sábado, 31 de março de 2012

Um país sem leitura

A pesquisa retratos da Leitura no Brasil, encomendada pela Fundação Pró-Livro, constatou que o brasileiro ler, em média, quatro livros por ano, dos quais dois não são lidos até o final. É muito pouco! A pesquisa apurou que o número de leitores, que eram 95,6 milhões de pessoas, caiu para 88,2 milhões. Uma queda de 9,1% em relação à última pesquisa, em 2007. Ou seja, pelo levantamento, metade da população é formada por leitores. Isso seria uma boa notícia se os pesquisadores não considerassem como leitor o indivíduo que leu pelo menos um livro nos últimos três meses. Um livro a cada três meses! É muito pouco.

Na mesma pesquisa ficou constatado que 75% da população brasileira jamais pisou numa biblioteca. É muita gente! O mais grave é que 71% dos entrevistados afirmam saber que há uma biblioteca pública na sua cidade e que o acesso a ela é fácil. Mas não vai lá. Apenas 8% dos brasileiros vão a uma biblioteca com frequência. É muito pouco. Apenas 12% dos entrevistados consideraram a biblioteca um local de lazer. Ao mesmo tempo em que diminui o número de leitores e frequentadores de bibliotecas, aumenta o número de pessoas que costumam ver TV nas horas vagas: foi de 77% em 2007 para 85% em 2011.

Não podemos dizer que a culpa da pouca leitura é o preço dos livros. As editoras lançam edições de bolso que custam de R$ 10 a R$ 20. Sem contar os sebos que vendem livros para todos os gostos e poder aquisitivo. Não podemos culpar a escassez de bibliotecas pela pífia assiduidade de leitores nas mesmas. Os próprios entrevistados (75%) dizem saber da existência de uma nas suas cidades. É uma questão de formação. O brasileiro não é formado para ser leitor. Em casa a criança não tem exemplos. Leitores também se formam a partir do exemplo, vendo outros ler. A escola também não tem sido uma boa formadora de leitores. Aquela tática de obrigar o aluno a ler clássicos é o anticlímax da leitura. Quase odiei Machado de Assis!

sexta-feira, 30 de março de 2012

Roupa de palhaço, cara de palhaço – parte 2

Ainda tratando do fim do 14º e 15º salários dos senadores, decidido pela Comissão de Assuntos Econômicos do Senado (CAE). Uma frase dita em tom de ironia pelo senador Benedito de Lira (PP-AL) me fez pensar no papel que o parlamentar deveria ter na política brasileira. Vamos a ela: “O senador Lindbergh (relator do projeto) poderia até talvez instituir a honorabilidade para o cargo de senador, já que seria uma grande honra ser senador e servir ao país”. Não sou partidário que se chegue a tanto. Mas não pode o país servir aos senhores senadores, como hoje tem acontecido.

O que leva um político gastar rios de dinheiro para se eleger para o cargo onde ele vai ganhar a “miséria” de R$ 19 mil mensais? Há perguntas que não tem respostas. O que se sabe é que os salários dos parlamentares de todas as esferas destoam, e muito, do salário do brasileiro “normal”. E não apenas os salários. Mas as regalias também. No Congresso se trabalha de terça a sexta e goza-se três meses de férias. Os congressistas têm carro com motorista, plano de saúde integral, apartamento funcional (que ninguém quer) ou auxílio moradia (que todo mundo quer), cotas para pagar telefone, internet e correios. E ainda passagens aéreas para “visitar as bases” (em outras palavras: fazer campanha com dinheiro público). Entre outras regalias.

Tudo bem que o parlamentar não precisa ser missionário e trabalhar de graça. Porém, o cargo eletivo não pode virar profissão. Mas com R$ 19 mil mensais é possível pagar um plano de saúde para si. É possível também pagar o aluguel de um apartamento de bom nível. Com esse dinheiro, como qualquer “mortal”, o caro parlamentar pode comprar um carro financiado e circular pela capital federal. Telefone e internet? As operadoras possuem bons planos que até os “miseráveis” podem pagar. Por que não um parlamentar que ganha R$ 19 mil? E as passagens aéreas? Uma por mês para matar a saudade da “base” estava de bom tamanho. O dinheiro que sobrar, o senador pode comprar de Cibalena e distribuir com o populacho, como sugeriu o senador Ivo Cassol.

quinta-feira, 29 de março de 2012

Roupa de palhaço, cara de palhaço

O Brasil definitivamente não é um país sério. Ou pelo menos não se lava a sério. Se fosse sério púlpito não seria palanque, Deus não seria cabo eleitoral, nem torcida organizada transformaria estádio de futebol em inferno impunemente. No Brasil se fala e se faz sem pensar nas consequências por que consequências não há. No Brasil se fala disparates como se o ouvinte fosse palhaço (no mau uso da palavra, claro). Nesse sentido, os nossos “representantes” no Congresso resolveram dá a sua contribuição (mais uma vez!), quando da votação, na Comissão de assuntos Econômicos do Senado, do fim do 14º e 15º salários para parlamentares.

