segunda-feira, 31 de outubro de 2011

O dia D, de Drummond

Carlos Drummond de Andrade nasceu no dia 31 de outubro de 1902, em Minas Gerais. O poeta completaria hoje 109 anos. Existe um movimento de amantes da poesia querendo tornar a data festiva. As escolas, os museus, os centros culturais, todos promovendo eventos em alusão a data. Um dia de homenagens ao poeta mineiro. Acho legal. Era um grande poeta, dizem. Digo “dizem” por que não entendo nada de poesia. Poderia aproveitar a data e posar de grande leitor e expert em poesia. Mas não. Devo confessar que não entendo bulhufas de poesia. Só sei quem são os grandes poetas por que estudei no ensino médio e leio a respeito. Aliás, quero aproveitar os dia festivo e confessar que detesto poesia. Pronto, está dito!

Sei que para alguns estou dizendo uma heresia. Para outros estou cometendo um pecado mortal. Mas o fato é que eu não gosto de poesia. Acho enfadonho. Não consigo ver graça em rimar amor com dor, ar com mar. Além de enfadonho é meloso. Tudo bem que nem toda poesia é melosa, mas eu não gosto. Poesia é de uma chatice sufocante. Talvez não possua sensibilidade suficiente para “sentir” a poesia. Em outras palavras: sou um ignorante! Isso deve está doendo nos ouvidos de alguns intelectuais, ou pretensos intelectuais, que elegeram unanimidades, verdadeiros deuses de quem não se pode dizer que não gosta. Experimente falar mal de Fernando Pessoa perto desses sujeitos. Não que o português seja mal poeta. Apenas eu não gosto.

Sou um leitor compulsivo. A minha relação com os livros, como já declarei num post anterior, é existencial e, em alguns momentos, chega a ser patológica. Sou apaixonado por literatura. Mas fico com a prosa. Se me perguntarem qual a minha poesia predileta, responderei: nenhuma. Se me perguntarem qual o meu poeta predileto, responderei: nenhum. Não leio poesia. Não consigo passar da primeira estrofe. Não consigo entender por que o sujeito tem que dizer com meias palavras o que ele pode dizer com palavras inteiras. Por que poesia, no meu ignorante e insensível ponto de vista, é a arte de falar por meias palavras. Mas acho legal a homenagem a Drummond na data do seu nascimento. Foi um grande poeta. Para quem gosta de poesia. Parabéns Drummond!

sábado, 29 de outubro de 2011

Dia Nacional do Livro

Acabei de ver no Twiitter que hoje é o Dia Nacional do Livro. Ia passando em branco. Faço tantas loas ao livro e não sabia que hoje é o seu dia. Podia dizer que apenas não estava lembrado. Mas a verdade é que eu não sabia mesmo. Mas vamos lá, agora já sei. Vamos a uma pequena história do livro. Sabemos que o livro não era como o conhecemos hoje. Nos seus seis mil anos de existência, esse objeto tão precioso para os amantes da leitura mudou várias vezes de forma. Os sumérios, os inventores da escrita, armazenavam suas informações em tabletes de argila, que eram difíceis de transportar e armazenar. Por volta de 2.200 a.C., os egípcios desenvolveram o papiro, mais fácil de armazenar e transportar, mesmo alguns livros tendo 20 metros de cumprimento. O papel, como nós o conhecemos, surgiu na China no século II. Daí em diante ficou mais fácil para Gutemberg, no século XV, desenvolver o processo de impressão. O primeiro exemplar impresso teria surgido em 1442.

Mas a quantas anda o livro entre nós? Infelizmente, em comparação a outros países, o panorama não é dos melhores, apesar de vir em processo de melhora. Um exemplo disso é o aumento do faturamento do mercado editorial (tudo bem que parte desse faturamento se deve ao dinheiro que o governo destina para a compra do livro didático para as escolas). Outro dado alentador é o preço do livro: ele vem caindo, em média, 4% ao ano. Mas estamos muito longe de um panorama satisfatório. O brasileiro lê, em média, dois livros por ano, contra sete entre os argentinos e quinze entre os norte-americanos. O Brasil tem uma livraria para a cada 84.500 habitantes, os argentinos uma para cada 50.000 habitantes e os EUA, uma para cada 15.000, segundo dados da ABRELIVROS (Associação Brasileira de Editores de Livros Escolares). Mas chegaremos lá.

