quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Silas, O Bárbaro

Não sei qual a violência maior: se o conteúdo dos 600 outdoors espalhados pela cidade do Rio de Janeiro pela Igreja Assembléia de Deus, que você vê na foto ao lado, ou a atitude de cinco playboys na Avenida paulista ao agredir três rapazes por que os julgou homossexuais. Não sei também os motivos pelos quais o assunto (homossexualidade) deixa o pastor Silas Malafaia tão exaltado, a ponto de disparar tantos desatinos. Desconfio, mas não ouso falar. Talvez a psicanálise explique. Como forma de atacar os homossexuais, os outdoors exibem a frase: “Deus fez macho e fêmea”. Deus também fez mais de um tipo de ignorantes. Um deles anda sempre com a Bíblia debaixo do braço e apregoa que ela é a única fonte de sabedoria e somente ela deve nortear o comportamento humano. Para a infelicidade desse tipo de ignorante, o Brasil é um país laico e o que norteia a vida do cidadão brasileiro é a Constituição.

Recentemente, ao comentar o Projeto de Lei Constitucional 122, que prevê a união entre pessoas do mesmo sexo, o pastor Silas foi de uma grosseria e de uma desfaçatez que não se espera de um líder religioso. Afirmou que, se era para chancelar o “vale tudo”, que se colocasse na lei a relação sexual com animais e cadáveres. Será que o desequilíbrio do pastor leva-o a pregar suas idéias para animais e cadáveres? Será que ele sobe ao púlpito de sua igreja e dirige pregações para cães e defuntos? O Projeto de Lei trata da vida de cidadãos brasileiros vivos e, por mais que o pastor não concorde com o seu conteúdo, não se justifica tal grosseria. No início do ano, o pastor Silas Malafaia compareceu ao Programa do Ratinho, no SBT, para discutir o mesmo assunto. Disse que a lei criminaliza a opinião. Chegou mesmo a falar numa “ditadura gay”. Num Estado Democrático de Direito a opinião é livre, desde que não seja ofensiva. O sujeito pode não gostar de evangélicos, mas não pode pregar o extermínio de todos aqueles que aos domingos vestem o terno com cheiro de naftalina, colocam aquele calhamaço de bordas douradas debaixo do braço e vai para a igreja gritar como se Deus fosse surdo. O direito a fé é garantido na legislação brasileira. Como é também o direito a sexualidade!

Se falarmos em “ditadura gay” no Brasil por causa d PLC 122, poderíamos falar também em “ditadura das crianças” ou “ditadura dos idosos”, já que existem leis específicas que protegem a criança e o idoso. E o que falar das mulheres? Vivemos uma “ditadura de saias”? Afinal temos a Lei Maria da Penha que protege a mulher vítima de violência doméstica. É obrigação do Estado proteger todos os setores da sociedade que sofrem algum tipo de violência e não tem como se defender, como é o caso de crianças, idosos, negros, mulheres e, para desespero do nobre pastor, os homossexuais. No mesmo programa, o pastor Silas, quando questionado pelo apresentador se a homossexualidade é genética, afirmou que só há dois genes: macho e fêmea. “Ninguém nasce homossexual. Homossexualismo é comportamental.” A sexualidade, como a fé, é algo pessoal. Ninguém escolhe a sexualidade. As pessoas simplesmente são homo, hetero, bi, trans ou qualquer outro nome que se dê. Como também ninguém escolhe se vai ter fé ou não. As pessoas simplesmente têm ou não tem. Sexualidade não é opção. Ninguém opta por uma sexualidade que vai levá-la a ser alvo de chacotas e agressões físicas, a sofrer discriminação na hora de procurar emprego, na escola e até mesmo no seio da família. Mas é obrigação da sociedade e do Estado proporcionar a felicidade e o bem estar a todos, independente de sua fé ou sexualidade. Quanto ao pastor, será que Freud explica?

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Geisy Arruda e o presente de grego

Geisy Arruda não se enquadra naquele estereótipo de que “toda loira é burra”. De burra ela nada tem. Ela tem tirado proveito da efêmera fama. Ela é aquele tipo de celebridade que surgiu do nada, nada sabe fazer e, muito provavelmente, para o nada voltará. Para quem não lembra, Geisy é aquela moça que foi achincalhada por cerca de 800 idiotas descerebrados nas dependências da Universidade Bandeirantes (Uniban), em São Bernardo do Campo (SP), apenas por ousar ir às aulas com um indefectível micro vestido cor de rosa. Desde então, a loirinha tem tentado tirar o máximo de proveito da situação. Perdeu 15 quilos dos 80 que tinha através de uma lipoaspiração completa, turbinou os seios com 435 ml de silicone, cobrou R$ 100 mil para posar nua para uma revista masculina e cobra R$ 5 mil para comparecer em festas ou casas noturnas.

Ela está certíssima! É necessário aproveitar as (poucas) oportunidades que surgem. Apesar do pouco talento “artístico”, Geisy dá mostras de que sabe administrar essa oportunidade surgida: investe boa parte do que ganha em ações, patenteou o nome e registrou uma empresa. Depois de participar do reality show “A Fazenda”, da Rede Record, Geisy resolveu lançar a sua biografia, chamada “Vestida para causar”. Difícil é achar algo suficientemente interessante nos 20 anos de vida da loira além do fato dela ter posado nua em pêlo. Comentário de Fernando Morais, escritor de quatro biografias: “O fato de essa moça ter vivido uma situação de intolerância segura uma reportagem, e só. O meu dinheirinho ela não levará”.

Mas o presente de grego a que se refere o título do texto não é a Geisy Arruda. Enquanto lia sobre a loira fatal, o telefone tocou. Ao atender, escutei a voz inconfundível de uma atendente de Call Center: era de uma editora. A moça, educadíssima, me falou que eu tinha um “prêmio” para receber por ter pontuação máxima no meu cartão de crédito. Ela relacionou várias revistas que eu receberia por 15 meses. O meu “investimento” seria apenas para cobrir os custos do envio. Esmola grande, cego desconfia! Curioso, perguntei de quanto seria meu “investimento”. R$ 5,70 por exemplar recebido, disse-me a moça. No total, eu teria que “investir” R$ 85,50 ao fim dos 15 meses. Como a revista custa na banca R$ 9,90, o “prêmio” a mim oferecido foi de R$ 63,00. O “investimento” era maior do que o “prêmio”. Essa é de causar inveja em grego...