Se já não fosse suficientemente absurdo esses senhores, que trabalham de terça a quinta e tem três meses de férias por ano, terem 14º e 15º salários, alguns deles resolveram dá uma colaboração a mais nesse nonsense. Na semana passada, o senador Ivo Cassol (PP-RO) disse que politico, no Brasil, “era muito mal remunerado”. Então o que ele faz lá, já que gastou do próprio bolso, segundo sua declaração à Justiça eleitoral, R$ 500 mil para se eleger? Economize seu dinheiro, senador. E economize nossos ouvidos de suas asneiras.

O senador Ciro Miranda (PMDB-GO) disse que “não vive de salário de senador, tenho outras atividades, mas tenho pena daqueles que são obrigados a viver com R$ 19 mil líquidos”. Bem que eu queria ser “obrigado” a viver com esse salário! Ou esse senador é ingênuo ou vive em outro planeta. Eu fico com uma terceira opção: ele é cara de pau! Ele esquece que somando salário, verba indenizatória e recursos de suporte ao senador, esse valor chega a R$ 170 mil por mês. Senador, volte para suas “outras atividades” e nos poupe do seu cinismo.

Para concluir, quero pedir desculpas públicas aos palhaços, os profissionais do humor, por associar a sua imagem a ações desses rebotalhos que emporcalham a politica brasileira.

quarta-feira, 28 de março de 2012

Do rock a rua

É lamentável a situação do ex-baixista da banda Legião Urbana, Renato Rocha. De acordo com o programa da Rede Record, Domingo espetacular, o ex roqueiro é morador de rua a cinco anos, no centro do Rio de Janeiro. Negrete, como era mais conhecido, fez parte da banda entre 1985 e 1989, participando da gravação dos três primeiros álbuns da Legião (Legião Urbana, de 1985, Dois, de 1986 e Que país é esse?, de 1987) e sendo coautor de canções como “Ainda é cedo”, “A dança” e “Mais do mesmo”, entre outras. Renato Rocha saiu da banda em 1989.

Na época, muito se especulou sobre a sua saída da banda. A versão oficial era de que o músico não estava contente com a música que os parceiros faziam, preferindo mais o Punk. Sabe-se hoje que os problemas envolviam drogas e álcool, que provocavam atrasos a voos e ensaios. Numa entrevista concedida à ISTOÉ GENTE, em 2001, Renato admite o envolvimento com as drogas na Era Legião e na ocasião da entrevista já passava por problemas financeiros, quando diz que procurou Dado Villa-Lobos, ex guitarrista da banda, para pedir R$ 200 emprestado.

O que leva um sujeito que conheceu fama e dinheiro ir parar na rua? Certamente que as drogas e o álcool colaboraram, apesar dele não admitir, mas não é só isso. Na entrevista de 2001, Renato falou que desde que deixou a Legião, em 1989, não mais trabalhara e vivia dos Royalties dos discos lançados na época da legião, cerca de R$ 1.800 mensais, e ensaiava uma volta aos palcos e aos estúdios com uma banda chamada Cartilage. Como se vê, o projeto não deu certo. Um dia o dinheiro acaba. O fato é que é lamentável um músico que fez parte da história do rock brasileiro, integrante de uma das bandas mais importantes desse movimento viver numa situação degradante como essa.

terça-feira, 27 de março de 2012

Plenos pudores

O ser humano é cheio de pudores. Inexplicáveis pudores. Todo mundo sabe que todo mundo faz, mas ninguém menciona. Fica no “subentende-se”. O maior de todos, indiscutivelmente, é o pudor sexual. Todo mundo sabe que todo mundo faz, só não se quer saber como se faz. Como dizia Nelson Rodrigues, se soubéssemos da vida sexual um do outro, ninguém se cumprimentava. Mas isso é outra história. Na realidade não quero falar do pudor sexual e sim de outros pudores, mas precisamente o número um e o número dois.

Todo mundo sabe que todo mundo faz. Está na natureza animal. Tudo que entra, tem que sair. Mas ninguém fala. Todo mundo diz: “vou ao banheiro”, mas ninguém diz o que vai fazer lá. Subentende-se. O pudor com o número um é menor. Mas o número dois é impublicável. A ponto de um desinformado acreditar que ninguém faz. O pudor é tamanho que pessoas, ao fazer o número dois, costumam ligar a torneira ou o chuveiro para disfarçar o barulho, já que o odor é indisfarçável. O problema é o desperdício de água. Estima-se que o chuveiro aberto cinco minutos por dia para disfarçar o número dois, desperdiçará, por mês, 13,4 bilhões de litros em todo o planeta.

Preocupado com isso, o Instituto Akatu, ONG que trabalha pela conscientização e mobilização da sociedade para o consumo consciente, desenvolveu um aplicativo, e lançou-o no Dia Mundial da Água, que disfarça o barulho do vaso sanitário e ainda indica de quanto seria o consumo se o cagão (pronto, falei!) tivesse usado a água do chuveiro. Vou sugerir a criação de outro aplicativo. Se não for possível, que se fale com o Todo Poderoso para inserir no projeto de recriação do homem: o cocô com códigos de barras. O sujeito faz o número dois e não dá descarga por pudor. Resultado: ninguém assume a paternidade da criança. O código de barras resolveria o problema.