Mas importante do que as estatísticas é o amor que destinamos a esse objeto que nos abre portas para o mundo. Não apenas o mundo da fantasia, mas também o mundo real. Quem lê vive mais, pois pode viver a vida real e a vida que existe no livro. Poucas coisas são mais fascinantes do que se abstrair do mundo real e viver o que está lendo. Nos momentos de leitura deixamos o mundo em que vivemos e passamos a viver o mundo dos personagens. Um mundo onde tudo é possível desde que seja da vontade do autor. No mundo da leitura, o autor passa a ser o Deus que decide os destinos, inclusive do leitor, pelo menos naqueles momentos mágicos em que mundo real se torna distante. Indiscutivelmente, o livro é um objeto mágico.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Estúpidos sem causa

“Vamos celebrar a estupidez humana...” Esse deveria ser o lema dos cerca de 300 estudantes que ocuparam o prédio da administração da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da Universidade de São Paulo (USP). Eles acreditam ser os “representantes” dos quase 80 mil alunos que estudam na universidade. A turba exige a revogação do convênio firmado entre a universidade e a PM. A confusão começou quando quatro PM’s prenderam três estudantes que fumavam maconha nas dependências da universidade. Na noite de quinta (27/10) essas “lideranças políticas”, em confronto com a polícia, feriram policiais e um cinegrafista e danificaram quatro viaturas para defender as suas “idéias”.

Nessa sexta, os invasores divulgaram um manifesto em que reclamam da “repressão” da polícia dentro da universidade. Se fosse nos anos 70 talvez eu também assinasse o dito manifesto. Só faltou colocar palavras de ordem do tipo: “Violência não! Abaixo a repressão!”. Tenha santa paciência! A PM reprime sim! Reprime o crime! Não sei se a futura elite pensante do país sabe, mas fumar maconha ainda é crime. Quer fumar maconha ainda assim? Fume em casa, escondidinho. Universidade é lugar pra estudar. Discorda? Então canalize suas energias para lutar pela legalização da canabis, já que não usá-la para estudar. Não use essa energia para invadir prédio público.

Só lembrando que o tão questionado convênio firmado entre a USP e a PM foi firmado após o assassinato do estudante Felipe Ramos de Paiva, de 24 anos, em maio, no estacionamento na Faculdade de Economia e Administração (FEA). Os próprios estudantes reclamavam da insegurança dentro do campus. Mas para esse grupo, é preferível ser assaltado, desde que lhes seja reservado o “direito” de fumar seu baseado. São, como bem definiu o Bacharel em História pela USP e graduando em gestão de políticas públicas, Rodrigo Neves, os “setores ostracizados” que resistem à presença da PM no campus para proporcionar mais segurança aos próprios estudantes. Que fale por si a faixa na foto acima. Esse episódio é o retrato da miséria educacional brasileira. “Vamos celebrar a estupidez humana...”

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Não perdoaram

A grande notícia nos noticiários nos últimos dias foi a morte de Muammar Kadhafi, ditador líbio. Estava em todos os jornais escritos, televisados e na internet. Não se falou em outra coisa. Muammar morreu, está morto, eis a constatação. O que se discutiu a exaustão foi como mataram Muammar. O dilema foi tamanho que o apresentador do Jornal Hoje perguntou a enviada da Rede Globo em Nova York: “e aí, fulana, Kadhafi morreu ou foi morto?”. Eu tenho a resposta: Muammar morreu por que foi morto. Os rebeldes líbios (agora ex rebeldes) juram de pés juntos (não como Muammar) que o dito cujo foi morto numa troca de tiros. Mas as imagens que chegaram ao resto do mundo dizem tudo, menos que ele foi morto numa troca de tiros.

Mesmo em situação de guerra, a execução sumária é considerada crime pelo Direito Internacional. Se o combatente é capturado, tem que ser levado a julgamento. Não foi o que aconteceu na líbia. Tudo leva a crer que o ex ditador foi executado de forma sumária. Não vamos discutir se ele mereceu ou não. O fato é que existe uma legislação e ela deve ser respeitada. Senão vira barbárie. Mas o que aconteceu é fato consumado e qualquer tentativa de esclarecer o caso e punir eventuais culpados não passará de mera retórica. A preocupação agora parece ser como vai ficar a líbia sem Muammar.