domingo, 30 de maio de 2010

Amor verdadeiro

- ...?
- Não! Meritíssimo. Isso e impossível. Essa mulher é a prova da existência do demônio. Portanto , a reconciliação é impossível.
- ...?
- Vou começar do começo para o senhor entender. Quando conheci essa mulher, ela era uma mocinha jeitosa, tinha a inteligência de dançarina de programa de auditório, mas jeitosa...
- ...?
- Meritíssimo, sabe aquela história de que se todo mundo quer eu também quero? Pois é... Mas vamos em frente. De tanto insistir consegui namorá-la, mas nunca fui às vias de fato por que ela não deixava, se dizendo virgem. O primeiro problema aconteceu oito meses depois com o nascimento do primeiro filho, o Juninho...
- ...?
- Não, meritíssimo, o senhor não entendeu errado, foram oito meses para nascer o Juninho. Fiquei desconfiado, mas olhava para aquela cara de anjo e não achava que ela fosse capaz do que eu estava desconfiando. Quis acreditar que era mais um capricho da natureza. O segundo problema foi o fato de ela fazer questão de registrar o menino com o meu nome.
- ...?
- Por que? Sei não, doutor, mas acho que as adúlteras gostam desse nome que é para mostrar para todo mundo, menos para o mais interessado, que ela sabe quem é o pai da criança; ou que, pelo menos, que ela sabe quem vai registrar o menino. Para encurtar a conversa e me desculpando a expressão, Junior é nome de filho de corno!
- ...!
- Perdão meritíssimo. Mas a vida continuou. Todos os dias eu saía para trabalhar e ela ficava em casa assistindo novelas e filmes ou lendo revistas de fofocas. Pelo menos eu acreditava nisso! Uns dois anos depois do nascimento do primeiro filho, nasceu uma criança linda, uma menina. Apesar dos comentários das minhas irmãs de que a menina não tinha nada de mim, eu a amava. Se bem que elas não estavam totalmente erradas. A garota era a cara do padrinho do meu filho mais velho.
-...?
- Continuei, meritíssimo. O ser humano é um animal estranho. Quanto mais eu me sentia traído e tinha quase certeza disso, mais eu queria essa mulher. Eu só não queria que todo mundo ficasse sabendo, me apontasse na rua como corno. Ser corno tudo bem, desde que os outros, principalmente os amigos, não ficassem sabendo.
- ...?
- A saída? Eu fiz um pacto com ela: aceitaria todas as traições dela desde que eu não ficasse sabendo.
- ...?
- Para minha surpresa ela ficou indignada, ofendida até por eu fazer tão mau juízo dela. O que estava pensando eu dela? Uma vagabunda? Uma qualquer? Não! Ela era uma mulher honesta, uma mãe de família! E para provar tudo isso resolveu se converter. Se tornar a mais devota das mulheres. O grande problema era que as provas do crime, digo, do chifre, continuavam lá em casa: as crianças com a cara dos pais, sejam eles quem forem.
-...?
- Mudou por um lado. Ela parecia honesta, andava para cima e para baixo com a Bíblia debaixo do braço, pregando para quem quisesse ouvir e para quem não quisesse também. Pelo menos disfarçou os chifres...
- ...!
- É doutor, chifres. Agora eu não levava mais chifre com o padeiro, com o carteiro, com o vizinho, com o colega de trabalho, de barzinho e com quem mais aparecesse. Agora era um chifre abençoado. A partir de agora eu ia levar chifre com o pastor, o obreiro, o devoto, o segurança do Templo e quem mais aparecesse nesse ambiente santo da igreja. Só escapou Jesus Cristo por que morreu a dois mil anos e aí já era demais levar chifres até com defunto...
- ...!
- Perdão, meritíssimo, pela heresia.
-...?
- Tem volta, não, meritíssimo. Na rua todo mundo já sabe de tudo. Fica difícil para mim. Já disse pro senhor: ser corno vá lá. Desde que o povo não fique sabendo.
- ...
-Qual?
-...
-Bom, doutor, pensando melhor, acho que dá pra segurar os chifres sim. Se é pra pagar um mundo desse de dinheiro de pensão, é melhor agüentar chifre. Levar chifre de graça dói um pouquinho. Mas pagar pra levar chifre, a dor é dupla: na testa e no bolso.
-...?
- Pensando melhor eu amo essa mulher. Eu não sei viver sem ela. Mesmo por que sem ela meu dinheiro vai embora todinho com a pensão. Como vou viver? Passar bem, doutor.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Olhos Azuis

Aline tinha cerca de vinte anos e era de uma beleza que chamava a atenção. Morena, não poderia ser considerada baixa e tinha um corpo de dá soluço em sapo. Gostava de sair. Na sexta e no sábado a noite saía com as amigas para os bares e boates da moda. Conhecia muitos rapazes da sua idade e, não raro, alguns se apaixonavam pela morena de belos olhos castanhos. No domingo, Aline freqüentava a praia. O mesmo setor com as mesmas amigas. Chegava por volta das dez, bronzeava-se, tomava banho de mar, conhecia belos rapazes, almoçava e, no mais tardar ás quatro da tarde, já estava em casa.
A bela morena Aline levava uma vida típica de qualquer jovem da sua idade: baladas, praia, namoricos inocentes (outros nem tão inocentes assim). Numa bela e ensolarada manhã de domingo na praia, Aline vê, de longe, aquele belo moreno de quase 1,90m e corpo definido jogando futvôlei. Fica louca.
- Quem é aquele ali? – pergunta excitadíssima á Luana, sua colega de praia e farras.
- Não conheço, amiga – responde Luana, com certa excitação indisfarçável na voz – Mas gostaria de conhecer.
- Não vem não, que eu vi primeiro. – Faça Aline em tom de brincadeira, mas falando a sério.
De imediato, Aline começa a espreitar a sua “presa” até provocar um esbarrão no quiosque de água de coco.
- Ops! Desculpa. – fala Aline, simulando um acaso.
- Sem problemas, gatinha! Eu que me desculpo pelo esbarrão – respondeu o belo exemplar de homem, pegando, de imediato, na mão daquele também belo exemplar de fêmea. –Aproveitando a oportunidade...qual o seu nome?
- Aline. E o seu?
- Rodrigo. Prazer, Aline.
- Prazer todo meu, Rodrigo – derreteu-se Aline.
Os três dias seguintes foram de paixão arrebatadora. Aline e Rodrigo não se largavam. Dormiam juntos, almoçavam juntos, à noite iam ao cinema ou jantavam juntos. Os dois grudaram um no outro durante esses três dias. E durante esse período, Rodrigo desenvolveu uma verdadeira obsessão pelos olhos da amada.
- Sou fascinado pelos seus olhos - Derramava-se Rodrigo. – São de um azul sedutor.
Aline derretia-se diante do elogio. E Rodrigo vivia a repetir:
- Amo os teus olhos. Nunca vi olhos azuis mais belos. Nem verdes também – apressava-se a dizer, achando graça onde somente os apaixonados conseguem achar.
- Os teus olhos me fascinam. – Não cansava de repetir o apaixonado Rodrigo.
Às vezes a obsessão de Rodrigo pelos olhos azuis de Aline beirava a indelicadeza e a injustiça com a beleza estonteante da morena:
- A sua beleza reside nos seus olhos
Aline começou a ficar preocupada com essa obsessão. Ela sabia que tinha o rosto muito bonito e o corpo mais ainda. Ela também sabia que por onde passava chamava a atenção dos homens e (por que não dizer?) das mulheres. Então, por que Rodrigo desenvolvera essa fixação apenas pelos seus olhos? Mas a paixão falou mais alto e Aline resolveu curtir aquele amor.
- Amorzinho, vou fazer uma viagem na quarta a trabalho e volto em dois dias. È rapidinho! Volto assim que terminar o que tenho que fazer. – Falou Rodrigo, já sentindo saudades da sua amada de olhos azuis.
- Tá bom, querido. Eu te vou esperar você. - Respondeu Aline, também já sentindo saudades do seu Zeus.
Conforme havia falado, Rodrigo viajou na quarta à noite. Aline ficou com a saudade. Porém, por mais apaixonada que estivesse, não conseguia ficar fora de uma boa farra com as amigas, e a sua tristeza durou somente 24 horas. Na quinta à noite, a apaixonada Aline resolveu sair com as amigas. E foi nessa noite que aconteceu algo, quase uma tragédia que poderia pôr em risco o seu namoro como Rodrigo e que a levou, desesperada ao consultório do Dr. Abreu, seu oftalmologista.
Após duas angustiantes horas esperando a sua vez, finalmente Aline entra no consultório.
- Dr. Abreu, preciso desesperadamente da sua ajuda – Falou Aline com olhos de súplica.
- Pois não, minha filha. Em que posso ajudá-la? – Se dispôs Dr. Abreu, na sua infinita paciência.
Aline contou toda a sua história de amor com Rodrigo e da sua obsessão pelos seus olhos azuis. Falou do que sentia pelo seu amado e de quanto gostava dele.
- Fico feliz por você minha filha. Mas qual é o problema e como posso ajudá-la?
- É o seguinte, doutor: eu não tenho olhos azuis! E perdi a lente de contato do olho direito ontem numa boate ao lavar o rosto na pia do banheiro. E Rodrigo chega hoje à noite. Somente o senhor pode salvar o amor de Rodrigo pelos meus olhos azuis...