Minha outra sugestão ao Todo Poderoso é também direcionada a acabar com outros pudores, além do número um e o número dois: o pum colorido. Todo mundo solta e ninguém assume a autoria. Todos os problemas estariam resolvidos.

segunda-feira, 26 de março de 2012

Quando outro passarinho passar*

Januário passava o dia a sonhar com passarinhos e sardinhas. Cochilava e sonhava com os mais variados tipos de bicho. Como queria comê-los, devorá-los! Vivia no sexto andar, com todas as regalias do mundo. Mas queria ser deputado ou senador. Viver numa mansão do Lago Sul. Perto do lago, dos peixes, embora odiasse água. Apesar de viver a sonhar, não podia se queixar da vida. Comia do bom e do melhor. Traziam-lhe comida de primeira. Davam-lhe água pura, leite. Dormia bem. Nem se lembrava mais do tempo em que só pensava em matar e esfolar ratos. Sentia-se perfeitamente domesticado, civilizado. Até assistia às novelas da televisão. Mas logo se aborrecia com aquele falatório sem pé nem cabeça. E cochilava ou se retirava da sala. Não se lembrava nem do tempo em que vivia numa jaula ou gaiola. Terá acontecido isso mesmo? Às vezes imaginava fatos e muito depois descobria ser tudo fruto da imaginação. Ou andava pelas ruas, morto de fome? Chutavam-no? Não, não se lembrava disso. Na verdade, nem sabia o que era um rato. Ouvia falarem, vez por outra, desse tipo de bicho. Mas não se preocupava com aquilo. Conversa de homens e mulheres. Não lhe dizia respeito aquilo.

No apartamento viviam ainda dona Mariana, que cuidava dele como se cuidasse de deus; seu Osmundo, que o tratava como a um rei; o grande Astúrio, 16 anos, que olhava para ele com carinho, mas logo se irritava, estirava-se no sofá com tênis sujo; e Mafalda, 15 anos, que de vez em quando lhe fazia afagos. Gostava deles. Não o tempo todo. Pois aqui e ali surgiam breves dissabores. Como quando doutor Osmundo (era assim que tratava o dono da casa a empregada) tomava uns conhaques, passava a dançar na sala, ao ritmo de sambas antigos, ria sem parar e se atrevia a dar-lhe piparotes nas orelhas. Não, não gostava daquilo. E corria para o mais fundo do ambiente, um quarto onde se amontoavam sacos e latas de mantimentos. Só saía de lá muito depois, quando tudo sossegava na casa, o doutor arriava no sofá ou na cama. Dona Mariana não tomava conhaque nem gostava de samba. Por isso não o aborrecia quase nunca. Ela, sim, se aborrecia quando o marido voltava tarde da noite. Ia e vinha pela casa, a falar, a chorar. Transitava pela casa e nem me via, como se passasse por uma pedra. Aquilo me deixava triste. Outro que me contrariava vez por outra era o menino. Assustava-me quando abria a porta do quarto e aquele som de mil decibéis invadia a casa toda. Parecia um louco, a berrar (dizia que cantava) umas palavras sem sentido. A menina imitava a mãe: caladinha, quase sempre. Isso me enfadava também. Perdia horas diante do computador, a rir baixinho. Por que não passava a mãozinha na minha cabeça? Eu adorava esse tipo de carinho.

A empregada, dona Eunica, o tratava bem, mas vivia brigando com ele e ouvindo música do rádio. Uns forrós muito chinfrins. Por nada ralhava com ele. Sai daí, bicho dorminhoco. Ele olhava para as árvores e os passarinhos, pela janela de vidro, sempre fechada. Via os passarinhos voando lá fora, no alto, perto das árvores e do céu, e queria pegá-los. Como, se a vidraça estava sempre fechada? Um dia pegaria aqueles passarinhos. Nem que fosse num voo espetacular, celeste. Nesses pensamentos, pegava no sono. E sonhava no paraíso. Sombras e mais sombras de árvores enormes. Peixes pequenos nadavam na beira do lago. As águas dançavam lentamente. Não havia cachorros por perto. Nem latidos se ouviam. O céu parecia um campo de plumas azuis e brancas. Ninguém o incomodava. Não o chamavam de preguiçoso ou dorminhoco. Não o agarravam pelas patas. Homens, mulheres e crianças havia, mas nenhum deles o ameaçava. Passavam ao largo, olhavam, sumiam. Acordava com uma pulga atrás da orelha. Aquilo não podia ser verdade. Aquilo não existia, nem ali nem muito longe. Melhor sonhar acordado, sonhar possibilidades. Como ser deputado ou senador, para nada fazer, ganhar muito dinheiro, andar para lá e para cá, falar, falar e ser respeitado. Ou morar no Lago Sul, perto do lago. Depois rir do sonho impossível e ficar quieto, perfeitamente satisfeito com a vida.

