segunda-feira, 31 de março de 2014

Cinema nacional: A última estrada da praia

Primeiro longa-metragem do diretor Fabiano de Souza, A última estrada da praia (2011), é uma livre adaptação do romance político de Dyonélio Machado (1895-1985), O louco do Cati, de 1942, e podemos dizer que se enquadra na estrutura de road movie,  a la Jack Kerouac, resguardando as devidas proporções, claro. O filme foi concebido originalmente para ser um curta, mas os realizadores resolveram apostar na complementação do trabalho, o que fica evidente na demarcação da produção em dois momentos: o primeiro, no início do filme, com cenas mais ágeis; e o segundo, caracterizado pelas cenas psicológicas quando o grupo se desfaz, na segunda metade do longa.
A história gira em torno da ideia de um grupo de três amigos, Leonardo (Marcelo Adams), Paula (Miriã Possani) e Norberto (Marcos Contreras),  de fazerem uma viagem sem destino pelo litoral do Rio Grande do Sul. Pouco antes de partir, Norberto convida um desconhecido (Rafael Sieg) para acompanha-los. O grupo não é formado por adolescentes, o que reflete os tempos atuais em que os jovens despertam tardiamente para a vida adulta, mas os críticos avaliam que chegar à praia é uma metáfora do crescimento, como se lá chegando abandonassem a inconsequência da juventude e adentrassem na vida adulta.
É impossível não perceber que a produção é genuinamente gaúcha, não apenas por causa das locações de filmagens, todas no Rio Grande do Sul, mas também por causa do forte sotaque dos personagens. Um filme que não se enquadra no perfil comercial, mas, e talvez por causa disso, vale a pena assistir.  

sexta-feira, 28 de março de 2014

Se você dá a mão...

Numa madrugada de um sábado qualquer, estava eu curtindo um ócio e viajando de canal em canal quando me deparo com Uma linda mulher (1990), aquele filme “mela cueca” que leva o mulherio e alguns marmanjos às lágrimas. Não me recordo se o filme recebeu alguma premiação da indústria cinematográfica na época, mas se existisse um prêmio Nobel de psicologia, o roteirista deveria ser agraciado. Jamais um filme, pelo menos que a minha fraca memória se lembre, descreve de forma tão fidedigna a alma feminina.
Vamos ao fato. A mocinha, a dita “linda mulher”, é uma prostituta requenguela de beira de calçada que não tem onde cair morta que cobra U$ 100 a hora (ou seria U$ 300?). Certa e felizarda noite a mocinha está no seu posto de trabalho, quando aparece um ricaço bonitão solitário que CONTRATA SEUS SERVIÇOS por algumas horas. Como a solidão persistia, CONTRATOU SEUS SERVIÇOS pelo resto da noite. Quando terminou a noite e a maldita solidão não ia embora, o ricaço CONTRATOU SEUS SERVIÇOS pela semana inteira.
No decorrer da semana, o ricaço, um homem gentil e educado, deu uma recauchutada na mocinha, comprando-lhe roupas e joias. Até aí beleza! NEGÓCIOS SÃO NEGÓCIOS. Quando a semana CONTRATADA se aproximava do fim, a mocinha já começou a fazer beicinho, fazer muxoxo, dizendo que não queria o dinheiro pelo qual foi CONTRATADA e que queria um conto de fadas. Opa, Peraí! E os NEGÓCIOS?
Perdoem-me os românticos, mais precisamente as românticas, mas CONTOS DE FADAS NÃO EXISTEM. Se você encontrar um príncipe por aí, desconfie. Mas se mesmo assim você insistir em acreditar, não case. O CASAMENTO TRANSFORMA QUALQUER PRÍNCIPE EM SAPO, QUALQUER FADA EM BRUXA. Contos de fadas só existem em filmes hollywoodianos, mais precisamente nas produções “mela cuecas”, aquelas em que o mulherio se debulha em lágrimas. Por falar em mulherio, o filme mostra, acima de tudo, que se você der a mão...

