver um show de interpretação, vale a pena ver Marília Pêra e José Wilker.     

sexta-feira, 12 de julho de 2013

A história de um livro

Quem gosta de animais de estimação trata seus bichinhos como se fossem humanos, parte da família. É comum bater papo com eles, contar-lhes confidências, segredos, desejar-lhes bom dia. Quem ama um cão ou um gato sabe do que estou falando. Quem coleciona também age do mesmo modo, independente do objeto colecionado, seja selo, figurinhas, carrinhos, aviõezinhos, chaveiros ou qualquer outra coisa. Ou todo mundo faz isso ou eu sou o único louco? Sendo um bibliomaníaco, é assim que ajo com meus livros. Quando os compro, cheiro-os, folheio-os, olho-os da primeira a última página e depois da última a primeira. Sem contar as conversas, trato-os como se me ouvissem e respondessem às minhas indagações. O livro, para mim, tem vida própria, sentimentos, opiniões.
Fiz todo esse preâmbulo para contar uma história que me aconteceu durante as férias, no último mês de junho. Como sempre faço quando viajo, fui à um sebo ver se encontrava algum livro interessante. Para minha surpresa me deparei com um livro que já tinha me pertencido, Reféns, de Stefan Heym, uma edição de 1943, mas com encadernação recente. Adquiri esse livro no dia 13 de abril de 1988 e li-o imediatamente. Conta a história de cidadãos tchecos que, em 1939, são feitos reféns até que a Gestapo descubra o assassino de um oficial alemão. Esse livro ficou comigo por mais de dezenove anos, quando fui obrigado a me desfazer de muitos dos meus livros, vendendo-os nesse mesmo sebo.   
Fiquei a imaginar o que pensou o livro do seu antigo dono ao ser vendido por míseros vinténs: “Ingrato! Depois que me usou, me descartou como se eu fosse nada. Percorreu cada linha das minhas páginas e depois me trocou por alguns trocados.” Seis anos após a separação, eis que me deparo com o mesmo livro, do mesmo jeito, sem rasuras, sem riscos. Fico a imaginar a sua felicidade, sorriso estampado na capa: “Eu sabia que você voltaria! Nunca perdi a esperança de voltar pra casa!” Pois é, voltou...

Ele jamais entenderá as razões por que o vendi nem o que senti ao fazer isso. Não podia manter caixas de livros na casa dos meus pais sem que eu estivesse ainda morando lá. Muito menos tinha condições de trazê-las para a nova casa, em outra cidade distante. Livros gostam de ser manuseados, folheados e, principalmente, lidos. Fiquei, insanamente, a imaginar a tristeza desse livro durante seis longos anos relegado a uma estante sem que ninguém o lesse, o folheasse, nem o comprasse para que ele tivesse a atenção merecida. Mas ele está de volta e será relido, como bem merece... espero que ele me perdoe. 

quarta-feira, 10 de julho de 2013

A noite escura e mais eu – Lígia Fagundes Telles

Lançado em 1995, A noite e escura e mais eu, de Lígia Fagundes Telles, cujo título foi inspirado num poema de Cecília Meirelles, é composto de nove contos, sete deles são contados do ponto de vista de mulheres, os outros dois do ponto de vista de um cachorro e de um anão de jardim. Nesse livro, o 12º de sua vasta produção literária e considerado a sua obra prima entre seus livros de contos, a autora volta a temas recorrentes, como a morte, a solidão, o amor e a velhice. Apostando no absurdo, Lígia mantém seu estilo intimista, mesmo quando seus personagens passeiam em ambientes sórdidos.
É o caso do primeiro conto, Dolly, ambientado nos anos 20 e narrado por Adelaide, uma jovem ingênua e conservadora, que, através de um anúncio de jornal, conhece Dolly, que quer ser artista de cinema. Em Você não acha que esfriou?, Kori, mulher rica e infeliz, se envolve com um homem que é apaixonado por seu marido.  Em O crachá nos dentes, um cachorro, maltratado no circo, assume por algum tempo a vida humana.
Em Boa noite, Maria, a paixão de uma mulher de 65 anos por um homem quinze anos mais novo expõe a crise da personagem diante da velhice e da solidão. Em O segredo, a inocência da menina que, ao jogar a bola no quintal do prostíbulo, tem um vislumbre da prostituição. Uma mulher madura que construíra um passado para si, vê esse passado colocado em dúvida pela professora decrépita que supostamente a perseguira, em Papoulas em feltro negro.
Em A rosa verde, uma órfã de pai e mãe vai viver na fazendo dos tios e, observando insetos e seres minúsculos com uma lupa, vê as semelhanças entre esses e os humanos, com suas crueldades e mesquinharias. A paixão lésbica está presente em Uma branca sombra pálida, quando uma mãe à beira do túmulo da filha, questionando-a como ela foi capaz de se relacionar com uma mulher, ao mesmo tempo em que entra numa disputa de flores com a amante da filha (a mãe leva flores brancas, a amante, vermelhas). Por fim, Anão de jardim, narrado, como o próprio título sugere, por um anão de jardim, que tudo vê e desvenda os segredos dos moradores da casa.