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Eu não sou pedófilo!

Eu sou pedófilo! Você também é pedófilo, não faça esse cara de espanto. Nós somos todos pedófilos. Pobres crianças. Mal colocam suas cabecinhas para fora do útero, deparam-se com tarados depravados inclementes, ávidos por sexo com impúberes. E entre esses tarados estou eu! E você, claro. No consultório médico, o pré-natal é uma preparação para abusos futuros. Na escola, desde as séries iniciais, as crianças são assediadas por professores. Nas ruas, pirralhos ouvem fiu-fiu por onde passa. A revista Playboy colocará na sua capa a apresentadora mirim Maísa nua em pêlo para êxtase dos insaciáveis pedófilos. A Rede Globo fará o BBB 11 somente com meninos e meninas de, no máximo, 12 anos, aparecendo exibindo-se em roupas minúsculas e dando beijos escandalosos uns nos outros.
Será assim a sociedade a que se refere o Arcebispo de Porto Alegre dom Dadeus Grings? Na 48ª Assembléia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil ele falou: “A sociedade atual é pedófila, esse é o problema. Então, facilmente as pessoas caem nisso. E o fato de denunciar isso é um bom sinal.” Dom Orani João Tempesta, porta-voz da 48ª Assembléia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil e arcebispo de Rio de Janeiro apressou-se em dizer que a CNBB não compartilha da mesma opinião que dom Dadeus.. E que nem ele concorda com a idéia de que “toda a sociedade é pedófila”. No entanto, salientou que o colega gaúcho foi mal interpretado.
Cada pessoa quer que o mundo seja igual ou pelo parecido com ela ou com suas idéias e comportamentos. Então é comum ver homossexuais afirmarem em tom de brincadeira ou com convicção que “o mundo é gay”. Os loucos “puxam a sardinha” para o seu lado afirmando que “de médico e louco cada um tem um pouco”. Eu não sei se esse é o caso da Vossa Santidade que atribuiu a toda a sociedade um comportamento reprovável presente em alguns dos seus colegas de batina. Da mesma forma que não podemos imputar a toda a sociedade um comportamento presente em alguns, também não podemos fazer o mesmo com relação à Igreja. O que posso afirmar com certeza absoluta é que eu não sou pedófilo e conheço inúmeras pessoas que também não são.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Polêmica desnecessária

A nudez da atriz Malu Rodrigues (na foto ao lado), de 16 anos, no musical “O despertar da primavera” gerou polêmica. O Ministério Público de São Paulo e do Rio de Janeiro estão apurando se os responsáveis pela peça infringiram o artigo 240 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que considera crime “produzir, reproduzir, dirigir, fotografar, filmar ou registrar por qualquer meio, cena de sexo explícito ou pornográfica, envolvendo criança ou adolescente”. Segundo a atriz, “é uma peça poética” e ela só mostraria o seio direito em uma cena rápida que fecha o primeiro ato.
O pai da jovem afirma que, em nenhum momento nos dez meses em que a peça está em cartaz, ninguém saiu chamando a moça de “gostosa ou piranha”. Cacá Rosset, ator e diretor de teatro, disse que a obra “discute o despertar da sexualidade de forma extremamente poética”. A atriz Flávia Monteiro (que fez cenas de sexo aos 14 anos no filme “A menina do lado”, em 1986) chama a atenção para o contexto em que a jovem expõe o corpo. “Estamos falando de uma atriz que está fazendo isso (mostrando o seio) no palco. Não está se prostituindo. Não está sendo violentada”, falou a atriz.
Poético ou pornográfico, o fato é que é uma polêmica inútil e desnecessária. O pai da atriz não deixa de ter razão. Se a jovem estivesse mostrando os seios e algo mais numa casa noturna, o contexto seria outro e justificaria a investigação por parte do Ministério Público. Sem contar que a polêmica carrega consigo uma contradição e uma hipocrisia sem tamanho. O jovem de 16 anos pode votar; o jovem de 16 anos quer dirigir; a sociedade quer que o jovem de 16 anos responda criminalmente pelos seus atos (antecipação da maioridade penal). Então, por que o jovem de 16 anos não pode posar nu ou fazer sexo (pago ou gratuito)? Fica a pergunta.

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Casal perfeito

Tales estava casado com Nildinha há três anos. Eram apaixonadíssimos. Todos os meses, no dia 23 comemoravam o aniversário da relação, que começara nesse dia de agosto cinco anos antes.
Trocavam presentes e iam comer uma pizza num mês, no outro iam ao cinema, às vezes iam a um motel, como naquele dia.
- Te amo, meu amor – declarara Tales depois de fazer amor com Nildinha.
- Também te amo, minha vida – devolvera Nildinha mais do que apaixonada.
- Mas tá na hora de irmos. Ainda temos que passar na casa da sua mãe. Lembra?
Nildinha fez um muxoxo, mas foi obrigada a concordar. Tinham que ir.
Quando já estavam dentro do carro, manobrando para sair do motel, Tales avista um carro que pareceu-lhe familiar. Era o carro do Gustavo, colega de trabalho.
Conhecendo o amigo, Tales achava impossível que ele estivesse com a sua mulher no motel. Muito provavelmente estaria com um das suas inúmeras amantes ocasionais. Por causa disso, Nildinha não simpatizava nem um pouco com o Gustavo. Tales resolveu aprontar uma com o amigo.
- Nildinha, vou ver se o carro tá aberto e vou tirar o som.
- Para com isso, Tales!! Brincadeira sem graça – Reprovou Nildinha, que por não gostar de Gustavo, não queria esse tipo de intimidade do seu marido com o amigo.
- É só uma brincadeirinha, amanhã eu devolvo.
Pé ante pé, Tales se aproximou da garagem do quarto onde o carro de Gustavo estava estacionado e, para sua surpresa, o carro estava aberto. Tales desconectou os fios do som e o retirou.
Iria dar um grande susto no amigo!

* * *

Gustavo era o que podíamos chamar de fanfarrão. Casado com a Patrícia, tinha uma amante em cada esquina. E adora contar aos amigos as suas aventuras amorosas.
As esposas dos amigos não gostavam dele e o criticavam por isso, uma vez que a Patrícia era uma esposa exemplar, que vivia para o marido e para os dois filhos do casal. Uma verdadeira Amélia. Nada se sabia que a desabonasse.
Sem contar a beleza. Morena alta, de longos cabelos negros, olhinhos amendoados e corpo escultural, chamava a atenção dos homens por onde passava, recebia elogios até mesmo dos amigos do Gustavo. Claro que às escondidas.
E Gustavo, apesar das peripécias amorosas, não escondia o orgulho que sentia ao andar ao lado da Patrícia. Sendo ele mais baixo poucos centímetros do ela e não tendo a beleza que ela tinha e ainda assim tendo amantes, o gozador não perdia uma oportunidade de tirar sarro com os colegas:
- Pior do que ser infiel é ser fiel a mulher feia! – Tripudiava Gustavo, numa referência a Glauco, colega de trabalho, cuja esposa entrara na fila de feiúra algumas dúzias de vezes. Essas brincadeiras provocavam alguns risinhos constrangidos nos colegas.
Mas naquele dia Gustavo chegara com aquela ruga de preocupação na testa. Mesmo percebendo a ruga, Tales já se preparava para soltar uma piada com o colega sobre o som roubado na véspera:
- E aí, Gustavão...- Começou Tales.
- Cara, você não acredita... - falou Gustavo.
- o que foi, meu? – Perguntou Tales, preocupado com a cara que o Gustavo fazia e com aquela ruga enorme entre os olhos.
- Tomei um prejuízo ontem.
Tales se contorcia de rir por dentro, esperando o momento certo pra fazer a brincadeira.
- A patrícia foi estudar ontem na casa de uma colega de faculdade e roubaram o som do carro.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

