quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Vozes da rua – Philip K. Dick

Philip Kindred Dick, ou simplesmente PKD, nasceu em Chicago, em 1928, e morreu na Califórnia, em 1982. Ficou conhecido como um escritor de ficção científica, mas somente obteve reconhecimento da sua obra após a sua morte. Teve várias de suas obras adaptadas para o cinema, entre elas (e a mais conhecida) Blade Runner: o caçador de androides, que estreou dias depois da sua morte. Vozes da rua foi escrito no começo dos anos 50, mas só foi lançado nos Estados Unidos em 2007.
A história se passa na Califórnia nos anos 50 e tem como personagem principal Stuart Hadley, um gerente de loja de eletrônicos, com uma carreira ascendente, bonito e jovem, casado com uma jovem grávida e devotada a ele, mas que, ainda assim, deseja mais. O problema é que ele não sabe o que é esse mais. Essa crise existencial o leva a se envolver com uma seita religiosa e com a misteriosa Marsha Frasier, o que o afasta ainda mais da sua pacata vida de classe média.
A partir daí Hadley se revela um jovem irritado, sonhador e depressivo, que busca preencher o vazio de sua existência no álcool, no sexo e no fanatismo religioso. Afastando-se da esposa e do patrão, passa a reagir a qualquer reaproximação destes com medo e ansiedade. Com uma narrativa envolvente, às vezes parecida com os escritores da Geração Beat, Dick descreve com pinceladas certeiras cada etapa da decadência dom protagonista.  

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Lou Reed (1942-2013)

Morreu ontem, aos 71 anos, o guitarrista e compositor Lou Reed, provavelmente em decorrência de complicações após um transplante de fígado feito em abril passado. Reed nasceu no bairro do Brooklyn, em Nova York, em 1942, e aprendeu a tocar guitarra ainda nos anos 50. É dessa época uma das suas experiências mais traumáticas e que seria tema de suas canções ao longo da sua carreira: bissexual assumido foi submetido pelos pais a um tratamento de choque para “curar” sua orientação sexual.
Em 1964, Reed fundou ao lado do músico galês John Cale, a banda de punk rock Velvet Underground, que viria a se tornar uma das mais influentes da história do rock. O disco mais conhecido da banda é The Velvet Underground and Nico, de 1967, cuja capa foi desenhada por Andy Warhol, outro mito do mundo pop. Reed deixou a banda em 1970 para seguir carreira solo.
O primeiro grande sucesso dessa fase da sua carreira veio em 1972, com o álbum Transformer, que ajudou a sedimentar seu nome como grande poeta da sarjeta com as canções Walk on the wild side (sobre cafetões, travestis e sexo oral), Vicious (sobre drogas) e Satellite of love. Intelectual, Reed lia tudo sobre o submundo americano, e era fã dos escritores da Geração Beat, como Willian Burroughs. Inclusive, quando a bíblia desse movimento, On the road, de Jack Kerouac, foi lançada, Reed tinha apenas 15 anos e sua admiração pelo autor fez com que ele imitasse o estilo Beat de ser e de viver.
E o estilo Beat de ser e de viver era intimamente ligado a polêmicas. E Reed as adorava. Consumidor voraz de qualquer tipo de droga ilegal, chegou a afirmar numa entrevista, 1974, que gastava quase todo o seu dinheiro com elas. Bissexual assumido, em meados dos anos 70 conheceu Rachel, uma transexual com quem viveu por três anos e lhe serviu de inspiração durante a composição do disco “Coney Island Baby” (1976), acompanhando-o em turnês e posando ao seu lado em fotos para revistas. Porém, a partir de 1978, o cantor simplesmente se recusou a tocar no assunto e passou a se relacionar apenas com mulheres.
Em 1975, Reed lançou se quinto disco solo, Metal Machine Music, considerado uma brincadeira por uns, desaforo por outros, por subverter as estruturas convencionais de composição. Muitos discos foram devolvidos às lojas e a credibilidade de Reed ficou arranhada. Depois de ser considerado “o pior disco do mundo”, se tornou cult e foi apontado como grande influência para gêneros como o punk e o metal.
Lou Reed era um mito por que não conseguia ser convencional. E não conseguia ser convencional por que a sua genialidade não permitia. Irá fazer muita falta ao rock, um gênero cujo conceito se tornou difuso a ponto de festivais, como o Rock in Rio, se fartar com estrelas que nem de longe fazem parte do rock.   