quarta-feira, 26 de março de 2014

... E o vento levou – Margareth Mitchell

A jornalista Margareth Mitchell (1900-1949) escreveu ...E o vento levou durante uma longa convalescença em decorrência de um atropelamento. Foi seu primeiro e único romance, mas que vale por dúzias de romances escritos por muitos escritores por aí. Mitchell escreveu não apenas um grande clássico da literatura universal, mas também construiu um dos personagens mais marcantes da literatura, Scarlett O’Hara, aquela que tanto pode ser mocinha como vilã, dependendo em que página você está lendo.
Lançado em junho de 1936, o livro tinha vendido um milhão de exemplares quatro meses depois. Em maio do ano seguinte, o livro foi premiado com o prêmio Pulitzer e, no decorrer dos anos, traduzido para 51 idiomas. Tendo como pano de fundo a Guerra Civil Americana (1861-1865) que dividiu o país entre nortistas e sulistas com interesses irreconciliáveis, o romance é centrado em Scarlett, a típica filha de família sulista, mimada, rica e fútil, mais preocupada com roupas e namoricos do que com a origem da fortuna da família. Até quem vem a guerra...
O grande trunfo de Mitchell ao construir o personagem Scarlett é transformá-la, a medida que a guerra e fome avançam, numa mulher forte, corajosa e manipuladora, que alterna gestos mesquinhos com momentos de extremo altruísmo. Scarlett passa todo o livro apaixonada (ou pelo menos acredita que está) por um banana chamado Ashley, que é casado com Melly, para quem Scarlett dedica, alternadamente, um sentimento de gratidão e ódio.
Outro grande personagem do livro (além de Scarlett) é Rhett Butler, um sujeito misterioso de personalidade forte que só faz o que quer, mas que sempre está presente nos momentos mais difíceis de Scarlett. Apesar de salvar sua pela em algumas ocasiões, Scarlett devota a Butler um ódio mortal (pelo menos ela credita nisso). Um livro que um amante da boa literatura não pode deixar de ler... 

segunda-feira, 24 de março de 2014

Cinema nacional: Garotas do ABC

O diretor Carlos Reinchenbach, falecido em 2012, foi um dos responsáveis pela retomada do cinema nacional no fim dos anos 90 e deixou um legado para a nossa cinematografia. Com certeza, Garotas do ABC (2003) não está entre as suas maiores obras, como Dois córregos (1999), filme que ajudou a consolidar a produção cinematográfica brasileira após a Era Collor, que acabou com os mecanismos de incentivos da produção cultural no país, mas é um filme que tem méritos, como mostrar os estereótipos de uma burguesia preconceituosa e de um povo alienado e rudimentar.
Toda a história se passa em São Bernardo, ABC paulista, e gira em torno da vida de operárias de uma fabrica têxtil. A principal delas, Aurélia (Michelle Valle), se apaixona por Fábio(Fernando Pavão), membro de uma gangue neonazista. Detalhe: Aurélia é negra. a partir da união entre um patético neonazista e uma operária negra, o diretor constrói seu universo endoidecido.
Há também Paula Nelson (Natália Lorda), operária assediada por um líder sindical; e Antuérpia (Vanessa Alves), que tenta iniciar a vida de operária aos 38 anos. Mas uma personagem impagável é Suzana (Luciele de Camargo), a masoquista-casta que se envolve em pequenos acidentes na fábrica para chamar a atenção do chefe, sua grande paixão. Liderando a gangue de neonazistas temos Salesiano de carvalho (Selton Melo), um fá do integralismo que comanda atentados contra negros e nordestinos.
Para amarrar a história, os dois grupos, o das operárias e sindicalistas e o dos fascistas, irão se encontrar num bailão de sexta-feira num clube cuja dona é simplesmente Fafá de Belém, interpretando ela mesma. Um bom filme...       


sexta-feira, 21 de março de 2014

A Síndrome da Doméstica Preguiçosa (SDP)