De Gutemberg a jobs

No início do mês, a Apple lançou, nos Estados Unidos, o iPad, um misto de notebook, leitor de livros digitais e terminal móvel de acesso à internet. Estima-se que 1 milhão de unidades serão vendidas até junho. De imediato, perguntou-se se isso representaria o fim do livro impresso. Desde a invenção da prensa móvel, no século XV, pelo alemão Johannes Gutemberg(ou até mesmo antes dele, uma vez que o livro já existia, só não era impresso), que o livro de papel enfrenta desafios e, no entanto, não se extinguiu. No século XIX, surge a revista, cujo mercado se expande violentamente no século XX. Ainda no final do século XIX, surge o rádio, que também se expande no século XX. É também no século XIX que surge o cinema e que também se expande no século XX. E o que falar da internet? Muitos decretaram a morte do livro de papel! Outros chegaram a encomendar a missa de 7º dia.
Acredito firmemente que, apesar do lançamento do iPad, não será dessa vez. Esse representará mais um desafio ao livro de papel. Juergen Boos, diretor da Feira de Frankfurt, o maior e mais importante evento do mercado mundial de livros, afirmou que “há uma forte conexão física entre o leitor e o livro”. Concordo plenamente com ele!! A relação entre o amante da tecnologia e o produto é efêmera, fria, interesseira, pragmática. O individuo acessa a internet em busca de uma informação rápida que atenda a seus interesses mais imediatos. Alcançado o objetivo, ele de imediato desconecta-se. É uma relação sem cheiro, sem tato, sem ritual.
A relação entre o leitor e o livro é completamente diferente. É ritualística! O bibliófilo entra numa livraria ou numa biblioteca como quem entra num templo. O contato com o livro é mágico, envolve três sentidos: olfato, tato e visão. Não basta apenas ler! Tem que sentir o cheiro do livro. Folheá-lo página a página, como se fosse um baralho, provocando aquele ventinho que trás o cheiro de papel nariz à dentro. O amante do livro não compra um livro apenas para ler. Ter o livro em sua estante, mesmo sem nunca lê-lo é o suficiente. Ter uma obra rara, autografada pelo próprio autor já é um sonho, alcançado por poucos. O outro motivo pelo qual o livro não sucumbirá diante das novas tecnologias é mais prosaico: livro vende. Prova disso são os novos títulos lançados diariamente pelas editoras. Prosaico ou nobre, o importante é que não faltam motivos para que o livro continue o mesmo, com ou sem tecnologia.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

O mérito

O ex-ministro do governo FHC e atual secretário da Educação do estado de São Paulo, o economista Paulo Renato Souza, concebeu e a Assembléia Legislativa aprovou, um plano de carreira para os professores inteiramente baseado na meritocracia. O ex-governador de Minas Gerais e candidato ao senado Aécio Neves, estabeleceu metas para todos os servidores, que receberão uma remuneração extra caso essas metas sejam alcançadas. Apesar da sutil diferença, em ambos os casos impera o sistema meritocrático. Ninguém com um mínimo de sensatez (que parece que está faltando aos sindicatos) será contra a meritocracia no serviço público, mesmo por que todos ganham, do servidor á população. No entanto, a meu ver, existe uma discussão que antecede a questão da meritocracia, que é a formação do profissional. É impossível falar em avaliação ou mérito sem antes falarmos sobre a formação do profissional que será avaliado e, se merecer, terá vantagens na carreira. Vejamos o caso a educação.
Muito me preocupa a qualidade dos professores no Brasil. Muitos dos profissionais que hoje estão em sala de aula, ali estão menos por vocação do que por falta de opção. Muitos candidatos prestam vestibular para cursos da área de educação por medo de não serem aprovados em outros cursos. Vão ficando por ali e, quando menos se espera, estão em sala de aula. Em outras palavras, o aluno medíocre do ensino médio se torna, por falta de opção, o professor despreparado que irá ensinar a jovens que serão igualmente medíocres e, muito provavelmente, entrarão num curso de educação por que não conseguem algo melhor para fazer. Isso vira um circulo vicioso. Portanto, a primeira coisa a ser feita seria tornar os cursos da área de educação atraente para bons alunos do ensino médio. Como fazer isso? Pagando bons salários, melhorando as condições de trabalho e dando possibilidades de ascensão dentro da profissão.
Infelizmente a tendência aponta para o lado oposto. A muito custo, a categoria conseguiu um piso nacional miserável de pouco mais de mil reais, que levou três anos para entrar em vigor (esmola pré-datada) e que alguns governadores brigam na justiça para não pagar (enquanto no Judiciário algumas categorias brigam para ganhar além do teto de R$ 24 mil). As condições de trabalho nas escolas são aviltantes, com a violência imperando, seja contra professores ou entre os alunos, sem contar as salas lotadas e quentes. Como aprender ou ensinar em tal ambiente? Prefeituras e estados oferecem cursos de pós-graduação grátis para capacitar os educadores. Ebaaa! Mas são aos sábados e domingos. É querer demais sair de sala de aula para estudar. Observo a cada dia que aumenta o número de professores que acusam problemas de saúde, os mais freqüentes são a depressão, a síndrome do pânico e problemas na garganta. Infelizmente, quem está na escola está só!! A legislação amarra as ações da escola na relação com o aluno, o poder público tem tratado o profissional da educação como uma escória e a sociedade, a despeito dos discursos sobre a importância da educação na vida de todos, na prática não acompanha o desempenho dos seus filhos em sala. Dessa forma não há mérito mesmo.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

O escândalo nosso de cada dia

Desconfie de alguém excessivamente religioso. Não interessa qual a religião. Qualquer pessoa que demonstre uma religiosidade exacerbada não é digna de confiança. Toda generalização corre o risco de cometer injustiças. Mas mesmo assim, não confie. Se você conhece alguém que coloca Deus em cada frase e vomita passagens bíblicas tenha certeza que é autoafirmação ou enganação. Jamais convicção! A minha desconfiança se baseia na discrepância entre o discurso e a prática dessas pessoas, que condenam em público o que fazem em âmbito privado, condenam nos outros o que eles mesmos fazem às escondidas. A religiosidade é algo íntimo, que se manifesta no âmbito privado, sem necessidade de mostrar, a qualquer custo, o quanto se é religioso aos demais.
Os escândalos recentes na Igreja Católica não serão os primeiros nem os últimos. A gravidade dessa vez é que está chegando perigosamente perto da figura do Sumo Pontífice. O Papa, que já pediu desculpas aos americanos e aos irlandeses (dizem as más línguas, que os próximos serão os marcianos) pelos abusos praticados por membros da Igreja nesses países, está vendo o seu nome se aproximar do abismo. Apesar da retórica expiatória de Ratzinger, hoje sabe-se que nos anos 70, quando era arcebispo de Munique, e nos anos 90, já prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, protegeu padres pedófilos ou, na pior das hipóteses, se omitiu diante de casos de pedofilia. Entre 2001 e 2010, a Congregação para a Doutrina da Fé recebeu 3.000 denúncias de abusos sexuais contra padres. Apenas 10% culminaram na expulsão do padre dos quadros da Igreja.
Todo esse escândalo deixa os evangélicos brasileiros felizes como urubu na carniça. A Rede Record fez questão de mostrar uma extensa reportagem, no último domingo, no programa Domingo Espetacular, detalhando caso por caso. É o sujo falando do mal lavado! A Igreja Universal, controladora da Rede Record, coleciona escândalos sexuais, financeiros, políticos, entre outros. Outras denominações religiosas vão no mesmo caminho. Uma dissidência da Universal, a Igreja Mundial do Poder de Deus, liderada por um ex comandado de Edir Macêdo, Valdemiro Santiago de Oliveira, coleciona casos escabrosos de milagres e até, pasmem, ressurreição. Pois é, o cara de pau afirma que já ressuscitou um homem. Mas ele é um cara de pau modesto. Afirma que o falecido só voltou do além por que era um homem de fé. Milagre mesmo é se conseguirmos nos livrar desse povo...