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Desonra – J. M. Coetzee

Um romance duro e triste, de uma desolação intensa, de uma crueldade ora desnuda ora mascarada. Esse é Desonra, o 12º livro de J. M. Coetzee, lançado em 1999, que tem a África do Sul como cenário, o que é uma constante na obra de Coetzee. Só que em Desonra, a África retrata é a do pós-apartheid, um pais que, ao contrário das expectativas criadas durante a luta contra o regime de segregação racial, não conseguiu vencer a suas diferenças, sejam raciais ou sociais.
Apesar do título, dignidade é o núcleo através do qual giram todos os cenários e personagens do livro. David Lurie é um professor universitário que vê sua carreira profissional ser destruída após envolver-se com uma aluna negra e ser acusado de abuso sexual. Sem saber o que fazer após ser demitido da universidade, Lurie decide ir para o campo passar uma temporada com sua única filha lésbica, Lucy. É nessa fase do livro que Coetzee mostra toda a sua ironia: Lurie, que foi demitido por abusar (estuprar) de uma aluna, vê sua filha ser estuprada por três homens na fazenda em que vivia e não consegue defende-la.
Percebe-se que, ao longo do livro, o personagem vai sendo esvaziado lentamente em sua identidade. Teve sua juventude sacrificada, depois é desmoralizado por uma acusação de estupro e em seguida ver a sua vida e a relação com sua única filha destruídas por um estupro coletivo. O livro começa com uma citação de Édipo Rei, tragédia de Sófocles, “O homem só é feliz quando morre”, e termina com uma frase de Lurie, “É. Vou desistir”. Magistral...   

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Cinema nacional: Faroeste caboclo

Faroeste caboclo, a música foi escrita por Renato Russo durante uma fase solitária, quando tinha apenas 18 anos e atendia pelo nome de Trovador Solitário na noite brasiliense. A letra narra a história do baiano João de Santo Cristo e traz uma crítica social sobre as relações de classes e racial na Brasília dos anos 70, em plena ditadura militar. Com 129 versos e nove minutos de duração, a composição de Renato se tornou a MÚSICA, tocada pela banda Legião Urbana.
Pena que Faroeste Caboclo (2013), dirigido por René Sampaio e roteiro de Marcos Bersntein (o mesmo de Somos tão jovens), não possa ser considerado o FILME. Não que não tenha seus méritos, mas não ficou a altura da música. Enquanto que na música, Renato Russo usa uma linguagem mais crua para falar de violência e desigualdades sociais e raciais, no filme, o diretor René Sampaio, atento à juventude atual, pouco afeita a rupturas de paradigmas, deslocou o eixo central para a história de amor proibido entre o negro, pobre e nordestino João e a menina burguesa, filha de senador da República Maria Lúcia.
Mas para uma obra que se pretende pop, a questão racial é tocada e o diretor também acerta ao dar vida a uma Brasília que não existe mais e que foi esplendidamente ambientada em tela. Na realidade, com as mudanças feitas no roteiro com relação à canção que supostamente o inspira, além de trechos inventados, o diretor criou uma obra com assinatura própria que, mesmo não estando à altura da música, tem seus méritos.   


sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Vinicius de Moraes: 100 anos

