quarta-feira, 30 de março de 2011

Os Mandarins - Simone de Beauvoir

A filósofa e escritora francesa Simone de Beauvoir escreveu Os Mandarins em 1954 e pelo qual recebeu o Prêmio Goncourt. Este livro é considerado a obra-prima da escritora. O enredo trata das vidas pessoais de intelectuais franceses imediatamente após o fim da Segunda Guerra Mundial. Para a autora, a obra não deve ser encarada nem como autobiográfica nem como reportagem. Para ela, o livro é uma evocação de um grupo de jovens intelectuais que, de uma forma ou de outra, forjaram o perfil cultural de toda a geração do pós-guerra, revolucionando o mundo com pensamentos, palavras e gestos. O título é uma referência aos altos funcionários públicos da China Imperial.

Mas não de pode deixar de observar o caráter biográfico da obra. O universo narrado é intelectual: jornalistas, escritores, comunistas, quase todos remanescentes da Resistência ao Nazismo, confrontam-se em debates políticos e filosóficos. Destacam-se Henri Perron (considerado Albert Camus) e Robert Debreuilh (considerado Jean Paul Sartre, marido de Beauvoir). Nesse mesmo período, Sartre e Camus romperam, da mesma forma que Perron e Debreuilh. As razões são nebulosas,mas supõe-se que foi por causa da crítica de Camus/Perron aos crimes de Stálin na URSS, críticas estas que Sartre/debreuilh não concordava. Convenhamos que não se pode ignorar que a causa do rompimento também foi o ego dos dois, já naquela época, grandes e respeitados intelectuais.

Um outro ponto autobiográfico é o fato de Anne (considerada a própria Simone de Beauvoir) ter um amante americano, Lewis Brogan (considerado o escritor americano Nelson Algren). Não era segredo para ninguém (nem para Sartre, que também possuía os seus) que Beauvoir cultivava vários casos extraconjugais, um deles com Algren, a quem ela dedica o livro. Assim como em toda obra de Beauvoir, o feminismo e o existencialismo estão presentes. É uma obra extensa, de leitura nem sempre prazerosa, mas necessária para entendermos o ambiente de euforia do pós-guerra, euforia essa que seria destruída com o advento da Guerra Fria, com todo o caudal filosófico recém surgido tendo que se adaptar a nova realidade. Boa leitura!

terça-feira, 29 de março de 2011

O STF e o clamor popular

O Supremo Tribunal Federal (STF) concluiu, por seis votos a cinco, no último dia 23, que a Lei da Ficha Limpa não terá validade para as eleições de 2010. Votaram a contra a validade da lei em 2010 os ministros Gilmar Mendes, José Antônio Toffoli, Marco Aurélio Mello, César Peluzzo, Celso de Melo e Luiz Fux. Votaram a favor os ministros Ayres Brito, Joaquim Barbosa, Ricardo Lewandowsky, Carmen Lúcia e Elen Gracie. Eu sou a favor da Lei da ficha Limpa. Eu estou de acordo com a decisão do STF. Paradoxal, não? Não! Por dois motivos: primeiro, o STF não extinguiu a Lei da Ficha Limpa, apenas invalidou-a para as eleições de 2010; segundo, o papel do STF é zelar pelo cumprimento da Carta Magna.

Explico: o ministro Luiz Fux, que desempatou a votação, até então empatada em 5 a 5, evocou o artigo 16 da Constituição, que impede mudanças na regra eleitoral a menos de um ano da votação. É o chamado Princípio da Anualidade. Ou, seja, a lei, fruto de uma mobilização que reuniu 1,6 milhão de assinaturas, deveria ter sido aprovada até setembro de 2009, o que não aconteceu. No entanto, nada impede que ela possa ser aplicada nas eleições vindouras. Cabe ao Supremo, mesmo diante de todo clamor popular, defender o texto constitucional e fazer valer o artigo em questão. A voz das ruas tem que ser ouvida e levada em consideração, mas não pode, em nenhuma hipótese, se sobrepor ao Estado de direito, à Constituição.

Após a decisão da Corte Máxima do país, seguiram-se os debates. A decepção daqueles que lutaram a favor da lei era esperada. Algo perfeitamente compreensível. “Todos os membros do movimento estão extremamente tristes”, desabafou o juiz Marlon Reis, do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral. “A Constituição diz que pode ser corrupto até 2010 e em 2012 não?”, questionou a senadora Marinor Brito (PSOL-PA), que vai perder a vaga para o senador Jáder Barbalho (PMDB-PA). Não dá para esperar frase mais inteligente do que essa de alguém do PSOL, mas vá lá, eu me solidarizo com a futura ex-senadora, mesmo por que o que vem depois dela não é nada animador. Mas foi o ministro Marco Aurélio quem melhor resumiu a questão ao afirmar que a decisão do STF vem aumentar a responsabilidade do povo brasileiro na hora do voto. Está dado o recado, ministro.

segunda-feira, 28 de março de 2011

A mentira

A mentira é um assunto constrangedor para nós humanos. Uma vez que envolve questões éticas, é angustiante, para nós, assumirmos que mentimos de vez em quando. Apesar de condenações morais, a mentira é um comportamento mais freqüente do que se imagina. Tão presente em nossas vidas que lhe dedicamos um dia: o primeiro de abril. Não sei se serve de consolo, mas a mentira é um comportamento freqüente na natureza. O ser humano não é o único animal que mente. O camaleão é, se não o maior, um dos mais mentirosos. Ao mudar de cor, ele ludibria presas e predadores. Outros animais usam outros expedientes: os sapos incham para mostrar ao predador que ele é maior do que parece. O mesmo acontece com os gatos, que eriçam os pelos para impressionar o inimigo. Tudo mentira!