Vou tentar explicar o mais claramente possível a Síndrome da Doméstica Preguiçosa (SDP), mal que atinge várias sociedades, inclusive a brasileira. A doméstica preguiçosa quando se depara com o lixo que deveria varrer para mais longe possível, coloca a sua limitada inteligência par funcionar e encontrar um meio mais rápido e fácil para se livrar do seu trabalho. A solução encontrada é varrer o lixo para debaixo do tapete. Lá ninguém o verá, portanto não existirá.
Para a doméstica preguiçosa não interessa saber de onde vem o lixo, que estará no dia seguinte nos mesmos lugares, obrigando-a a varrê-lo novamente para debaixo do tapete. Para a doméstica preguiçosa é muito difícil detectar que o lixo vem dos pés que não são limpos e na falta de educação dos patrões que jogam papéis no chão. Com a sua obtusidade para pensar, é mais fácil para a doméstica preguiçosa varrê-lo para debaixo do tapeta, até que lá nada mais caiba e ela tenha que buscar um novo lugar para escondê-lo, antes que todos percebam o arranjo.
Na semana passada, uma participante do BBB 14, da Rede Globo, chamada Ângela, sugeriu que todos os portadores de HIV deveriam ser mortos como uma solução para acabar com a AIDS. Esse é um sintoma explícito do portador da SDP. O sujeito não quer saber se a desinformação é a principal causa do contágio da doença e que essa informação é dever do poder público dar, ele quer punir quem “ousou” ser contaminado e está dando “despesa” e “trabalho” ao serviço público de saúde.
A besteira dirá pela advogada (?) paulista foi tamanha que a direção do programa resolveu mandar, ontem, uma infectologista fazer alguns esclarecimentos para os participantes, dando informações sobre a doença e tirando dúvidas. Só não sei se a infectologista conseguirá fazer milagres, incutindo bom senso em cabeças recheadas de água de privada.
O raciocínio da BBB Ângela é aplicado a temas polêmicos como a pena de morte e a redução da maioridade penal. É mais fácil procurar soluções fáceis e de resultado aparentemente rápidos do que pensar nas causas da violência e buscar soluções que demorem a surtir efeitos, mesmo que esses efeitos sejam duradouros. O lema provocado pela SDP é: EXTERMINEMOS OS EFEITOS MESMO QUE AS CAUSAS PERDUREM.
O Brasil é formado por uma maioria obtusa e medíocre, portadora da SDP, que acha que qualquer problema é resolvido com uma varinha de condão, que não acha que furar fila ou estacionar na vaga de idosos seja um problema grave e que adora julgar os erros alheios e esquecem do próprio rabo ao fechar a porta.
O problema é que a minoria concorda com a maioria ou por oportunismo, como forma de tirar algum proveito dessa maioria obtusa; ou por acomodação para não “criar polêmica”. Todos pecam por ação, cumplicidade ou omissão. Em suma: O BRASIL É UM PAÍS DE PILANTRAS!   


quarta-feira, 19 de março de 2014

A escolha de Sofia – William Styron

Os Estados Unidos, em 1947, ainda viviam os fantasmas da Segunda Guerra Mundial, recém- acabada, e submetidos a uma mentalidade racista que separava o norte do sul, resquícios da Guerra de secessão, no século anterior. É nesse ambiente que vivem no Brooklin, em Nova York, o aspirante a escritor Stingo, sulista, Nathan Landau, nortista e esquizofrênico, e sua bela companheira Sofia, católica e polonesa refugiada de guerra, sobrevivente do campo de Auschwitz.  
O sulista Stingo aspira a ser escritor e para realizar seu sonho vai para Nova York, onde conhece o casal Nathan e Sofia na pensão onde se hospeda. Nathan é judeu e de temperamento instável, Sofia esconde mistérios do seu passado como prisioneira de Auschwitz. O relacionamento do casal alterna momentos de idílio e de brigas violentas, em parte por causa da esquizofrenia de Nathan, em parte por causa dos conflitos de Sofia, relacionados ao seu passado.
Apesar do ambiente de conflito, Stingo se vê atraído pelo casal. Mais ainda pela beleza de Sofia, que nutre pelo jovem sulista um misto de sentimento materno e gratidão por ser seu confessor. Alternando entre escrever seu livro e ouvir as confidências de Sofia, Nathan vai, aos poucos, descobrindo as raízes da instabilidade do casal, o que não diminui a sua paixão por Sofia nem seu sentimento de amizade por Nathan. Publicado em 1979 e vencedor do National Book Award de 1980, O escolha de Sofia, do norte-americano Willian Styron, tornou-se um clássico. Com perfeito domínio do tempo da narrativa e um texto denso, envolvente e cheio de suspense, Styron transforma o conflito das vidas dos três protagonistas numa obra-prima da literatura contemporânea. Com fantasmas assombrando a todo instante os personagens, o livro é uma incursão aos meandros psicológicos daqueles que sobreviveram aos horrores da Segunda Guerra Mundial.
A versão cinematográfica do filme, com produção, roteiro e direção de Alan J. Pakula, também se tornou um clássico. Em 1983 ganhou o Globo de Ouro e foi eleito o melhor filme pela Associação de Críticos de Nova York, e deu à atriz Merryl Streep o segundo Oscar da sua carreira. 

