sábado, 31 de dezembro de 2011

Sexo na cabeça - Luis Fernando Veríssimo

Não há assunto que atraia mais a atenção do que sexo. Sexo dos outros ou de nós mesmos. Mesmo por que a nossa história começa por ele. Não interessa se o assunto surja na mesa de um bar, na sala de casa ou na sacristia. Não interessa se faz parte de uma conversa séria ou alvo de uma fofoca. Não há hora nem lugar! E se combinar o sexo com humor, melhor ainda. É o que faz Luis Fernando Veríssimo em Sexo na cabeça, uma coletânea de 45 crônicas com abordagens divertidas e excitantes sobre o tema.

Veríssimo, um dos cronistas mais sagazes da intimidade brasileira, mostra nesse livro que para pensar em sexo (e fazer também) não há necessidade de ocasião propícia. Basta a vontade. Como um voyeur da vida privada brasileira, revela os fetiches que alimentam a relação a dois e o saboroso jogo da sedução. Com abordagens divertidas, vai das brigas do inicio de namoro à ousadia da trissexualidade (independente do que isso signifique), dos códigos da relação a dois ao amor via internet, dos segredos de alcova de hoje em dia.

Como é uma abordagem bem humorada, tendemos a ver as histórias como piada. Mas basta um olhar pouco mais atento (ou nos desnudar da hipocrisia) para vermos, nos personagens, pessoas conhecidas ou até nós mesmos. Por mais que tentemos nos esconder por trás de uma falsa moral, todos nós temos uma maneira própria de fazer sexo. Basta achar a (o) parceira (o) ideal. Veríssimo, como o seu Humor afiado, nos mostra isso com maestria.

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Quem vai fiscalizar? ou: A polêmica da calcinha (ou da falta dela)

Inventar simpatias é algo inerente ao ser humano. Simpatias relacionadas ao casamento são algo inerente à mulher. Quem pegar o buquê jogado pela noiva será a próxima a casar (a briga é feia!), o noivo não poder ver a noiva antes da cerimônia, a noiva atrasar (mistura de tradição com simpatia), entrar no quarto nupcial nos braços do noivo. O que me impressiona não é a inspiração para criar as simpatias. Mas a capacidade que as pessoas têm em acreditar nelas. É uma infinidade de crenças e não param de surgir mais. Em Vila Velha, no Espírito Santo (não tenho notícias se existe em algum outro local), surgiu na internet a simpatia, entre as mulheres, de casar sem calcinhas como forma de prolongar o casamento.

Diante de tanta criatividade, o vereador Ozias Zizi (PRB) achou que a coisa tava passando do limite e resolveu protocolar projeto que proíbe as nubentes de casar sem calcinha. Exagero? Você não conhece o vereador Ozias Zizi. Ele já apresentou projeto que obriga os restaurantes a fornecerem fio dental de graça aos clientes. Outro projeto foi a criação do hospital geriátrico. De acordo com o raciocínio do nobre vereador, se existem hospitais infantis, para queimados, para mulheres, do câncer, dos olhos, entre outros, por que não pode o dos velhinhos? Tem sentido. O vereador também é autor da lei que instituiu o “Dia da música Gospel” na cidade. Muito importante.

Agora a preocupação do vereador evangélico é com as calcinhas das noivas. Ou a falta delas. Para o vereador, não importa se o casamento é em igreja católica ou evangélica, ambas são locais sagrados, portanto, deve ser proibida a entrada de pessoas vestidas de forma indecente. Ou seja, sem calcinha. Mas quem irá fiscalizar o cumprimento da Lei? Padres e pastores? Ou uma comissão de vereadores? Imaginemos a cena: a noiva chegando esbaforida na igreja, com uma hora de atraso. Na porta, depara-se com uma comissão de senhores sisudos (ou de batinas). Dá um suspiro e levanta a saia, provando que está vestindo a peça da discórdia. Uau!

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Raymond Chandler

Romancista e roteirista americano, nascido em 1888, Raymond Chandler é seguramente um dos maiores romancistas policiais de todos os tempos, principalmente no gênero criado por ele (o policial Noir) ao lado de Dashiell Hammett, Ross McDonald e David Goodis. O gênero policial noir foi criado para diferenciar do policial tradicional, baseado no “quem matou quem”. As obras desses autores têm notável reflexão psicológica e estereótipos clássicos, como o cara durão, as mulheres fatais e o detetive sentimental e cético. Chandler só publicou seu primeiro romance, após exercer uma infinidade de profissões (professor, revisor, detetive particular, soldado, contador, executivo do petróleo), aos 41 anos. Casado com uma pianista dezessete anos mais velha que ele, ficou viúvo em 1954 e, alcoólatra, morreu cinco anos depois de pneumonia.

