segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

O Natal em Porto Velho

Definitivamente, ornamentação natalina e prefeitura de Porto Velho não combinam. Nos anos anteriores, a reclamação era o valor pago à um empresa paranaense pelo aluguel dos enfeites. Dava para comprar tudo e ainda sobraria dinheiro. Nesse ano, o nosso ativo prefeito, Mauro Nazif, resolveu inovar e apostar na sustentabilidade e espalhou um monte de pneus velhos pintados e com um monte de badulaques natalinos pendurados. Virou alvo de chacota, piada, revolta e ira da população nas redes sociais.
Teria a população razão em criticar nosso valoroso prefeito e o “artista” que bolou tão criativos ornamentos? Depende do ponto de vista! Do ponto de vista financeiro, esperamos que as reclamações não se repitam. Qualquer coisa mais cara do que de graça seria cara para adquirir tais produtos recicláveis. O meu medo é que daqui a pouco surja um mal intencionado promotor de justiça dizendo que a prefeitura comprou pneus velhos a preços superfaturados. Aí nosso adorado prefeito, que eu achava que já tinha se superado com a ornamentação, terá me iludido e se superado mais uma vez.
 Do ponto de vista estético, a ornamentação é a coisa mais horrorosa que já vi. Melhor seria não ter colocado coisa nenhuma. Ou ter comprado aqueles “pisca-piscas” de fabricação chinesa que custam uma ninharia em qualquer banca de camelô e espalhado pela cidade. Mas a boa notícia vem das intenções de quem espalhou pneus velhos pela cidade a pretexto de reciclagem. Se começaram a transformar lixo em ornamentação, quem sabe não vão começar a transformar esse aglomerado urbano cheio de buraco, poeira, lama, fedentina e obras inacabadas (um favelão, segundo um filósofo português) numa cidade? A esperança é a última que morre...

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Uma lixeira chamada Rondônia

Desmatamento, queimadas, escândalos políticos, operações da Polícia Federal, parlamentares presos ou cumprindo pena. Isso é a cara de Rondônia! Alguns corações sensíveis (e ingênuos) podem querer achar algo positivo que melhor represente esse estado perdido nos rincões da Amazônia, mas acho difícil.
Só se for o Rio Madeira! Mas até ele anda rebelde, tentando lavar a podridão da capital do estado com suas águas barrentas. Ou algum outro pedaço de mata perdido no interior do estado! Pode até ser, mas não deixem o homem pôr a mão, vai apodrecer, como o resto do estado.
De uns tempos para cá, tem vindo à tona as declarações do ex-secretário de saúde do estado, José Batista da Silva dadas à Policia Federal. Se o que se está a olhos vistos já nos leva a acreditar que Rondônia é algo parecido com uma lixeira, quando se fica sabendo o que ocorre nos bastidores nos leva a crer que Rondônia é, sem titubear, o esgoto político do Brasil.
Segundo Batista, dos 24 deputados estaduais 22 foram “comprados” pelo governador. Tão revoltante quanto a compra em si, foi a forma com ela se deu: somente na Secretaria de Saúde foram extintos 402 cargos, o que comprometeu alguns serviços, para serem criados outros 800 que foram loteados entre os deputados. Detalhe: os indicados dos deputados não precisariam comparecer ao trabalho. Cada deputado tinha uma “cota” de R$ 40.000,00 mensais em cargos comissionados.
Mas demitir quem estava trabalhando para colocar quem não vai trabalhar não era a única forma de comprar as “prostitutas”. Outra forma era o loteamento de contratos de prestações de serviços. Um desses deputados, Jean Oliveira (PSDB), filho de um ex-presidente da Assembleia que coleciona condenações na justiça, possui um contrato de lavagem de roupas hospitalares de 950 Kg/dia e queria aumentar para 5 toneladas/dia. Segundo Batista, diante da sua recusa em aumentar a quantidade de roupas a serem lavadas diariamente alegando que pessoas estavam “morrendo no chão dos hospitais”, o deputado afirmou que “não tem parente meu no chão de hospital”. 
Na Câmara de Vereadores de Porto velho, esporadicamente “indignados” edis ameaçam abrir um processo de investigação contra o ativo prefeito Mauro Nazif. Morro de curiosidade para saber quais os “argumentos” que o prefeito usa para “convencer” os valorosos vereadores e impedir, em todas as ocasiões, que o processo que poderia custar seu cargo seja aberto.
Nessa imensa lixeira chamada Rondônia, as prostitutas e michês não estão apenas nas calçadas ou nos clubes privês, mas também em respeitáveis gabinetes, vestindo roupas caras e elegantes, usando joias e tratando, uma aos outros, de excelência.