Januário não se aborrecia quase nunca. Certa feita, porém, apareceu um sujeito em visita ao doutor. De início, de longe, até simpatizei com ele. Pensei em dar-lhe um susto, por brincadeira. Aproximei-me dele, devagar. Pois não é que o idiota olhou para mim e sapecou a pergunta: Qual o nome dela? Ora, me chamar de ela! Dona Mariana saiu logo em minha defesa: Ele já é um senhor, tem até barbas brancas. Respeite o meu Januário. Eu me enfunei todo, passeei pela sala, dei meia-volta e corri para o meu quarto, irritadíssimo.

Uma tarde, quando todos dormiam ou liam ou estudavam ou lavavam louça ou não se encontravam em casa, a empregada deixou a vidraça aberta, um passarinho riscou o céu feito uma flecha, outro passou no rumo das nuvens, e ele, Januário, se preparou para pegar o próximo aventureiro. O instinto falava mais alto. A civilidade ia por água abaixo. Os hábitos ancestrais de caçar renasciam. A sanha de matar ressurgia nele. Domesticado coisa nenhuma! E saltou através da janela, em busca do pássaro.

* Este é o quarto conto da primeira parte do livro Luz vermelha que se azula, de Nilto Maciel.

sábado, 24 de março de 2012

Chico, o imortal

Morreu ontem, aos 80 anos, Chico Anysio. Apesar de ser uma morte anunciada em virtude do seu estado de saúde, é uma notícia que entristece a todos. A carreira de Chico iniciou no rádio e duraria 65 anos. Sua estreia na televisão aconteceu em 1957, na extinta TV Rio. Ator, escritor, dublador, diretor. Não dá para reduzir Chico Anysio a um simples humorista, mesmo por que, em tudo que fazia, nunca se atinha à simplicidade. Duzentos personagens, oito filhos, seis mulheres, várias polêmicas, alguns desafetos e talento de sobra. Cearense de Maranguape influenciou outros humoristas, como Tom Cavalcante e Cláudia Rodrigues.

Quem está na casa dos quarenta, com certeza teve a infância e adolescência marcadas pelos personagens de Chico. Em programas humorísticos como “Chico total” e “Chico Anysio Show” lançou personagens que ficaram na memória popular e se misturaram com a história da televisão brasileira, como Alberto Roberto, a ator canastrão, coronel Pantaleão, o alcoólatra Tavares e sua mulher Biscoito, entre muitos outros. A hora do seu programa era o momento para reunir a família e rir à vontade.

Esses personagens deixaram bordões que permearam os diálogos Brasil afora, como “Eu sou jovem”, do jovem revoltado criado por ele, ou “Né, Terta?” perguntado por outro personagem seu para que a mulher confirmasse as mentiras escabrosas contadas por ele. Além da pura e simples diversão, Chico acrescentava ao seu humor a crítica, como no personagem Justo Veríssimo, um deputado insensível e corrupto, e o mais famoso deles, o professor Raimundo, quando Chico aproveitava para tecer críticas ao descaso com a educação no nosso país. Fica a saudade e a esperança de que os “herdeiros” de Chico possa dá continuidade ao seu humor. Mas fica também uma certeza: Chico é imortal.

sexta-feira, 23 de março de 2012

A Igreja e as criancinhas ou: A lógica sem lógica

Se você quiser ver um padre ter um chilique de mulher donzela fale em aborto. Não interessa qual a circunstância: ele será contra o aborto. A concepção é consequência de um estupro? Deixa a criança nascer. O feto apresenta defeito congênito? Deixa a criança nascer. A gravidez é de risco para a mãe? Deixa a criança nascer. Deus tudo proverá. Esse é o discurso. Tudo por amor à vida e às criancinhas.

Mas parece que esse amor só dura até essa criancinha nascer e crescer um pouquinho. Não precisa crescer muito. Os casos de pedofilia envolvendo padres pipocam por todos os lados, obrigando a Igreja Católica a fazer acordos milionários com as vítimas. Se isso não bastasse, o jornal holandês NRC handelsblad publicou reportagem em que afirma que a Igreja Católica castrou onze meninos enquanto eles estavam sob seus cuidados, nos anos 50.

Segundo o jornal, um jovem de 18 anos na época, Henk Hethuis, procurou a polícia para denunciar que estava sendo abusado por um monge. Os monges então resolveram castrar o rapaz para “curar” sua homossexualidade. Ainda segundo o jornal, o mesmo aconteceu com outros dez rapazes. É uma lógica sem lógica: para curar o homossexualismo do rapaz cortam o seu bilau. Então só vai ficar como alternativa usar o fiofó, que já vinha sendo usado compulsoriamente pelos monges pedófilos, como ele mesmo denunciara. Henk Hethuis morreu em 1958 num acidente de carro. O governo holandês investiga o caso.

quinta-feira, 22 de março de 2012

Espermatozoide nerd

Segundo pesquisadores do Instituto Max Planck, na Alemanha, os espermatozoides são capazes de fazer cálculos complexos. De acordo com eles, quando o óvulo libera emissores químicos que modificam a concentração de cálcio no interior dos espermatozoides, o que ativa sua movimentação, eles medem as taxas de mudança ao longo do tempo, a rapidez ou a lentidão da alteração da concentração de cálcio. Ou seja, eles medem a variação de concentração de cálcio. Baseando-se nessa variação, eles alteram a forma de movimentar a cauda e mudam de direção.