Mentimos por vários motivos. Se não existir motivos, inventamos um. Podemos observar vários tipos de mentiras: a mentira patológica, a mentira dolosa, a mentira social e a mentira por amor a arte. Talvez existam outras, mas vamos nos ater a essas. A mitomania é uma doença, onde a pessoa vive uma vida de mentiras a ponto de cometer crimes. No filme Prenda-me se for capaz, Leonardo Di Caprio interpreta um mitômano chamado Frank Abagnale Jr, que se passa por piloto de avião, médico e advogado até ser preso. Aqui no Brasil tivemos um caso semelhante: Marcelo Nascimento da Rocha (ele possuía outras 16 identidades) que se passou guitarrista da banda Engenheiros do Hawai, olheiro da seleção, policial, líder do PCC e até herdeiro do fundador da Gol, chegando a dá uma entrevista ao Amaury Jr como tal. Hoje cumpre pena numa penitenciária no interior de São Paulo.

A mentira patológica geralmente leva a mentira dolosa, onde sempre se busca lesar outra pessoa, tipificada no código penal como estelionato ou falsidade ideológica. Mas nem sempre a mentira é prejudicial. Às vezes faz ate bem. A mentira social é até necessária para o bom convívio com outras pessoas. Se formos falar a verdade sempre, nos tornaremos intratável. Mentimos, nessas ocasiões, por que é necessário. Fazer elogios rasgados a quem se quer conquistar faz bem a ambos. Já imaginou de formos falar verdade? Não conquistaríamos ninguém! Ao ser apresentado a alguém que não simpatizamos, somos obrigados a dizer o protocolar “prazer”, mesmo não sentindo prazer nenhum em conhecer tal pessoa. A vida vai nos mostrar que nossos pais estavam mentindo ao nos dizer quando éramos crianças: “Filho, nunca minta”. Nesses casos, a mentira é menos prejudicial do que a verdade.

Mas a mentira mais divertida é aquela que eu chamo de “mentira por amor a arte. É aquela mentira que o mentiroso conta apenas para se sobressair no grupo ou por puro prazer. Eles não ganham nada com isso nem trazem prejuízos para quem os ouve. Mas contar suas “proezas” lhes faz bem. Acredito que o símbolo maior desse tipo de mentiroso é Chicó, personagem de O Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna, que mente pelo simples prazer de impressionar quem o ouve. Conheço pessoas que, não importa o assunto, elas têm sempre um grande “história” para contar onde elas foram protagonistas e realizaram proezas heróicas e inacreditáveis. Esses mentirosos são inofensivos. O que eles fazem é literatura!

quinta-feira, 24 de março de 2011

O Historiador

Raramente adquiro um livro sem conhecê-lo previamente. Seja através de um amigo que já tenha lido ou através da leitura de uma crítica, só compro se conhecer o livro e autor. Na maioria das vezes que em que não cumpro esse ritual, me dou mal. O Historiador, da americana Elizabeth Kostova, faz parte da minoria. Não conhecia o livro. Comprei pelo título, já que tenho formação em história, e fiquei encantado. É o tipo de obra que se deve ter na biblioteca. Tem tudo para ser considerada, sem exageros, uma obra prima do século XX.

Estamos na moda do romance de vampiro. O Historiador é um romance de vampiro. Mas é um romance que não faz parte dessa moda. É da estirpe de Drácula, de Bram Stocker, mesmo por que a autora americana consegue imitar a escrita de Stocker em vários aspectos, como deixar o seu livro parecer uma reunião de correspondências entre os personagens da trama. A história, contada em primeira pessoa (uma garota de dezesseis anos), é um entrelaçamento de três narrativas passadas em épocas diferentes (1972, 1952 e 1930). E a autora consegue prender a atenção do leitor nesse entrelaçamento de narrativas sem perder o fio da meada. A tensão e o mistério presente no livro são tão intensos, que quem ler tem a vívida impressão de que faz parte da história.

Kostova nos faz viajar no tempo, com descrições de particularidades de cidades e países, conforme o ano da narração, com sua política, geografia e cultura. A autora também faz inúmeras referências a obras antigas sobre o personagem conde Vlad III, o Empalador, que inspirou Stocker a criar o Conde Drácula. Por isso que é interessante ler, antes de ler O Historiador, Drácula, de Bram Stocker. Não que isso seja necessário. Mas apenas para dá um colorido à magnífica história criada por Kostova. É uma obra não apenas para ler, mas também para guardar. Boa leitura!!

terça-feira, 22 de março de 2011

Até que a morte nos separe

“Talvez a morte tenha mais segredos para nos revelar que a vida.” Gustave Flaubert

O homem nutre uma fixação pela morte ao mesmo tempo em que tenta negá-la constantemente e de todas as formas possíveis. A negação/fixação se manifesta de várias formas, seja em eufemismos ao se referir a ela, seja na busca incessante pela longevidade/imortalidade, presente tanto na ciência como nas religiões, seja no culto aos mortos e aos monumentos e cerimônias fúnebres. No cinema e na literatura abunda referências a morte, seja de forma cômica, poética ou macabra. Muitas vezes essa fixação e essa negação se dão de maneira inconsciente. Propõe-se, inclusive, existir o ensaio da morte: o sono.