terça-feira, 30 de março de 2010

Mudanças

Os meus pertences estão espalhados pelo apartamento. Ainda não parei para pensar por onde vou começar a arrumação. Se para desarrumar demorei uma eternidade, para arrumar vou levar duas eternidades. Lembro-me que duas semanas antes da mudança, já tinha começado a encaixotar livros, CD’s, documentos e aqueles pequenos objetos que imaginamos que não ocupa espaço, mas nessas horas toma todo o nosso tempo. O antigo apartamento era pequeno, mas a forma como os cômodos eram distribuídos tornava-o aconchegante. Ainda possuía como atração extra: um inferninho (dizer “puteiro” seria deselegante) que o capeta não freqüentava por medo de ruborizar. Lá conheci a Lídia. É interessante como a mudança geográfica promove transformações no meu comportamento. Antes de ir morar no apartamento próximo do inferninho, namorei a Sarah, que era quase uma figura bíblica em termos de pudor. Achava-a perfeita. A mudança para as proximidades do inferninho mudou tudo (não por culpa do inferninho). A Lídia, funcionária mais graduada da casa dos prazeres, passou a ser o modelo de mulher perfeita.
Mudar de endereço faz com que eu mude de comportamento, de estilo de vida. Isso me intriga. Lembro-me que em uma das minhas moradias adotei o estilo misantropo. Saía de casa somente o necessário. Os amigos estranhavam. Eu, que na sexta a noite convocava todos para uma sinuquinha e depois uma passada nos melhores ambientes da cidade, de repente me enclausurei. Mas foi uma fase boa. Estar só é como caminhar em direção de si próprio, faz bem como terapia para o autoconhecimento. O problema é que até hoje não me conheço. Nesse período de recolhimento li todos os livros do Borges, conheci as poesias de Florbela e Neruda e cheguei à conclusão que poesia é muito chato. Tentei aprender a cozinhar e concluí que restaurante é uma das coisas mais úteis do mundo moderno. Assisti a todas as novelas, mas somente do meio para o fim. Início de novela é sem graça. Assisti a todas as partidas de futebol, inclusive o campeonato francês, que é tão chato quanto o idioma, tem sempre o mesmo campeão.
Agora novo endereço, novo apartamento. Que máscara colocarei? O que irá influenciar os meus dias? Tenho algumas pistas. Além da nova moradia, claro. Andei observando o material humano das redondezas e muito me chamou à atenção uma vizinha evangélica de ancas tanajúricas. Observo nela um falso pudor. A lascívia parece espernear dentro dela, lutando parar sair aos gritos. O figurino saias longas, cabelos compridos, voz e gestos contidos não combinam com um risinho de canto de boca que fala bem mais do que palavras. Sinto que aquela Bíblia, com capa de couro Preta, fechada a zíper, com a inscrição “Bíblia sagrada” em letras douradas, pesa muito mais do que um livro qualquer de capa de couro preta. O medo do inferno tem falado mais alto do que o desejo de ser o próprio capeta. Chego à conclusão que os meus próximos meses serão na Igreja...

segunda-feira, 29 de março de 2010

O pré-sal e os royalties

Eu comparo a briga dos estados produtores de petróleo pelos royalties do pré-sal a disputa dos filhos pela herança ainda com o pai vivo. Os royalties equivalem a 10% de toda a produção que as empresas petrolíferas repassam pra estados e municípios produtores e a União. A gritaria se deve a emenda de autoria do deputado Ibsen Pinheiro (PMDB-RS) que muda completamente a divisão dos royalties do petróleo entre os estados, os municípios e a União. De acordo com a emenda, todos os estados da federação ficariam com 30% dos royalties, outros 30% com todos os municípios e a União com 40%. Hoje, os estados produtores (Rio de Janeiro, São Paulo e Espírito Santo) ficam com 22,5% dos royalties, os municípios produtores com 30% e a União com 47,5%.
O Rio de Janeiro perderia, por ano, cerca de R$ 7 bilhões, o equivalente a 20% do seu orçamento. Não podemos duvidar que a perda é significativa. Mas as jazidas do pré-sal ainda são, em grande parte, uma hipótese. Daí ser uma briga pela herança com o pai ainda vivo. Nada foi encontrado ainda na maioria das jazidas!! Estima-se que se possam extrair das jazidas do pré-sal mais de 80 bilhões de barris (seis vezes a produção brasileira atual). Vejam bem: estima-se! Claro que as possibilidades são grandes. A fase atual deveria ser a de debates de como se daria essa partilha. O problema é que a emenda Ibsen em nada contribuiu para iniciar o debate. Ao contrário, enterrou qualquer possibilidade de debate antes mesmo desse acontecer.
Outro fator a ser observado é a emoção colocada pelos que defendem os estados produtores. Nunca vi o governador Sérgio Cabral chorar tanto. É isso mesmo, até choro teve. Achou pouco? Em passeatas e em cima de palanques apareceram de mãos dadas o ecoxiita e ministro Carlos Minc, o ecochato Fernando Gabeira, o enroladíssimo casal Garotinho (sem greve de fome) e até a Xuxa (sem os baixinhos, pois aí já seria demais). Vestiram o Cristo Redentor com uma faixa de protesto!! Vocês podem não acreditar, mas até minuto de silêncio foi feito no Maracanã. Quem morreu? Os royalties? O petróleo? Onde dinheiro for e não fizer, ninguém mais faz...

quinta-feira, 18 de março de 2010

Caminhada

As pessoas passavam por mim sem me perceber. Eu olhava todos aqueles rostos e tentava imaginar o que pensavam, que paixões teriam, se conseguiam realizar suas fantasias e desejos. O tempo chuvoso me deixa melancólico. Pingos de chuva caem no meu rosto e molham as lentes dos meus óculos. Isso não impede que eu enxergue cada detalhe do que está ao meu redor. Não paro de andar, apesar de sentir uma dor cansada nas pernas. A fumaça que sai do escapamento do ônibus irrita o meu nariz. Da janela uma colegial me observa com olhos miúdos e pretos. O MP3 nos ouvidos deve estar tocando aquelas músicas impossíveis de ouvir. Um olhar de falta de perspectiva, olhar de quem vive por falta de algo mais interessante para fazer. Será em breve mãe solteira ou casada, não importa. Levará a vida a cuidar de filhos, engordar e jogar conversa fora com a vizinha na calçada. Até que o marido a troque por outra colegial.
Continuo a andar. Vejo a distância o mendigo que a anos ocupa o mesmo espaço de calçada. As marcas no rosto denunciam uma vida sofrida. Mas também, muito possivelmente, uma vida de extravagâncias etílicas e sexuais. Os pés sujos atraem uma nuvem de moscas, que não o incomodam. Talvez o estômago vazio seja um incômodo maior. Observa-me com olhos tristes de retrospectiva. O que terá vivido? De quantas farras descomunais não terá tomado parte em seus anos de juventude? Quantas amantes possuiu? Quantas mulheres não fez chorar? Por quantas mulheres não chorou? Quando me aproximo, pronuncia a frase que a anos usa para pedir dinheiro aos transeuntes. Deposito em sua mão uma moeda e ouço o agradecimento de sempre. Que Deus lhe pague. Deixa para lá, mais uma dívida não paga, penso eu a sorrir.
Continuo a minha caminhada. As irregularidades das calçadas dificultam o passeio. Mas isso não me impede de observar um jovem casal. Ele é magro, parece ser daqueles homens que nasceram para viver em família, que todo prazer da vida resume-se em trabalhar para criar os filhos. È aquele tipo de homem que todos admiram, mas ninguém inveja, pois leva uma vida pouco interessante, sem sobressaltos. Ela carrega consigo uma beleza de outrora, estragada, possivelmente, pela gravidez. As amigas costumam lhe parabenizar pelo belo casamento, mas nenhuma delas gostaria de estar no seu lugar. Nasceram um para o outro. O carro deve ser financiado em 60 parcelas fixas, a casa será quitada em prestações nos próximos 20 anos, aos sábados à noite assistem filmes no DVD comprado no carnê, aos domingos passeios na praça com os filhos e pizza antes de assistir o Fantástico. Serão felizes para sempre.