O sofrimento é o intervalo entre duas felicidades
A postagem número 500 do blog coincidiu com os cem anos de nascimento de Vinícius de Moraes, o que me deixa muito feliz. Falar do poetinha é falar é falar de poesia, boemia, amores, mulheres e “causos”, muitos “causos”. Vinícius nasceu em 19 de outubro de 1913, no Rio de Janeiro, e morreu em 9 de julho de 1980, depois de nove casamentos, muito whisky, várias parcerias musicais e centenas de poemas.
Eu sei que vou te amar/ Por toda a minha vida, eu vou te amar/ A cada despedida, eu vou te amar”. (Tom e Vinícius)
Poderia falar sobre a biografia do poetinha, mas ficaria chato, e Vinícius era tudo, menos chato. E olha que não sou fã de poesia! Então falemos sobra os “causos” e as curiosidades da vida desse que foi um dos maiores poetas e compositores brasileiros.
A vida do poeta tem um ritmo diferente/ É um contínuo de dor angustiante/ O poeta é o destinado ao sofrimento” (O poeta, poesia de 1933).
Os primeiros poemas de Vinícius foram escritos ainda na escola, no início dos anos 20, mas o primeiro livro só veio em 1933, O caminho para a distância, pela editora Schmidt. Depois dele, seriam amis de 20, reunindo sua poesia. Vinícius também escreveu literatura infantil, música e teatro.
A gente não faz amigos, reconhece-os”.
O poetinha era uma figura fácil para fazer amizades. E foram muitos, a quem tratava sempre pelo diminutivo e tinha um ciúme doentio. Dos amigos, das mulheres e dos parceiros musicais, que eram, basicamente, três: Tom Jobim, Baden Powell e Carlos Lyra, o pai, filho e o espírito santo, como dizia. Até que, em 1969, estabeleceu a parceria com toquinho, que ele dizia ser o “amém”.
Uma mulher que é como a própria Lua: Tão linda que só espalha sofrimento. Tão cheia de pudor que vive nua” (Orfeu da Conceição, peça de teatro de 1956, escrita em parceria com Tom Jobim).
E por falar em mulheres, Vinícius era um especialista no assunto, casou nove vezes. A primeira vez em 1938, com Beatriz Azevedo, com quem viveu na Inglaterra. Em 1945, casa-se com Regina pederneiras, arquivista do Itamaraty. O terceiro casamento foi com Lila Bôscoli, em 1951, apresentada por Rubem Braga. Sete anos mais tarde, casou com Lucinha Proença, musa da crônica Para viver um grande amor. Para encurtar a conversa: em 1963, Nelita Rocha; em 1969, Cristina Gurjão; em 1970, Gesse Gessy, substituída mais tarde por Marta Rodriguez; e finalmente, em 1978, Gilda Matoso, que o acompanhou até a morte.
O whisky é o melhor amigo do homem. É o cachorro engarrafado”.
Outra especialidade do poetinha. Boêmio incorrigível, diz a lenda que ele e Baden Powell se trancaram no seu apartamento por duas semanas, em 1962, e compuseram 20 sambas regados a três caixas de whiskies. Um dia antes de morrer, em 09 de julho de 1980, um repórter lhe perguntou se estava com medo da morte, já que estava com a saúde bastante debilitada. Vinícius respondeu:
"Não, meu filho. Eu não estou com medo da morte. Estou é com saudades da vida".



Sugestão de leitura: O poeta da paixão: uma biografia, de José Castello (Companhia das letras, 1994. 

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

A idade do ferro – J. M. Coetzee

Sétimo livro de J. M. Coetzee, lançado em 1990, A idade do ferro é uma longa carta de uma mãe sul-africana para a sua filha, que auto exilou na América. Nela, Mrs. Curren fala para a filha como é viver num país sob o regime do Apartheid, onde impera a violência desmedida entre brancos e negros. Com uma doença terminal, a velha senhora conhece, no dia em que o médico lhe informa que lhe resta pouco tempo de vida, Vercueil, um sem teto que procura seu jardim para se abrigar.
Vivendo num mundo hostil, Vercueil e Mrs. Curren desenvolvem uma relação de amizade intensa, através da qual os dois vão procurar abrigo e fugir dos seus medos. Tendo como pano de fundo uma sociedade extremamente desigual, seja por questões raciais ou sociais, os dois personagens mostra ao leitor que é possível haver amor ao próximo, que a raça ou a comdição social não põe as pessoas em lados antagônicos.
Porém, como em todos os romances de Coetzee, não espere palavras pungentes ou lirismo. As mensagens que Coetzee nos passa vem através de uma escrita crua e cirúrgica, de uma sobriedade cruel, chegando a agredir o leitor mais sensível, mas tirando-o da indiferença. Uma leitura recomendada sem reservas...     