A medicina e uma constante negação da morte, apesar da sua inexorabilidade. Tratamentos buscam evitar, de todas as formas, que as enfermidades alcancem seu objetivo: a morte. Percebe-se que as vitórias são transitórias, uma vez que a morte até hoje se mostrou inevitável. Em território americano, há empresas que se propõe a congelar os mortos até que a ciência encontre a cura para as suas enfermidades, procedendo-se o descongelamento do “cliente”, evitando-se a morte. A cirurgia plástica não deixa de ser também uma batalha contra o tempo e, conseqüentemente, contra a morte.

As religiões, por vias distintas, buscam o mesmo: negar o inegável. Seja reencarnando indefinidamente ou indo para o céu (ou inferno!), o objetivo das religiões é mostrar que a morte não significa o fim, mas uma passagem. No dia-a-dia, observamos formas de negar a morte no uso de eufemismo para designá-la. Para uns, ninguém morre, desencarna. Para outros, fulano não morreu, foi para outro plano ou partiu dessa para melhor (prefiro está na pior!). Ou simplesmente, partiu. Ou se foi. Ou nos deixou. Simples assim. Não faltam eufemismos para negar o inegável: o sujeito MORREU!!

Mas nem todo mundo quer negar. Existem aqueles que têm verdadeira fixação pela morte e por tudo que a ela se relaciona. Até mesmo aqueles que tentam negar têm, inconscientemente, uma fixação pela morte. As pirâmides do Egito e o monumento indiano Taj Mahal, pontos turísticos concorridíssimos, são mausoléus. Os museus mundo afora expõem múmias, egípcias ou de povos pré-colombianos, que nada são além de cadáveres. Constam como destino turístico oficial europeu 54 cemitérios. O mais famoso deles é o parisiense Père Lachaise, que recebe milhares de visitantes a cada ano. O fato é que negando ou não, o homem não tem medo da morte, tem medo da dor que vai provocar a morte e do desconhecido que virá logo após. Por mais que as religiões queiram criar destinos post mortem, o fato é que nós não sabemos o que nos espera. Acreditamos naquilo que queremos que aconteça. Ate que a morte nos separe...

segunda-feira, 21 de março de 2011

Escola não é Igreja!

O artigo 19 da Constituição Federal veda ao poder público o estabelecimento de cultos religiosos, subvencioná-los ou manter com eles qualquer relação de dependência ou aliança. Antes disso, o preâmbulo dessa mesma Constituição invoca o “poder de Deus”. O artigo 210, da Carta Magna prevê o ensino religioso nas escolas públicas. Mas o Brasil não é um país laico? Tanta contradição trás um dilema: deve o ensino religioso ser ministrado em escolas públicas? Deve o poder público destinar recursos para a doutrinação religiosa? Qual o papel do Estado? Qual o papel da Igreja? Em países europeus, como a França, essa discussão levou a proibição de símbolos religiosos nas escolas e repartições públicas. No Brasil, a discussão ainda engatinha.

Ciência e religião devem ser ensinadas em ambientes distintos. Ciência na escola, religião nos templos. As teorias da física, da geologia, da história são incompatíveis com as “verdades” bíblicas. Esse é o primeiro aspecto a ser considerado. Outro é a questão da formação das crianças. Uma criança de formação protestante com um professor católico. Ou vice-versa. Ou mesmo uma criança de formação atéia com um professor cristão. Tudo isso criaria uma confusão na cabeça do pequeno estudante. Família que quer que seu filho tenha uma formação religiosa tem dois caminhos a seguir: ou matriculo-o numa escola confessional, de acordo com suas convicções religiosas; ou encaminha-o para uma escola dominical da igreja que a família freqüenta. Matriculá-lo numa escola pública poderá trazer sérios problemas de natureza religiosa.

Os partidários do ensino religioso em escolas públicas, como também o Conselho Nacional de Educação, defendem a idéia de não fixar parâmetros curriculares nacionais para a disciplina (assumindo, indiretamente, o erro de ter colocado essa disciplina na escola pública), possibilitando assim que o professor trabalhe com os seus alunos a história das religiões. Isso gerou um samba do crioulo doido. De acordo com as pesquisadoras Débora Diniz, Tatiana Lionço e Vanessa Carrião, em “Laicidade e Ensino Religioso no Brasil”, apenas o estado de São Paulo se definiu pelo ensino não confessional. Acre, Bahia, Rio de Janeiro e Ceará definiram-se pelo ensino confessional. Os demais optaram pelo ensino intercofessional, onde as religiões hegemônicas se unem e definem o currículo a ser trabalhado em sala de aula, numa clara discriminação das religiões mais fracas, dos ateus e dos agnósticos. O ensino religioso em escolas públicas fere o princípio da separação Estado/Igreja e trás mais problemas do que soluções. Amém.

quarta-feira, 16 de março de 2011

Moacyr Scliar

Moacyr Scliar, falecido no mês passado, era um dos poucos intelectuais brasileiros dotados de uma cultura universal. Passeava do romance à crônica, do ensaio ao conto e à literatura infantil. Era um escritor prolífico, criador compulsivo de histórias. No livro Contos Reunidos, que tive o prazer de ler recentemente, ele dá uma pequena mostra da universalidade da sua cultura em mais de 100 contos. São textos, na sua maioria curtos, mas todos saborosos, onde o autor mostra todo o seu ecletismo.