Isso se chama cálculo diferencial, que é o ramo da matemática que estuda as taxas de variação de grandezas e a acumulação de quantidades. O cálculo diferencial só passou a ser realizado pelo homem a partir do século XVIII. Eu só passei a saber o que era cálculo diferencial quando comecei a escrever esse parágrafo, mas os espermatozoides já faziam há mais de 400 milhões de anos. Isso é sensacional! E preocupante. Só não é mais preocupante por que a pesquisa foi feita, por enquanto, somente com espermatozoides de algumas espécies marítimas. Vai chegar a nossa vez...

E aí é que a preocupação aumenta. Se der o mesmo resultado vou chegar à conclusão que em quatro décadas de vida eu não evolui. Eu regredi! Eu sou uma porta em matemática, meus conhecimentos na área não vão além das quatro operações. Aí vou querer saber as razões da regressão. Por que se tivesse mantido o nível de saber matemático que eu tinha lá no saco do meu pai, eu estaria fazendo pesquisas em algum laboratório na área das ciências exatas e ganhando algum dinheiro com isso e não escrevendo esse monte de besteiras nesse blog. De graça!!!

quarta-feira, 21 de março de 2012

Irmãos siameses

O bispo Edir Macêdo resolveu mudar uma regra não escrita na política de franquias da Igreja Universal: até recentemente, só era permitido abrir um novo templo se houvesse a certeza de que poderia arrecadar ali um mínimo de R$ 150 mil mensais. Agora, basta o candidato à franquia provar que pode arrecadar pelo menos R$ 50 mil mensais. Qual a razão para a mudança? A Igreja Mundial e seu líder, Valdemiro Santiago, que vem roubando pastores, fiéis e, consequentemente, dinheiro da Universal.

Dando continuidade à guerra ao “concorrente”, a Rede Record, que pertence à Igreja Universal, mostrou uma reportagem no Domingo Espetacular em que aparecem as falcatruas do apóstolo Valdemiro. Enriquecimento com dinheiro da igreja, como a compra de três fazendas no mato Grosso que, juntas, equivalem a mais de 13 mil estádios do maracanã e valem mais de R$ 50 milhões; calote no aluguel de 59 templos só no estado de São Paulo; e sonegação fiscal. Tudo muito familiar para essa turma. Nada que Macêdo não conheça.

Há tempos eu falo que a melhor maneira de ganhar dinheiro fácil é fundar uma igreja. Possui isenção fiscal e é fácil de abrir. Sem contar que vende um produto, a salvação, que não tem como o ludibriado voltar para reclamar caso ele vá parar no inferno ou em qualquer outro lugar que não seja o paraíso que lhe venderam. Ou alguém já viu um defunto voltar do além e ir reclamar no Procon? Esses dois são gêmeos univitelinos, irmanados na prática covarde de ludibriar incautos. Com dizia a minha mãe, é o sujo falando do mau lavado.

A parte circense da briga, você pode acompanhar no blog do Edir Macêdo, onde foi postado um vídeo em que o “Demônio”, manifestado numa mulher, revela os “segredos” de Valdemiro. O “Coisa ruim” afirma que o fundador da Igreja Mundial é seu servo e que o seu casamento está em crise por que a sua esposa quer fazer parte da universal. Coitadinha...

terça-feira, 20 de março de 2012

Bicicleta: a onda

Eu só tive bicicleta uma vez na minha vida. Era adolescente e lá se vão mais de vinte anos. Vivia pulando rampas e buracos. Quando não era eu, era a bicicleta que estava quebrada. A pouca idade me absolve e o sentimento de culpa já prescreveu. Não consigo enxergar os benefícios da bicicleta para coletividade. No máximo benefícios individuais. Temos que admitir que faz bem para a saúde pedalar. Somente isso. Sem contar que a bicicleta ilude: é o único meio de transporte que você pensa que está lhe carregando, mas na verdade é você quem carrega ela.

É conversa fiada essa história de que a bicicleta resolverá os problemas de trânsito nas grandes cidades. Não vai. São lamentáveis as mortes de ciclistas no trânsito, mas elas não vão me convencer da eficácia da bicicleta. A construção de ciclovias deixará as avenidas mais estreitas e o trânsito mais lento para carros e ônibus. Não construí-las fará com que os ciclistas dividam os espaços com os automóveis e uma bicicleta necessita de um espaço equivalente a de um carro, com a desvantagem de transportar apenas uma pessoa.

