tag:blogger.com,1999:blog-30162453263732807072024-03-14T00:43:23.992-04:00Terceira MetadeAlexandre Cunha de Azevedohttp://www.blogger.com/profile/13682659965396844842noreply@blogger.comBlogger848125tag:blogger.com,1999:blog-3016245326373280707.post-75200296049108339012018-05-13T11:56:00.001-04:002018-05-13T11:56:21.055-04:00O Conde de Monte Cristo – Alexandre Dumas<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://2.bp.blogspot.com/-5qP-TLZZJO0/WvhgA9PdIMI/AAAAAAAAEog/5o6WQM7D2BsPdi1d9bchi2IJ1EYAfM4owCLcBGAs/s1600/OCondeDeMonteCristo_Bolso.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1128" height="320" src="https://2.bp.blogspot.com/-5qP-TLZZJO0/WvhgA9PdIMI/AAAAAAAAEog/5o6WQM7D2BsPdi1d9bchi2IJ1EYAfM4owCLcBGAs/s320/OCondeDeMonteCristo_Bolso.jpg" width="225" /></a></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">“Nunca estamos quites com os nossos credores pois, quando não lhes
devemos mais dinheiro, lhes devemos a gratidão”.<o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Ao lado de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Os três mosqueteiros, O Conde de Monte Cristo </i>é o livro mais
popular do escritor francês Alexandre Dumas. Da mesma forma que o primeiro,
publicado em 1844,<i style="mso-bidi-font-style: normal;"> </i>foi lançado em
formato de folhetim entre 1844 e 1846, dividido em três partes. Foi publicado
em formato de livro no mesmo<i style="mso-bidi-font-style: normal;"> </i>no mesmo
em que foi lançada a última parte. Diferente de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Os três mosqueteiros, </i>onde o autor usou do humor e do sarcasmo para
contar as intrigas palacianas, Dumas faz uso do suspense para contar a história
de traição e vingança do marinheiro Edmond Dantés. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">“Em política, meu caro, não existem homens, mas ideias; não existem
sentimentos, mas interesses; em política, ninguém mata um homem: suprime-se um
obstáculo, ponto final”. <o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Em 1815, Dantés era um jovem
marujo que vivia com o pai idoso e era noiva de Mercedes, com quem pretendia se
casar. Seu mundo desaba quando é preso injustamente acusado de ser um
conspirador bonapartista (Napoleão estava detido na ilha de Elba e tentava
retomar o poder na França). Os três responsáveis pela denúncia têm motivos
diferentes para trair Dantés: o Juiz de Villerfort, cujo pai era o destinatário
da carta que Dantès levava; Danglas, que ambicionava ser capitão do navio cujo
posto era ocupado por dantes; e Fernand Mondego, que era apaixonado por
Mercedes. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">“O monarca legítimo é o monarca amado”.<o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Dantés foi preso no dia do seu
casamento e enviado para o Castelo de If, onde passou 14 anos incomunicável. Na
prisão, conhece o abade Faria, amizade que transformará a vida de Dantés e
criará as condições para a vingança que o marujo tramou durante o tempo em que
esteve preso. O livro recebeu adaptações para o teatro, virou série de TV,
anime, novelas. Somente no cinema foram mais de dez adaptações desde 1918, a
mais recente em 2011, dirigido por Kevin Reynolds e estrelado por Jim Caviezel
(Edmond Dantés), Guy Pearce (Fernand Montego), Richard Harris (abade Faria) e
Dagmara Dominczyk (Mercedes). <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></div>
<br />Alexandre Cunha de Azevedohttp://www.blogger.com/profile/13682659965396844842noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3016245326373280707.post-11047038116151743262018-05-06T09:49:00.000-04:002018-05-06T09:49:15.478-04:00Pornopopéia – Reinaldo Moraes<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://4.bp.blogspot.com/-ay8WElieiRg/Wu8HwpIuLSI/AAAAAAAAEoQ/zpfKuJhPeMsC51wOseo1aj2K14aFKBnnwCLcBGAs/s1600/pornopopeia.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="500" data-original-width="326" height="320" src="https://4.bp.blogspot.com/-ay8WElieiRg/Wu8HwpIuLSI/AAAAAAAAEoQ/zpfKuJhPeMsC51wOseo1aj2K14aFKBnnwCLcBGAs/s320/pornopopeia.jpg" width="208" /></a></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">“A alma, como se sabe, é um organismo arcaico com três órgãos: miolos,
estômago e genitália”.<o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Reinaldo Moraes é daqueles
escritores cuja obra podemos enquadrar como “maldita” ou “marginal” (isso é um
elogio!). É o que costumo chamar de literatura “neurótica” (outro elogio!),
onde não há mocinhos e vilões, ou todos são mocinhos e vilões, os protagonistas
vivem à margem de todas as convenções, mergulhados em vícios e loucuras.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Li <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><i style="mso-bidi-font-style: normal;">Pornopopéia, </i>pela primeira vez em 2012,
quando comprei o livro “às cegas”, nunca tinha ouvido falar nem da obra nem do
autor. Um bom livro é aquele em que o autor diz o que quer dizer de forma
acessível e ainda desperta a curiosidade do leitor para outros livros do mesmo
autor. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Pornopopéia </i>é isso. O leitor
não consegue desgrudar dele e ainda fica curioso em ler a obra de Reinaldo. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">“Quero morrer gordo e barrigudo, pesando de dois a três engradados de
cerveja acima do peso ideal”.<o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
O livro é uma baixaria de alto
nível, inspirada, criativa e engraçadíssima. Zeca, o personagem-narrador, é um
ex cineasta, à frente de uma produtora falida, <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>que vive na base do improviso, sem dinheiro,
sem trabalho (ou quando consegue é de baixa remuneração e qualidade duvidosa),
e com uma disposição indisfarçável e ilimitada para se meter em confusão. “Respeite
o meu baixo nível, é o alto favor que lhe peço. Faça da minha vulgaridade um
parque para as suas diversões”, diz Zeca. Extremamente crítico com relação a
tudo e todos, menos com ele mesmo, só encontra a ternura ao lembrar-se do
filho, Pedrinho. Mas a sua participação como pai resume-se a levar o garoto,
esporadicamente, ao shopping para ficar subindo e descendo a escada rolante. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">“Pra que nomes quando se está dentro de uma buceta? Tanto que só dão
nome às pessoas quando elas saem de lá”. <o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Na primeira parte do livro, Zeca
é incumbido da missão de fazer um roteiro para uma propaganda de enlatados e,
entre uma “cafungada” e outra em busca de inspiração, decide ir, na companhia
da deslumbrante adolescente Sossô e do amigo Ingo, à uma surubrâmane, uma
sessão de sexo grupal “à luz da doutrina Zebuh Bhagadhagadhoga”. Imagine o que
pode sair (ou entrar) dessa suruba espiritual nirvânica regada a ácido e pó. Aliás,
“carreiras” é o que não falta na vida de Zeca, já que a sua como cineasta está
em franca e irrefreável decadência, além de botecos underground, frequentado
por prostitutas, travestis, cafetões e consumidores vorazes de drogas. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">“- Não é legal ficar comendo mulher casada”.<o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">“- Por que não? Elas têm buceta igual às solteiras. Só que usam bem
menos”.<o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
A vida de Zeca se complica de vez
quando ele se vê envolvido, injustamente, na morte do seu
traficante-fornecedor. O que já era um desbunde geral vira uma epopéia
pornográfica, uma pornopopéia. Na segunda parte do livro, Zeca está escondido
em Porangatuba, uma praia paradisíaca no litoral do Rio de Janeiro, onde ele
não perderá a oportunidade de se meter com mulheres e em confusões.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Destaque para os neologismos, para os
trocadilhos e para as frases geniais construídas por Reinaldo, como na ocasião
em que Zeca está se afogando em Porangatuba: <i style="mso-bidi-font-style: normal;">O vômito está boiando à minha volta durante um bom tempo. Se eu
morresse afogado ali iria engolir parte do meu próprio vômito, num processo de
autoreciclagem digno de algum prêmio ambientalista internacional. </i>E
completa: <i style="mso-bidi-font-style: normal;">É doce morrer no mar o caralho.
É salgado pra cacete. </i>Para quem procura um romance contemporâneo de
qualidade é uma boa pedida. E valeu a releitura! <i style="mso-bidi-font-style: normal;"><o:p></o:p></i></div>
<br />Alexandre Cunha de Azevedohttp://www.blogger.com/profile/13682659965396844842noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3016245326373280707.post-84582027014563171532018-04-22T10:17:00.002-04:002018-04-22T10:25:59.737-04:00Os três mosqueteiros – Alexandre Dumas<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://1.bp.blogspot.com/-cepCHkSgKhQ/WtyZU2NGRdI/AAAAAAAAEoA/9yspEYpGpEYYblID90EQon6OATSq4L57ACLcBGAs/s1600/OsTresMosqueteiros.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1147" height="320" src="https://1.bp.blogspot.com/-cepCHkSgKhQ/WtyZU2NGRdI/AAAAAAAAEoA/9yspEYpGpEYYblID90EQon6OATSq4L57ACLcBGAs/s320/OsTresMosqueteiros.jpg" width="229" /></a></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">“As mulheres foram criadas para a nossa ruína, e é delas que provêm
todas as nossas misérias”.<o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Nos acostumamos a relacionar
clássicos da literatura a livros enfadonhos com uma linguagem empolada que mais
afasta do que forma novos leitores. Pois é, esqueça isso ao ler <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Os três mosqueteiros, </i>de Alexandre
Dumas, que numa prosa fluente usa do sarcasmo e do humor refinado para misturar
romances improváveis, intrigas palacianas e batalhas, muitas batalhas.
Publicado inicialmente em formato de folhetim entre março e julho de 1844, saiu
em formato de livro ainda no mesmo ano. A obra já surpreende no título, pois os
três mosqueteiros são, na realidade, quatro. E aquele que não é mosqueteiro de
fato, mas apenas “honorário”, D’Artagnam, é o grande protagonista da história. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">“Há na riqueza uma profusão de detalhes e caprichos aristocráticos que
casam bem com a beleza”. <o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Em 1625, o gascão D’Artagnam
chegou a Paris com um propósito: ser mosqueteiro do rei, uma espécie de tropa
de elite real cuja missão principal era dá proteção à pessoa do rei Luís XIII.
Com uma carta de recomendação endereçada ao conde de Tréville, capitão dos Mosqueteiros,
o jovem se mete em trapalhadas que o levam a desafiar três mosqueteiros (Athos,
Porthos e Aramis) ao mesmo tempo e no mesmo local (uma enrascada de proporções
suicidas). Ao mesmo tempo em que as suas trapalhadas lhe metem em encrencas,
também o salva. Foi o que aconteceu! Por trapalhadas, dessa vez do destino, os
quatro se tornam inseparáveis, e D’Artagnam um mosqueteiro, digamos,
honorário.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">“De todas as paixões, o amor é a mais egoísta”.<o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
O professor da literatura da
Universidade de Córsega, Pascal Marchetti-Leca afirma que Dumas foi o fundador
do romance histórico com um método trivial: recriar fatos históricos com
maestria. À quem o acusava de “violentar” a história para atender a seus
caprichos de ficcionista, ele respondia: “Sim, reconheço que a violento, mas
faço lindos filhos com ela”. E é verdade. Mas, afinal, os três mosqueteiros
existiram? Segundo o historiador francês Jean-Christian Petitfils, sim, eles
existiram, mas nunca atuaram juntos. E isso faz diferença? <o:p></o:p></div>
<br />Alexandre Cunha de Azevedohttp://www.blogger.com/profile/13682659965396844842noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3016245326373280707.post-9630934591965879002018-04-15T12:47:00.002-04:002018-04-15T12:47:38.397-04:00Enclausurado – Ian McEwan<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://3.bp.blogspot.com/-6hIxEjrn6Dc/WtOCBuRzhoI/AAAAAAAAEnw/gJGRiXo9p-ceuG-zrphJ_xvrDpBGIQzBACLcBGAs/s1600/enclausurado.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="300" data-original-width="200" src="https://3.bp.blogspot.com/-6hIxEjrn6Dc/WtOCBuRzhoI/AAAAAAAAEnw/gJGRiXo9p-ceuG-zrphJ_xvrDpBGIQzBACLcBGAs/s1600/enclausurado.jpg" /></a></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">“Considero-me um inocente, descomprometido com lealdades e obrigações,
um espírito livre, apesar do pouco espaço de que disponho”.<o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Não é a toa que Ian McEwan é
considerado o melhor escritor britânico em atividade. A ideia de escrever <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Enclausurado, </i>seu mais recente romance,
publicado em 2016, surgiu quando conversava com sua nora grávida. Chamado por
vezes de “Ian Macabro” por causa da natureza das suas primeiras obras,
publicadas em meados dos anos 70, McEwan usou do humor, da inteligência e de
uma criatividade espantosa para transformar um feto no narrador da história
desse livro. E não é um narrador qualquer, mas um narrador que tem opiniões
refinadas sobre vinhos e guerras e que se defronta com questões éticas e
existenciais antes mesmo de nascer. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">“Nem todo mundo sabe o que é ter o pênis do rival do seu pai a
centímetros do seu nariz”.<o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
O humor refinado de Ewan se faz
presente já nas primeiras linhas do livro: “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Então
aqui estou, de cabeça para baixo, dentro de uma mulher. Braços cruzados
pacientemente, esperando, esperando e me perguntando dentro de quem estou, o
que me aguarda”. </i>Obviamente que o narrador, um feto que ainda não nasceu,
não tem nome, mas conta a história de Trudy Caincross, sua mãe, que ao lado do
amante e cunhado Claude Caincross, trama a morte do marido, John Caincross, que
vem a ser o pai do feto-narrador. O objetivo de Trudy é ficar com a mansão que
John recebeu como herança dos pais. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">“Quando o amor morre e um casamento se desfaz, a primeira vítima é a
lembrança sincera, a recordação decente e imparcial do passado”. <o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Do útero materno, o narrador
pensa numa forma de evitar o assassinato do próprio pai. Mas como fazer isso?
