terça-feira, 29 de novembro de 2011

Divagações de um ateu a beira da morte

Descobri que vou morrer. Aliás, disso sei desde que nasci. Explicando melhor: descobri que vou morrer muito em breve. Tenho uma doença que me consome. E, ao contrário do que me disseram, continuo não acreditando em Deus. O que me consola é que não é a doença da ignorância. Não vou morrer ignorante! Mas vou morrer do mesmo jeito. Será que faz alguma diferença? Acho que não. O que me aflige nesse momento não é a dita doença que me consome, mas as dúvidas que alimentei durante toda uma vida e que até hoje não obtive respostas. Sei que para a maioria das pessoas parece besteira levar uma vida inteira fazendo perguntas se essa mesma maioria já tinha as respostas prontas. O problema foi que eu nunca aceitei respostas prontas, preferi pensar a crer.

Vou morrer. E o que vem depois? Tenho alma? Dizem que sim. Ela é eterna? Dizem que sim. Aí tenho uma pergunta de ordem prática: se a minha alma é eterna, como ficarão minhas roupas e meus sapatos? Minha alma calçará 38 (quando era adolescente) ou 44 (agora)? E as minhas calças? Vestirei 35, que era meu manequim aos 20 anos, ou 48, que é o meu manequim a beira da morte? Minhas roupas e sapatos ficarão folgados ou apertados? Pode parecer bobagem, mas tenho que me preocupar com meu bem estar na eternidade. Por falar nisso, a eternidade. Tenho 57 anos e, pelos prognósticos médicos, não chegarei aos 58. Quanto tempo viverei na eternidade? Mil, dois mil anos? Boa pergunta, não acham? Agora sei que morrerei dessa doença que me consome. E na eternidade? Do que morrerei? Ou não morrerei? São tantas perguntas que me falta o fôlego. Ou já será a morte se avizinhando?

O por vir me preocupa. Não por medo da ira divina (se por ventura ela existir). Mas por que o desconhecido me amedronta. Será que eu vou para o céu? Ou para o inferno? Em alguma dessas duas hipóteses, como se chega lá? Por cima? Por baixo? Todas essas indagações têm uma origem: quando era criança nunca tive um amigo imaginário, achei que não ficava bem tê-lo na idade adulta. Como conseqüência, abdiquei da fé em qualquer coisa que eu não pudesse ver, inclusive Deus. Sempre acreditei na realidade, que não desaparece quando deixamos de acreditar nela. Deus é surreal! Os peixinhos acreditam que quem troca a água do aquário é Deus. Nunca tive vocação para Vivíparo anão! O fôlego está me faltando...

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