Qualquer solução para o trânsito nas grandes cidades passará necessariamente pela melhoria do transporte público: ônibus e metrô. Para quem acha que a bicicleta também é solução para o problema da poluição, digo desde já que tenho outra solução. Temos maturidade tecnológica suficiente para desenvolver combustíveis pouco poluentes ou não poluentes. Minhas pernas não têm vocação para combustível! Depois que inventaram o automóvel e facilitaram o financiamento para compra-los, não existe meio de transporte melhor.

segunda-feira, 19 de março de 2012

O importante é ser feliz*

Estacionou a velha Parati cinza dos anos noventa na esquina da Rua Sarandi. O prédio era grande, a portaria excêntrica. De modo que Félix foi orientado pelo porteiro a entrar pela ala de empregados, carregava com esforço todas as tralhas do ofício. Subiu pelo elevador de serviço até o quinto andar, a porta abriu, ele entrou. Madalena apareceu logo, inexplicavelmente colada dentro de um vestido vermelho e num salto Luiz XV, dando ordem a torto e a direito:

- Ah, é você o montador? Venha, vou te mostrar a cozinha. Meu marido e eu ainda estamos montando o apartamento, mas quero uma boa cozinha...

Enquanto Félix martelava pregos, parafusava portas de armários, furava suportes de prateleiras, a empregada passava a roupa no contíguo adjacente à varanda que dava para a lateral da cozinha. Ela não era feia, nem bonita; era o que se costuma dizer por aí simpática, pessoa simpática; tinha um olhar perene para a roupa grudada na passadeira; alisava uma camisa, tirava da passadeira, aplainava uma calça, tirava da passadeira, tornava à outra camisa, tirava do fulcro, e iam assim os eternos minutos domésticos. O barulho do carpinteiro em seu ofício não a abalava. Se o mundo fosse explicado por cena tão vulgar e tola, dir-se-ia aqui que a vida não é nem boa nem ruim, apenas o espírito ora é feliz ora é medíocre. Tudo é contínuo, complacente e inesperadamente malicioso.

O carpinteiro começou a olhar as pernas bem torneadas da empregada, a empregada ao dorso musculoso do carpinteiro; já lhe disse, leitora, tudo é contínuo, complacente e inesperadamente malicioso. Tudo é o fruto do pecado original que nos acompanha... Entre um olhar oblíquo e outro sorrisinho mais direto, Madalena apareceu novamente.

- Como estamos?

- Bem, madame. Falta pouco, acabo já. Falta uma ou duas prateleiras e furar dois ou três buracos...

- Não me vá estragar a parede, hein, rapaz!

- Não, madame.

Madalena virou demoradamente nos saltos finos, por instante carnal, observou com afinco os bíceps do carpinteiro. Pensou ali a solução para a vingança que vinha planejando há tempos para o marido mulherengo e traidor, depois teve de fugir dos próprios pensamentos. Mas as ideias são linhas que se entrelaçam dando nós irônicas; durante os últimos tempos de casada calculou para o esposo infiel a mutilação dos órgãos da masculinidade durante a noite, o assassinato dele também durante a noite, um golpe durante o dia, um roubo antes do almoço, torturá-lo após o jantar, aviltá-lo com o incesto do primogênito, ofendê-lo com uma difamação sexual e cruel no clube de tênis; quando tudo surgia naquele momento tão simples, e tão mais discreto: apenas traí-lo com o carpinteiro viril e desgraçado que montava a mesa onde fariam em futuro as sagradas refeições. Se os vizinhos descobrissem, tanto melhor – ninguém a julgaria n’alguma festa por ela estar em justa batalha à moda galicista.

A empregada riu, riu do moço e da patroa. Percebeu do moço a ingenuidade própria de iguais; e sabia da patroa o nojo dela pelos pobres. Acostumara já à impiedade, ao desprezo pelos sentimentos alheios acima de qualquer amor. Isto a fez calejar na cidade grande, de homens e mulheres cheios de vazio, de sopro de alma que nunca enche completamente – é triste mesmo a felicidade de quem se acostuma com vida. Dentro dos afazeres domésticos, ela sentia-se um animal do lar alheio. Apologia de todos os crimes e censura a toda e qualquer virtude, tida como vulgar. E tudo é vulgar mesmo; exceto o latrocínio, a extorsão, o egoísmo, o ódio à religião, e a insignificância de Deus; refletia deste modo, isto e aquilo, a empregada passando a roupa de outrem – não tão assim coordenado como pode parecer agora, mas uso o recurso que tenho para não por tudo a perder com divagações de uma mente pouco pragmática.