Se não conseguir evitar o crime, deve se vingar dos assassinos no futuro? Mesmo
sendo a sua mãe a assassina? São dilemas shakespearianos como esses que povoam
a mente ainda em formação do pequeno feto. Entre um dilema e outro, o narrador
tece opiniões sobre os vinhos tomados pela mãe durante os fogosos jogos sexuais
com o amante e cúmplice. Num tom notadamente irônico, McEwan tenta, e
surpreendentemente consegue, passar ao leitor a experiência de ser um feto
prestes a nascer envolvido numa trama de assassinato.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></div>
<br />Alexandre Cunha de Azevedohttp://www.blogger.com/profile/13682659965396844842noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3016245326373280707.post-81939936954238734152018-04-09T19:51:00.002-04:002018-04-09T19:51:51.900-04:00Pulp – Charles Bukowski<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://4.bp.blogspot.com/-kXq5e2PSaLs/Wsv8hFUgzXI/AAAAAAAAEng/Ard5S_baKS4CfJBNnGZ6HQxPV7kGGWiBQCLcBGAs/s1600/pulp.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1368" data-original-width="838" height="320" src="https://4.bp.blogspot.com/-kXq5e2PSaLs/Wsv8hFUgzXI/AAAAAAAAEng/Ard5S_baKS4CfJBNnGZ6HQxPV7kGGWiBQCLcBGAs/s320/pulp.jpg" width="196" /></a></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">“O inferno era o que a gente fazia dele”.<o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Pulp </i>é o ultimo e mais atípico dos romances de Bukowski. Não é
autobiográfico e o protagonista não é o alter-ego do autor, Henry
Chinasky.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Concluído alguns meses antes
da morte do autor, em 1994, o romance é uma mistura de história noir de
detetive, subliteratura e filmes B, porém é impossível não observar as marcas
registradas do “escritor maldito”, como os palavrões, o humor ácido e as
reflexões pessimistas sobre a vida.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">“A insanidade é relativa. Quem estabelece a norma?”<o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
No sexto e último romance de
Bukowski somos apresentados a Nick Belane, um detetive beberrão, encrenqueiro e
de maus modos, autointitulado o “melhor detetive de Los Angeles”. Com uma
tendência para resolver casos no mínimo inusitados, Belane é contratado por uma
certa Dona Morte para encontrar um homem chamado Celine, que vem a ser o
escritor francês maldito, falecido em 1961, que influenciou Bukowski. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">“A vida dos escritores era mais interessante do que os livros deles. Hoje,
nem a vida nem a literatura são interessantes”.<o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Enquanto tenta achar o falecido
escritor, Beline é contratado por um marido desconfiado para descobrir se a sua
esposa é adúltera. Sendo o “melhor detetive de Los Angeles”, Beline só consegue
flagrá-la uma vez na cama com um homem: o próprio marido. Outra missão
inusitada de Beline é livrar um vendedor de caixões de um extraterrestre que o
domina. O problema é que o extraterrestre é uma exuberante mulher que também
domina Belane. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">“Não era o meu dia. Nem minha semana. Nem meu mês. Nem meu ano. Nem
minha vida. Porra”. <o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Mas a missão mais difícil de
Belane é encontrar o Pardal Vermelho. Mas o que vem a ser o Pardal vermelho?
Entre as bebedeiras e as trapalhadas de Belane você descobrirá. Mas antes verá
a forma desdenhosa como Bukowski via a vida humana. A presença de um personagem
que simbolizava a morte pode ser um indício de que o “velho Buck” sabia que
estava em seus últimos suspiros.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></div>
<br />Alexandre Cunha de Azevedohttp://www.blogger.com/profile/13682659965396844842noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3016245326373280707.post-43116055242841759912018-04-02T14:26:00.000-04:002018-04-02T14:26:07.977-04:00Hollywood – Charles Bukowski<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://3.bp.blogspot.com/-dTKHppnhlFs/WsJ1rYPFzsI/AAAAAAAAEnQ/MK14LvoMcRUG1u6eQ4aZzqGkhayHiGHogCLcBGAs/s1600/hollywood.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1383" data-original-width="831" height="320" src="https://3.bp.blogspot.com/-dTKHppnhlFs/WsJ1rYPFzsI/AAAAAAAAEnQ/MK14LvoMcRUG1u6eQ4aZzqGkhayHiGHogCLcBGAs/s320/hollywood.jpg" width="192" /></a></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">“Dinheiro é como sexo. Parece muito mais importante quando a gente não
tem...”<o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Sem metáforas, sem alegorias.
Assim são os diálogos de Bukowski. E é nessa simplicidade que reside a
genialidade do velho Buk. Em <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Hollywood, </i>quinto
romance do autor, publicado em 1989, não é diferente. Nele, Henry Chinaski, um
escritor de contos e poesias, recebe um convite para escrever um argumento para
um filme de longa-metragem. Apesar de ter aversão ao cinema e à pompa
Hollywoodiana, Chinaski topa o trabalho por causa dos vinte mil dólares
prometidos e pagos. E não esconde isso de ninguém. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">“Contar histórias repetidas vezes parece tornar elas mais reais do que
devem ter sido.”<o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
A reação dos fãs não é positiva.
Muitos o acusam de ter se vendido. O que ele não nega. Bukowski tenta levar a
discussão para o fato de seu alterego conseguir manter ou não sua autenticidade
mesmo trabalhando por dinheiro. A linguagem e o estilo do próprio livro mostram
que não. O velho Bukowski continuou o mesmo, com sua linguagem crua e
desconcertante, o seu (mau) humor ácido e sua sinceridade que beira a
deselegância. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">“Meus inimigos são minha fonte de renda. Me odeiam tanto que se torna
um caso de amor subliminar”.<o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
É publico que Bukowski tinha
aversão ao cinema e a Hollywood e o romance foi escrito a partir da experiência
vivida por ele em meados dos anos 80, quando foi convidado a escrever para o
cinema. O velho Buk aceitou por dinheiro. E não escondeu isso de ninguém. Não é
preciso dizer que <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Hollywood</i>, a
exemplo de toda a sua obra, é extremamente autobiográfico. Independente do tema
abordado, sempre vale a pena ler Charles Bukowski. <o:p></o:p></div>
<br />Alexandre Cunha de Azevedohttp://www.blogger.com/profile/13682659965396844842noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3016245326373280707.post-24066481555945996502018-03-26T13:30:00.000-04:002018-03-26T13:30:19.805-04:00Misto-quente – Charles Bukowski<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://4.bp.blogspot.com/-337g_ZDmP_U/WrkuDmO8xiI/AAAAAAAAEnA/j1Vf8aZhrHQwITuvwcIDg3PgI1r__oFVgCLcBGAs/s1600/misto_quente.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1378" data-original-width="843" height="320" src="https://4.bp.blogspot.com/-337g_ZDmP_U/WrkuDmO8xiI/AAAAAAAAEnA/j1Vf8aZhrHQwITuvwcIDg3PgI1r__oFVgCLcBGAs/s320/misto_quente.jpg" width="195" /></a></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">“Jamais haveria um jeito de eu viver confortavelmente entre as pessoas.
Talvez eu me tornasse um monge. Fingiria acreditar em Deus e viveria num
cubículo, tocando órgão e eternamente embriagado de vinho”.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Bukowski é aquele sujeito que
consegue transformar o bizarro, o degradante, o marginal em arte. E ele faz
isso em <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Misto-quente, </i>seu quarto
romance, lançado originalmente em 1982 e, até agora, seu melhor romance. Nele,
Bukowski é o “escritor maldito” que conhecemos, que com sua escrita simples e
direta é capaz de dizer tudo o que quer sem meias palavras. Considerado o
romance de formação do autor, muitos dizem que quem não leu <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Misto-quente </i>não leu Bukowski. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">“Com a bebida, a vida era maravilhosa, um homem era perfeito, nada mais
poderia feri-lo”.<o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Henry Chinaski é o alterego do
autor (o romance é praticamente uma autobiografia, com Bukowski na sua fase de
juventude) que vive sua infância num ambiente viciado: o pai alcoólatra e
violento, batia cotidianamente no filho; a mãe, apesar de carinhosa com o
filho, é omissa diante da violência do marido por temê-lo. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>É durante suas reflexões sobre esse período
que Chinaski consegue manifestar o mais fidedignamente seus sentimentos com
relação à vida, a sua infelicidade embaixo da casca de durão, como essa quando
frequentava o jardim de infância:<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">“Foi no jardim de infância que conheci as primeiras crianças da minha
idade. Elas pareciam muitas estranhas, sorriam e conversavam e pareciam
felizes. Não gostei delas.”<o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
A acidez das palavras e das
ideias de Bukowski, expressa através de Chinaski, transparece de forma límpida
quando ele toca em temas sensíveis, como no trecho abaixo;<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">“Eu havia rompido com a religião alguns anos atrás. Se houvesse alguma
verdade por trás dela, era uma verdade que idiotizava as pessoas ou atraía as
mais idiotas. E se por acaso a religião não contivesse em si verdade nenhuma,
os tolos que nela acreditavam seriam então duplamente idiotas.”</b><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Chinaski (ou Bukowski) era um
pessimista com relação à humanidade (alias, com relação a tudo), tanto que
quase não se relacionava com colegas de escola. Seu único amigo era um
marginalizado como ele:<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">“Joe não ia vir. Não valia a pena confiar em nenhum outro ser humano. O
que quer que fosse preciso para estabelecer essa confiança, não estava presente
na humanidade.”<o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Considero Bukowski melhor
romancista do que contista, mas em <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Misto-quente
</i>ele supera até mesmo o romancista Bukowski de outros livros. <o:p></o:p></div>
<br />Alexandre Cunha de Azevedohttp://www.blogger.com/profile/13682659965396844842noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3016245326373280707.post-89731351725933829572018-03-19T14:51:00.002-04:002018-03-19T14:51:31.592-04:00Mulheres – Charles Bukowski<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://4.bp.blogspot.com/-GJsdh0fYpFA/WrAGmmO7tuI/AAAAAAAAEmw/3QcYiYPZ0yAMQBLTDp6tNzxGsUBpn_tpQCLcBGAs/s1600/mulheres_bukowski.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="912" data-original-width="551" height="320" src="https://4.bp.blogspot.com/-GJsdh0fYpFA/WrAGmmO7tuI/AAAAAAAAEmw/3QcYiYPZ0yAMQBLTDp6tNzxGsUBpn_tpQCLcBGAs/s320/mulheres_bukowski.jpg" width="193" /></a></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">“A pior coisa prum escritor é conhecer outro escritor, e, pior ainda,
conhecer uma penca de escritores. Um bando de moscas em cima da mesma merda”.<o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
A minha “Lua-de-mel” com Bukowski
começou exatamente em 2014 com mulheres, romance publicado em 1978. Em 2012, li
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Crônica de um amor louco, </i>de Charles
Bukowski, e não consegui enxergar a sua genialidade nos contos do livro. Mas,
como afirmei naquela ocasião, livro tem seu tempo para ser lido, acredito que
tenha lido “o velho safado” no momento errado. Após ler <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Mulheres </i>naquela ocasião, decidi que, definitivamente teria que
reler <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Crônica de um amor louco</i> e ler
toda a sua obra. Foi o que fiz e agora reli. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">“Eu não sei do que os outros escritores precisam, nem me interessa. Não
os leio mesmo”. <o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span></i>Como em vários de seus
contos, em <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Mulheres </i>Bukowski aparece
como personagem, através de seu alter ego, Henry Chinaski, um escritor beberrão
e viciado em corrida de cavalos que, aos 55 anos, está a 4 em jejum sexual. Depois
de um relativo sucesso de suas poesias, a vida sexual do embriagado Chinaski
começa a mudar. E muda radicalmente! <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Mulheres
</i>é uma sucessão de aventuras sexuais do escritor, onde ele entra e sai da
vida de uma série de amantes dos mais variados perfis. A única constância é a
bagunça que ele deixa ao sair de suas vidas. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">“Eu era a soma de todos os erros: bebia, era preguiçoso, não tinha um
deus, ideias, ideais, não me preocupava com política. Eu estava ancorado no
nada, uma espécie de não ser”. <o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Nesse livro, a genialidade de
Bukowski aparece na forma como ele mostra o mundo (dos desajustados) como ele
realmente é, usando uma linguagem sem afetação. Com um olhar cru, Chinaski
divide com o leitor detalhes sórdidos de sua vida sexual através de Chinaski.