Alguns textos são magistrais, como Os necrologistas. Outros são geniais como As pragas, uma releitura de uma história bíblica. Mas o autor não foge do cômico, como em Milton e o concorrente. É um livro imperdível para todo amante da literatura, um passatempo gostoso para quem está se iniciando e uma homenagem a um dos nossos maiores intelectuais. É uma leitura que vale a pena...

terça-feira, 15 de março de 2011

O preconceito fantasiado

O preconceito pode ter origem na ignorância, como também no esnobismo. Pode vir de um jovem roqueiro de vinte anos ou de uma clássica senhora octogenária. Nos últimos dias tivemos exemplos de ambos. Todos já devem ter ouvido falar de uma banda adolescente chamada “Restart”. Gostar deles é tão difícil quanto ignorá-los, com aquelas fantasias coloridas e cabelos colados ao couro cabeludo. No Nordeste chamariam de corte “Lambida da vaca”. Mas as adolescentes adoram! Coisas da idade. Bem dizem que é uma fase difícil. Difícil e de gosto duvidoso.

Pois bem, o baterista da banda, Thomas, numa vídeoentrevista interativa saiu-se com uma pérola ao ser perguntado qual lugar ainda não tinha tocado, mas gostaria. “Queria muito tocar no Amazonas. Imagina tocar no meio do mato. Não sei como é o público de lá. Não sei nem se tem gente, civilização. Seria bem legal tocar pra lá, praquela parte que a gente acha que não tem nada.” Tem, Thomas. No Amazonas tem gente. Que não gostou nem um pouco da sua ignorância preconceituosa. Naquela parte que você acha que não tem nada, tem muito mais coisas que dentro da sua cabeça vazia.

A revista IstoÉ dessa semana publica uma entrevista com a “papisa da elegância brasileira”, fantasiada de socialite, Carmen Mayrink Veiga. O que faltou foi elegância por parte da entrevistada. Sobrou grosseria e preconceito. Perguntada sobre a moda atual, respondeu que “a melhor coisa é mudar para a Amazônia e escolher a tribo que ande mais enfeitada com penas, franjas, etc, porque a moda hoje está para as índias.” Sobrou novamente para a região Norte. Não parou por aí. Perguntada se homem pode ser elegante e sexy, respondeu que “todo homem sexy, não sei se você já reparou, é milionário. Pobre não é sexy.” Não, não reparei. Acho que eu vou para a Amazônia.

segunda-feira, 14 de março de 2011

Existem cidadãos de segunda classe?

A então candidata a presidência, Dilma Rousseff, evitou o tema, inteligentemente, diga-se. Mas o PT não vendo colocando obstáculos à discussão sobre casamento entre homossexuais no Congresso. Apesar da oposição da bancada cristã, a União Civil entre pessoas do mesmo sexo é um fato inevitável. Se não for hoje, será a cinco ou dez anos. É uma tendência do mundo ocidental. Mesmo por que não há motivos para excluí-los de direitos que são estendidos à todos os cidadão. A não ser que entendamos que os homossexuais são pessoas de segunda classe. O que não é o caso.

Na esteira dessa discussão, a senadora marta Suplicy (PT-SP) obteve a assinatura de 27 colegas para desengavetar um projeto que torna crime discriminação por orientação sexual. Já há até uma Frente Parlamentar Mista pela Cidadania GLBT!! O deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) perderá o sono. A extensão de direitos civis a casais do mesmo sexo e a criminalização do preconceito sexual são temas polêmicos, que prometem mexer com o Congresso. Mas é relevante levantar a discussão. Afinal, um casal não pode ter tratamento diferenciado por que são pessoas do mesmo sexo. A lei não virá para criar uma situação, ela virá para regulamentar uma situação pré-existente.

Mas o que me inquieta nessa discussão é oposição aguerrida a esses projetos. E não aceito o argumento religioso de que Deus criou homem e mulher. Se Deus criou alguma coisa nesse sentido, foi o ser humano, dotado de sexualidade, seja ela qual for. Por que alguém tem que ser tratado de forma diferenciada por se relacionar com outra pessoa do mesmo sexo? Por que alguém pode ser agredido, verbal ou fisicamente, por causa da sua orientação sexual? Se aprovados, o Brasil passará a tratar melhor todos os seus cidadãos, independentemente do que eles fazem em sua vida privada.

domingo, 13 de março de 2011

O adultério e o casamento

Pesquisa da Fundação Perseu Abramo e do Sesc indicam que 12% das mulheres traem. Há nove anos eram 7%. Outro estudo, do Projeto Sexualidade (prosex) da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), mostra que metade das mulheres já teve algum tipo de relação extraconjugal. Sem querer ser radical, eu diria que esses números não refletem a realidade. Ele é muito maior! Não fiz nenhuma pesquisa, mas acredito que todos traiam, homens e mulheres. Não por desvio de caráter ou pela falta dele. Mas por que o ser humano, como muitos outros animais na natureza, não é um monogâmico. A monogamia é cultural, é um valor imposto pelo meio social.

Para aliviar a culpa, o adúltero busca razões que justifiquem o seu ato. Na primeira pesquisa, 35% das mulheres afirmaram que traíram por vingança. Não creio. As pessoas traem por que querem. Por que sente atração por outra pessoa. Só que é muito difícil admitir isso, não apenas para o parceiro traído, mas para todo o círculo social, sendo preferível buscar outras razões. Deixando bem claro que as minhas “conclusões” não se baseiam em pesquisas, ma apenas nas minhas convicções.