Hoje, uma notícia não menos chocante sobre o caso pipocou nos noticiários: existem fortes evidências de que o ex ditador foi abusado sexualmente antes de ser morto. Em outras palavras: traçaram o Muammar! Definitivamente a maldade humana não tem limites. Nem Alá consegue imaginar uma coisa dessa. Além de linchar e humilhar, ainda traçaram o Muammar. Definitivamente, não perdoaram Muammar. Com aquele jeito de macho empedernido que envergou por sessenta e nove anos, deve está se revolvendo dentro do caixão. Jurando vingança! Não pela morte, que isso faz parte da vida. Mas traçar o Muammar? Isso não! Claro que não devemos nos refestelar sobre o cadáver de ninguém. Mesmo quando o agora cadáver não valia muita coisa quando era vivo. Que a terra lhe seja leve.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

A Série Coelho - John Updike

Sinto um prazer especial ao ler trilogias ou tetralogias. Se tratar-se de uma saga épica tanto melhor. Mas não necessariamente. Gosto de atravessar gerações através da leitura, “presenciando” o nascimento, o envelhecimento e a morte dos personagens e o posterior surgimento das novas gerações. A sensação que dá é que estamos imunes ao tempo, perpassando-o sem senti-lo. É a sensação de estarmos vendo de cima, à distância, a vida correr sem podermos, no entanto, interferir nos seus desdobramentos. É difícil para um ateu admitir (e por que não dizer contraditório?), mas é como se fôssemos um Deus assistindo a tudo de longe.

Considero O tempo e o vento, de Érico Veríssimo, a saga das famílias Terra e Cambará, a melhor que já li. É uma falsa trilogia, já que dos três livros, os dois primeiros (O Continente e O Retrato) possuem dois volumes cada, e o terceiro (O Arquipélago), possui três volumes. Ou seja, é uma trilogia de sete volumes. São mais de 2.600 páginas cobrindo 200 anos de história do Rio Grande do Sul, de 1745 a 1945. Para quem tem medo de livros grandes, O tempo e o Vento parece ser uma leitura intransponível. Mas não é o que acontece. Érico Veríssimo usa da simplicidade, da clareza e da falta de pressa narrativa como ingredientes para que a leitura flua de forma leve e sem restrições.

Outra obra extensa que gostei foi a Série Coelho, composta de quatro romances e uma novela. O primeiro livro é Coelho Corre, dando início à trajetória do protagonista da série, Harry Angstrom. A história se passa no final dos anos 50, num período de prosperidade para a América, mas de frustração para o nosso herói, que está casado com uma quase alcoólatra e não suporta a proximidade opressiva da sua família e da família da mulher. O segundo livro é Coelho em crise, que se passa no final dos anos 60 (revolução nos costumes, o homem chega à lua, Guerra do Vietnam). Como o mundo, Harry também vive uma época de transformações: o emprego ameaçado pela automação, seu casamento chega ao fim e a relação com o filho é tempestuosa.

No terceiro livro, Coelho cresce, que se passa no final dos anos 70, período de turbulências econômicas, Harry reata seu casamento com Janice, assume os negócios da família da mulher após a morte do sogro e se torna um cidadão de meia-idade respeitável e membro de sua comunidade. No entanto, o relacionamento com o filho continua difícil, tendo o jovem retornado para casa dos pais após abandonar a faculdade. O ultimo livro da tetralogia é Coelho Cai, que se passa no final dos anos 80. Harry está com 55 anos e semi-aposentado. Seu filho, Nelson, assume os negócios da família contra a vontade de Harry, o que o leva a um progressivo desinteresse pela vida e conseqüentes problemas de saúde, que o leva a morte. No ano de 2000, Updike lança a novela Coelho se Cala, que se passa dez anos após a morte de Harry. John Updike, que faleceu em 2009, é considerado pela crítica como o escritor que melhor interpretou os anseios, dilemas e angústias da sociedade americana no século XX. Foi um grande perscrutador da classe média americana, interpretando seus pontos de vista como ninguém. Vale à pena ler.