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Alice Munro

Na última quinta-feira, a Academia Sueca concedeu o Nobel de Literatura a escritora canadense Alice Munro, reconhecendo nela “um mestre do conto contemporâneo”. Munro já tinha sido agraciada com outros importantes prêmios literários, entre eles o prestigiado Man Booker International Prize, em 2009, e era uma candidata recorrente ao Nobel de Literatura nos anos anteriores. A escritora disse estar “surpresa e muito agradecida” por ter ganho o prêmio maior do meio literário. Não é para menos, afinal a Academia Sueca, que escolhe os agraciados, não costuma privilegiar o conto, gênero no qual Munro se destaca. 
Nascida em Ontário, em 1931, a escritora começou a sua carreira literária em 1950 escrevendo crônicas, mas somente em 1968 publicou seu primeiro livro de contos, Dance of the happy Shades. Três anos depois escreveu um livro com contos interligados, Lives of girls and women. A sua carreira somente se consolida em meados da década de 70, após seu segundo casamento. Munro reconhece a influência em sua obra de grandes escritoras, como Khaterine Anne Porter e Eudora Welty. Dos 14 livros da autora, apenas quatro foram lançados no Brasil.
Com o prêmio, Munro entra num seleto grupo de 13 escritoras que ganharam o Nobel e tem reconhecido o seu valor como a “Chekhov da América”, numa referência ao escritor russo Anton Chekhov, um doa maiores contistas da Literatura universal. Mas há quem não tenha gostado, como o escritor americano Bret Easton Ellis, que afirmou que Munro foi “superestimada” e que o Nobel é uma “piada”. Não se discute os méritos da escritora canadense, mas lamenta-se muito que o escritor norte-americano Philip Roth tenha, mais uma vez, sido preterido pela Academia Sueca. É esperar o próximo ano...  

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

As biografias censuradas

Desde 12 de julho, por determinação da juíza da 7ª Vara Cível de Curitiba, está proibida em território nacional a venda da biografia não autorizada da bilionária gaúcha Lily Safra, Gilded Lily (sem título em português), viúva do banqueiro Edmond Safra, morto em 1999, em circunstâncias não totalmente esclarecidas. A ação partiu de um sobrinho de Lily, Leonard Watkins, sob a alegação de que alguns capítulos do livro sugerem que seu pai, Artigas Watkins, irmão de Lily, teria algum envolvimento na morte do segundo marido da bilionária, Alfredo Monteverde, que oficialmente cometeu suicídio em 1969, deixando uma herança para a viúva de US$ 300 milhões.
Entre as celebridades brasileiras, Roberto Carlos é considerado o rei da censura. Em 2007, conseguiu proibir a biografia não autorizada Roberto Carlos em detalhes, do historiador Paulo César de Araújo. Agora tenta barrar na justiça a circulação do livro Jovem Guarda: Moda, música e juventude, tese de mestrado da historiadora Maíra Zimmermann. Em ambos os casos, a alegação é que os livros revelam detalhes da vida íntima do astro.
Não dava para esperar algo diferente de Roberto Carlos, artista que se imiscuiu de qualquer assunto polêmico durante a ditadura militar. Mas ele ganhou aliados de peso! Aliados que ninguém esperava, como Gilberto Gil, Caetano Veloso e Chico Buarque, que foram duramente censurados por décadas. Pois é, ao lado de Milton Nascimento, Djavan e Erasmo Carlos (mais o próprio Roberto Carlos) fundaram o grupo Procure Saber, que pretende entrar na disputa para que haja autorização prévia do biografado para a comercialização de livros desse gênero.
Já existem mecanismos legais suficientes para punir escritores que usam informações falsas e ofendem a honra do biografado. Criar um novo mecanismo em que o biografado decide se sua biografia pode ou não ser publicada é punir o livro e o leitor, não o mal escritor. Se essas celebridades querem o glamour, mas não quero o ônus da vida de celebridade, que é ter a vida privada constantemente devassada, então vivam uma vida de simples mortais, no anonimato. Se for para ler biografia “chapa branca”, é melhor ler enciclopédia...      

