quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Uma aventura em mar revolto

Ontem fui fazer minha turnê nas estantes da livraria. Costumo fazer isso com regularidade doentia. Mas a turnê de ontem teve um elemento a mais, esse elemento se chama Ulisses, de James Joyce. Compro ou não compro? Leio ou não leio? Essa obra desperta em mim sentimentos contraditórios. Ao mesmo tempo em que me sinto atraído por ela, sinto certo receio, talvez temor. Nunca li o livro, mas já li muito sobre o livro. E, na maioria das vezes, essas leituras aumentaram meu temor. Os críticos são unânimes em afirmar que é uma leitura, no mínimo, exigente. Alguns chegam a afirmar que é inacessível a maioria dos leitores. Será? Uma das tradutoras de Joyce no Brasil, a professora Bernardina da Silveira Pinheiro, disse que, na sua tradução para a editora Objetiva, esforçou-se para que o leitor encontre em Ulisses uma propriedade que não é muito atribuída à obra: diversão. Como toda aventura, fico relutante em me jogar nela.

O que faz um livro de leitura exigente e, para muitos, inacessível, se tornar um clássico da literatura? Segundo os críticos, Joyce inovou na técnica narrativa, consolidando o que ficou conhecido como “fluxo de consciência”, o autor narra a história seguindo livremente a linha tortuosa de pensamento do personagem. Joyce não teria deixado herdeiros, sua inventividade não encontra paralelo em nenhum escritor posterior. A má noticia (pelo menos para mim) é que ele radicalizou um pouco mais em Finnegans Wake, seu último e mais complicado (se é que é possível) livro. Apesar de toda essa dificuldade pra se ler o livro, existem verdadeiros aficionados que se reúnem todos os anos, em várias partes do mundo, no dia 16 de junho, para ler partes da obra.

Já li muitos livros que são considerados clássicos. Outros tantos contemporâneos que tem tudo para se transformar em clássicos também. Todos eles com leituras acessíveis. Então me pergunto: o que faz de um livro um clássico? A inovação na técnica narrativa, mesmo que isso torne o livro uma leitura difícil? Ou quando o livro retrata de forma primorosa a época em que foi escrito mesmo com uma linguagem acessível? Fitzgerald, Hemingway, Maughan, são clássicos da literatura que tem fácil compreensão. O fato inquestionável é que Ulisses é mais cultuado do que lido. Vou continuar me preparando para essa aventura em mar revolto que é atravessar as mais de 900 páginas de Ulisses.

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