Por isso, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Mulheres </i>é um livro para
ficar nas prateleiras mais altas da biblioteca, mas que deve ser lido, mais
cedo ou mais tarde... <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span></i><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></div>
<br />Alexandre Cunha de Azevedohttp://www.blogger.com/profile/13682659965396844842noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3016245326373280707.post-82758667252961475432018-03-12T13:19:00.001-04:002018-03-12T13:19:25.590-04:00Jack Kerouac<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://1.bp.blogspot.com/-0W-HwKBKikQ/Wqa0xqVMJjI/AAAAAAAAEmA/4knWQbZ3v3o5WY7RsddWhS2tjCOIRzS5gCLcBGAs/s1600/jack-kerouac-l.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="480" data-original-width="480" height="320" src="https://1.bp.blogspot.com/-0W-HwKBKikQ/Wqa0xqVMJjI/AAAAAAAAEmA/4knWQbZ3v3o5WY7RsddWhS2tjCOIRzS5gCLcBGAs/s320/jack-kerouac-l.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Jean-Louis Lebris de Kerouac
nasceu no estado norte americano de Massachusetts em 1922, filho mais novo de
uma família de origem franco-canadense e ficou conhecido no mundo todo como
Jack Kerouac, o pai e porta-voz do movimento Beat, títulos que rejeitava. Em
1943 foi dispensado pela Marinha por razões psiquiátricas e, entre idas e
vindas para Nova York, escreveu seu primeiro romance, <i><a href="http://tmetade.blogspot.com.br/2015/08/cidade-pequena-cidade-grande-jack.html">Cidade pequena, cidade grande</a>, </i>publicado em 1950. Escrito de forma convencional, o livro foi
bem recebido pela crítica, mas não lhe trouxe nem fama nem dinheiro. Devido à
experiência com o primeiro livro, kerouac passou muito tempo sem publicar. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Durante as quase duas décadas em
que ficou sem publicar, viajou pelos Estados Unidos e México na companhia de
amigos, principalmente Neal Cassidy. Toas as suas experiências de viagem eram
registradas e deram origem aos seus livros que seriam publicados no futuro. O
principal deles, que lhe trouxe fama e dinheiro, foi <i><a href="http://tmetade.blogspot.com.br/2012/08/on-road-jack-kerouac.html">On The Road</a>, </i>publicado em 1957, um relato da sua viagem por sete
anos pela Rota 66 na companhia de Cassidy e que seria consagrado mais tarde
como a “Bíblia Hippie”. Há muitas histórias em torno do livro, algumas condizem
com a verdade, outras não passam de lendas.
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Usando um fôlego narrativo
alucinante, que ele chamava de prosa espontânea, escreveu o livro em três
semanas em folhas de papel manteiga coladas umas às outras para que ele não
precisasse trocar de folha à todo momento. O material, tal como ele escreveu,
foi rejeitado por vários editores. Quando
o material bruto chegou à mãos do editor Malcolm Cowley, em 1957, deu muito
trabalho para torna-lo publicável, já que Jack não se preocupou em cadenciar o
fluxo de palavras com parágrafos nem utilizou pontos e vírgulas. Dizem as más
línguas que Jack escreveu todo o livro sob efeitos de Benzendrina, o que ele
nega. Segundo ele, a única coisa que ele tomou nas três alucinantes semanas foi
café. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<i>Os subterrâneos, </i>publicado no ano seguinte, relata a experiência
dele quando se envolveu com uma moça negra, em 1953. Em 1960, publicou <i><a href="http://tmetade.blogspot.com.br/2015/08/tristessa-jack-kerouac.html">Tristessa</a>, </i>o relato de sua paixão por
uma prostituta mexicana viciada em morfina. No início dos anos 60 resolveu se
isolar no alto de uma colina por vários dias a base de álcool e drogas,
experiência relatada no livro <i><a href="http://tmetade.blogspot.com.br/2015/08/big-sur-jack-kerouac.html">Big Sur</a>, </i>publicado
em 1962. Toda a obra de Jack Kerouac é marcadamente autobiográfica e criou, em
torno da sua figura, uma mística libertadora. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
No entanto, a biografia <i><a href="http://tmetade.blogspot.com.br/2016/10/jack-kerouac-king-of-beats-barry-miles.html">Jack Kerouac: king of the beats</a>, </i>do escritor
britânico Barry Miles, publicado pela primeira vez em 1998, desmistifica essa
imagem do escritor, retratando-o como alcoólatra, machista, antissemita,
oportunista e insensível que não hesitava em procurar os amigos quando estava
em dificuldades e esquecê-los por completo quando tinha dinheiro. No livro de
Miles, chama a atenção dois aspectos da sexualidade de Kerouac: a paixão pela
mãe (e dela por ele), o que atrapalhava os seus relacionamentos com as
mulheres; e a sua insistência em negar aspectos da sua sexualidade,
principalmente a sua tração por homens.<o:p></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Kerouac morreu em 21 de outubro
de 1969, aos 47 anos, de cirrose hepática. Se estivesse vivo, faria hoje 96
anos. <o:p></o:p></div>
<br />Alexandre Cunha de Azevedohttp://www.blogger.com/profile/13682659965396844842noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3016245326373280707.post-34921255157694137642018-03-10T10:40:00.002-04:002018-03-12T13:09:35.308-04:00Factótum – Charles Bukowski<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://4.bp.blogspot.com/-gg-km-gN6ns/WqPuRogvubI/AAAAAAAAElw/r8xC6fL8QRgaEimFVQuVSPH3ApSBWv0WQCLcBGAs/s1600/Factotum.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1000" data-original-width="1000" height="320" src="https://4.bp.blogspot.com/-gg-km-gN6ns/WqPuRogvubI/AAAAAAAAElw/r8xC6fL8QRgaEimFVQuVSPH3ApSBWv0WQCLcBGAs/s320/Factotum.jpg" width="320" /></a></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">“As pessoas não precisam de amor. Precisam é de sucesso, de uma forma
ou de outra. Pode ser que seja no amor, mas não necessariamente”. <o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
O segundo romance de Charles
Bukowski, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Factótum, </i>lançado em 1975,
não é um livro para ser lido por qualquer um, como toda a sua obra. Mais uma
vez está lá o alter-ego do autor, o anti-herói Henry Chinaski, com suas
bebedeiras, suas confusões, seus empregos efêmeros e suas amantes idem. A
sordidez presente em <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Factótum, </i>que
para muitos seria um demérito da obra, representa o seu ponto forte quando se
trata de Charles Bukowski, “O velho safado” da literatura mundial. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">“A alma de um homem está profundamente enraizada em seu estômago.”<o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Nessa obra, Chinaski é considerado
inapto para o serviço militar, portanto não pôde combater na Segunda Guerra
Mundial. Então, o que fazer quando todo o país está unido para o combate e você
não está entre os “heróis”? Para Chinaski, o mais apropriado é beber muito,
trepar muito e escrever muito. E de vez em quando arrumar um emprego para
comprar muita bebida, pagar (atrasado) o aluguel e comer o suficiente para ter
forças para escrever. É uma versão Bukowskiana do artista quando jovem.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>“Uma mulher é um emprego de
turno integral.” <o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
A cada livro, Bukowski exercita
seu desapego levado ao extremo. E em <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Factótum
</i>não é diferente. Nada prende Henry Chinaski! Nem amores, nem trabalho, nem
pai nem mãe. Nada! Como são comuns nas obras de Bukowski, os diálogos dessa
obra são memoráveis pela simplicidade associada à profundidade. O Velho Buk
fala sem rodeios tudo o que a maioria quer falar ou ouvir. O grande mérito de
Bukowski é conseguir viver numa liberdade absoluta, mesmo estando na miséria. <o:p></o:p></div>
<br />Alexandre Cunha de Azevedohttp://www.blogger.com/profile/13682659965396844842noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3016245326373280707.post-75596521558341743222018-03-04T11:06:00.002-04:002018-03-04T11:06:23.383-04:00Cartas na rua – Charles Bukowski<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://3.bp.blogspot.com/-tT3SQgwFk5Y/WpwLVKwH9cI/AAAAAAAAElg/uZkgv8M48-Iq3ENaoeCjgY2nVEab_QfcQCLcBGAs/s1600/cartas_na_rua.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="962" height="320" src="https://3.bp.blogspot.com/-tT3SQgwFk5Y/WpwLVKwH9cI/AAAAAAAAElg/uZkgv8M48-Iq3ENaoeCjgY2nVEab_QfcQCLcBGAs/s320/cartas_na_rua.jpg" width="192" /></a></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b>“Esse tipo de vida que levamos é comum demais: está nos matando.”<o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Em 2012 li um livro de Charles
Bukowski pela primeira vez. Confesso que não morri de amores. Esperei três anos
para ler de novo aquele mesmo livro que não havia gostado (no caso, o livro de
contos <i>Crônicas de um amor louco</i>) e,
inexplicavelmente, fiquei fascinado pelo autor. Desde então, li toda a sua
prosa (não leio poesia) e meu fascínio aumentou a cada livro lido.
