sábado, 23 de janeiro de 2010

Sugestão de leitura

Recentemente li o livro Padre Cicero: poder, fé e guerra no sertão (Companhia da Letras, 523 páginas), do jornalista cearense Lira Neto. De tão envolvente, em alguns momentos se tem a impressão de estar diante de uma obra de ficção, levando o leitor a ficar tentado a ler a obra de um só fôlego. Mas a obra nada tem de ficção. Apesar de jornalista, Lira Neto escreveu a vida da controversa figura do Padre Cícero com uma isenção pouco vista entre historiadores. O livro reafirma o que todos já sabiam: Padre Cícero, além de líder religioso, era um líder político que adotou posições controversas dentro do contexto da política da época, como apoiar uma revolução armada que derrubou um governo estadual. Muitas vezes os dois lados do líder se confundiam (religioso e político), como abençoar e conceder a patente de capitão ao cangaceiro Lampião para que este combatesse a Coluna prestes. Isso antes da chegada de Floro Bartolomeu e depois da morte desse.
O livro retira das sombras essa figura pouco conhecida, conhecida até então por ser o "testa de ferro" do padre. Lira Neto mostra que o Floro não era uma figura apática. Na verdade, ele era a porção política do padre, que exercia a porção religiosa. Um não existia sem o outro. Em muitas vezes, cabia a Floro tomar decisões e o Padre obedecer. O autor dá a entender que, em algumas situações, quem dominava a cena era o Dr. Floro, inclusive com cenas de humilhações ao Padre Cícero. Com a morte de Floro, o Padre assume as duas facetas. A biografia do Padim Pade Ciço, chega num momento em que a Igreja Católica estuda a reabilitação canônica do religioso como forma de frear o avanço evangélico e nos permite entender um dos personagens mais polêmicos, complexos e fascinates da história brasileira. Vale a pena ler...

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

O dia do fusca


Hoje é o dia do fusca. O automóvel foi lançado oficialmente em 1935 a partir de um projeto do engenheiro Ferdinand Porshe. O projeto foi um pedido do ditador alemão Adolf Hitler, que queria um carro prático, de fácil manutenção e que durasse bastante. Em pouco mais de sete décadas, foram vendidas mais de 21 milhões de unidades em todo mundo. O fusca chegou ao Brasil em 1959 e, desde então, foram vendidas mais de 3 milhões de unidades. A data comemorativa foi instituída pela própria Volkswagen na década de 80 e foi introduzida no calendário oficial de eventos da Prefeitura de São Paulo a partir de 1996. Os amantes do fusca enumeram, entre as qualidades do fusca, a valentia, a robustez e o baixo custo. Além, claro, do charme.
No entanto, os detratores do automóvel afirmam que o verdadeiro, o autêntico, o legítimo fusca tem três características básicas: o cheiro de gasolina, a folga na direção e o vazamento de óleo do motor. Segundo eles, fusca sem essas três características não é fusca. Eu ja tive um fusca!! É, eu tenho essa mancha no currículo, ops! Não me enquadro entre os detratores do charmoso automóvel. Mas também não considero um fã. O meu era um autêntico fusca. Eu vivia cheirando a gasolina. Aquele cheiro impregnou em mim por quatro anos, que foi o tempo em que fui um feliz proprietário de um fusquinha. E perdurou por mais uns seis meses depois que eu encontrei um incauto que o comprou. O meu fusca tinha folga na direção. Aliás, já não era mais folga, já poderíamos chamar aquilo de férias!! Vazamento de óleo do motor? Todas as vezes que eu abastecia o carro, tinha que colocar óleo no motor. Todos que me conheciam, sabiam por onde eu tinha estacionado pela mancha de óleo no chão.
Mas nem tudo foi má notícia. Eu também tenho coisas boas a falar do meu fusquinha. Se muitos que tem carros já maltratados pelo tempo reclamam que eles não andam ou andam com dificuldades, eu tinha dificuldades para fazer o meu fusca parar. A frequência com que faltava freios era impressionante!! Eu já tinha adquirido um certo Know how no que diz respeito a buscar freios externos para parar meu fusca. Meio-fio, calçadas, pedestres, outros carros (desde que não fossem novos), tudo servia. Sinceramente, eu admiro o espírito de aventura (ou masoquismo) dos amantes do fusca. Entre os normais, quem já teve um fusca não quer ter outro. Eu sou normal!!!!!!!!!!!!