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

O cio da terra (vida e época de Michael K) – J. M. Coetzee

Foi com O cio da terra (vida e época de Michael K) que Coetzee ganhou o primeiro Booker Prize, em 1983 (o segundo foi em 1999, com Desonra), um livro duro, trágico e melancólico. Durante a sua vida, Michael K., um sujeito que se supõe negro, já que autor não deixa isso explícito, pobre, feio e com lábio leporino, atravessa um processo que vai da miséria social à pura e simples animalização.
Michael K. é jardineiro e um dia resolve levar a mãe, uma senhora idosa e doente, de volta para a fazenda num carrinho de mão. No meio do caminho a velha morre, mas mesmo assim Michael K. continua sua viagem. Escondendo-se da polícia, vagando por uma África do Sul convulsionada pela guerra civil, Michael vive à deriva em fazendas, abandonadas, cavernas e campos de trabalhos forçados, de onde foge por seu corpo esquálido não suportar o esforço físico.
Alimentando-se de raízes, insetos ou de um cabrito que conseguiu matar afogado, o protagonista Vive sempre à margem de tudo o que se acredita ser uma sociedade, isolando-se cada vez mais, deixando supor que o contato direto com o mundo, sem o intermédio dos seus semelhantes, parece ser o único refúgio contra a barbárie e a irracionalidade.   

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Cinema nacional: Colegas

O filme Colegas (2012), do diretor Marcelo Galvão, tem seus pontos baixos, como a narração em tom de fábula, de Lima Duarte, o que contrasta com a linguagem utilizada pelos personagens, que são diálogos que refletem a realidade das ruas.  Essa indecisão poderia prejudicar o desenvolvimento da trama. Mas não é o caso.  Um outro ponto que poderia ser negativo no filme é o fato de usar três atores com Síndrome de Down como protagonistas, o que poderia parecer apelativo, mas o diretor soube conduzir o filme de forma a tirar essa impressão.
Três amigos com Síndrome de Down, Stallone (Ariel Goldenberg), Aninha (Rita Pook) e Márcio (Breno Viola) fogem do instituto em que viviam e começam uma sucessão de aventuras, misturando celulares com gírias antigas, carros de épocas variadas e referências a diversos filmes, como Thelma & Louise. Um acerto do filme é fugir do politicamente correto, como no caso dos detetives Portuga e Souza, que sempre se referem aos fujões como “retardados”.
Um filme com altos e baixos, alguns equívocos e muitos acertos. Numa época em que a palavra mágica é “inclusão”, Colegas deixa essa tarefa por conta dos próprios portadores de necessidades especiais. Não é um filme imperdível, é apenas um filme que se pode assistir.    

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Terras de sombras – J. M. Coetzee

Escrito em 1969, mas publicado na África do Sul somente em 1974, em virtude do Apartheid, Terra de sombras é o primeiro romance de J. M. Coetzee. Nele, o autor faz uma analogia entre a invasão norte-americana no Vietnã e colonização holandesa na África do Sul, sonda o elo entre o poderoso e o impotente em duas épocas distintas da história da humanidade, no século XVIII e no século XX.
São duas novelas. Na primeira delas, Projeto Vietnã, Coetzee investiga a questão do poder através da guerra psicológica empreendida pelos Estados Unidos na Guerra do Vietnã e suas consequências, inclusive para aqueles que a praticaram, como é o caso do jovem oficial, personagem da novela, que sofre um surto psicótico.
A outra novela, A narrativa de Jacobus Coetzee, é a história de um Bôer (descendente de colonizadores brancos) fronteiriço do século XVIII que se vinga de nativos por terem-no tratado “sem o devido respeito a um homem branco”. Jacobus Coetzee seria um antepassado do autor. Terras de Sombras não está entre as grandes obras de Coetzee, mas vale a pena lê-lo como introdução a sua vasta obra.