Recentemente, resolvi reler os livros de Bukowski e, para meu espanto,
redescobri novas facetas do Velho safado. Todos esses livros já foram comentados
aqui, mas vou publicar novamente os textos com as novas impressões que tive. <o:p></o:p></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b>“Provavelmente eu não passava de um retardado e tinha que agradecer
apenas pelo fato de estar vivo”. <o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Primeiro livro de Charles
Bukowski, publicado em 1971, possui o estilo histriônico e seco que vai
caracterizar toda a obra do Velho Safado. Os diálogos com frases curtas se
baseiam nas vivências do velho Buk, que usa seu alterego Henry Chinaski (que
estará presente em quase toda a prosa do autor) para contar a vida de um quarentão
beberrão e mulherengo, mas, ao mesmo tempo, para criticar a América
desencontrada e suas instituições. Em <i>Cartas
na rua, </i>Bukowski usa Chinaski para falar da época em que trabalhou nos
correios, onde ficou até os 49 anos enquanto lutava para ser reconhecido como
escritor. No livro, o emprego não dura tanto tempo assim. Quando se aproximava
os três anos que lhe dariam estabilidade, Chinaski pedia demissão e ia viver
das apostas nas corridas de cavalo.<o:p></o:p></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b>“A comida é boa para o espírito e para os nervos. A coragem vem da
barriga – tudo mais é desespero”. <o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Como nos outros livros de
Bukowski que seriam publicados nos anos seguintes, seu alterego é obcecado pela
instabilidade, não consegue passar muito tempo num emprego “normal”. De dose em
dose, o velho Chinaski vai pulando de emprego em emprego sem que nenhum o
satisfaça minimamente. Aqui ele conhece Joyce, uma jovem de 23 anos cheia da
grana (detalhe que ele desconhecia ao conhecê-la) que quer provar para a
família que consegue sobreviver sem depender de parentes e, para isso, obriga
Chinaski a achar mais um dos empregos “normais” para que ambos consigam se
sustentar sem recorrer ao auxílio da família de Joyce. <o:p></o:p></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b>“mulheres nasceram para sofrer; não é de surpreender que peçam
constantes declarações de amor”.<o:p></o:p></b></div>
<span style="font-family: "Calibri","sans-serif"; font-size: 11.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">Como isso vai acabar todo mundo já sabe: num
grande porre e o bebum saindo de casa e procurando alguma espelunca barata para
morar. Essa é a vida de Chinaski em todos os livros de Bukowski em que ele
aparece como protagonista: uma sucessão de empregos, porres e mulheres em que
um obcecado pela insegurança busca aventurar-se, fugindo do que pareça
convencional. A narrativa direta e hilária de <i>Cartas na rua </i>será uma constante na obra de Bukowski, um sujeito
que não criava realidades e acontecimentos nos seus livros, ele apenas escrevia
o que vivia.</span>Alexandre Cunha de Azevedohttp://www.blogger.com/profile/13682659965396844842noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3016245326373280707.post-92185564223657866252018-02-24T10:12:00.001-04:002018-02-24T10:12:32.700-04:00Ademir Lemos: o pai do funk brasileiro<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://3.bp.blogspot.com/-Jw4aruXlTbQ/WpFyLa9uLBI/AAAAAAAAElQ/jugahlb0gtIovQ8EVvZYKCbkEZgdA_pDgCLcBGAs/s1600/ademir.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="358" data-original-width="257" height="320" src="https://3.bp.blogspot.com/-Jw4aruXlTbQ/WpFyLa9uLBI/AAAAAAAAElQ/jugahlb0gtIovQ8EVvZYKCbkEZgdA_pDgCLcBGAs/s320/ademir.jpg" width="229" /></a></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Não gostar de funk, hoje, é sinal
de bom gosto musical. Ser chamado de funkeiro, para muitos, é xingamento. Em parte,
têm razão. Como todo gênero musical, o funk foi “sequestrado” pela indústria cultural
e transformado num mero item mercadológico. E como sempre acontece nesses
casos, a apelação se torna mera estratégia de vendas. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Mas na sua origem, lá pelos anos 50 nos
Estados Unidos, o funk tem nomes como Miles Davis e James Brown como seus precursores,
que juntaram o Jazz e a Soul Music para criar um estilo mais dançante. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Alias, coube a esse último colocar o funk no
mapa internacional. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Identificado com o movimento
negro norte-americano, o funk deu origem a outros ritmos, como o hip-hop e o
breakdance. Cabe dizer que, na minha concepção, o funk é ritmo, a chamada “batida”.
Não espere de funkeiros, inclusive os clássicos, letras bem elaboradas, poesias.
O funk, desde a sua origem, foi um ritmo feito para dançar! <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Aqui no Brasil, muitos afirmam o
ritmo aportou por volta de 1969 e teve como pioneiros Tim Maia e Tony Tornado,
que adotaram o cabelo Black Power e fundaram o Movimento Black Rio. Mas antes disso,
em 1966, um discotecário (como eram chamados os DJ’s na época) magro, alto, com
um bigode vistoso e desprovido de beleza chamado Ademir Lemos já agitava a
Boate Le Bateau, no Rio de Janeiro, com a batida frenética do funk. Inclusive dançando
com os frequentadores da boate! Ele mesmo conta, em tom de brincadeira, que foi
a primeira chacrete da TV, dançando rock na TV Continental. Ademir era um exímio
dançarino! <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Enquanto Tim Maia e Tony Tornado
frequentavam os grandes festivais nas principais emissoras de TV do país,
Ademir Lemos lançou o primeiro vinil nacional sem intervalos entre as músicas,
<a href="https://www.youtube.com/watch?v=_FmTqoy5Uwo">o </a><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><a href="https://www.youtube.com/watch?v=_FmTqoy5Uwo">Le Bateuax Ao Vivo</a>, </i>e fazia os
lendários <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Bailes da Pesada, </i>que
traíam cerca de 5 mil dançarinos todas as noites. Somente no final dos anos 80
é que se lançou como cantor de funk e em 1991 gravou o LP <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Um senhor baile, </i>com o seu único sucesso, <i style="mso-bidi-font-style: normal;"><a href="https://www.youtube.com/watch?v=CU-gpM8Muwo">Rap da Rapa</a>, </i>com samples das músicas <i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="background: white; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Money for nothing</span></i><span style="background: white; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">, do Dire Straits e <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Cocaine</i>, de Eric Clapton.</span><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="background: white; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Em 1996, Ademir
sofreu um derrame que o deixou parcialmente paralisado, fazendo com que fosse
morar com a sua filha, em são Paulo. Morreu há exatos 20 anos, no dia 24 de fevereiro
de 1998, por complicações em decorrência de uma queda. </span><o:p></o:p></div>
<br />Alexandre Cunha de Azevedohttp://www.blogger.com/profile/13682659965396844842noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3016245326373280707.post-72506329047864962882017-10-23T15:57:00.000-04:002017-10-23T16:04:13.960-04:00Vamos fazer de conta que todos os dias é o dia do professor<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://3.bp.blogspot.com/-q9yvVUfJTFE/We5JZnhuUBI/AAAAAAAAEk8/eYGDus8yWfwUoO91sLSXY3rTwTOz2H83ACLcBGAs/s1600/professor_palha%25C3%25A7o.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="166" data-original-width="342" height="155" src="https://3.bp.blogspot.com/-q9yvVUfJTFE/We5JZnhuUBI/AAAAAAAAEk8/eYGDus8yWfwUoO91sLSXY3rTwTOz2H83ACLcBGAs/s320/professor_palha%25C3%25A7o.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Domingo, dia 15, foi o dia do
professor. As redes sociais “bombaram” com felicitações aos mestres, nas salas
de aula os alunos fizeram festinhas com os indefectíveis salgados e
refrigerantes (vão continuar passando o resto do ano enchendo a paciência do
professor), algumas escolas vão passear com seus professores ou oferecem
jantares ou almoços para comemorar o dia (igualzinho enganar criança) e na TV o
ministro da educação veio parabenizar, em rede nacional, aqueles que ele não
valoriza. A partir da segunda-feira, dia 16, tudo voltou ao normal: professores
mal formados, salas lotadas, excesso de aulas e escolas mal equipadas. O Dia do
professor é um faz-de-conta, um conto de fadas que dura 24 horas. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Podem achar que sou um sujeito
amargo. E sou mesmo! O que há para comemorar nesse dia? A falta de
reconhecimento, a não valorização, a baixa remuneração, o descaso. Os discursos
que ouvimos de que “educação é essencial”, que “o professor é a profissão mais
importante” é pura balela. Ninguém dá a mínima para a educação. E não estou
falando apenas do governo. Estou falando de TODOS. Muitas vezes até o próprio
professor não valoriza a profissão. Em que país sério metade dos alunos de pedagogia,
mais precisamente 52,4%, estão fazendo o curso à distância, segundo a IDados,
empresa especialista em dados de educação? <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Para dá um exemplo do quanto não valorizamos
a profissão de professor, façamos três perguntas: existe curso de Medicina a
distância? Existe curso de Direito a distância? Existe curso de Engenharia a
distância? A resposta para as três perguntas é uma só: NÂO. Por uma simples
razão: essas três profissões (médico, advogado e engenheiro) são
verdadeiramente respeitadas no país. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Continuo a fazer perguntas: você
já viu médico advogando? Ou engenheiro clinicando? Ou até mesmo advogados e
médicos projetando prédios ou automóveis? As repostas continuam sendo não. Mas
com toda certeza você já viu médico, advogado e engenheiro dando aulas. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Não é a toa que 49% dos alunos
que iniciam pedagogia ou outra licenciatura desistem do curso, segundo o
movimento Todos Pela Educação. Também não é a toa que o número de matrículas
trancadas nesses cursos aumentou 36% nos últimos cinco anos, de acordo com o
Inep. Mas a sociedade brasileira prefere “valorizar” o professor chamando-o de
“herói”, e que ser professor é uma “missão”, um verdadeiro “sacerdócio”.
Professor não é herói, missionário ou sacerdote. Professor é um profissional
como outro qualquer (ou pelo menos deveria ser) que espera ser valorizado
financeiramente e socialmente como qualquer outro profissional. <o:p></o:p></div>
<span style="font-family: "calibri" , "sans-serif"; font-size: 11.0pt; line-height: 115%;">Quem sabe transformando todos os dias em dia do
professor a realidade torne-se um pouco melhor para os profissionais da
educação. Mesmo assim, o professor não tem motivos para sentir vergonha da sua
profissão por que, nos países civilizados, ele seria levado a sério.</span>Alexandre Cunha de Azevedohttp://www.blogger.com/profile/13682659965396844842noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3016245326373280707.post-57326128367527782732017-10-08T09:36:00.002-04:002017-10-08T09:36:44.606-04:00Paulo Sérgio: o rei que não vingou<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://2.bp.blogspot.com/-qUU4S-JGBps/WdopulhCM1I/AAAAAAAAEks/GUK3nnzFdSYhoYPehphbqcpMpy9HUl7IwCLcBGAs/s1600/paulo%2Bsergio.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="299" data-original-width="252" src="https://2.bp.blogspot.com/-qUU4S-JGBps/WdopulhCM1I/AAAAAAAAEks/GUK3nnzFdSYhoYPehphbqcpMpy9HUl7IwCLcBGAs/s1600/paulo%2Bsergio.jpg" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Creio que todos nós já tivemos
aquela sensação de déjà vu (do francês, “já visto”). Para quem não sabe é
aquela sensação de que já esteve naquele lugar, já viu aquela pessoa ou já
viveu aquela situação. Eu vivo isso todas as vezes que escuto duas músicas do
cantor Paulo Sérgio (1944-1980), <i>A última
canção </i>e <i>Quero ver você feliz. </i>É
escuta-las e me lembrar das paisagens áridas do Cariri Paraibano, região onde
meu pai nasceu, mas não me pergunte qual a relação entre uma coisa e outra que
eu não saberia explicar. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Outra imagem recorrente ao ouvir
essas músicas é a sala da casa dos meus pais antes de uma reforma que deu
origem a uma garagem. Sempre me vejo com minha mãe vendo meus irmãos indo para
a escola. Como sou o irmão mais novo, ainda não frequentava a escola. Mas eu
não posso afirmar que isso realmente tenha acontecido. Pelo menos não lembro
que tenha acontecido de fato. Por fim, as músicas me lembram de um programa que
existia na rádio chamado ”Postal sonoro”, em que as pessoas pediam músicas e
dedicavam á alguém que estava partindo para outra cidade ou para alguém que
estava ficando. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Paulo Sérgio de Macedo nasceu no
Espírito Santo e iniciou sua carreira em 1968, lançando um compacto com a
música <i>A última canção </i>(a mesma que
me causa o déjà vu), vendendo 60 mil cópias em apenas três semanas. Tornou-se um grande sucesso e, de imediato,
foi comparado com uma jovem estrela em ascensão três anos mais velho e com mais
tempo de carreira, Roberto Carlos, então um ídolo da juventude. Ambos eram
jovens, bonitos e tinham o mesmo timbre de voz. Não demorou para que os
críticos dissessem que ele não passava de um simples imitador do futuro rei. Isso o
perseguiu por toda a sua curta carreira. Segundo alguns jornalistas que
acompanhavam o mundo das celebridades da época, qualquer tipo de comparação com
Roberto Carlos o deixava extremamente irritado. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Em público sempre deixou bem
claro que era fã de Roberto Carlos e que a semelhança no timbre de voz era mera
coincidência. Os dois cantores galãs chegaram, inclusive, a dividir o mesmo
palco num programa de Silvio Santos. Mas a imprensa da época afirma que o
episódio que o teria levado à morte também tem, indiretamente, relação com a
comparação que se fazia entre ambos. Na tarde do dia 27 de julho, um domingo,
Paulo Sérgio fez uma apresentação no “Programa do Bolinha” e na saída houve um
incidente com uma fã, que o teria agredido verbalmente e fisicamente, inclusive
afirmando que Roberto Carlos era melhor que ele. Alguns afirmam que ele já
chegou à TV Bandeirantes com muita dor de cabeça, estado agravado pela
confusão. <o:p></o:p></div>
<span style="text-align: justify;">No mesmo dia, à noite, depois de
não conseguir terminar o show que estava fazendo em Itapecerica da Serra, Paulo
Sérgio foi levado ao Hospital São Paulo, onde já chegou em coma. Morreria dois
dias depois, aos 36 anos, vítima de um derrame cerebral. Durante sua curta carreira, que duraria 13
anos, Paulo Sérgio vendeu mais de 10 milhões de cópias. </span><br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<o:p></o:p></div>
Alexandre Cunha de Azevedohttp://www.blogger.com/profile/13682659965396844842noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3016245326373280707.post-92018766736770782782017-10-02T09:56:00.000-04:002017-10-02T09:57:03.253-04:00Porto Velho: 103 anos<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://2.bp.blogspot.com/-MKB4A6i-WFI/WdJFWdsdDcI/AAAAAAAAEkc/MiG5YypBHvcN0WH5qkxdWRcyl2O_1qgeQCLcBGAs/s1600/103%2BANOS%2BDE%2BPORTO%2BVELHO.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="788" data-original-width="451" height="320" src="https://2.bp.blogspot.com/-MKB4A6i-WFI/WdJFWdsdDcI/AAAAAAAAEkc/MiG5YypBHvcN0WH5qkxdWRcyl2O_1qgeQCLcBGAs/s320/103%2BANOS%2BDE%2BPORTO%2BVELHO.JPG" width="183" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
O município de Porto Velho
completa hoje 103 anos. No entanto, a data de 02 de outubro de 1914 marca
apenas a criação oficial do município, que foi fundado, na realidade, em 1907
pela Madeira Mamoré Railway Company (M.M.R.C.), empresa responsável pela
terceira tentativa de construção da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré,
pertencente ao magnata norte-americano Percival Farcquar. A origem está
associada à vila de Santo Antônio do Rio Madeira, pertencente à província do Mato
Grosso, situada 7 quilômetros do centro da cidade de Porto Velho, que foi,
durante todo o primeiro ciclo da borracha (1879-1912), o porto por onde era
escoada a produção de borracha vinda da Bolívia e que se destinava aos mercados
dos Estados Unidos e da Europa. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
A história da pequena vila
construída pela M.M.R.C para abrigar seus funcionários, e que daria origem á
cidade de Porto Velho, é contada de forma magistral pelo professor da
Universidade Federal de Rondônia (UNIR) Dante Ribeiro da Fonseca em <i>Uma cidade à far-west: tradição e
modernidade na origem de Porto Velho, </i>escrito com base nos relatos de
viajantes que passaram pela vila, entre eles o sanitarista Osvaldo Cruz. O
artigo está no livro <i>Estudos da História
da Amazônia (Volume I) </i>e abrange o período de 1907 a 1914, ou seja, da
construção da vila pela Companhia até a criação oficial do município. Um texto
tão bem escrito que o leitor se sente na Porto Velho da época. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Segundo professor Dante, quando a
M.M.R.C. chega na Vila de Santo Antônio encontra um cenário pouco convidativo
para quem pensava em construir um ambiente de acordo com a “legítima tradição
segregacionista anglo-saxônica”, um asséptico estabelecimento industrial. A
vila de Santo Antônio era um pequeno aglomerado de pessoas (não mais do que 300
pessoas, a maioria indígenas bolivianos que vivia da carga e descarga dos
navios que atracavam no pequeno porto da vila), sem esgoto, água canalizada ou
iluminação, com casas de alvenaria ou taperas de bambu cobertas com palha, além
dos estabelecimentos comerciais voltados ao lazer dos viajantes: mulher, jogo e
bebida. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Alegando insalubridade da vila e
problemas com o porto (pode colocar na conta também a presença de bares e
prostíbulos), a M.M.R.C. decide iniciar o empreendimento em outro ponto, 7
quilômetros rio abaixo, onde hoje é a praça da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré.