Aliado a essa vontade pura e simples do adúltero em trair, podemos colocar o modelo de casamento em voga. Ele está falido! O pacto de exclusividade inerente ao modelo é uma peça de ficção e só serve para fazer os casais viverem mal. Prova inconteste é o crescimento de 200% na taxa de divórcio entre 1984 e 2007, segundo o IBGE. Não sou contra o casamento! Não acredito nesse modelo de casamento. Mas acredito na capacidade infinita do ser humano de amar.

sábado, 12 de março de 2011

O sexo frágil

A deputada estadual fluminense e ex-atriz, Myrian Rios (PDT), afirma que não faz sexo a nove anos. Ela é ex-mulher do cantor Roberto Carlos. Será que uma coisa está relacionada com a outra? A deputada garante que só vai se relacionar sexualmente no matrimônio. Eu a aconselharia a fazer sexo antes do casamento. Depois do casamento o sexo acaba! Sem contar que vai ser difícil encontrar um parceiro para o que ela chama de “namoro santo”. Não sei o que ela quer dizer com isso, mas presumo que seja algo próximo a uma monotonia celestial. Myriam Rios faz parte da corrente católica Canção Nova. A canção é nova, mas o dilema é antigo.

O Cristianismo, nos seus dois mil anos de existência, convive com o dilema em conciliar sexo com reprodução sem que isso implique em condenação eterna ao fogo dos infernos. Santo Agostinho (354-430), Bispo de Hipona e um dos maiores teóricos da Igreja Primitiva, considerava o sexo “repulsivo”. Não se sentindo a vontade para culpar Deus por existência do sexo, Agostinho resolveu culpar Adão e Eva. Para aqueles que não conseguiam manter a castidade, o bispo propôs o “sexo sem paixão” e com o objetivo de procriar, que seria um pecado menor. O sexo sem fins procriativos era considerado um dos piores pecados. O casamento, pré requisito de Myrian Rios para recomeçar a sua vida sexual, era considerado uma “invenção do demônio” e uma “concessão à fraqueza humana”.

Considero o dilema desnecessário. Se um deus teria criado um ser sexuado e determinado que somente através do sexo seria possível procriar, por que esse meio seria pecado? É uma contradição! E não para por aí. Hoje a ciência criou meios artificiais de procriação, que também são condenados pela Igreja Católica. Então o cristianismo é contra a procriação? E onde fica o preceito cristão “Crescei e multiplicai”? Somente nas aulas de matemática? Deus, somos todos ateus...

quinta-feira, 10 de março de 2011

O falso cadáver

Apertava os olhos para evitar a claridade provocada pelo sol abrasador. O trânsito estava lento, os carros hermeticamente fechados na tentativa inútil de deter nos seus interiores o ar gelado do sistema de refrigeração. Tomo mais um gole da cerveja gelada que desce rasgando deliciosamente a minha garganta.

- Garçom, mais uma!

Deve ser meio dia e meia. O bar está quase vazio. Além da minha mesa, mais duas outras estavam ocupadas. Na mesa ao lado um casal de meia idade. Ele cochichava algo que parecia a ela muito interessante. Na mesa do fundo quatro jovens tomavam cerveja e conversavam ruidosamente. O garçom tem um ar enfastiado, preguiçoso. Deve ser o calor, penso. Trás a cerveja que pedi com ar de tédio.

- Tá um sol pra cada um! – comento. Mas não obtenho nenhuma resposta.

As arvores não se mexiam, não havia vento. Na calçada, bem próximo do meio-fio, um cachorro estava deitado, imóvel. Dormia? Estava morto? Não sei. Tinha o pêlo preto. Era, com certeza, um desses cães errantes que andam com o rabo entre as pernas e o focinho rente ao chão farejando o que comer.

Esqueço o cão. Passo a olhar o céu sem nuvens, o sol inclemente. Vejo lá no alto, um pontinho preto em movimento. Deve ser um urubu, penso. Fico me imaginando no lugar da ave de rapina. Deixar-me flutuar com as asas paradas abertas, o vento batendo no rosto. Urubu tem rosto, me pergunto. Avistar os telhados das casas, uns vermelhos cor de barro, outros cinzas cor de amianto. Entre os quarteirões, ruas com pequenos pontos em movimento, que não lhe interessa. O que lhe interessa são os pontos parados, imóveis, de preferência mortos.

Deve ter avistado um ponto preto parado, pois percebi claramente que a cada volta que dava, ficava mais próximo do chão. Será que ele tava de olho no cachorro, me perguntei. Passaram-se dez minutos quando aquela imensa ave preta pousou com as asas abertas, sobre um muro do outro lado da rua, fechando-as logo depois. E ficou parado, observando o movimento. Fiquei observando, ora o urubu, ora o cão imóvel. Estaria morto?

Passaram-se uns minutos, talvez dez, talvez quinze, até que o urubu desceu do muro. O cachorro continua imóvel. A ave aproxima-se com aquele jeito de quem não quer nada, olha para um lado, olha para o outro lado. Para. Aproxima-se um pouco mais. E o cachorro imóvel. Se respirava, nem eu nem o urubu percebíamos. Este inclina um pouco a cabeça, aproximando o bico do cachorro, como fareja. Dá mais um passo. De repente, afasta a cabeça e, rapidamente, dá uma bicada violenta na barriga do cachorro que, soltando um ganido alto, dá um salto acrobático, retorcendo-se em pleno ar, formando quase um “S”. Mal as patas conseguem tocar o chão, sai em desabalada carreira, com o rabo entre as pernas e as orelhas repuxadas para trás. Ao mesmo tempo, o urubu, igualmente assustado, bate as asas tentando, desajeitadamente, voar para trás.