Impossível não ler. Se ler, impossível não gostar...    

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Cinema nacional: Estômago

Filme de estreia do curitibano Marcos Jorge, filmado em 2007 e ganhador do prêmio de melhor filme no Festival do Rio nesse mesmo ano e de outros 16 prêmios nacionais e internacionais, conta a história do nordestino Raimundo Nonato (João Miguel) que sai do interior para tentar a vida na cidade grande. De início, consegue um emprego num decadente boteco em regime de semiescravidão, mas que o faz descobrir seu imenso talento para a gastronomia. Suas habilidades culinárias transforma o então decadente boteco de Zulmiro (Zeca Cenovicz) e chama a atenção de Giovanni (Carlos Briani) dono de um restaurante italiano de classe.
A vida de Nonato começa a mudar, inclusive com o surgimento de um amor, a prostituta Íria (Fabíula Nascimento). A relação dos dois dá uma particularidade especial aos diálogos devido ao contraste do sotaque paranaense de Íria e o sotaque nordestino de Nonato. Simultaneamente, o filme mostra Nonato mais a frente na linha do tempo numa penitenciária usando seu talento gastronômico para subir na hierarquia do crime. Nesse momento, a ingenuidade e a timidez do migrante nordestino, dão lugar a ambição e a maquiavelice. Nessa parte do filme, destaque para a atuação de Babu Santana, interpretando Bijiú, “dono” da cadeia em que Nonato está preso.

Com bom roteiro, Estômago cativa pela situação do seu personagem principal, Nonato, que faz com que o espectador torça pelo seu sucesso. Em resumo: é um filme muito bom! Não é a toa que recebeu diversos prêmios em festivais nacionais e internacionais. É o tipo de filme que leva os brasileiros a se orgulharem dos novos rumos que o cinema nacional vem tomando nos últimos vinte anos. 