Para isso, construiu uma vila para seus funcionários, com abastecimento de
água, luz e esgoto sanitário. A pequena vila era dotada até de hospital, um
“luxo” que os moradores da Vila de Santo Antônio nem sonhavam. Mas era imposto
aos moradores um rígido controle social, com a proibição de bebidas alcoólicas
e a prostituição e um corpo policial próprio controlava a entrada de
embarcações no porto. Só entrava na vila quem tinha autorização da companhia. Além
do controle sobre o porto, foi erguida uma cerca na Avenida Divisória (onde
hoje é a Avenida Presidente Dutra) para evitar a entrada de quem não era
funcionário da M.M.R.C.<o:p></o:p></div>
<span style="text-align: justify;">Os moradores da pequena Vila de
Santo Antônio do Rio Madeira, vendo o povoado cheio de gringos (e dólares)
surgir a apenas 7 quilômetros de distância, não hesitaram em erigir suas casas
e seus comércios do outro lado da cerca,
dando origem à duas Porto Velho: uma organizada e planejada, com casas
teladas, espaçosas e arejadas; outra insalubre e desorganizada, com casas de
alvenaria ou adobe cobertas com zinco ou palha. Essa era a realidade de Porto
velho no dia 02 de outubro de 1914, quando foi criado o município através da
Lei nº 757 sancionada pelo governador do Amazonas Jonatas Pedrosa. Em dezembro
do mesmo ano chega à Porto Velho seu primeiro superintendente (prefeito), o
major do exército Fernando Guapindaia de Souza, que que irá administrar uma
cidade dividida ao meio por uma cerca. Essa divisão permaneceu até 1931, com a
nacionalização da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré e a nomeação, pelo presidente
Getúlio Vargas, do primeiro diretor brasileiro da companhia, o tenente Aluízio
Ferreira. </span><br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<o:p></o:p></div>
Alexandre Cunha de Azevedohttp://www.blogger.com/profile/13682659965396844842noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3016245326373280707.post-90605322671638495792017-09-24T14:38:00.002-04:002017-09-24T14:38:41.699-04:00Júlio Barroso: assim começa a Geração 80<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://1.bp.blogspot.com/-MpEEsxxCNIM/Wcf7UC7WSLI/AAAAAAAAEkI/PlBO1zdXQcImiq53tpNobnobM60TTUyLQCLcBGAs/s1600/e5e58b1dd59c7282f024990969d28ff5b54c3276.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="300" data-original-width="805" height="119" src="https://1.bp.blogspot.com/-MpEEsxxCNIM/Wcf7UC7WSLI/AAAAAAAAEkI/PlBO1zdXQcImiq53tpNobnobM60TTUyLQCLcBGAs/s320/e5e58b1dd59c7282f024990969d28ff5b54c3276.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Quando falamos da Geração do rock
dos anos 80, os nomes que surgem são o da Legião Urbana, Titãs, Capital
Inicial, Lobão, Kid Abelha e mais alguns poucos. Quem gostar muito daquele
período especialmente fértil da música brasileira vai lembrar artistas que fizeram
sucesso naquela época, mas desapareceram nos anos seguintes, como Zero, Metrô,
Blitz, Rádio Táxi, Sempre Livre, Hanói Hanói, entre muitas outras. Mas quase ninguém
lembra daqueles que contribuíram de forma decisiva para que essa fase, que é considerada
por muitos como a mais fértil da música brasileira, acontecesse. Entre os que
não são lembrados pelo público está o jornalista, cantor, guitarrista,
compositor e DJ Júlio Barroso. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Nascido no Rio de Janeiro em
1953, de família rica, radicou-se em São Paulo ainda adolescente. No anos 70
foi editor da revista <i>Música do Planeta
Terra, </i>com a colaboração de nomes como Caetano Veloso e Gilberto Gil;
participou da revista <i>Som três, </i>com
entrevistas e uma coluna chamada “Toda
taba ateia som”; e foi disc-jóquei (o que hoje é chamado de DJ) em várias casas
noturnas em São Paulo, dentre elas a <i>Dancin’
Days</i>, do jornalista, compositor e escritor Nelson Motta. Em 1981, junto com
a sua banda recém-formada <i>Gang 90 e as
Absurdettes, </i>participa do Festival MPB-Shell, promovido pela Rede Globo,
com a música <i>Perdidos na selva, </i>uma
parceria com Guilherme Arantes. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Para montar a banda <i>Gang 90 e as Absurdettes, </i>se inspirou
nas bandas que curtia, como Talking Heads e B-52’s. era uma banda meio anárquica
com três banking vocals desafinadas e um vocalista (ele próprio) que não cantava
nada. Mas deu certo! Alias, nos anos 80
tudo dava certo. Pelo menos por um tempo. Em 1982, Júlio viaja aos Estados
Unidos e toma contato com artistas do movimento New Wave. Na volta ao Brasil,
no ano seguinte, coloca toda a sua experiência norte-americana no primeiro
disco da banda, <i>Essa tal de Gang 90 &
As Absurdettes, </i>com músicas que fizeram grande sucesso, como <i>Nosso louco amor </i>(foi tema da novela das
8 <i>Louco Amor, </i>de Gilberto Braga), <i>Telefone </i>e a já conhecida <i>Perdidos na selva. </i>No mesmo ano participam
de um especial da TV Globo, <i>Plunct,
Plact, Zuuum. </i><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Júlio Barroso, que sonhara em “ficar
velhinho fazendo música”, não teve tempo de lançar o segundo disco da banda. Em
6 de junho de 1984, aos 30 anos e enfrentando sérios problemas com drogas e álcool,
morreu ao cair do 11º andar do prédio onde morava. A hipótese de acidente é a
mais aceitável. Segundo Lobão, grande amigo de Júlio Barroso, suicídio ”não era
a dele”. Ao lado da Blitz, de Evandro Mesquita, a Gang 90 foi pioneira do Rock
dos anos 80, adotando uma atitude pop em um mercado então dominado pela MPB e colocando
uma geração de músicos, até então na marginalidade, na programação das rádios e
das TV’s brasileiras. <o:p></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Para quem convivia com o músico,
ele era a contradição em pessoa. O seu visual nerd escondia um artista rebelde
e cheio de atitudes que não hesitou em colocar suas músicas na programação da
Rede Globo, vista pela sua geração como a vilã que apoiou a Ditadura Militar e
era uma emissora elitista. Para mostrar essas contradições, que fez dele um
artista ousado e hoje cultuado pelos amantes daquela geração (mas esquecido por
muitos) foi lançado em 2013 o documentário <i><a href="https://www.youtube.com/watch?v=snbLVpcw-kU">JúlioBarroso: marginal conservador</a>, </i>dirigido por Ricardo Alexandre. Como bem disse
um dos herdeiros das contradições de Júlio Barroso, “É tão estranho/ os bons
morrem jovens”. <o:p></o:p></div>
Alexandre Cunha de Azevedohttp://www.blogger.com/profile/13682659965396844842noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3016245326373280707.post-3498392101432083362017-09-17T09:51:00.000-04:002017-09-17T09:57:29.735-04:00Caetano, Torquato e “Cajuína”<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://2.bp.blogspot.com/-x0-oZ722Npc/Wb58_tnh8CI/AAAAAAAAEj4/B3zFqMpp5T4o2rwwP_6Be-cV4RoX875PACLcBGAs/s1600/torquato.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="220" data-original-width="250" src="https://2.bp.blogspot.com/-x0-oZ722Npc/Wb58_tnh8CI/AAAAAAAAEj4/B3zFqMpp5T4o2rwwP_6Be-cV4RoX875PACLcBGAs/s1600/torquato.jpg" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
A canção <i>Cajuína, </i>composta por Caetano Veloso nos anos 70 e incluída no
disco <i>Cinema Transcendental</i>, é
considerada pelos piauienses como um segundo hino de Teresina, capital do
estado. Talvez por causa do último verso da música (“A cajuína cristalina em
Teresina”). No entanto, a história da música não é uma homenagem à Teresina,
mas ao jornalista, poeta e letrista piauiense (e amigo de Caetano) Torquato
Neto, que se matou em 1972, aos 28 anos, no Rio de Janeiro, onde vivia com a
mulher e o filho. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 12.0pt; text-align: justify;">
<b>"A alegria é a prova dos nove<o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 12.0pt; text-align: justify;">
<b>E a tristeza é teu Porto Seguro <o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 12.0pt; text-align: justify;">
<b>Minha terra é onde o Sol é mais limpo<o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 12.0pt; text-align: justify;">
<b>Em Mangueira é onde o Samba é mais puro<o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 12.0pt; text-align: justify;">
<b>Tumbadora na selva-selvagem <o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 12.0pt; text-align: justify;">
<b>Pindorama, país do futuro”<o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 12.0pt; text-align: justify;">
<b>(Geleia Geral, Torquato Neto e Gilberto
Gil)<o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Torquato Pereira de Araújo Neto
nasceu na capital piauiense e, depois de passar a adolescência em Salvador, foi
morar no Rio de Janeiro, onde trabalhou em jornais assinando colunas de crítica
musical. Entre suas primeiras letras está <i>Louvação,
</i>em co-autoria com Gilberto Gil, lançada por Elis Regina. Quando estourou o
Tropicalismo, um movimento de ruptura da cultura brasileira, em 1967, Torquato
Neto se tornou seu principal letrista, escrevendo inclusive a letra da
canção-manifesto, <i>Geleia geral, </i>e de
outras canções, como <i>Marginália 2, Mamãe
coragem </i>e <i>Deus vos salve esta casa
santa, </i>em parcerias com Gilberto Gil e Caetano Veloso. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Além do tropicalismo, Torquato,
na condição de agente cultural e polemista (já que nunca concluíra o curso de
jornalismo) defendia o cinema marginal e a poesia concreta. Há dez dias da
publicação do AI-5, em 03 de dezembro de 1968, com os principais parceiros
presos ou no exílio, embarcou para Londres na companhia da mulher. Na Europa,
mantém contato com artistas e intelectuais brasileiros no exílio e
estrangeiros. Apesar do receio com o endurecimento do regime aqui no Brasil,
retorna em dezembro de 1969. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
No retorno ao Brasil, fez
escreveu músicas para novelas da Globo em parceria com Roberto Menescal e
Nonato Buzar e participou como ator em
filmes do cineasta Ivan Ângelo. Mas
fazer trabalhos comerciais não o deixava feliz. Começou um processo de
isolamento, consequência não apenas do seu histórico de depressão e alcoolismo,
mas também por se sentir alienado pelo Regime Militar. Numa carta de abril de
1971 ao artista plástico Hélio Oiticica, outro grande nome do Tropicalismo,
Torquato desabafa: <i><span style="background: white; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">"O chato, Hélio, aqui, é que ninguém mais tem
opinião sobre coisa alguma”.</span></i><span style="background: white; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-font-style: italic; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"> E
completa: “</span><i><span style="background: white; font-family: "calibri" , sans-serif;">Depois que cheguei no Rio, tive de sair por aí feito maluco atrás de
alguma coisa pra fazer, e logo em seguida tive de fazer essas coisas: produção
de discos de novela pra Globo, música para novela, músicas para vender e
garantir qualquer dinheiro - enfim, um negócio chato e cansativíssimo que eu
tinha de fazer”<b>. </b></span></i><span style="background: white; font-family: "calibri" , sans-serif;">Ainda em 1971, escreveu o poema <i>Go Back, </i>que se popularizou depois que
foi musicado por Sérgio Brito e incluído no disco <i>Titãs, </i>da banda homônima, em 1984. </span><strong><span style="background: white; font-family: "calibri" , "sans-serif"; font-weight: normal;"><o:p></o:p></span></strong></div>
<div class="MsoNormal">
<b><span style="background: white; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Você me chama</span></b><b><br />
<span style="background: white;">Eu quero ir pro cinema</span><br />
<span style="background: white;">Você reclama</span><br />
<span style="background: white;">Meu coração não contenta</span><br />
<span style="background: white;">Você me ama</span><br />
<span style="background: white;">Mas de repente</span><br />
<span style="background: white;">A madrugada mudou</span><br />
<span style="background: white;">E certamente</span><br />
<span style="background: white;">Aquele trem já passou</span><br />
<span style="background: white;">E se passou, passou</span><br />
<span style="background: white;">Daqui pra melhor, foi</span><br />
<span style="background: white;">Só quero saber do que pode dar certo</span><br />
<span style="background: white;">Não tenho tempo a perder<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal">
<b><span style="background: white; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">(Go Back – Torquato Neto)</span></b><strong><span style="background: white; font-family: "calibri" , "sans-serif"; font-weight: normal;"><o:p></o:p></span></strong></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="background: white; font-family: "calibri" , sans-serif;">Entre agosto de
1971 e março de 1972, assinou coluna diária Geleia Geral, no jornal <i>Última Hora, </i>um espaço iconoclasta e de
resistência que abordava temas do dia a dia, música, televisão, teatro, cinema.
