quinta-feira, 24 de novembro de 2011

A micro história

Até a década de 20 do século XX, a História era contada a partir dos grandes fatos e dos grandes personagens. Eram as guerras, as revoluções, os reis, generais, presidentes, etc. Fundada em 1929 pelos Lucien Febvre e Marc Bloch a Escola dos Annales propunha entender o processo histórico não a partir dos grandes fatos e dos grandes personagens, mas a partir dos pequenos detalhes. As grandes revoluções são feitas não apenas em virtude de decisões tomadas por “heróis”, mas também pela soma de pequenas atitudes tomadas por personagens até então desconhecidos. É a História do Cotidiano! É como o poema de Bertolt Brecht, “Perguntas de um Operário que Aprendeu a Ler”: “Depois de cada batalha um banquete, mas quem servia as mesas?”.

Claro que fazer esse tipo de história dá trabalho. Nem sempre a vida cotidiana é documentada, tendo os historiadores que usar muitas vezes da interpretação de documentos para deduzir como viviam as pessoas do povo. Quanto mais antigo o fato, mais difícil encontrar documentos que o relate de forma fiel. O cotidiano dos habitantes de Pompéia, destruída pelo Vesúvio no ano 79 da Era Cristã, só foi desvendado (e ainda continua sendo) após escavações arqueológicas que duraram anos. Mesmo fatos mais recentes, como as moradias brasileiras no Período Colonial, dependem de documentos garimpados em cartórios da época para serem conhecidas de forma detalhada. Esse tipo de pesquisa demanda tempo e paciência.

Mas esse problema está acabando. Quando, daqui a 200, 300 anos os micro historiadores quiserem contar como viviam os brasileiros no início do século XXI encontrarão farto material de pesquisa nas redes sociais. Não falo nem sobre a vida dos famosos. Esses têm seu cotidiano esmiuçado por todos os lados: a marca da roupa, do perfume, do calçado que usam, o que comem, o que bebem. Falo do simples mortal. Tem sujeito que usa as redes sociais para passar o dia falando o que faz. “vou ao banheiro, volto já”. Só falta falar se vai fazer o número um ou o número dois. Tem patricinha que está ocupada nos afazeres domésticos e posta: “fazendo almoço...” e aí dá todo o cardápio da família. Sem contar aqueles que se ocupam apenas em transcrever o pensamento alheio, com mensagens edificantes que não edifica ninguém. Talvez por falta de pensamento próprio. Aquelas frases água com açúcar que todo mundo acha legal, mas ninguém segue. É uma verdadeira overdose de infrassignificado.

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