terça-feira, 25 de novembro de 2014

A Black Fraude brasileira


Os brasileiros tentaram importar dos EUA o Black Friday, em tradução literal “Sexta-Feira Negra”, que por lá é a sexta-feira após o Dia de Ação de Graças, um dia tradicional de descontos no varejo americano. Por aqui, o mais apropriado seria “Sexta-Feira Azul”, quando o comércio realiza promoções para tentar sair do vermelho. Como por aqui não se comemora o Dia de Ação de Graças, o brasileiro resolveu colocar um tempero tipicamente nacional no tradicional dia de descontos dos americanos: a desonestidade.
Reitero que o único produto genuinamente brasileiro é a desonestidade. Não me venham com papo furado de samba, caipirinha ou futebol, por que nesses três quesitos a desonestidade dá as caras também. Samba plagiado, cachaça batizada ou falsificada e jogador simulando falta para enganar juiz são tão comuns por essas plagas quanto fraude em licitação ou superfaturamento de obras públicas.
Por que haveria de ser diferente com o tradicional dia de descontos dos americanos, realizado no Brasil há quatro anos? Contaminado pela desonestidade tupiniquim, o evento aqui já está sendo chamado de “Black Fraude”, numa tentativa patriótica de diferenciar o nosso evento do evento dos “gringos”. De acordo com o site reclame Aqui, o número de reclamações vem crescendo ano a ano, principalmente por causa da maquiagem de preços (aumento de preços dias antes do evento para dar o “desconto” no dia), a ponto de os produtos que ficaram mais caros no dia do evento ser o dobro dos que efetivamente receberam descontos.
Não basta ser desonesto, tem que ser ambicioso também. E o brasileiro é o pior tipo de ambicioso: aquele que não ambiciona conquistar através do trabalho, mas através do embuste, da fraude, do logro, da simulação, do ardil, da artimanha, da cavilação, da intrujice, da falcatrua. Enfim, de qualquer forma que torne possível passar alguém para trás. O Brasil é uma great fraude!  


sexta-feira, 19 de setembro de 2014

A lógica perversa nacional



Tem notícias que deixam tristes. Tem notícias que me deixam com raiva. Mas tem notícias que me dão nojo e me revoltam. No Rio de Janeiro, a presidente do Tribunal de Justiça enviou projeto de lei à Assembleia Legislativa que estabelece auxílio-educação de R$ 7.250,00 para pagamento de escola, uniforme e material escolar para filhos de juízes e desembargadores. Depois de críticas recebidas, o auxílio requerido baixou para R$ 3.030,00.
A presidente do TJ-RJ, Leila Mariano, vê no auxílio-educação “um direito do trabalhador” e não um privilégio, pois, ainda segundo a magistrada, “o correto seria ter vencimentos condignos para não precisar disso”. O salário bruto de um juiz ou desembargador, segundo a página do próprio TJ-RJ, fica em torno de R$ 31.000,00.
Em Minas Gerais, o TJ aprovou o auxílio-moradia para juízes e desembargadores, cujos salários variam de R$ 22.797,33 a R$ 26.589,68. No STF, o ministro Luiz Fux estendeu esse mesmo auxílio à todos os juízes federais cujos vencimentos ultrapassam os R$ 20.000,00.    
No caso carioca, os argumentos para justificar o auxílio-educação para uma “casta” revoltam tanto quanto o auxílio em si. Se um salário superior a R$ 30.000,00 não é “condigno”, o que dizer do salário da maioria esmagadora dos trabalhadores brasileiros (que não têm auxílio nenhum)? Se o auxílio-educação é “um direito do trabalhador”, como argumenta a magistrada carioca, cadê o dinheiro dos “outros” trabalhadores desse país?
Independente dos argumentos que se queiram usar para justificar tais auxílios, eles são verdadeiras anomalias. Na lógica perversa nacional, quem ganha mais recebe auxílios, ajuda de custo, bonificações. Para aumentar ainda mais a perversidade da lógica, quem ganha menos recebe um benefício chamado “salário-família” que, dependendo da faixa salarial, pode chegar a R$ 35,00. Isso mesmo! R$ 35,00 reais para, segundo a própria legislação, “auxiliar no sustento dos filhos até 14 anos incompletos”.
Fico imaginando como seria a cara de um juiz ou desembargador, do alto de vossas arrogâncias jurídicas, ver impresso nos seus polpudos contracheques, os dois míseros dígitos com os quais eles teriam que “auxiliar no sustento” dos seus mimados rebentos.  Mas a lógica nacional não me permite isso...

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Uma mente brilhante – Sylvia Nasar

Se fosse para definir Uma mente brilhante, da jornalista norte-americana nascida na Alemanha Sylvia Nasar, em poucas palavras, poderíamos dizer que, para o leitor comum, leigo em matemática, é um livro com altos e baixos. O ponto alto do livro é quando Nasar descreve o lado esquizofrênico da personalidade do matemático John Nash Jr. O ponto alto é quando o lado racional vem à tona. Nesse ponto, o livro se transforma num tratado de matemática avançada, inacessível aos simples mortais.
John Nash Jr. nasceu em 1928, nos Estados Unidos. Menino solitário e introvertido, sempre demonstrou mais afinidade com os livros do que com as pessoas. Aos dezessete anos, ingressou na prestigiosa Universidade de Carnegie Mellon, onde estudou matemática e saiu com o título de mestre. Depois foi fazer doutorado em Princeton, onde evitava assistir aulas e palestras e ler livros, com o objetivo de desenvolver teorias e conceitos originais.
Aos 21 anos, em 1950, escreveu uma tese de doutorado que lhe rendeu, 45 anos depois, o Prêmio Nobel de Economia. Após o doutorado, foi dá aulas no MIT (Massachusetts Institute of Technology) e foi lá que seus problemas psiquiátricos começaram a aparecer, sendo diagnosticado com esquizofrenia paranoica. Nos 30 anos seguintes, foi internado inúmeras vezes e todos viram sua vida acadêmica e pessoal desmoronar.
Apesar das explicações quase inacessíveis aos leigos em matemática, é possível ter uma noção do que é a mente intrigante de um gênio. Nash continua lecionando em Princeton. Em 2001, o livro ganhou uma versão para o cinema, premiado com o Oscar de melhor filme naquele ano, estrelado por Russel Crowe.