Nela, Torquato fez duras críticas à censura, ao moralismo da classe média, à
indústria fonográfica, aos festivais de moda e ao Cinema Novo, que para ele
estava se vendendo ao governo ao receber verbas oficiais. Ainda em 1972,
Torquato, em parceria com Waly Salomão, lançou o primeiro e único número da
revista <i>Navilouca, </i>com trabalhos de
vários nomes do cenário underground da época. Torquato Neto, em depressão
profunda, se matou na madrugada de 10 de novembro de 1972. </span><span style="background: white; font-family: "calibri" , sans-serif;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="background: white; font-family: "calibri" , sans-serif;">Quando recebeu a
notícia da morte do amigo, Caetano não chorou. </span><span style="background: white; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><i>“Senti uma dureza de ânimo dentro de mim. Me senti um tanto amargo e
triste mas pouco sentimental”</i>, relembrou Caetano<span style="font-family: "calibri" , sans-serif;"><b>. </b>Em 1973 (a data não é exata, nem
o próprio Caetano tem certeza quando foi), Caetano Veloso estava em Teresina
para fazer um show e recebeu a visita no hotel de seu Heli, pai de Torquato. Na
casa da família, numa sala repleta de fotos do filho recém-falecido, seu Heli
tentava consolar um inconsolável Caetano. Naquele momento, a </span>sua
<i>“dureza amarga se desfez”</i>, como ele mesmo diz. Seu Heli s<span style="font-family: "calibri" , sans-serif;">erviu-lhe
cajuína para acalma-lo e pegou no jardim uma Rosa-Menina. A cada gesto do pai
do amigo, Caetano se desmanchava em lágrimas ainda mais. Depois do show, em
outra cidade, nasceram os versos de <i>Cajuína,
</i>que você lê abaixo: </span><strong><span style="font-family: "calibri" , "sans-serif"; font-weight: normal;"><o:p></o:p></span></strong></span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<strong><span style="background: white; font-family: "calibri" , "sans-serif";">Cajuína</span></strong><strong><span style="background: white; font-family: "calibri" , "sans-serif";"><o:p></o:p></span></strong></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: center;">
<b>Existirmos
- a que será que se destina?<o:p></o:p></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: center;">
<b>Pois
quando tu me deste a rosa pequenina<o:p></o:p></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: center;">
<b>Vi que és
um homem lindo e que se acaso a sina<o:p></o:p></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: center;">
<b>Do menino
infeliz não se nos ilumina<o:p></o:p></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: center;">
<b>Tampouco
turva-se a lágrima nordestina<o:p></o:p></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: center;">
<b>Apenas a
matéria vida era tão fina<o:p></o:p></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: center;">
<b>E éramos
olharmo-nos, intacta retina:</b></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: center;">
<b>A cajuína
cristalina em Teresina<strong><i><span style="background: white; font-family: "calibri" , "sans-serif";"><o:p></o:p></span></i></strong></b></div>
Alexandre Cunha de Azevedohttp://www.blogger.com/profile/13682659965396844842noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3016245326373280707.post-40129519360147605332017-09-10T11:23:00.002-04:002017-09-10T11:23:13.601-04:00Paulo Leminski e a Poesia Marginal<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://4.bp.blogspot.com/-qQ7eWxP3u-U/WbVY0BiuRWI/AAAAAAAAEjk/ydMBmJZ_1_I9tRcD_4cEEf3Ake4F8B6BQCLcBGAs/s1600/Paulo_Leminski_%25281985%2529.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="467" data-original-width="605" height="247" src="https://4.bp.blogspot.com/-qQ7eWxP3u-U/WbVY0BiuRWI/AAAAAAAAEjk/ydMBmJZ_1_I9tRcD_4cEEf3Ake4F8B6BQCLcBGAs/s320/Paulo_Leminski_%25281985%2529.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Toda arte tem que ser
transgressora. Se não transgride, não transforma, não cumpre integralmente seu
papel de indagar, questionar e transformar. A Poesia Marginal, ou Geração
Mimeógrafo, surgiu nos anos 70 para burlar a censura imposta pela Ditadura
Militar aos movimentos culturais da época. Intelectuais, professores
universitários, agitadores culturais, poetas e artistas em geral, inspirados
nos movimentos de contracultura, buscaram burlar a censura criando novos meios
de divulgação da arte e da cultura brasileira (música, cinema, teatro, artes
plásticas). <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b>"O Paulo Leminski / é um cachorro louco / que deve ser morto / a
pau a pedra / a fogo a pique / senão é bem capaz / o filhadaputa / de fazer
chover / em nosso piquenique".<o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Uma das vertentes desse movimento
sociocultural e artístico é a poesia marginal, contrária a qualquer modelo
literário, não se encaixando em nenhuma escola ou tradição literária. Dentre
esses poetas de linguagem espontânea, coloquial e sarcástica, se destaca Paulo
Leminski, um curitibano filho de pai de origem polonesa e mãe de origem negra,
que teria feito 73 anos no ultimo dia 24 de agosto. Dono de uma personalidade
singular, encarnou o que havia de mais original na Geração Mimeógrafo: o
inconformismo e a rebeldia. Poeta, romancista, tradutor e crítico literário,
Leminski ganhava a vida como professor de História em cursinhos de
pré-vestibular. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b><span style="background: white; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">“Nunca cometo o mesmo erro / duas vezes / já cometo duas três
/ quatro cinco seis / até esse erro aprender / que só o erro tem vez”</span></b><b><o:p></o:p></b></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Estreou na poesia em 1964, aos 20
anos, com cinco poemas na revista <i>Invenção,
</i>dirigida por Décio Pignatari. Desde então, passou a produzir
compulsivamente poemas, haicai, ensaios e, nos anos 80, arriscou-se como
letrista, compondo <i>Verdura, </i>de 1981,
gravada por Caetano Veloso (<i>De
repente/Vendi meus filhos/A uma família americana/Eles têm carro/Eles têm
grana/Eles têm casa/A grama é bacana/Só assim eles podem voltar/E pegar um sol
em Copacabana</i>), além de músicas para Paulinho da Viola, A Cor do Som e
Paulinho Boca de Cantor. Fluente em seis idiomas (<span style="background: white;">inglês,
francês, latim, grego, japonês, espanhol), entre os anos de 1984 e 1986
traduziu obras de John fante, John Lennon e Samuel Beckett. Paulo Leminski Filho morreu em 07 de junho de
1989, aos 44 anos, de cirrose hepática. </span><o:p></o:p></div>
Alexandre Cunha de Azevedohttp://www.blogger.com/profile/13682659965396844842noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3016245326373280707.post-84499303060499451922017-08-23T13:48:00.002-04:002017-08-23T14:13:08.282-04:00Johnny vai à guerra – Dalton Trumbo<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://4.bp.blogspot.com/-jByJSZ8yqmE/WZ2_6clvUFI/AAAAAAAAEjU/lc10S4LZk94touTVFcMJlXX_MpJRPojNQCLcBGAs/s1600/Johnny%2Bvai%2Ba%2Bguerra.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="306" data-original-width="214" src="https://4.bp.blogspot.com/-jByJSZ8yqmE/WZ2_6clvUFI/AAAAAAAAEjU/lc10S4LZk94touTVFcMJlXX_MpJRPojNQCLcBGAs/s1600/Johnny%2Bvai%2Ba%2Bguerra.jpg" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b>“Então como é que um sujeito podia perder os braços e as pernas e os
ouvidos e os olhos e o nariz e a boca e ainda continuar vivo? Que sentido podia
fazer uma coisa dessas?”<o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Tomei conhecimento da existência
de Dalton Trumbo quando achei a sua biografia, <i>Trumbo: a vida do roteirista e ganhador do Oscar que derrubou a lista
negra de Hollywood, </i>do jornalista Bruce Cook,<i> </i>sobre a qual já falei <a href="http://tmetade.blogspot.com.br/2017/02/trumbo-vida-do-roteirista-ganhador-do.html">aqui</a>, por um preço baratinho. Minha ignorância
tem uma explicação: Dalton Trumbo era mais roteirista do que romancista, seus
maiores sucessos aconteceram no cinema, como o roteiro de <i>Papillon, </i>de 1973, e quem me conhece sabe que sou mais adepto da
sexta arte. E foi lendo a biografia do homem que se recusou a delatar seus
colegas de Hollywood (e foi condenado por isso) que soube de <i>Johnny vai à guerra, </i>seu romance
pacifista de 1939, inspirado num artigo que Trumbo leu sobre um soldado que
voltava da guerra desfigurado. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b>“Quatro ou talvez cinco milhões de pessoas mortas e nenhuma delas
desejando morrer enquanto centenas talvez milhões resultavam loucas ou cegas ou
aleijadas e não conseguiam morrer por mais que tentassem com afinco”. <o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
O livro é narrado por Joe Bonham,
um jovem que levava uma vida banal nos Estados Unidos: tinha uma namorada, um
trabalho e rusgas constantes com os pais. Até que Joe foi recrutado para a
guerra. Muitos perdem a vida na guerra, outros são mutilados. Joe volta da
guerra numa situação pior do que a maioria dos ex-combatentes. Perdeu tanto a
vida quanto o direito de morrer. Atingido por uma explosão, perde braços,
pernas e tem o rosto completamente destruído, a ponto de ficar sem visão,
audição e fala. Mas não sofre nenhum dano cerebral, ficando preso a uma cama de
hospital e ao seu corpo dilacerado. A partir daí o leitor viaja nas memórias de
Joe e em sua obsessão em se comunicar com um mundo exterior que não sabia nem
identificar a sua nacionalidade. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b>“Que raio lhe interessa sua pátria depois que você está morto? É terra
natal de quem quando você já morreu?”<o:p></o:p></b></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
O livro foi lançado num momento
especialmente delicado, quando tinha início a Segunda Guerra Mundial e os
Estados Unidos teriam que recrutar milhares de jovens para as Forças Armadas.