segunda-feira, 17 de março de 2014

Cinema nacional: Mataram meu irmão

A morte de Rafael Burlan da Silva é o ponto de partida do comentário Mataram meu irmão (2013), do diretor e irmão de Rafael, Cristiano Burlan. Na realidade, a intensão de Cristiano não é apenas falar do irmão, morto com sete tiros, no Capão Redondo, na periferia de São Paulo em 2001, aos 21 anos, mas falar da violência que ceifa a vida de jovens que se envolvem com crimes nas periferias das grandes cidades. 
Antes de qualquer coisa, é preciso muita coragem para fazer um filme como esse, em primeira pessoa, expondo as entranhas da sua própria família. No filme, descobre-se que um irmão de Cristiano, Tiago, cumpre pena em Cuiabá, e outro já esteve preso. O pai alcoólatra morreu numa queda quando estava bêbado. A mão casou novamente e foi assassinada pelo marido (Cristiano pretende fazer um documentário sobre o assassino da sua mãe). Em suma, Cristiano torna públicos aqueles problemas que as famílias têm, mas não faz de conta que não tem e quer esconder de todo mundo.
Quando falamos de violência na periferia imaginamos pessoas pobres e de pouca instrução. Não é o que vemos nos depoimentos de Mataram meu irmão. Tia, irmã, viúva e filhos de Rafael são pessoas de classe média, simpáticas e de boa instrução, mas mesmo assim atingidos pela violência e pela droga. O grande mérito do filme é não incorrer naquele erro de sempre falar bem do morto. Ressaltam-se as virtudes de Rafael, mas ninguém esconde o fato dele estar envolvido com drogas e roubos de automóveis. O filme bom de assistir...


quarta-feira, 12 de março de 2014

Puro – Andrew Miller

Sexto livro do britânico Andrew Miller e terceiro lançado no Brasil (não li os outros dois), Puro conta a história do jovem engenheiro de origem modesta Jean-Baptiste Baratte, que recebe a missão de um ministro do rei Luís XVI de livrar-se da igreja e do cemitério de Les Inoccents, que vem acumulando corpos há séculos, a ponto da população que vive nos arredores do cemitério reclamar que a comida e água tem cheiro de cadáver. A presença dos cadáveres é tão forte nas vidas dessas pessoas que Baratte sente o seu cheiro nos hálitos das pessoas.
Baratte aceita a empreitada e se muda para a casa de uma família vizinha ao cemitério que esbanja simpatia e mau hálito cadavérico. O que Baratte pensava ser uma missão que envolvia apenas cálculos, cavar e remover esqueletos e entulhos se transforma em algo bem mais complexo. Ao desenterrar os ossos, o jovem engenheiro percebe que a missão envolve questões morais, sociais, de consciência, futuro, passado, morte, vida, ideais, revolução. Todas esses questões exigirão do jovem Baratte um processo de amadurecimento rápido para um jovem que vinha do interior.
Ambientado na Paris de 1785, Puro descreve a cidade de forma muito diferente daquela que imaginamos, retratando seu ambiente pútrido, sem rede de esgotos, penicos sendo esvaziados pelas janelas e cadáveres impregnando a tudo e a todos com seu fedor. Daí o contrassenso do título do livro, que pode ser uma metáfora. Ou não! O autor pode estar se referindo à purificação da cidade com a destruição do cemitério. Um livro e tanto...

segunda-feira, 10 de março de 2014

Cinema nacional: Estado de exceção

O capitão Jorge, da Polícia Militar do Rio de Janeiro, sonha com sua própria morte. Abalado, põe em risco a vida dos seus companheiros de viatura, o tenente Cristino, o sargento Tião e o soldado Marcelo, com quem entra em confrontos onde o bem e o mal são indistinguíveis. Esse é o ponto de partida de Estado de exceção (2012), do diretor Juan Posada, nascido na Colômbia, mas radicado no Brasil.
Gravado em preto em branco, o filme é hábil em localizar imagens fortes de violência, mas não é um filme comercial, voltado para o grande público. A produção de Posada vai além da pura descrição da violência policial a qual o brasileiro está habituado, focando mais no viés psicológico do drama da violência policial, tanto do ponto de vista dos policiais militares, como das vítimas dessa violência.
Estrelado por Alexandre Mofati (capitão Jorge), Bruno Dubeux (tenente Cristino), Alan Filho (sargento Tião), Pierre Baitelli (soldado Marcelo) e participação especial da modelo Viviane Araújo, Estado exceção é um filme que mostra quando o homem se torna o lobo do próprio homem.