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

O Casamento gay e a Igreja

O Papa Bento XVI conseguiu associar a oposição da Igreja Católica ao Casamento gay a preocupações com o meio ambiente. Vossa Santidade sugeriu que as leis que enfraquecem as "diferenças entre os sexos" são uma ameaça à criação. Ainda segundo o papa, as leis que permitem o casamento entre pessoas do mesmo sexo "atingem a base biológica da diferença entre os sexos". Em outras palavras: a homossexualidade, em última instância, poria em risco a existência humana. Não sei se a tese papal tem fundamento. Mas desconfio que a sua obsessão em combater a homossexualidade está colocando em risco a sua santa sanidade mental. A Igreja Católica elegeu alguns inimigos do catolicismo e os tem combatido com afinco. Entre eles está a prática homossexual (outro seria o uso de células troncos).
Essa posição afasta a Igreja dos seus fiéis. O Parlamento Português aprovou, no início do mês, uma proposição de lei que permite o casamento de pessoas do mesmo sexo. O Primeiro-Ministro português, José Sócrates, considerou aquele dia (08/01/2010) "um momento histórico". Lembro que Portugal, logo depois da Itália, é o país europeu onde o catolicismo encontra maior aceitação. Isso significa que os fiéis católicos de Portugal não concordam com a posição da Igreja. O casamento gay é uma realidade em vários países europeus (muitos deles, majoritariamente protestantes, como Holanda, Alemanha e Inglaterra). Nos EUA (também majoritariamente protestante), vários estados permitem a união. Na América Latina, Argentina e México, este último a partir de março, já permitem também.
No Brasil, o Governo lançou no final de dezembro, o 3º Programa Nacional de Direitos humanos, que defende o projeto de lei do casamento gay. A matéria ainda terá que passar no Congresso Nacional. Aí o bicho pega!! A bancada religiosa (católicos e protestantes) entra em ação e barra qualquer coisa nesse sentido. Na década de 90, um projeto de lei da então Senadora Martha Suplicy foi rejeitado por pressão dos representantes dos religiosos. Sou pessimista com relação a uma maior liberdade sexual no Brasil. Afinal, o nosso país tem uma sociedade de faz de conta: fazemos de conta que somos liberais e aceitamos a homossexualidade como algo natural. Tudo para o bem da moral e dos bons costumes...

sábado, 9 de janeiro de 2010

A paixão

Eu não tenho dúvidas de que a paixão é uma doença. Quem está apaixonado não está no seu estado normal. Quem está apaixonado não enxerga as coisas como elas são. Aliás, na maioria das vezes nem enxergam. Não conseguem enxergar os defeitos do outro, não consegue enxergar quando o outro não quer mais aquela paixão. Em suma, o apaixonado não tem noção do perigo. A palavra Paixão vem do latim, passione, e significa um sentimento forte, um movimento impetuoso da alma para o o bem ou para o mal. Então podemos incluir nesse rol irracionalidades, como as arruaças promovidas pelas torcidas nos campos de futebol em nome do "amor" pelo seu time; os ataques terroristas com motivações religiosas, inclusive atentados suicidas.
Fiz esse preâmbulo, terminando com o exemplo do terrorismo para falar de um episódio que está relacionado, indiretamente, ao terrorismo, e é um exemplo de paixão cega (Ops! Desculpem-me o pleonasmo, afinal, toda paixão é cega). No último dia 3, no Newark International Airport, um homem passou por uma barreira de segurança para dá um beijo de despedida na amada. O beijo ficou registrado pelas câmaras de segurança do aeroporto e causou um rebuliço que abalou as autoridades de segurança do país por que aconteceu logo depois do atentado frustrado em um avião que seguia para Detroit no Natal. Sem contar que o aeroporto foi fechado e vários vôos atrasaram, causando transtorno para milhares de pessoas. Tudo isso por causa de um beijinho!!!! O autor do beijo, Haisong Jiang, foi preso por desafiar uma proibição de passagem.
Num país onde impera uma verdadeira neurose com relação à segurança, principalmente depois do 11 de setembro e ainda mais depois do atentado frustrado do nigeriano no avião que ia para Detroit, violar uma área de segurança num aeroporto é não ter noção do perigo. Para isso tem que está apaixonado. O beijo romântico de Jiang foi visto pelas autoridades americanas como um suspeito "beijo Talibã" ou o "beijo Alqaida". As autoridades americanas, que não estão apaixonadas, não viram romantismo nenhum no beijo de despedida de Jiang na sua amada.


quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

O dia seguinte

Há muito custo abro os olhos. Observo o ambiente, a TV desligada, O rádio tocando uma música que não consigo entender por que a estação está mal sintonizada. Sinto um mal estar terrível, aquele gosto amargo na boca denuncia que, mais uma vez, bebi mais do que o razoável na noite anterior. Sinto uma fraqueza nas pernas e nas mãos que provoca tremores. Finalmente reconheço o lugar onde estou. È o meu quarto! O cérebro ainda encharcado pela noite anterior funciona em marcha lenta. Tento lembrar como cheguei ao meu quarto. Reviro na cama, mas o mal estar persiste. Tento levantar. Péssima idéia!! O mundo gira, a cabeça dói, então resolvo continuar como estou. As lembranças do dia anterior começam a vir aos poucos, espontaneamente. Não adianta forçar a barra. A ressaca não permite pressa. Começo a suar. Sei que não é calor, mas o mal estar da ressaca. Tenho sede, mas não disposição para ir até a cozinha beber água.
Em pleno delirium tremens, tenho a impressão que há alguém ao meu lado na cama. Sinto o cheiro da ausência de amor, sexo feito sob o efeito do álcool. Gradativamente, a minha memória começa a funcionar e a ressaca moral vem com ela. Tento me erguer para ver o rosto dela. Não consigo. Tudo o que queria era que ela não estivesse ali. Na maioria das vezes em que isso acontece, eu não consigo disfarçar o embaraço de acordar com uma estranha na minha cama e algumas delas ficam sinceramente magoadas. Lembro-me que a conheci no bar. Trocamos olhares e a convidei para a mesa, para ficarmos com a minha turma, já que ela também estava acompanhada por amigos. Depois de muita conversa, resolvemos sair para dançar. Dançamos soltos, depois nos aproximamos até ficarmos agarrados, de tal forma que parecia que entraríamos um no outro ali mesmo na pista de dança. Resolvemos ir para o meu apartamento. Quanto mais eu bebia, mais acreditava que tinha achado a mulher perfeita. E ela demonstrou a mesma coisa, não sei se também foi o efeito do álcool. O álcool me leva a um estado de amor eterno, cuja eternidade dura o tempo de uma embriaguez.
Ela se mexeu. Fico esperando quieto de olhos fechados. Ela levanta o tronco e senta na cama. Eu finjo que acabei de acordar:
- Bom dia! - Falo
- Bom dia! – Responde ela- Quem é você?
- Como “quem sou eu”?- Respondo indignado.
- Desculpe-me. Acho que bebi um pouco demais ontem...
- Você vem para a minha casa, bebe comigo, transa comigo a noite toda, dizendo que me ama e agora vem me dizer que bebeu demais. – Interrompo com fingida indignação, mas no fundo indignado de verdade.
Ela vestiu -se e foi embora. Confesso que das vezes em que isso aconteceu com outras mulheres, não senti a falta delas. Mas a sensação de ter sido usado me dá saudade daquela noite.

sábado, 2 de janeiro de 2010

Um pra mim, um pra mim e um pra tu

O ano é novo. Mas a capacidade do Governo Lula de dá tiro no pé é velha. A moda agora é reiventar a Lei da Anistia, de 1979, que perdoou todos os crimes praticados durante a Ditadura Militar. Crimes praticados por agentes do Estado e por militantes de esquerda. O problema começou com a publicação de um decreto, proposto pela Secretaria Nacional de Direitos Humanos e assinado pelo presidente Lula, que propõe a criação da "Comissão Nacional da Verdade". Essa comissão investigaria as violações dos direitos humanos ocorridos durante a ditadura. Os comandantes militares e o Ministro da Defesa, Nelson Jobim, estrilaram. Para eles, isso pode representar uma revisão da Lei da Anistia, de 1979, no que eles tem toda a razão. Reclamaram também que o decreto não inclui as investigações dos excessos praticados pelos grupos da esquerda armada, no que eles também tem toda a razão.
A maioria dos países da América Latina viveram períodos em que as Forças Armadas tomaram o poder atrvés de golpes. Vivíamos a Guerra Fria, um momento em que a esquerda realmente acreditava que o socialismo era viável e a direita acreditava que os socialistas e comunistas representavam uma ameaça política. O tempo mostrou que os dois estavam errados!! Ao fim desse período, em alguns países promoveu-se uma verdadeira caça às bruxas, com a prisão de antigos opressores. Aqui no Brasil, optou-se por uma Lei de Anistia(1979), cujo objetivo era pôr uma pedra nos crimes praticados por ambos os lados durante o período de 1964-1979. Naquele momento foi a melhor medida a ser tomada, uma vez que os civis ainda não tinha força política para manter os militares nos quartéis.
Com esse decreto, a secretaria de Direitos Humanos abre feridas que em nada contribui para a democratização do país, ao contrário do que afirmou a Ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Roussef, e o titular da pasta, Paulo Vanuchi, e mostra o quanto a esquerda, independente da nacionalidade, é maniqueísta, arrogante e revanchista. A esquerda acredita que o bem e o mal está presente em tudo, inclusive no espectro político. Claro que ela representa o bem. O nome da dita comissão, "Comissão Nacional da Verdade", mostra o quanto os esquerdistas são arrogantes, se achando os detentores únicos da verdade. Com relação ao revanchismo, o decreto fala por si. Rever a Lei da Anistia agora, para usar uma metáfora futebolística como bem gosta o Presidente Lula, é mudar as regras do jogo nos vestiários durante o intervalo. É achar que apenas os agentes do Estado cometeram crimes, que os militantes de esquerda eram apenas idealistas lutando por uma causa. É uma pra mim, um pra mim, um pra tu...