Em 1943, pressionado pela imprensa e pelo Governo, Trumbo e seus editores
decidem suspender a reimpressão da obra. Chocante por mostrar a violência da
guerra (de qualquer guerra) por um novo ângulo, o livro se revela um verdadeiro
soco no estômago. Em 1971 foi transformado num filme homônimo e, pela primeira
e única vez, Trumbo ocupou a cadeira de diretor. O livro também foi inspiração
para a música <i>One, </i>da banda
Metallica. <o:p></o:p></div>
Alexandre Cunha de Azevedohttp://www.blogger.com/profile/13682659965396844842noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3016245326373280707.post-87906192555958539032017-08-16T13:49:00.003-04:002017-08-16T13:49:41.068-04:00Contos novos – Mário de Andrade<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://2.bp.blogspot.com/-5jbg0Olutug/WZSFmXOZwKI/AAAAAAAAEjE/8XxT_lgzx9s0vwdYsEHVqAPmF1HjJLmqgCLcBGAs/s1600/contos%2Bnovos.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="448" data-original-width="284" height="320" src="https://2.bp.blogspot.com/-5jbg0Olutug/WZSFmXOZwKI/AAAAAAAAEjE/8XxT_lgzx9s0vwdYsEHVqAPmF1HjJLmqgCLcBGAs/s320/contos%2Bnovos.jpg" width="202" /></a></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b>“Fiz tudo o que a vida me apresentou e o meu ser exigia para se
realizar com integridade. E me deixaram fazer tudo, por que eu era doido,
coitado. Resultou disso uma existência sem complexos, de que não posso me
queixar um nada”.<o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Além de ter uma vasta produção
literária, com mais de duas dezenas de livros publicados ainda em vida, Mário
de Andrade foi polígrafo, ou seja, escreveu poesia, romance, crônica e conto.
Sem contar que foi um dos líderes do movimento modernista brasileiro que
aplicou novos princípios estéticos à arte brasileira a partir das vanguardas
europeias e um projeto de cultura genuinamente nacional. <i>Contos novos </i>é um livro póstumo, publicado em 1947 (o escritor
morreu em 1945), que reúne nove contos escritor na maturidade artística do
autor. Contos escritos e reescritos, já que Mário era um perfeccionista quando
o assunto era a língua portuguesa. E como ele não era de guardar rascunhos, as
várias edições dessa obra foram tentando se aproximar da verdadeira linguagem
de Mário, um obcecado pelo português falado nos rincões do país. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Dos nove contos, quatro são
narrados em primeira pessoa (<i>Vestida de
preto, O peru de Natal, Frederico paciência </i>e <i>Tempo de camisolinha</i>) e tem como traço comum o fato de ser narrado
pelo mesmo personagem, Juca, cuja personalidade é moldada a partir das suas
experiências de rejeição e repressão. No ultimo caso, destaca-se a figura
paterna, presente nos contos <i>Tempo de
camisolinha, </i>quando Juca é obrigado a cortar o cabelo e perde os cachos de
que tanto gostava (alegoria da castração); e <i>Peru de Natal, </i>quando a família aproveita o primeiro Natal após a
morte do patriarca, que era avesso a festas, para fazer uma celebração. <o:p></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Os outros cinco contos são
narrados em terceira pessoa e deles se sobressaem duas imagens: a solidão e
solidariedade. Em <i>Nelson, </i>o
personagem misterioso sentado num bar não tem uma história precisa, mas apenas
boatos. Em <i>O ladrão, </i>o alarde da
presença de um fora da lei leva os moradores da rua para fora das suas casas
durante a noite. Depois da revelação de várias histórias paralelas e sem
encontrar o ladrão, todos retornam para a solidão dos seus lares. Por fim, mais
solitária do que Mademoiselle é impossível. Quarentona e virgem, trabalha como
dama de companhia de meninas ricas que certa vez lhes contam a história de um
homem em atitude suspeita atrás da catedral francesa de Ruão. Perturbada mas
cheia de desejos, mademoiselle passa a fazer com que todos os seus trajetos
passem por traz das igrejas de São Paulo. <o:p></o:p></div>
Alexandre Cunha de Azevedohttp://www.blogger.com/profile/13682659965396844842noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3016245326373280707.post-29636856228867254832017-08-09T14:03:00.002-04:002017-08-09T14:03:36.124-04:00Casados com Paris – Paula McLain<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://2.bp.blogspot.com/-zNHBCT0SNdk/WYtOZmZ_mtI/AAAAAAAAEi0/wlCZt2d6rTkESEpxw_PS4MfWCvB1xb4VACLcBGAs/s1600/casados%2Bcom%2Bparis.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="300" data-original-width="190" src="https://2.bp.blogspot.com/-zNHBCT0SNdk/WYtOZmZ_mtI/AAAAAAAAEi0/wlCZt2d6rTkESEpxw_PS4MfWCvB1xb4VACLcBGAs/s1600/casados%2Bcom%2Bparis.png" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b>“Grilhões e amarras não eram a fórmula para prender um homem como
Ernest – se é que havia alguma”. <o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Mais uma vez vemos aqui aquela
velha história do livro que é comprado por que estava barato (R$ 5,00) e nos
surpreende. <i>Casados com Paris </i>foi
achado perdido numa prateleira e, além do preço convidativo, a menção ao nome
de Ernest Hemingway chamou a atenção. Ernest e Hadley se conhecem em Chicago
nos anos 20. Ela é sete anos mais velha e sonha em ser feliz, já que se aproximava
dos trinta anos e nunca vivera um grande amor. Ele sonha em ser escritor e
viver da escrita. Em <i>Casados em Paris, </i>publicado
em 2011, a escritora norte-americana Paula McLain utiliza-se de uma pesquisa
rigorosa para escrever uma “biografia fictícia” da primeira esposa do escritor
Ernest Hemingway, Hadley Richardson. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b>“Eu não confio num homem que nunca vi embriagado”. <o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Por causa da doença da mãe, Hadley
tinha vivido até os 28 anos numa espécie de casulo. Com a morte da senhora
Richardson, resolve passear em Chicago e, através da sua amiga Kate, conhece
Ernest, então um belo e impetuoso jovem de 21 anos. Ao retornar para casa,
continuam se relacionando por cartas, até engatarem um relacionamento e
casarem. A princípio, o jovem casal vai morar num pequeno apartamento em
Chicago, mas o sonho de Ernest de mudar para Paris e viver da escrita nunca foi
esquecido. Ainda nos anos 20, o casal se muda para a Cidade Luz, onde trava
conhecimento com grandes nomes das artes, como Gertrude Stein, Scott e Zelda
Fitzgerald, Ezra Pound, entre outros. A famosa Geração Perdida!! <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b>“Os muito ricos só admiram a si mesmos”. <o:p></o:p></b></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Em Paris, travamos conhecimento
com um Hemingway extremamente egoísta, que só pensava em concretizar seus
sonhos na literatura; e uma Hadley muito submissa, que abria mão dos seus
sonhos para sonhar os sonhos do marido. O nascimento da filha veio abrir um
abismo entre os dois, com Hemingway se afastando de ambas sob a alegação de que
precisava de silêncio e concentração para escrever. Narrado em primeira pessoa,
ao contar a própria história, Hadley nos coloca a par não apenas da intimidade
do escritor Ernest Hemingway, mas também das histórias de toda uma geração de
gênios da arte, que erroneamente foram chamados de “Geração Perdida”. <o:p></o:p></div>
Alexandre Cunha de Azevedohttp://www.blogger.com/profile/13682659965396844842noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3016245326373280707.post-87273902935180232902017-08-02T15:27:00.001-04:002017-08-02T15:27:25.231-04:00A resistência – Julián Fuks<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://3.bp.blogspot.com/-SNJ0H00mwcs/WYInXrv2WbI/AAAAAAAAEik/Os5bqmy5GLcuDvpLFyMdDgGMKx7tJOzqwCLcBGAs/s1600/a%2Bresistencia.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="306" data-original-width="214" src="https://3.bp.blogspot.com/-SNJ0H00mwcs/WYInXrv2WbI/AAAAAAAAEik/Os5bqmy5GLcuDvpLFyMdDgGMKx7tJOzqwCLcBGAs/s1600/a%2Bresistencia.jpg" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<em><b><span style="font-family: "Calibri","sans-serif"; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">Meu irmão é adotado, mas não posso
e não quero dizer que meu irmão é adotado.</span></b></em><i><o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Com apenas dois romances
publicados (o anterior, <i>Procura do
romance, </i>é de 2011), o escritor e crítico literário Julián Fuks é um dos
mais promissores autores da atual literatura brasileira. A <i>Resistência, </i>seu segundo romance, publicado em 2015, caminha no
limite entre a realidade e a ficção; a história e a memória; o biográfico e o
ficcional; entre Julián, o autor, e Sebastián, protagonista do livro. Filho de
pais argentinos que se exilaram no Brasil fugindo da ditadura portenha, Fuks
usa a obra para explicitar a sua obsessão com origens. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b>“Que força tem o silêncio quando se estende muito além do incômodo
imediato, muito além da mágoa”. <o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Narrado em primeira pessoa por Sebastián, o
mais novo de três irmãos de um casal de psiquiatras argentinos que se
conheceram na universidade, o livro narra a história da família que veio fugida
para o Brasil. Dos três filhos, o mais velho é adotado e avesso à vida
familiar; o segundo, nascido no Brasil, permitiu a cidadania aos exiliados; e o
mais novo, narrador dos dilemas de uma família que vive num país que não é o
seu e tem um filho que não é seu (pelo menos não biologicamente). Mas esse não
é o grande dilema da narração, mas se o fato de ser adotado deve ser
explicitado ou não. Aliás, a frase que inicia o livro expressa esse dilema. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b>“Um filho nunca será o mais indicado para estimar a relação entre os
pais, para compreender o que atraiu um ao outro, para destrinchar seus
sentimentos”.<o:p></o:p></b></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Fuks adota uma estratégia
narrativa muito parecida com a utilizada por Chico Buarque de Holanda em <i>Irmão alemão, </i>romance de 2014. Nele,
Ciccio é e não é Chico. Aqui Sabastán é e não é Julián. Um dos grandes méritos
do autor é narrar com uma precisão assustadora os sentimentos familiares,
sensações nem sempre fáceis de expressar em palavras por envolver múltiplos
sentimentos. Tributo à Emi, irmão adotivo de Fuks, o livro usa como cenário a
ditadura argentina e a vida de todos aqueles que foram atingidos por ela para
reconstruir a sua história familiar e <span style="background: white;">dá um
significado aos desdobramentos emocionais da adoção. </span><o:p></o:p></div>
Alexandre Cunha de Azevedohttp://www.blogger.com/profile/13682659965396844842noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3016245326373280707.post-67472829198255986442017-07-26T14:03:00.002-04:002017-07-26T16:28:18.554-04:00Um defeito de cor – Ana Maria Gonçalves<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://1.bp.blogspot.com/-_jS36u8wSXg/WXjZSSwrXHI/AAAAAAAAEiU/pp5eOst3-JUsGQ1PMAvajjjI24yaEbaTQCLcBGAs/s1600/um-defeito-de-cor-capa.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="607" data-original-width="400" height="320" src="https://1.bp.blogspot.com/-_jS36u8wSXg/WXjZSSwrXHI/AAAAAAAAEiU/pp5eOst3-JUsGQ1PMAvajjjI24yaEbaTQCLcBGAs/s320/um-defeito-de-cor-capa.jpg" width="210" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b>“Não nos davam comida todos os dias, e me acostumei a isso”. <o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Tomei conhecimento da existência
de <i>Um defeito de cor </i>por acaso, num
programa de televisão, quando o ator Lázaro Ramos falou sobre ele. E foi sem
muitas expectativas que resolvi ler o calhamaço de quase 950 páginas durante as
férias. Logo no prólogo fiquei sabendo pela autora, a publicitária mineira Ana
Maria Gonçalves, que também foi o acaso que a levou a escrevê-lo. Aquilo que
ela chama de <i>serendipty </i>(palavra
inglesa que pode significar uma descoberta afortunada ou o acaso) fez com que
uma pilha de livros despencasse na sua cabeça numa livraria e ele só
conseguisse segurar um, <i>Bahia de Todos os
Santos – Guias de ruas e mistérios, </i>de Jorge Amado. Insatisfeita com a
