segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Amores perfeitos

Os corpos estão suados e ofegantes. Na penumbra do quarto, ele consegue distinguir o corpo miúdo, mas bem delineado. Seios pequenos, mas duros. Quadris arredondados, mas não em demasia. Cabelos pretos e cheirosos. O cheiro de suor que exala do corpo dela o agrada. Chega a excitá-lo. Ela, através dos olhos míopes, mas que se recusam a usar óculos, consegue ver um corpo de peitorais bem definidos de quem freqüenta academia. O cabelo, ao estilo militar, e as mãos calejadas demonstravam uma masculinidade rude, em perfeita contradição com o seu toque durante o ato sexual, suave e fino.

- Oi.

- Oi.

Os dois se encontraram num bar da moda. O calor sufocante do ambiente e a fumaça espessa de cigarro, foram amenizados pelos olhares de desejo e sedução trocados por ambos. Pareciam dois profissionais da conquista. Pareciam? A aproximação foi calculada por ambas as partes. Sem trocar uma palavra, beberam dois drinks e ele a convidou para irem para um “lugar mais tranqüilo”. Era a senha! Foram para um motel de categoria mediana onde estavam agora.

- Meu nome é Derick. Prazer.

- Jennifer.

O silêncio reinou por embaraçosos segundos. Jennifer começou a buscar suas roupas espalhadas pelo quarto. Derick permanecia sentado à beira da cama.

- Eu gostei muito de tudo. – Falou Derick, embaraçado, procurando algo para dizer.

- Eu também. – Falou Jennifer, sem parar de procurar suas roupas. - Eu preciso ir. Foi 600 reais.

- Como? Não entendi...

- O programa custou 600 reais. Eu cobro 150 reais à hora – Jennifer demonstrava impaciência.- O dia já deve tá amanhecendo, preciso dormir.

Derick não consegue esconder a sua surpresa.

- Espera ai!! O profissional aqui sou eu. Eu cobro 150 à hora. Mas eu saí com você por que eu quis. Por que tava afim. – Fala Derick levantando-se da cama e apontando o próprio peito.

- Mas eu estava trabalhando – Jennifer fala com tranqüilidade.

Derick vai até o frigobar e pega uma cerveja.

- Quer?

- Não bebo em serviço.

Derick olha fixamente para a parceira. Toma um gole da cerveja e a coloca sobre o frigobar.

- Deixa de palhaçada!

- Não é palhaçada. O fato é que eu não bebo quando estou trabalhando. Eu sou uma profissional do sexo!

- Que trabalho o que? Você é uma puta! – Fala Derick com irritação.

- E você é o que? Seminarista? – Jennifer fala com ironia, sem parar de vestir sua roupa. - Se eu sou puta, você é um puto!

Derick resolve se vestir também. Mas não consegue esconder a indignação

- Você falou que me amava!

- Por 150 a hora, rola até amor verdadeiro, meu bem.

- Você é cínica! – Falou Derick enquanto vestia a calça.

Derick enrosca a calça na perna na hora de vestir e cai sentado sobre a cama. Jennifer rir dissimulado e cruza os braços, vendo a cena. Derick desiste de pôr a calça e senta, com os cotovelos apoiado nos joelhos.

- Desculpa. É que você me pegou de surpresa. Você tem certeza do que você me falou?

- Do que? De ser puta ou de te cobrar 600 reais?

- Dos dois. É que e gostei sinceramente de você. Não vim pelo dinheiro.

- Então deixe essa parte comigo. – Ironizou Jennifer.

- Por que você é puta? – perguntou Derick, mostrando incredulidade.

- Talvez pelas mesmas razões que você é também – falou Jennifer, ligeiramente irritada – É trabalho, meu bem, como qualquer outro. Preciso de dinheiro.

- Não é não...

- É sim! – interrompeu ela – E o mais antigo da humanidade, se você quer saber.

- Não é não – Repetiu ele de forma irônica – Quem pagava devia ter um trabalho mais antigo. – Deu uma risadinha meio sem graça.

- Besteira! Nos tempos antigos, puta mandava mais do que ministro. O Cristianismo é que veio estragar tudo.

- Como você sabe tudo isso? – Perguntou ele, curioso.

- Meu professor de história era meu cliente.

Derick riu. Ainda continuava sentado, com as calças abaixo dos joelhos.

- Nunca tive nenhum professor meu como cliente. Mas tenho muitos clientes homens e casados.

- O mundo é gay, meu bem. Atendo uma porrada de casal. Na maioria das vezes eu transo com ela, não com ele.

Derick dá mais uma risadinha e resolve se vestir.

- E ai? Não dá pra rever esses 600 reais? Vim por que gostei de você.

- Mesmo cobrando, eu só transo quando gosto do cliente. Gostei de você. 600 reais!

Ele coloca a mão no bolso e tira uma porção de notas amassadas. Conta e reconta. Não chega a metade do cobrado por Jennifer. Olha pra ela:

- Como sinal de que vim por que gostei de você, vou falar meu nome verdadeiro. Me chamo Valdemir.

- Orineide, prazer!

Derick dá uma sonora gargalhada.

- Seu nome é Orineide?

- Você já viu puta como nome de Orineide? – Falou ela com uma ponta de irritação – Isso é nome de empregada doméstica ou de garçonete de boteco de terceira. O seu nome não é muito bonito também não.

- É o nome do meu pai. Sou Junior – Falou o agora Valdemir, um pouco constrangido.

- Mau gosto em dose dupla. – falou a agora orineide, sentando-se ao lado de Valdemir.

Valdemir coloca sua mão sobre os joelhos de Orineide. Ambos estão sentados na cama. Se olham. Ela pergunta:

- E ai? Vamos nos ver novamente?

- Quem paga quem? – pergunta ele com um sorriso cínico nos lábios.

- A gente discute isso da próxima vez.

Nenhum comentário:

Postar um comentário