sexta-feira, 19 de setembro de 2014

A lógica perversa nacional



Tem notícias que deixam tristes. Tem notícias que me deixam com raiva. Mas tem notícias que me dão nojo e me revoltam. No Rio de Janeiro, a presidente do Tribunal de Justiça enviou projeto de lei à Assembleia Legislativa que estabelece auxílio-educação de R$ 7.250,00 para pagamento de escola, uniforme e material escolar para filhos de juízes e desembargadores. Depois de críticas recebidas, o auxílio requerido baixou para R$ 3.030,00.
A presidente do TJ-RJ, Leila Mariano, vê no auxílio-educação “um direito do trabalhador” e não um privilégio, pois, ainda segundo a magistrada, “o correto seria ter vencimentos condignos para não precisar disso”. O salário bruto de um juiz ou desembargador, segundo a página do próprio TJ-RJ, fica em torno de R$ 31.000,00.
Em Minas Gerais, o TJ aprovou o auxílio-moradia para juízes e desembargadores, cujos salários variam de R$ 22.797,33 a R$ 26.589,68. No STF, o ministro Luiz Fux estendeu esse mesmo auxílio à todos os juízes federais cujos vencimentos ultrapassam os R$ 20.000,00.    
No caso carioca, os argumentos para justificar o auxílio-educação para uma “casta” revoltam tanto quanto o auxílio em si. Se um salário superior a R$ 30.000,00 não é “condigno”, o que dizer do salário da maioria esmagadora dos trabalhadores brasileiros (que não têm auxílio nenhum)? Se o auxílio-educação é “um direito do trabalhador”, como argumenta a magistrada carioca, cadê o dinheiro dos “outros” trabalhadores desse país?
Independente dos argumentos que se queiram usar para justificar tais auxílios, eles são verdadeiras anomalias. Na lógica perversa nacional, quem ganha mais recebe auxílios, ajuda de custo, bonificações. Para aumentar ainda mais a perversidade da lógica, quem ganha menos recebe um benefício chamado “salário-família” que, dependendo da faixa salarial, pode chegar a R$ 35,00. Isso mesmo! R$ 35,00 reais para, segundo a própria legislação, “auxiliar no sustento dos filhos até 14 anos incompletos”.
Fico imaginando como seria a cara de um juiz ou desembargador, do alto de vossas arrogâncias jurídicas, ver impresso nos seus polpudos contracheques, os dois míseros dígitos com os quais eles teriam que “auxiliar no sustento” dos seus mimados rebentos.  Mas a lógica nacional não me permite isso...