profissão de publicitária, cansada da cidade grande e recém-separada, Ana Maria
interpretou aquele episódio como uma proposta de uma nova atividade. Dali em
diante, passou a se programar para se mudar para a Bahia. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b>“Em terra do Brasil, eles (os escravos) tanto deveriam usar os nomes
novos, de brancos, como louvar os deuses dos brancos, o que eu me negava a
aceitar, pois tinha ouvido os conselhos da minha avó”. <o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Um ano depois, lá estava ela
morando na Ilha de Itaparica, onde outra <i>serendipidade
</i>vai coloca-la em contato com dona Clara, uma senhora que trabalhava numa
igreja na ilha. Na casa dessa senhora, Ana Maria descobriu documentos escritos
em português arcaico que estavam sendo usados como rascunhos pelo filho mais
novo. Esses documentos teriam sido retirados da Igreja do Sacramento, com a
autorização do padre, para serem jogados no lixo junto com revistas velhas. Antes
de pôr fogo em tudo, dona Clara lembrou que seu filho mais novo vivia procurando
papeis para desenhar e levou para casa. Nesses papéis danificados pelo tempo e
pelo manuseio equivocado havia referencias à história dos malês, negros
escravos seguidores da religião Islâmica. <i>Defeito
de cor, </i>publicado em 2006, é fruto do que está escrito nesses documentos. A
autora inventou apenas as partes ilegíveis ou que se extraviaram. Segundo ela,
foram cinco anos de trabalho, dois dos quais reescrevendo dezenove vezes o
texto, com redução de quinhentas páginas. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b>“Na minha convivência com brancos e mulatos, vi que nem todos eram
maus, que existiam os de bom coração e até mesmo os que eram contra a
escravatura, mas não haveria como separar uns dos outros”. <o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
São várias histórias tendo como
fio condutor a narrativa der uma mulher chamada Kehinde, conhecida também como
Luísa, seu “nome de branco”, uma escrava negra que foi raptada aos oito anos na
África e mandada para o Brasil junto com a irmã gêmea e a avó de ambas. Na
verdade, trata-se de Luísa Mahin, mãe do poeta abolicionista Luís Gama, vendido
como escravo pelo seu pai português aos 10 anos de idade. Nos cerca de trinta
anos que permaneceu no Brasil, Kehinde foi preta de companhia na Casa-Grande,
trabalhadora de eito, escrava de ganho, viveu “porta à dentro” com um português
(o pai de Luís Gama), conspiradora rebelde e uma negra bem sucedida vendendo
guloseimas inglesas nas ruas de São Salvador. Através da narrativa de Kehinde é
possível conhecer a vida dos escravos a bordo dos navios tumbeiros que
atravessavam o Atlântico abarrotados de negros que seriam vendidos no Brasil; a
vida nas lavouras e na Casa-Grande nos engenhos de açúcar espalhados pelo
Brasil; como os negros se organizavam para resistir às condições degradantes da
escravidão. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b>“Por que será que tenho pelo menos um arrependimento em relação a cada
um dos meus filhos? Arrependimentos por falta ou por excesso de zelo, mas nunca
por falta de bem querer, e é isso o que me consola”. <o:p></o:p></b></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Em suma, Kehinde expõe ao leitor
todos os aspectos políticos, econômicos, sociais e religiosos do Brasil,
incluindo a espiritualidade afro-brasileira, e da África do século XIX. Já
madura, resolve retornar à África, onde se junta com um mulato de origem
inglesa, John, com quem tem filhos gêmeos. Lá, descobre que os ex-escravos que
voltaram para a África, os retornados, formaram uma espécie de classe média que
se acha superior aos que nunca saíram do continente africano. Ao lado do
companheiro, Kehinde faz fortuna explorando vários setores da economia africana,
do comércio à construção civil. Depois de enviuvar e já octogenária, resolve
retornar ao Brasil na esperança de reencontrar o filho desaparecido a anos e
contar todos os seus segredos. Kahinde nos deixa inúmeras lições durante a sua
saga marcada pelo sofrimento, mas a principal delas é a de que a felicidade
pode estar na próxima curva. Um livro que nasceu para ser clássico. <o:p></o:p></div>
Alexandre Cunha de Azevedohttp://www.blogger.com/profile/13682659965396844842noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3016245326373280707.post-214855200578525742017-07-19T10:55:00.000-04:002017-07-19T10:55:16.749-04:00Eu, Christiane F., 13 anos, drogada e prostituída – Kai Hermann/Horst Rieck<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://3.bp.blogspot.com/-PuR6jMcJS_w/WW9yodUDA1I/AAAAAAAAEh4/KleZMlUQ5rg-vXLnCZFGXRgWtkJZEY5bQCLcBGAs/s1600/eu%2Bcristiane%2Bf.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="500" data-original-width="313" height="320" src="https://3.bp.blogspot.com/-PuR6jMcJS_w/WW9yodUDA1I/AAAAAAAAEh4/KleZMlUQ5rg-vXLnCZFGXRgWtkJZEY5bQCLcBGAs/s320/eu%2Bcristiane%2Bf.jpg" width="200" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b>“Todas as noites eu perguntava a meu pai, com muito jeito, se ele iria
sair. Ele saía com frequência, e nós, as três mulheres, respirávamos aliviadas.
Essas noites eram maravilhosamente tranquilas.” <o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
No início de 1978, Christiane
Vera Felscherinow, então com 15 anos, depunha em um tribunal de Berlim como
testemunha em um processo por tráfico de drogas quando os jornalistas Kai
Hermann e Horst Rieck (na época trabalhando na revista Stern) viram naquela
garota franzina, frágil e delicada uma personagem interessante a ser
entrevistada para o trabalho de pesquisa sobre os problemas da adolescência que
estavam realizando. Era para ser uma
entrevista de, no máximo, duas horas. Durou dois meses e deu origem a <i>Eu, Christiane F., 13 anos, drogada e
prostituída, </i>publicado ainda em 1978 e transformado em best-seller
imediatamente. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b>“É a grande diferença entre os drogados e os alcoólatras. A maioria dos
drogados é sensível aos sentimentos dos outros, pelo menos quando se trata de
um dos membros da turma”. <o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Apesar de ter sido escrito a
partir do depoimento de Christiane, o livro ganhou um ar de diário, colocando
os autores em segundo plano (o que é um mérito) e comovendo os leitores por sua
contundente honestidade e crueza. Segundo seus relatos, começou a fumar maconha
e haxixe e consumir medicamentos como Valium e Mandrix aos 12 anos, em 1974. No
seguinte, frequentando a discoteca <i>Sound,
</i>point de viciados em Berlim, conheceu Detlev, seu namorado, e começou a
consumir heroína. Necessitando da droga pelo menos três vezes ao dia,
Christiane é obrigada a se prostituir na Estação Zoo para sustentar o vício. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b>“A maioria dos jovens passa sozinho para a heroína, quando está maduro
para isso. E eu estava...”. <o:p></o:p></b></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Na época, o consumo de drogas
pesadas entre jovens transformou-se num problema de saúde pública na Alemanha.
Quase todos os colegas de Christiane morreram de overdose de heroína, entre
elas Babsi, sua melhor amiga que, aos 14 anos, foi a vítima mais jovem da
heroína. Christiane, mesmo não tendo o mesmo destino, foi uma vítima da droga
pelo resto da vida. Após várias internações, em 1978 se diz livre das drogas,
mas em 1983 é presa no apartamento de um traficante. E em várias outras
ocasiões teve recaídas, inclusive perdendo a guarda do seu filho, hoje maior de
idade. Recentemente publicou sua autobiografia <i>Eu, Christiane F. – Minha segunda vida. </i>Traduzido para 15 idiomas, <i>Eu, Christiane F., 13 anos, drogada e
prostituída</i> foi transformado em filme em 1981. <o:p></o:p></div>
Alexandre Cunha de Azevedohttp://www.blogger.com/profile/13682659965396844842noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3016245326373280707.post-56635011943956130562017-07-12T08:47:00.002-04:002017-07-12T08:47:19.523-04:00O diário de Anne Frank<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://2.bp.blogspot.com/-Pj1OEpLcd7U/WWYaQZlUu0I/AAAAAAAAEho/Y7-zbmtzEcshzYSPmbp-BplkmJJ2PL6ugCLcBGAs/s1600/o%2Bdiario%2Bde%2Banne.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="495" data-original-width="319" height="320" src="https://2.bp.blogspot.com/-Pj1OEpLcd7U/WWYaQZlUu0I/AAAAAAAAEho/Y7-zbmtzEcshzYSPmbp-BplkmJJ2PL6ugCLcBGAs/s320/o%2Bdiario%2Bde%2Banne.jpg" width="206" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b>“Preocupada com a ideia de ir para um esconderijo, juntei as coisas
mais malucas na pasta, mas não me arrependo. Para mim, lembranças são mais
importantes do que os vestidos”. <o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Anne Frank era uma menina judia
alemã de 13 anos que vivia com a família em Amsterdã, na Holanda. Quando o
exército nazista invade o país, a família é obrigada a se esconder para não ser
enviada para campos de concentração. O período em que a família fica confinada
no anexo secreto no sótão da empresa do pai de Anne, de julho de 1942 a agosto
de 1944, foi registrado pela adolescente em seu diário, publicado pela primeira
vez em 1947, pelo seu pai, Otto Frank, único sobrevivente. Desde então, <i>O diário de Anne Frank </i>se tornou um best-seller, traduzido para
mais de 50 idiomas e adaptado para TV, cinema e teatro. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b>“Acho estranho os adultos discutirem tão facilmente e com tanta
frequência sobre coisas tão mesquinhas”. <o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Além de ser a mais famosa
história pessoal do Holocausto, <i>O diário
de Anne Frank </i>é também o único relato de alguém que não sobreviveu à
perseguição nazista. Normalmente, os relatos são de pessoas que sobreviveram
para contar seus infortúnios. Mas o livro também é o relato dos dramas de uma
adolescente que passou mais de dois anos confinada num espaço exíguo com outras
oito pessoas, seus conflitos internos e com os outros habitantes do sótão, sua
solidão e frustrações. Lendo o relato, observa-se menos uma heroína e mais uma
jovem recém-saída da infância que tem seus sonhos frustrados e seus desejos
roubados por uma guerra insana. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b>“Excelentes espécimes da humanidade, esses alemães, e pensar que na
verdade sou um deles!”<o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Mas nem só de glórias vive o
livro. São muitas as polemicas em torno do best-seller. A maior delas seria que
o livro não teria sido escrito por Anne. Nos anos 50, o escritor Meyer Levin
moveu uma ação contra Otto reclamando os direitos de autor do diário e a falta
de pagamento pelo trabalho. Ganhou a ação e levou 50 mil dólares de indenização.
Pego na mentira, Otto afirmou que não revelou os originais, apenas as
transcrições feitas por Levin, por que Anne fazia duras críticas à mãe e
revelava detalhes íntimos de sua relação com o jovem Peter, também confinado no
anexo. Em 2007, o diário foi considerado autêntico. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b>“Eu me agarro a papai porque meu desprezo por mamãe cresce dia a dia, e
só por intermédio dele consigo manter o pouquinho de sentimento familiar que
ainda trago dentro de mim”. <o:p></o:p></b></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Sendo verdadeiro ou não, <i>O diário de Anne Frank </i>é hoje o maior
sucesso editorial do mundo, com vendas estimadas em 35 milhões de exemplares.
Claro que com esses números, Anne Frank e tudo relacionado a ela virou um filão
valioso. O local onde ficou escondida virou museu e as filas de visitantes se
entendem diariamente das oito da manhã às nove da noite; várias versões do
livro foram lançadas, até chegar a uma “definitiva” recentemente; biografias da
adolescente escritas por quem conviveu com pessoas que conviveram com ela
enchem as livrarias; sem contar as adaptações para cinema, teatro e TV. <o:p></o:p></div>
Alexandre Cunha de Azevedohttp://www.blogger.com/profile/13682659965396844842noreply@blogger.com0