O defunto tá vivo, deve ter pensado o urubu, se urubu pensasse. Assustado, volta para seu abrigo sobre o muro com a sensação se que o almoço fugiu. Com um sorriso de canto de boca, tomei mais um gole da cerveja.

quarta-feira, 9 de março de 2011

Não contem com o fim do livro

Ao ler Não contem com o fim do livro senti um misto de inveja e admiração. O livro é, na realidade, fruto de encontros (“muito informais, a beira da piscina e regados com bons uísques”, de acordo com as palavras de Eco) entre o semiólogo e escritor italiano Umberto Eco; o roteirista, dramaturgo e escritor francês Jean-Claude Carrière; intermediado pelo ensaísta e escritor também francês Jean-Phillipe de Tonnac. Inveja pelas bibliotecas que Eco (cerca de 50.000 livros) e Carrière (cerca de 40.000 livros) possuem. A minha não chega a “míseros” 1.000 livros!! Admiração pelo amor que esses dois intelectuais nutrem pelos livros e pela vastidão do conhecimento que eles possuem sobre literatura, cinema e arte.

A obra trata de livros que existem, livros que não precisam ser lidos para serem considerados grandes obras e livros que nunca serão lidos por que, infelizmente, não existem mais. Não façam apena das grandes obras. Não contem com o fim do livro é uma obra tão democrática que Eco e Carrière falam de livros ruins e leitores intolerantes. Ressaltam que o livro é um objeto digno de ser, senão lido, pelo menos colecionado e, nesse sentido, um livro ruim também é um livro. A grande virtude da obra é o passeio que ambos fazem por 5 mil anos de história dos manuscritos, dos papiros e pergaminhos da antiguidade, passando pelos incunábulos do século XV e chegando aos livros e e-books da atualidade.

Ambos defendem a idéia de que o livro, assim como a roda, é uma invenção acabada, que não pode ser melhorada (no caso do livro, somente o conteúdo pode ser melhorado, não a forma) e que veio para ficar. A internet e os e-books não provocarão o fim do livro, terão que conviver com ele como o isqueiro convive com o fósforo. O principal argumento, além do amor aos manuscritos, é a facilidade para ler um livro de 500 anos, mesma facilidade que não encontramos numa tecnologia de 10 anos. É delicioso e empolgante. Vale a pena ler...

terça-feira, 8 de março de 2011

A mulher e o politicamente correto

No Dia Internacional da Mulher, eu poderia fazer um texto politicamente correto. Poderia falar sobre as conquistas femininas no decorrer dos séculos, sua importância na sociedade como mãe e esposa, entre outras coisas. Mas não tenho essa pretensão. Mesmo correndo o risco de atrair a ira de alguma feminista que por acaso venha a ler esse texto. Mas quero deixar bem claro que não sou um porco machista que acha que a mulher é um ser inferior. Não! Só acho que a mulheres tem perfil distinto do homem. O que às vezes é bom, mas nem sempre.

Começo citando um ditado nordestino, segundo o qual a mulher é um bicho tão complicado que faz a pergunta, ela mesma responde e ainda reclama da resposta. A mulher reclama que é minoria nos postos chaves de grandes empresas (43,6% da população economicamente ativa e apenas 13,7% nos cargos de liderança, segundo pesquisa coordenada pelo Instituto Athos), mas quando perguntadas se aceitariam ocupar cargos de chefia apenas 37% disseram que sim, segundo pesquisa feita pelo Instituto Sophia Mind, com 340 mulheres de nível superior completo. Isso não é uma constatação de incompetência. Mas a demonstração do perfil diferenciado dos dois gêneros. A mulher, na média, não aceita abrir mão de sua vida privada (filhos, marido, casa) para se dedicar integralmente a vida profissional.

As mulheres já são maioria em vários setores: dos profissionais que decidem abrir seu próprio negócio, 53% são do sexo feminino, segundo pesquisa Global Enterpreneurship Monitor; o número de mulher conectadas a internet no Brasil supera em 1 milhão o de homens; as mulheres representam 55,1% da população acadêmica e 58,8% delas terminam o curso, contra 41,2% dos homens. Esses números mostram que dificilmente o machismo irá frear o avanço das mulheres em vários setores. No entanto, segundo dados do IBGE, 86% das mulheres são responsáveis pelos trabalhos domésticos; 60% não abririam mão dos momentos de lazer com a família para se dedicar mais ao trabalho. Esses números sim! E não por iniciativa dos machos preconceituosos. Mas por cauda da diferença de perfis entre os gêneros mencionada no primeiro parágrafo. E quais as causas das diferenças de perfis? Aí é assunto para outro texto...

segunda-feira, 7 de março de 2011

O bloco do xixi na rua

Hoje é segunda feira de carnaval. A boa notícia é que faltam apenas dois dias para acabar os festejos momescos. Tentei ignorar o carnaval nos dois primeiros dias. Foi impossível! Na TV só se fala em carnaval. Os sites de notícias na internet só falam de carnaval. As rádios só tocam música de carnaval. Infelizmente, para mim, eu detesto carnaval. Não consigo ouvir um refrão de samba enredo. Desfile de escola de samba é tão animador quando uma escada rolante colorida. O pior é que a Globo acha pouco passar a noite toda transmitindo desfiles, ainda reprisa os ”melhores momentos” no dia seguinte.

Mas o problema é meu! Sou minoria. A maioria gosta e é isso que importa. Resta-me esperar a quarta feira de cinzas. Não sou um daqueles chatos que acham que o carnaval “aliena”, que o povo esquece os problemas do país durante o carnaval. Eu simplesmente não consigo ver nada de interessante onde a maioria se esbalda. Acho marchinha de carnaval algo infantil, umas rimas sem graça. Não vou nem falar dos grande hits do carnaval, afinal ninguém vai atrás de um bloco para fazer crítica musical. Vai para pular, se divertir. Apesar de que alguns desses hits são até divertidos (não estou falando do “Rebolation”, que é muito chata), como a “minha mulher não deixa, não”, ou coisa do gênero.