Philip Marlowe é o detetive particular protagonista de sete romances de Chandler. Em O longo adeus, Marlowe socorre casualmente Terry Lennox num estacionamento de uma boate, dando início a uma amizade que será interrompida quando Lennox se envolve em problemas e foge para o México. Depois disso, Marlowe vai trabalhar para um escritor alcoólatra e as histórias terminam se interligando. O livro, além de ser um romance policial, é um apanhado de observações sobre a sociedade americana. A trama funciona como uma argumentação a favor da lealdade e da sua necessidade como cimento da vida em sociedade.

Em Adeus, minha adorada, o outro romance que li de Chandler, o detetive particular Marlowe está de volta. Sua missão (ou várias missões) é ajudar o ex presidiário Búfalo Malloy a achar uma ex dançarina, sua namorada, sumida desde que ele foi para a prisão, há oito anos; desvendar um assassinato, desmascarar um psicólogo charlatão e achar um colar de jade, sem saber até que ponto as histórias se cruzam. Mais uma parada dura para o aparente durão, mas no fundo um sentimental, Philip Marlowe.

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Sardinhas em trânsito

Viajar é bom. Depois de 11 meses trabalhando, com o stress ultrapassando todos os limites, dá uma relaxada é necessário. Mas antes de relaxar será necessário passar pela última aporrinhação: a viagem, que só não é mais stressante do que o ano de trabalho. São nessas horas que torcemos para que a ficção científica se torne realidade e a tele transposição seja possível. Seria bem prático. Num piscar de olhos está no seu destino. Nos pouparia uma boa e desnecessária dose de aborrecimentos. Enquanto isso vamos averbando os contratempos da viagem às férias, na vã esperança de compensar nos trinta dias restantes.

A dor de cabeça logo no check in, quando temos que enfrentar uma fila enorme sem saber se será possível embarcar, já que as empresas aéreas, na alta estação, vendem mais passagens do que a capacidade da aeronave. Vencida essa etapa, vem outra, mais demorada, incômoda e dolorida: enfrentar a poltrona do avião. Acho que o útero materno é mais espaçoso. Sobra perna e falta espaço. Sobram dores nas costas e falta espaço. Não adianta tentar achar uma posição confortável, você só irá encontrá-la fora do avião. O avião é uma lata de sardinha que voa e o passageiro, uma sardinha em trânsito.

As vantagens do avião em ralação ao ônibus são o tempo e a segurança. As distâncias diminuem quando viajamos pelos ares e os índices de acidentes são bem menores do que nas estradas brasileiras. E só! As empresas de ônibus têm investido muito no conforto dos passageiros nas viagens de longa distância, inclusive com serviço de bordo. Já nos aviões, o espaço entre as poltronas nos obriga a exercícios de contorcionismo. Quando alguém acima do peso senta ao teu lado tomando trinta por cento da sua poltrona, a coisa fica insustentável. É nessas horas que renascem as esperanças em Papai Noel e a vontade de pedir pra 2012 um ônibus que voa.

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

As esganadas

O novo thriller do apresentador, escritor, músico, entre outras coisas Jô Soares é ambientado em 1938, durante o Estado Novo. O curioso do livro é que, ao contrário da tradição dos livros policiais, o assassino é revelado já no primeiro capítulo. No entanto, isso em nada tira a magia do livro. Caronte, o assassino, escolhe suas vítimas pela silhueta, ou seja, as gordas. O serial killer é um aficionado pela imagem da própria mãe, que era gorda e odiada por ele, e pelos pratos da culinária portuguesa que ela cozinhava. Com o assassino já conhecido, qual a graça do thriller? Morrer de rir com as trapalhadas dos investigadores da polícia carioca que investigam os crimes.

Mas isso não quer dizer que não haja um mistério: o que as gordinhas vítimas de Caronte fazem num determinado endereço no Beco dos Barbeiros. Além desse mistério, o livro também tem de interessante a mistura de personagens fictícios e reais. Os personagens são muito bem definidos, como o detetive Mello Noronha, responsável pelo caso das esganadas e os impagáveis Tobias Esteves, ex detetive português que vai ajudar no caso, e o Calixto, ajudante de Melo Noronha, que tem a malandragem nas veias, mas é medroso por vocação. A esses personagens, Jô acrescenta personagens reais, como Fernando Pessoa, Filinto Miller e Getúlio Vargas.

Uma faceta constante na obra literária de Jô e que ele sabe fazer com maestria é a escolha de um momento do passado como cenário da sua narrativa, permitindo-lhe entrar em detalhes históricos enquanto desenvolve a trama. Isso aconteceu em O xangô de Baker Street e O homem que matou Getúlio Vargas. Em As esganadas o cenário é o Rio de Janeiro da Era Vargas em pleno namorico com o Nazismo. Jô resgata uma corrida de automóveis no Circuito da Gávea, na qual participaram o cineasta Manoel de Oliveira e o lendário corredor Chico Landi. Outro resgate histórico é a narração pela rádio da derrota do Brasil de Leônidas da Silva para a Itália na semifinal da Copa de 1938. Última nota que torna o livro interessante: Jô realiza a façanha de narrar uma série de crimes brutais e, ainda assim, deixar o leitor bolando de rir.