sexta-feira, 5 de julho de 2013

Comunicações & expressões... das antigas

Não, não é nenhuma referência aquela disciplina dos idos tempos, depois substituída pela disciplina de Língua Portuguesa. Refiro-me a expressões usadas no dia-a-dia e que, com o tempo ou por mudança de região, vão desaparecendo da nossa linguagem cotidiana, mas ficam guardadas em algum canto recôndito da nossa memória. Passei o mês de junho na Paraíba, minha terra natal e que, nos últimos dezoitos anos, só vou de férias, e tive a oportunidade de escutar palavras ou expressões que há muito não ouvia nem falava, o que me trouxe certa nostalgia.
Certa manhã estava eu numa rua do centro de Campina Grande quando ouvi um rapaz usar a expressão “mesmo que queijo”. Não prestei atenção no contexto em que a frase foi dita, mas lembro bem do seu significado, dito por mim muitas vezes quando era criança. A expressão é usada quando alguma coisa é ou está muita boa, então diz-se que tal coisa é boa “mesmo que queijo”. Expressão que, no meu caso, vem bem a calhar, pois sou apaixonado por queijo. De imediato lembrei-me de uma expressão muito usada nos meus tempos de criança: ir a um “assustado”, que era ir a uma festa na casa de alguém. Desconfio que a origem do termo está no fato de as pessoas chegarem de surpresa na casa do anfitrião, assuntando-o.
Dias depois, na casa de um amigo, entre cervejas geladas e generosas doses da boa cachaça areiense, o assunto novamente veio à baila. Como não havia ninguém com menos de trinta anos, foram “desenterradas” coisas do “arco da velha”. Falou-se em “pegar bigu”, que em tempos remotos era o mesmo que pegar carona. Outra expressão surgida na conversa foi “pebado”. Dizer que um sujeito “está pebado” é que a situação dele não era nada boa. Acredito que o termo tem relação com o peba, um animal que vive em buracos. 
Outras palavras arcaicas surgiram como “frexêro” e “tchibungo” para designar mergulho. Sem contar os produtos das antigas que não mais existem, como o refrigerante Crush e o macarrão Cimal, que não cheguei a conhecer, cujo slogan era: “Come-se bem, comendo Cimal”. Lembraram até de pitisqueiro, que era um móvel de cozinha usado para se guardar a louça e os talheres. E “Pantim”? um sujeito está com “pantim” quando ele está com frescura, manias. Existe a possibilidade de a origem dessa palavra está no francês pantin, que significa fantoche, pessoa ridícula. São muitas as expressões que se foram e deixaram saudades. Eita, tempo bom que não volta...

quarta-feira, 3 de julho de 2013

O Aleph – Jorge Luís Borges

O argentino Jorge Luís Borges é considerado um dos maiores escritores latino-americanos e sua obra inclui ensaios, poesia, contos e traduções. O Aleph, ao lado de Ficções, são suas principais obras, que caracteriza-se por histórias curtas interligadas por temas comuns, como sonhos, labirintos, religião, Deus. Li recentemente O Aleph e, mesmo correndo o risco de está cometendo uma heresia literária, atrevo-me a dizer que não gostei. Oscilei entre o enfado e a incompreensão. Ou talvez a segunda tenha motivado o primeiro...
Mas dois contos se destacam: O imortal, o mais famoso conto de Borges, e Os teólogos. O primeiro conto fala de um general romano obcecado pela imortalidade, tema explorado por Borges em suas reflexões filosóficas, mostrando a inutilidade da imortalidade para os seres humanos. No segundo conto, Borges trata com humor as discussões entre os teólogos Aureliano e João de Panonia, inclusive ao tratar da figura de Deus: “Talvez fosse oportuno dizer que Aureliano conversou com Deus e que Este se interessa tão pouco por diferenças religiosas que o tomou por João de Panonia”.

É uma leitura indispensável para se formar uma opinião sobre o autor e conhecer o estilo e os meandros do pensamento deste que foi um dos maiores escritores latino-americanos, mas não espere uma leitura prazerosa que se faz numa sentada. É uma leitura voltada para quem tem interesse em temas existenciais, humanos e divinos. Quem não se interessar por esses temas procure outra leitura...

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Cinema nacional: De pernas pro ar 2

Depois de trinta longos, mas insuficientes, dias de férias, eis-me aqui de novo. Vamos começar com cinema nacional, um filmezinho bem apropriado para férias: De pernas pro ar 2, lançado no ano passado e dirigido por Roberto Santucci, com orçamento de R$ 6 milhões (meio milhão a mais do que o primeiro filme). Filmado no Rio de Janeiro e em Nova York, é aquele filme cheio de linguagem televisiva, típico da Globo Filmes, mas para quem está de férias não deixa de ser um bom programa.
A protagonista continua sendo Alice (interpretado muito bem por Ingrid Guimarães, que sabe fazer papéis cômicos) uma executiva bem sucedida que está prestes a abrir uma filial da sua sexshop em Nova York em sociedade com Marcela (Maria Paula). O seu problema é conciliar o sucesso da vida profissional com a vida pessoal, principalmente a manutenção de seu casamento com João (Bruno Garcia).
Roteirizado por Marcelo Saback e Paulo Cursino, a continuação mantém a qualidade do primeiro filme, porém com menos sexo e mais Alice e seus dilemas para conciliar família e trabalho. Esqueça os vícios típicos dos filmes da Globo Filmes e divirta-se...