Mas têm coisas que são de extremo mau gosto, independente de gostar ou não de carnaval. A falta de educação, por exemplo. Nas ruas em que blocos de carnaval passam, os comerciantes colocam tapumes nas vitrines para evitar que os foliões quebrem. Hoje vi na TV cenas de violência gratuita no carnaval de Salvador. No rio, a polícia divulgou a prisão de 555 pessoas por fazerem xixi na rua, rebocou 238 veículos e multou outros 737 por estacionamento irregular. E ainda estamos na segunda-feira!! Dava pra fazer um bloco...

domingo, 6 de março de 2011

O Brasil é uma família!

Costumo dizer que família é bom em fotografia. Dessa forma, ela não ouve, não fala e não vê. Portanto, não se mete na sua vida. Mas me sinto isolado nessa forma de pensar. Observo que o brasileiro preza muito os laços familiares. O brasileiro é um sujeito família! Prova disso é que houve a necessidade de se criar uma lei contra o nepotismo, em vigor desde agosto de 2008. Uma lei para acabar com tão nobre sentimento. Mas o brasileiro não abandona sua família assim tão fácil: até o ano passado as três esferas do poder tentavam manter seus adorados parentes nos empregos. A justificativa mais usada é que nada é mais confiável do que um parente. Muito justo!

O representante-mor do brasileiro família é o ex presidente e atual senador pelo Amapá, José Sarney. O homem transformou o maranhão numa extensão da família Sarney. Não! Eu não me enganei! O homem é senador pelo Amapá, mas manda mesmo é no Maranhão. A filha é governadora, o filho é deputado federal e ex-ministro, a família é proprietária de transmissoras de rádio e TV no estado, além de jornais impressos. O senador é a versão viva do ex-senador Antônio Carlos Magalhães que, quando vivo, era uma entidade na Bahia, que filhos e netos herdaram.

Mas esses não são os únicos exemplos. No Planalto Central encontramos a família Roriz. Quando seu patriarca, Joaquim Roriz, teve a sua candidatura ao governo do Distrito Federal, negada pela Justiça eleitoral, enquadrado na Lei da Ficha Limpa, no ano passado, quem o nobre candidato indicou para substituí-lo? A sua amada esposa. Nada mais família! Voltando ao Maranhão: a Policia Federal acusa o prefeito de Barra do Corda, Manoel Mariano de Souza, o Nenzim, de desviar pelo menos R$ 50 milhões em dois mandatos. Quem faz parte da quadrilha do prefeito, segundo a PF? A mulher, os três filhos (um é secretário de finanças do município e outro deputado estadual), a nora e o genro. Família...

sexta-feira, 4 de março de 2011

O pastor

Tadeu pegou Isabel na frente da escola. Apesar de ateu, resolvera matricular a filha numa escola evangélica. Mas não escondia de ninguém seu ateísmo e seu descontentamento com algumas atividades da Igreja, sempre voltadas para a prática protestante, o que era natural em se tratando de uma escola protestante. Quando questionado pelo fato de matricular a filha numa escola de orientação religiosa, Tadeu limitava-se a reconhecer a competência daquela escola em ensinar a sua filha o que ela necessitava aprender.

Se bem que Tadeu era um ateu sarcástico. Em matéria de religião não levava nada a sério, nem o seu ateísmo. Quando questionado por que era ateu respondia:

- Um indivíduo chamado Tadeu, tem que ser ateu, nem que seja por obrigação da rima. – E calava-se.

Quando discutia assuntos religiosos com quem quer que seja, falava sardônico, sem medo de ofender o interlocutor:

- Religião é uma questão de fé. Umas fedem mais, outras fedem menos. Mas todas fedem!! – E calava-se.

Isabel tinha onze anos e fazia o 6º ano. Gostava da escola em que estudava. Tadeu percebia, com indiferença, que a filha tinha uma leve simpatia pela religião protestante. A indiferença de Tadeu era motivada pelo fato de, na idade dela, ele próprio ter alimentado o sonho de ser padre. Dentro do carro, no trajeto para casa, Tadeu pergunta a filha:

- Como foi a aula, filha?

- Bem. – Responde, lacônica, Isabel.

- Hum.

- Pai, hoje foi na escola um pastor africano.

- Foi, filha? E o que ele disse?

- Sei lá! Ele falava só em inglês.

- Ué! Não tinha um tradutor?

Isabel Balança negativamente a cabeça.

- Curioso, não? – Fala Tadeu.

- Eu nunca tinha ouvido falar em pastor africano – Diz Isabel.

- Nem eu. – disse Tadeu – Somente em pastor alemão.

A filha percebe o tom irônico da frase do pai e ri, também com ironia.

- Pai, não estou falando desse pastor. Esse não ora, nem ler a Bíblia, nem faz sermões - Fala Isabel com uma falsa indignação.

- Besteira, filhinha. Se ensinar ele aprende tudo isso rapidinho. – E calou-se.



quinta-feira, 3 de março de 2011

O prazer perverso contra o mau gosto

Quando estou no trânsito, gosto de observar, com um prazer perverso, o que os outros motoristas estampam nos vidros dos seus carros. Tanto no vidro dianteiro como traseiro. E tem de tudo: nome dos filhos, do marido ou da esposa, frases religiosas (alguns chegam a estampar enormes passagens da Bíblia). Digo que o meu prazer é perverso por achar de um mau gosto colossal. E o mau gosto não está apenas no ato de colocar nomes e frases nos vidros dos carros. Os nomes e frases são de um mau gosto de ruborizar Elke Maravilha. Não basta colocar a frase ou o nome, eles têm de ser de gosto duvidoso.