segunda-feira, 15 de março de 2010

Lula-lá

Essa semana Lula está em Israel. Aconselho os assessores do planalto a colar no presidente. Nada de discursos de improviso!! Se Lula falar em Israel alguns dos disparates que costuma falar no Brasil, corre o risco de deflagrar a enésima intifada. Mas o presidente brasileiro começou a viagem com discursos “paz e amor”. Em discurso para empresários israelenses, falou que tem o “vírus da paz”. Mas desconfio que esse vírus sofre uma grave mutação genética quando o governo brasileiro busca aliados no cenário internacional. Parte considerável dos aliados do Brasil são governos que passam a maior parte tempo buscando confusão com a oposição, com os vizinhos, com o resto do planeta ou com todos eles juntos.
Na América Latina, o governo Lula é aliado dos semi-vivos (ou semi-mortos) irmãos Castro, cujo passatempo predileto é perseguir a oposição. Alem dos Fósseis cubanos, o governo brasileiro adora trocar figurinhas com ícones da nova esquerda latino-americana, que adoram viver infernizando a vida de vizinhos, como o neocaudilho venezuelano Hugo Chávez, o indígena- marxista-andino Evo Morales e o Coronel Galã equatoriano Rafael Corrêa. Para defender um desses aliados (o governo cubano), Lula fez uma das declarações mais infelizes que um chefe de Estado poderia fazer, ao dizer que greve de fome não pode ser pretexto para libertar pessoas em nome dos direitos humanos, emendando uma comparação dos presos políticos cubanos com os presos comuns no Brasil. Se o governo militar pensasse assim no final dos anos 70, o que seria do nosso presidente?
Quando saímos da América Latina, aí a coisa fica um pouco pior (se é que é possível). O grande aliado do governo Lula é o governo iraniano de Mahmoud Ahmadinejad, cuja diversão é fraudar eleições, prender e matar quem contestou o resultado da eleição fraudada e ameaçar o mundo com a possibilidade de desenvolver armas nucleares. Tudo isso com o apoio do governo brasileiro! Inclusive, em Israel, Lula manteve a postura de negociar com o governo do Irã (“Vírus da paz”). Poderíamos dizer, usando uma expressão paterna, que Lula tem coragem de mamar em onça. Pressionado por lideranças israelenses, Lula se disse orgulhoso de pertencer a uma região que não tem armas nucleares. Mas tem similares, como Evo, Chavéz, Corrêa, Fidel. Orientada pelo jurássico Marco Aurélio Garcia, cujo relógio ideológico parou nos anos 60, a diplomacia brasileira está andando às cegas.

domingo, 14 de março de 2010

Sugestão de leitura

Para quem gosta de literatura, ler O leitor apaixonado: prazeres à luz do abajur (Companhia das Letras, 330 páginas, org. Heloísa Seixas), de Ruy Castro, é um prazer em dobro. Além dos textos do Ruy Castro serem saborosos, eles falam do que há de melhor (e pior também) na literatura mundial. É um passeio por várias épocas da literatura de diversos países. O livro reúne 45 textos escritos entre 1974 e 2007, publicados originalmente em jornais e revistas de São Paulo e Rio de Janeiro, enfatizando mais o lado humano dos escritores e como isso influiu na criação das suas obras definitivas.
Dos 45 saborosos textos, dois eu considero sublimes: Dois países separados pela mesma língua e Duelo de titãs. No primeiro, o autor faz uma comparação entre o português falado no Brasil e o português falado em Portugal, enfatizando a frase do escritor Bernard Shaw ao se referir ao inglês falado na Inglaterra e ao inglês falado nos Estados Unidos: “Dois países separados pela mesma língua.” Duelo de titãs encerra o livro com chave de ouro. Nesse texto o autor faz uma defesa do livro apesar do avanço da internet. Para ele, o livro não acabará nunca! A frase a seguir diz tudo: “Se um dia a internet a acabar, você lerá sobre isso num livro.” Concordo com ele. Boa leitura...

sexta-feira, 5 de março de 2010

Aos velhinhos, com amor

Quando tenho que encarar filas, costumo levar algo para ler. Quando isso não é possível (você pensa que a fila está pequena, não leva nada para ler e se dá mal), fico lendo tudo ao meu redor. Em agências bancárias não falta material de leitura. São tabelas de tarifas bancárias (por enquanto somente não estão cobrando ingressos nas agências), cartazes vendendo seguro residencial, de vida, seguro do cartão de crédito, seguro do seguro, empréstimos para comprar carro, reformar ou construir casa, aquisição da casa própria, propostas (irrecusáveis) de como investir o seu dinheiro, plano de capitalização que promete sorteios de milhares de reais todos os meses, e uma infindável quantidade de serviços bancários. É um verdadeiro mercado!! Só faltam as prateleiras para que o cliente, empurrando o seu carrinho, escolha o que mais lhe aprouver.
Semana passada estava numa dessas filas quando me deparo com um anúncio: “Crédito consignado INSS. R$ 2.000,00. R$ 65,00 x 60 meses.” E emendava: “Prestações que cabem no seu bolso”. Naquele momento de ócio, resolvi calcular por quanto ficaria o empréstimo. R$ 65,00 X 60 meses = R$ 3.900,00. O velhinho incauto pagaria, em 5 anos, quase o dobro do que pegou. As prestações realmente cabem no bolso, só não cabem na inteligência. Quero deixar bem claro que não sou comunista, nem tenho nada contra banqueiros. Como qualquer outro empresa privada, vive do lucro (em 2009, o Itaú lucrou R$ 10,067 bi; o Bradesco R$ 8 bi; o Banco do Brasil R$ 10,1 bi), mas não precisa exagerar. Isso não é busca por clientes, é busca por vítimas!!
Nas sociedades pré-industriais, os idosos eram vistos como fontes de conhecimento. A partir daí, a idade passou a ser um estorvo, pois o idoso, além de não produzir, ainda tem que ser sustentado pelo Estado. Mesmo algumas sociedades primitivas que viviam em ilhas do Pacífico, não viam o idoso com bons olhos. O velhinho era estrangulado (com o seu consentimento) pelo filho predileto, num ritual que envolvia toda a família. O homem moderno fica chocado com tal relato. Deveria ficar chocado com o anúncio do banco. Nesse caso o velhinho está sendo estrangulado pelo bolso.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Filho de cachorro...