quarta-feira, 5 de março de 2014

O Mago – Fernando Morais

Não sou leitor de Paulo Coelho, mas indícios de que O Mago, do jornalista Fernando Morais, não era uma biografia “chapa branca”, mesmo autorizada pelo biografado, me estimulou a lê-la. E não me decepcionei. O livro traz informações que causaram desconforto para Coelho e algumas pessoas que estiveram envolvidas, direta ou indiretamente, em alguns episódios da vida do escritor. Mas temos que dá um crédito ao biografado: mesmo relatando episódios que poderiam trazer-lhe embaraços, em nenhum momento tentou interferir na sua elaboração ou mesmo tentar embarga-la depois de pronta.
As mais de 600 páginas trazem um relato minucioso da vida de Paulo Coelho. Grande parte das informações estava escondida a mais de 40 anos num baú, mantido trancado pelo próprio Coelho, que continha carca de 190 cadernos de anotações e dezenas de fitas cassetes gravadas como diário. A análise de toda a documentação do baú e de outros documentos, mais entrevistas com personagens que conviveram com Coelho, além de ter acompanhado o biografado no cotidiano e em eventos, consumiram quatro anos de trabalho do jornalista.
A primeira polêmica do livro envolve um personagem chamado Toninho Buda, engenheiro de 58 anos que mora em Juiz de Fora que teria escrito o primeiro livro do “Mago”, Manual prático do vampirismo, de 1985, Paulo Coelho teria apenas assinado a obra. Toninho se diz “aliviado” por tornar público essa história, pois ninguém acreditava nele até então, e “magoado” com Coelho, por nunca ter tornado pública essa versão dos fatos.
A outra polêmica envolve a ABL (Academia Brasileira de Letras), instituição que Coelho pertence como “imortal”. O biografado traz a informação de que alguns acadêmicos o escolheram pensando nos holofotes que a sua eleição poderia jogar sobre a academia. E mais: na possível herança de Coelho. O episódio causou tanto mal-estar entre os acadêmicos que a noite de autógrafos acertada para a sede da ABL foi desmarcada.
Mesmo para quem não é fã de Paulo Coelho o livro é uma boa dica de leitura. É uma oportunidade de descobrir como o místico conseguiu todo o sucesso que fez dele um dos escritores mais lido do mundo, mesmo sendo também o mais contestado.  

segunda-feira, 3 de março de 2014

Cinema nacional: Pan-Cinema permanente

O poeta baiano Waly Salomão (1943-2003) era um personagem em tempo integral. Com sua performance incessante e sua estridência verbal, era impossível não chamar a atenção de todos que estivessem num raio de cem metros. Como dizia Caetano Veloso, era um sujeito “excessivo”. E olha que o cantor baiano era seu amicíssimo! O documentário Pan-Cinema permanente (2008), dirigido por Carlos Nader, trata desse “personagem” singular e inquieto.
O filme traz extenso material sobre Waly, grande parte deles inédito, cuja arte se manifestava em diversas direções. Além da poesia, Waly compôs diversas canções para grandes nomes da música, como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa e Maria Bethânia. Uma curiosidade que o documentário nos traz é o fato de Waly ter começado a escrever seus poemas numa cela do Carandiru, depois de ter sido preso por porte de drogas.
Carlos Nader foi amigo de Waly por treze anos e, durante esse tempo apontou-lhe a câmera em diversas situações, tanto no Brasil como na Síria, país dos seus antepassados. Mas, como confessa o próprio Nader, nunca conseguiu filmá-lo fora de seu incansável e estridente personagem. O filme conta com depoimentos de amigos, como Caetano Veloso e Antônio Cícero, de artistas, como Adriana Calcanhoto, e dos dois filhos de Waly. Uma oportunidade de conhecer um poeta importante, mas pouco conhecido...