E quando se trata de nomes de filhos, aí a coisa desanda. É uma proliferação de letras e sons que não tem fim. São Wallysson, Keverson, Marlisson, stephânnya estampados nos vidros. Pobres crianças! Levarão uns dez anos para se alfabetizarem, nove dos quais gastos para aprender a escrever o próprio nome. Alguns chegam a estampar o foto do rebento. O consolo, nesse caso, é que nos poupa de apreciar o nome da criaturinha. O mais comovente são as frases de amor à amada ou ao amado. “eu amo Fulana”. O amor é lindo... e de mau gosto.

Quando as frases são de caráter religioso, a coisa fica meio confusa, suscitando interrogações daqueles que não têm a profundidade dos homens de fé. A mais comum delas (e a mais criativa também) é “Deus é fiel”. Fiel a quem ou a que ninguém sabe ou pelo menos ninguém falou para esse ignorante que escreve. Outra questão: se Deus é o mestre, não seriam seus seguidores que deveriam ser fiel a Ele e não Ele aos seus seguidores? Não sou a pessoa mais indicada para responder. Sem contar que em Cuba essa frase não deve fazer muito sucesso: “Deu es fidel”.A outra “presente de Deus”, me leva a avaliar a injustiça divina. Por que aquele cidadão merece aquele presente e eu e tantos outros não? O único automóvel que consegui comprar tive que fazê-lo em sessenta longas e salgadas prestações. Será que Deus teria esse prazer perverso?

quarta-feira, 2 de março de 2011

O Iraque é aqui!

De acordo com um levantamento do Mapa da Violência 2011, morreram no Brasil, entre 1998 e 2008, 521.822 pessoas, uma morte a cada 10 minutos. Isso são números de guerra!! Somente para efeitos de comparação, segundo britânicos e suíços do Iraq Body Count, morreram na Guerra do Iraque 92.600 civis e 4.000 soldados americanos entre 2003 e 2008. Os americanos teriam que aumentar muito o ritmo da sua carnificina no Iraque para desbancar os brasileiros no quesito “vontade de matar”. Com a diferença que o Brasil é um país oficialmente em paz. Com quem ninguém sabe!

Ao contrário do que imagina o senso comum, São Paulo e Rio de Janeiro não são os estados mais violentos da Federação. São Paulo conseguiu reduzir os números de homicídios em 56%. Em 1998 aconteceram 14.001 homicídios. Em 2008, foram 6.118. Para isso, o poder público estadual usou a estatística como arma, intensificou o policiamento em regiões e horários que apresentavam altos índices de criminalidade. A outra medida foi colocar na cadeia quem nela deve está: o estado possui 35% da população carcerária do país. No Rio, os números começaram a cair a partir da retomada dos territórios dominados pelos traficantes, em 2007. Bastou o estado se fazer presente a violência diminuiu.

No Norte e Nordeste o caminho foi inverso: o número de mortes violentas mais do que dobrou no período da pesquisa. Um dos motivos foi a eficiência da repressão ao crime nos estados de São Paulo e do Rio de Janeiro, provocando a migração dos criminosos para outras regiões do país. O outro motivo foi o fato dos governos do Norte e Nordeste não terem feito o mesmo que os colegas do Sudeste. Mas somente políticas eficazes na esfera estadual não resolvem o problema. É necessário também modificar a legislação, e isso não é competência dos governadores, tornando as leis mais duras, principalmente para o crime organizado. Também é necessário rever a legislação do menor (não necessariamente a redução da maioridade penal), para diminuir a sensação de impunidade que impera entre os menores infratores. A guerra só está começando...

terça-feira, 1 de março de 2011

Ficou pior

Terminei o último texto falando da inutilidade de ter o deputado/palhaço Tiririca na Comissão de Educação e Cultura da Câmara. Vamos ao assunto. O deputado federal Francisco Everardo Oliveira Silva (PR-SP), o palhaço Tiririca, elegeu-se com 1,35 milhões de votos com o slogan: “Pior do que está não fica”. Ficou! Na semana passada, Tiririca foi indicado pela liderança do seu partido para compor a Comissão de Educação e Cultura da Câmara. Nada contra o palhaço Tiririca. Tudo contra o deputado Francisco Everardo! Até que ele prove o contrário. Essa indicação é, no mínimo, um deboche. Ou uma declaração aberta de descompromisso com uma área tão sensível como a educação. A comissão será presidida pela deputada Fátima Bezerra (PT-RN), pedagoga.

De acordo com o perfil dos parlamentares disponível no site da Câmara (WWW.camara.gov.br), dos 513 deputados federais, 76 registraram ter ocupação relacionada com a educação. Ou seja, 14,8% dos deputados se dizem professores, pedagogos e até estudantes. Então vai uma pergunta: onde estão os outros 75 deputados “educadores”? Tenho certeza que não estão “enterrados” numa sala de aula, dando 30 aulas por semana, esperando ansiosamente o final do mês para receber os R$ 1.187,00 (piso nacional da categoria, que muitos governadores e prefeitos brigam na justiça para não pagar).

A Secretária Municipal de Educação do Rio de Janeiro, Claudia Costin, foi sucinta e definiu com duas palavras o que também é o sentimento de todos aqueles que trabalham na educação ou vêem nela uma forma de melhorar o país: “fiquei triste.” Outras manifestações de descontentamento foram externadas Brasil afora, mas nada que sensibilizasse o autor da indicação, o líder do PR, o deputado Lincoln Portela (MG), que tentou justificá-la: por ser Tiririca humorista, é ligado à cultura, portanto uma pessoa gabaritada para a comissão. É lamentável admitir, mas pior do que está fica!