O cachorro foi o primeiro animal a ser domesticado pelo homem. Estima-se que isso tenha ocorrido entre 1.200 e 1.300 a.C. Desde então, o homem cria cachorro para caçar, cachorro para vigiar patrimônio, cachorro para enfeitar a sala, cachorro para fazer companhia, cachorro como guia, cachorro para comer e até cachorro para apenas fazer barulho. A relação do homem com o cachorro é estreita. Tanto que o animal é considerado o melhor amigo do homem. Eu diria que se você quiser um verdadeiro amigo, um amigo absolutamente fiel, compre um cachorro. Está no DNA do ser humano essa proximidade com o o cão. O que não é muito amigo é o hábito do ser humano de brincar com a natureza cruzando raças e dando a origem a cachorros com diferentes características. Muitas delas poucos simpáticas e de tendência violenta, como é o caso do pitbull e do rottweiler.
Domingo passado, o fantástico mostrou uma reportagem que mostrava a ferocidade do pitbull. A matéria mostra os depoimentos de várias vítimas da raça e algumas estatísticas. O hospital João XXII, em Belo Horizonte, referência nacional em traumatologia, atendeu 890 vítimas de cães de várias raças em 2009. Metade seria de pitbulls. Ainda de acordo com a reportagem, no estado de São Paulo a média anual seria de cem mil casos de ataques de várias raças, uma média de 11 casos por hora.
Diante dessas estatísticas, surgem propostas de proibição ou esterilização das raças rotweiller e pitbull. O que tem que ser feito é aumentar a responsabilidade de quem cria o animal. Muitos donos de animais dessas raças, criam seus cães para serem ferozes! Então é natural que o animal (o cão, não o dono) fique feroz e ataque a todos. Tenho uma cadela mestiça das duas raças (rotweiller e pitbull) de um ano e três meses que até hoje não manifestou ferocidade com pessoas. Ela ataca outros animais que invadem seus domínios, o que é natural. É claro que não podemos subestimar o instinto do animal, já que são raças preparadas para caçar. Mas é possível diminuir a sua ferocidade com a criação. O problema é que muitos donos de cães são mais irracionais do que os seus animais.

sábado, 23 de janeiro de 2010

Sugestão de leitura

Recentemente li o livro Padre Cicero: poder, fé e guerra no sertão (Companhia da Letras, 523 páginas), do jornalista cearense Lira Neto. De tão envolvente, em alguns momentos se tem a impressão de estar diante de uma obra de ficção, levando o leitor a ficar tentado a ler a obra de um só fôlego. Mas a obra nada tem de ficção. Apesar de jornalista, Lira Neto escreveu a vida da controversa figura do Padre Cícero com uma isenção pouco vista entre historiadores. O livro reafirma o que todos já sabiam: Padre Cícero, além de líder religioso, era um líder político que adotou posições controversas dentro do contexto da política da época, como apoiar uma revolução armada que derrubou um governo estadual. Muitas vezes os dois lados do líder se confundiam (religioso e político), como abençoar e conceder a patente de capitão ao cangaceiro Lampião para que este combatesse a Coluna prestes. Isso antes da chegada de Floro Bartolomeu e depois da morte desse.
O livro retira das sombras essa figura pouco conhecida, conhecida até então por ser o "testa de ferro" do padre. Lira Neto mostra que o Floro não era uma figura apática. Na verdade, ele era a porção política do padre, que exercia a porção religiosa. Um não existia sem o outro. Em muitas vezes, cabia a Floro tomar decisões e o Padre obedecer. O autor dá a entender que, em algumas situações, quem dominava a cena era o Dr. Floro, inclusive com cenas de humilhações ao Padre Cícero. Com a morte de Floro, o Padre assume as duas facetas. A biografia do Padim Pade Ciço, chega num momento em que a Igreja Católica estuda a reabilitação canônica do religioso como forma de frear o avanço evangélico e nos permite entender um dos personagens mais polêmicos, complexos e fascinates da história brasileira. Vale a pena ler...

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

O dia do fusca


Hoje é o dia do fusca. O automóvel foi lançado oficialmente em 1935 a partir de um projeto do engenheiro Ferdinand Porshe. O projeto foi um pedido do ditador alemão Adolf Hitler, que queria um carro prático, de fácil manutenção e que durasse bastante. Em pouco mais de sete décadas, foram vendidas mais de 21 milhões de unidades em todo mundo. O fusca chegou ao Brasil em 1959 e, desde então, foram vendidas mais de 3 milhões de unidades. A data comemorativa foi instituída pela própria Volkswagen na década de 80 e foi introduzida no calendário oficial de eventos da Prefeitura de São Paulo a partir de 1996. Os amantes do fusca enumeram, entre as qualidades do fusca, a valentia, a robustez e o baixo custo. Além, claro, do charme.
No entanto, os detratores do automóvel afirmam que o verdadeiro, o autêntico, o legítimo fusca tem três características básicas: o cheiro de gasolina, a folga na direção e o vazamento de óleo do motor. Segundo eles, fusca sem essas três características não é fusca. Eu ja tive um fusca!! É, eu tenho essa mancha no currículo, ops! Não me enquadro entre os detratores do charmoso automóvel. Mas também não considero um fã. O meu era um autêntico fusca. Eu vivia cheirando a gasolina. Aquele cheiro impregnou em mim por quatro anos, que foi o tempo em que fui um feliz proprietário de um fusquinha. E perdurou por mais uns seis meses depois que eu encontrei um incauto que o comprou. O meu fusca tinha folga na direção. Aliás, já não era mais folga, já poderíamos chamar aquilo de férias!! Vazamento de óleo do motor? Todas as vezes que eu abastecia o carro, tinha que colocar óleo no motor. Todos que me conheciam, sabiam por onde eu tinha estacionado pela mancha de óleo no chão.
Mas nem tudo foi má notícia. Eu também tenho coisas boas a falar do meu fusquinha. Se muitos que tem carros já maltratados pelo tempo reclamam que eles não andam ou andam com dificuldades, eu tinha dificuldades para fazer o meu fusca parar. A frequência com que faltava freios era impressionante!! Eu já tinha adquirido um certo Know how no que diz respeito a buscar freios externos para parar meu fusca. Meio-fio, calçadas, pedestres, outros carros (desde que não fossem novos), tudo servia. Sinceramente, eu admiro o espírito de aventura (ou masoquismo) dos amantes do fusca. Entre os normais, quem já teve um fusca não quer ter outro. Eu sou normal!!!!!!!!!!!!

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

O Casamento gay e a Igreja

O Papa Bento XVI conseguiu associar a oposição da Igreja Católica ao Casamento gay a preocupações com o meio ambiente. Vossa Santidade sugeriu que as leis que enfraquecem as "diferenças entre os sexos" são uma ameaça à criação. Ainda segundo o papa, as leis que permitem o casamento entre pessoas do mesmo sexo "atingem a base biológica da diferença entre os sexos". Em outras palavras: a homossexualidade, em última instância, poria em risco a existência humana. Não sei se a tese papal tem fundamento. Mas desconfio que a sua obsessão em combater a homossexualidade está colocando em risco a sua santa sanidade mental. A Igreja Católica elegeu alguns inimigos do catolicismo e os tem combatido com afinco. Entre eles está a prática homossexual (outro seria o uso de células troncos).
Essa posição afasta a Igreja dos seus fiéis. O Parlamento Português aprovou, no início do mês, uma proposição de lei que permite o casamento de pessoas do mesmo sexo. O Primeiro-Ministro português, José Sócrates, considerou aquele dia (08/01/2010) "um momento histórico". Lembro que Portugal, logo depois da Itália, é o país europeu onde o catolicismo encontra maior aceitação. Isso significa que os fiéis católicos de Portugal não concordam com a posição da Igreja. O casamento gay é uma realidade em vários países europeus (muitos deles, majoritariamente protestantes, como Holanda, Alemanha e Inglaterra). Nos EUA (também majoritariamente protestante), vários estados permitem a união. Na América Latina, Argentina e México, este último a partir de março, já permitem também.
No Brasil, o Governo lançou no final de dezembro, o 3º Programa Nacional de Direitos humanos, que defende o projeto de lei do casamento gay. A matéria ainda terá que passar no Congresso Nacional. Aí o bicho pega!! A bancada religiosa (católicos e protestantes) entra em ação e barra qualquer coisa nesse sentido. Na década de 90, um projeto de lei da então Senadora Martha Suplicy foi rejeitado por pressão dos representantes dos religiosos. Sou pessimista com relação a uma maior liberdade sexual no Brasil. Afinal, o nosso país tem uma sociedade de faz de conta: fazemos de conta que somos liberais e aceitamos a homossexualidade como algo natural. Tudo para o bem da moral e dos bons costumes...