Não há muita coisa certa nesta vida; uma sabe-se ser a morte, talvez outra seja a felicidade. Existem outras, verdade, mas não cabem neste texto... E é necessário terminar o texto. Então... Madalena deixou-se jogar no imenso sofá a refletir-se em si mesma bebericando um drinque de coloração lilás e desembrulhando algumas trufas de chocolate com licor que não chegou a comer; um ponto de vista apedrejado pela boa fortuna, certamente quase feliz. A empregada, também com toda a felicidade que Deus lhe deu, continuou em seu permanente ofício de passar uma camisa e dobrá-la, passar um vestido e esticá-lo, passar uma calça e enfiá-la num cabide; às vezes deixando escorregar à passadeira um ou outro pensamento quase filosófico que logo perdia espaço para o ferro de passar roupa que queria somente passar. Por fim; Félix, um homem de fato feliz, tinha as ideias formadas nos bíceps e tríceps que martelaram e furaram portas e as prateleiras durante toda aquela tarde; depois que acabou o serviço, recebeu ainda ali o justo e necessário ordenado da labuta e desceu pelo mesmo elevador de serviço do começo do conto com o que restou das tralhas da carpintaria, guardando-as na caçamba da velha Parati cinza e acelerando Rua Sarandi a fora. Viver é uma felicidade só, e por vezes misteriosamente efêmera.

*Ricardo Novais é romancista e contista

sábado, 17 de março de 2012

Assim você me mata

O hit Ai se eu te pego estourou esse ano. A música consta como de autoria da cantora Sharon Acioly e Antônio Diggs. Até aí, tudo bem. No mês passado a cantora anunciou um acordo extrajudicial com as jovens Karine Vinagre, Amanda Cruz e Aline Medeiros que reivindicavam a coautoria do hit. Até aí, tudo bem. Agora outras três jovens (Marcella Quinho Ramalho, Maria Eduarda Lucena dos Santos e Amanda Borba Cavalcanti de Queiroga) também reivindicam a coautoria da música. Mais especificamente do refrão. E moveram uma ação reivindicando parte dos lucros obtidos com a música. Agora não está tudo bem não.

Fiquei preocupado. Sinceramente preocupado. Vejamos o refrão da música: Nossa, nossa/Assim você me mata/ ai se eu te pego/ ai, ai se eu te pego. São dezessete palavras. Se tirarmos as repetições ficarão apenas dez, sendo uma delas a representação de um gemido. E foram necessários seis pessoas para compor? Se eu fosse os pais dessas estudantes ficaria seriamente preocupado. Por causa desse imbróglio, a 3ª Vara Cível de João Pessoa determinou o bloqueio judicial do dinheiro arrecadado com o hit.

Fico imaginando se essas jovens fossem convidadas para compor o hino nacional. Teriam que convocar todas as amigas de infância, da faculdade, da vizinhança, do Facebook, do Orkut e ainda uma colaboraçãozinha de suas ex-professoras do Pré-II. Mas a voz que mora em mim tem uma pergunta que não quer calar: quem compôs o gemido?

sexta-feira, 16 de março de 2012

Humor é humor

Um sujeito entra numa casa de espetáculos para assistir um stand-up chamado de “Proibidão”, que tem como temas centrais os gays, os negros, as mulheres e os deficientes, e se ofende com as piadas ali contadas. O que ele queria? Piadas politicamente corretas? Ali não é o lugar mais adequado para isso. Ali as piadas são de “mau gosto” mesmo. Vai assistir quem quer. Isso aconteceu com o músico Raphael Lopes na casa noturna Kitsch Club, que foi a uma delegacia mais próxima reclamar de uma piada feita pelo humorista Felipe Hamashi.

O humor é uma brincadeira, portanto não deve ser levado a sério. Se for levado a sério deixa de ser humor. Enquadrar o humor no politicamente correto é assinar o seu atestado de óbito. O politicamente correto é monótono. Nada mais sem graça do que o humor politicamente correto. Deve ser tão divertido quanto a Missa do Galo celebrada pelo papa Bento XVI. Uma piada é só uma piada, não é um manifesto de intenções. Uma piada é para rir, não é para ficar sério. Se você é incapaz de rir de uma piada por acha-la de mau gosto ou politicamente incorreta, não vá assistir ao espetáculo.

Estou lembrando a piada de Rafinha Bastos com a cantora Wanessa Camargo. Foi de mau gosto? Foi. Mas foi uma piada. Ou alguém achou que ele realmente queria comer (em todos os sentidos) uma criança que estava no útero materno? Essa mesmas pessoas que se ofendem com piadas nem um pouco politicamente corretas, são as mesmas que fazem piada sobre a masculinidade do gaúcho ou sobre a disposição do baiano para o trabalho. Em outras palavras: que gaúcho é viado e baiano é preguiçoso. Falta bom humor a essa gente. Sorria meu bem.

quinta-feira, 15 de março de 2012

Um sonho americano – Norman Mailer

Nascido em 1923 em uma família judia, o romancista, ensaísta e dramaturgo Norman Mailer escreveu 39 livros. Polêmico, controvertido e odiado pelas feministas, foi um inestimável provocador. Sempre olhando seus contemporâneos com amargura, foi um dos grandes renovadores da literatura americana do século XX, ao lado de Truman Capote e Tom Wolf. Nunca escreveu sua autobiografia, pois, segundo ele, ao fazer isso “você destrói todos os seus cristais”. Morreu em 2007, acometido de problemas pulmonares.