sábado, 9 de janeiro de 2010

A paixão

Eu não tenho dúvidas de que a paixão é uma doença. Quem está apaixonado não está no seu estado normal. Quem está apaixonado não enxerga as coisas como elas são. Aliás, na maioria das vezes nem enxergam. Não conseguem enxergar os defeitos do outro, não consegue enxergar quando o outro não quer mais aquela paixão. Em suma, o apaixonado não tem noção do perigo. A palavra Paixão vem do latim, passione, e significa um sentimento forte, um movimento impetuoso da alma para o o bem ou para o mal. Então podemos incluir nesse rol irracionalidades, como as arruaças promovidas pelas torcidas nos campos de futebol em nome do "amor" pelo seu time; os ataques terroristas com motivações religiosas, inclusive atentados suicidas.
Fiz esse preâmbulo, terminando com o exemplo do terrorismo para falar de um episódio que está relacionado, indiretamente, ao terrorismo, e é um exemplo de paixão cega (Ops! Desculpem-me o pleonasmo, afinal, toda paixão é cega). No último dia 3, no Newark International Airport, um homem passou por uma barreira de segurança para dá um beijo de despedida na amada. O beijo ficou registrado pelas câmaras de segurança do aeroporto e causou um rebuliço que abalou as autoridades de segurança do país por que aconteceu logo depois do atentado frustrado em um avião que seguia para Detroit no Natal. Sem contar que o aeroporto foi fechado e vários vôos atrasaram, causando transtorno para milhares de pessoas. Tudo isso por causa de um beijinho!!!! O autor do beijo, Haisong Jiang, foi preso por desafiar uma proibição de passagem.
Num país onde impera uma verdadeira neurose com relação à segurança, principalmente depois do 11 de setembro e ainda mais depois do atentado frustrado do nigeriano no avião que ia para Detroit, violar uma área de segurança num aeroporto é não ter noção do perigo. Para isso tem que está apaixonado. O beijo romântico de Jiang foi visto pelas autoridades americanas como um suspeito "beijo Talibã" ou o "beijo Alqaida". As autoridades americanas, que não estão apaixonadas, não viram romantismo nenhum no beijo de despedida de Jiang na sua amada.


quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

O dia seguinte

Há muito custo abro os olhos. Observo o ambiente, a TV desligada, O rádio tocando uma música que não consigo entender por que a estação está mal sintonizada. Sinto um mal estar terrível, aquele gosto amargo na boca denuncia que, mais uma vez, bebi mais do que o razoável na noite anterior. Sinto uma fraqueza nas pernas e nas mãos que provoca tremores. Finalmente reconheço o lugar onde estou. È o meu quarto! O cérebro ainda encharcado pela noite anterior funciona em marcha lenta. Tento lembrar como cheguei ao meu quarto. Reviro na cama, mas o mal estar persiste. Tento levantar. Péssima idéia!! O mundo gira, a cabeça dói, então resolvo continuar como estou. As lembranças do dia anterior começam a vir aos poucos, espontaneamente. Não adianta forçar a barra. A ressaca não permite pressa. Começo a suar. Sei que não é calor, mas o mal estar da ressaca. Tenho sede, mas não disposição para ir até a cozinha beber água.
Em pleno delirium tremens, tenho a impressão que há alguém ao meu lado na cama. Sinto o cheiro da ausência de amor, sexo feito sob o efeito do álcool. Gradativamente, a minha memória começa a funcionar e a ressaca moral vem com ela. Tento me erguer para ver o rosto dela. Não consigo. Tudo o que queria era que ela não estivesse ali. Na maioria das vezes em que isso acontece, eu não consigo disfarçar o embaraço de acordar com uma estranha na minha cama e algumas delas ficam sinceramente magoadas. Lembro-me que a conheci no bar. Trocamos olhares e a convidei para a mesa, para ficarmos com a minha turma, já que ela também estava acompanhada por amigos. Depois de muita conversa, resolvemos sair para dançar. Dançamos soltos, depois nos aproximamos até ficarmos agarrados, de tal forma que parecia que entraríamos um no outro ali mesmo na pista de dança. Resolvemos ir para o meu apartamento. Quanto mais eu bebia, mais acreditava que tinha achado a mulher perfeita. E ela demonstrou a mesma coisa, não sei se também foi o efeito do álcool. O álcool me leva a um estado de amor eterno, cuja eternidade dura o tempo de uma embriaguez.
Ela se mexeu. Fico esperando quieto de olhos fechados. Ela levanta o tronco e senta na cama. Eu finjo que acabei de acordar:
- Bom dia! - Falo
- Bom dia! – Responde ela- Quem é você?
- Como “quem sou eu”?- Respondo indignado.
- Desculpe-me. Acho que bebi um pouco demais ontem...
- Você vem para a minha casa, bebe comigo, transa comigo a noite toda, dizendo que me ama e agora vem me dizer que bebeu demais. – Interrompo com fingida indignação, mas no fundo indignado de verdade.
Ela vestiu -se e foi embora. Confesso que das vezes em que isso aconteceu com outras mulheres, não senti a falta delas. Mas a sensação de ter sido usado me dá saudade daquela noite.

sábado, 2 de janeiro de 2010

Um pra mim, um pra mim e um pra tu

O ano é novo. Mas a capacidade do Governo Lula de dá tiro no pé é velha. A moda agora é reiventar a Lei da Anistia, de 1979, que perdoou todos os crimes praticados durante a Ditadura Militar. Crimes praticados por agentes do Estado e por militantes de esquerda. O problema começou com a publicação de um decreto, proposto pela Secretaria Nacional de Direitos Humanos e assinado pelo presidente Lula, que propõe a criação da "Comissão Nacional da Verdade". Essa comissão investigaria as violações dos direitos humanos ocorridos durante a ditadura. Os comandantes militares e o Ministro da Defesa, Nelson Jobim, estrilaram. Para eles, isso pode representar uma revisão da Lei da Anistia, de 1979, no que eles tem toda a razão. Reclamaram também que o decreto não inclui as investigações dos excessos praticados pelos grupos da esquerda armada, no que eles também tem toda a razão.
A maioria dos países da América Latina viveram períodos em que as Forças Armadas tomaram o poder atrvés de golpes. Vivíamos a Guerra Fria, um momento em que a esquerda realmente acreditava que o socialismo era viável e a direita acreditava que os socialistas e comunistas representavam uma ameaça política. O tempo mostrou que os dois estavam errados!! Ao fim desse período, em alguns países promoveu-se uma verdadeira caça às bruxas, com a prisão de antigos opressores. Aqui no Brasil, optou-se por uma Lei de Anistia(1979), cujo objetivo era pôr uma pedra nos crimes praticados por ambos os lados durante o período de 1964-1979. Naquele momento foi a melhor medida a ser tomada, uma vez que os civis ainda não tinha força política para manter os militares nos quartéis.
Com esse decreto, a secretaria de Direitos Humanos abre feridas que em nada contribui para a democratização do país, ao contrário do que afirmou a Ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Roussef, e o titular da pasta, Paulo Vanuchi, e mostra o quanto a esquerda, independente da nacionalidade, é maniqueísta, arrogante e revanchista. A esquerda acredita que o bem e o mal está presente em tudo, inclusive no espectro político. Claro que ela representa o bem. O nome da dita comissão, "Comissão Nacional da Verdade", mostra o quanto os esquerdistas são arrogantes, se achando os detentores únicos da verdade. Com relação ao revanchismo, o decreto fala por si. Rever a Lei da Anistia agora, para usar uma metáfora futebolística como bem gosta o Presidente Lula, é mudar as regras do jogo nos vestiários durante o intervalo. É achar que apenas os agentes do Estado cometeram crimes, que os militantes de esquerda eram apenas idealistas lutando por uma causa. É uma pra mim, um pra mim, um pra tu...