Mailer escreveu Um sonho americano em 1965 e chocou os puritanos da época. Por quê? Segundo Paulo Francis, autor do prefácio, o autor escreve como ninguém sobre a obsessão americana por sexo e violência. Mailer não perdoa a sujeira e os pecados sórdidos da classe alta, camuflados sob a plácida superfície familiar. Tudo começa quando o personagem-narrador Stephen Rojack assassina a sua esposa e tenta simular um suicídio. Esse ato transforma a vida de Rojack, que, de representante do “sonho americano”, é lançado num mundo de gangsteres, prostituição e policiais corruptos.

O intrigante é que a ato impensado de Rojack deixa um rastro de pistas que qualquer policial amador seria capaz de metê-lo na cadeia. No entanto, toda a primeira metade do livro é marcada pela tensão da prisão iminente. E aí reside um dos mistérios da história. O ponto negativo do livro é que o autor comete o mesmo pecado que eu já vi em autores americanos como Bukowski: comparações sem sentido como “…tinha no rosto a expressão de um soldado que achou um pêssego em um árvore no outono e parou para comê-lo” ou “Eu tinha o olhar objetivo de um promotor público que abriu mão de uma carreira em cirurgia”. Não sei se é uma marca registrada da literatura americana. Mas é um livro que se deve ler.

quarta-feira, 14 de março de 2012

Gênio ou louco?

Há escritores que conseguem atrair a atenção do leitor para a sua obra por causa da genialidade. Outros por causa da loucura das suas idéias. E ainda há aqueles que se enquadram nas duas categorias: gênio e louco. Lendo uma entrevista do escritor espanhol J. J. Benitez na Folha.com fiquei na dúvida onde ele se enquadrava. Gênio ou louco, o fato é que ele despertou em mim a curiosidade pela sua obra. Suas idéias são, no mínimo, intrigantes.

A obra mais caudalosa de Benítez é a saga Cavalo de Tróia, cujo primeiro livro foi lançado em 1984 e o nono, e último, no ano passado. A série, que mistura histórias bíblicas com teorias alienígenas, conta a história de dois pilotos da Força Aérea Americana que, sob o comando da Agência Espacial Americana, viajam no tempo e acompanham os últimos anos de Jesus Cristo.

Benítez garante que a história não é tão fantasiosa como muitos querem crer. Segundo ele, a história foi registrada por um dos pilotos num diário. Como esse diário chegou às mãos do escritor? Ele não revela. Mas segundo ele, o piloto, Jasão, morreu em 1981. O escritor se destaca por buscar refutar sistematicamente a Bíblia e desmistificar os seus personagens. Vou começar a juntar os nove volumes de Cavalo de tróia. Voltarei a falar sobre o assunto...

terça-feira, 13 de março de 2012

O bom (?) samaritano

Desconfie do bom samaritano que alardeia suas ações aos quatro cantos. Desconfie do bom samaritano que não se contenta em fazer a boa ação. Todos têm que saber. O bom samaritano de verdade se contenta em apenas fazer o bem. Sem publicidade. Você com certeza já ouviu falar que “de boas intenções o inferno está cheio”. Não é esse o caso. As boas intenções desse suposto bom samaritano estão apenas na aparência. Ele é um mal intencionado. Parece ser esse o caso do pastor-celebridade Marcos Pereira, um artista do púlpito que conquistou o respeito de políticos, artistas e ONGs.

O pastor Marcos, carioca de 55 anos, converteu-se em 1989 e fundou sua própria igreja dois anos depois, a pentecostal Assembléia de Deus dos Últimos Dias, com sede no Rio e filiais no Paraná e no Maranhão. Lá, segundo seus detratores, instituiu um reinado de trevas, proibindo refrigerante, rádio, televisão (apesar de ter um telão em seu gabinete) e remédios. Remédios? Sim. A igreja se encarrega da cura, desde que o infeliz que dela precisar pague uma taxa extra através de boleto bancário. Os cultos da igreja (barulhentos e teatrais) chegam a reunir 15 mil pessoas. O pastor é visto como um habilidoso apaziguador de conflitos liderados por bandidos, como motins em presídios, e afirma ter “curado” muitas almas do tráfico.

Esse mundo e essa imagem do pastor Marcos começam a desmoronar ao que tudo indica. Tudo começou com uma denúncia de ameaça de morte feita pelo presidente da AfroReggae, José Júnior. Depois dele dois ex-fiéis da igreja denunciaram o pastor por encenações de cura pela fé, estupro, tortura de crianças e relações criminosas com traficantes. Segundo esses dois denunciantes, o pastor marcos chegava a cobrar R$ 20 mil para fazer cultos em comunidades dominadas por traficantes e, quando estes caíam em desgraça, cobrava 10% de tudo o que tinham acumulado para escondê-los em uma de suas propriedades para não serem presos.

De acordo com as denúncias, a relação do pastor com os criminosos era tão promiscua que, em 2006, durante um ataque de traficantes a vários pontos da cidade, ele chegou a aconselhar os meliantes a intensificarem os ataques, inclusive “explodir a ponte Rio-Niterói”, segundo um dos denunciantes que teria ouvido as palavras do próprio pastor, para que ele surgisse como o grande mediador da crise. Parece que a máscara do bom samaritano começa a cair...