terça-feira, 30 de agosto de 2011

A honestidade pede emprego

O seguro-desemprego no Brasil, apesar de previsto já na Constituição de 1946, só foi criado em 1996, no governo Sarney. O objetivo do programa é dá assistência financeira ao desempregado. Tem direito ao benefício quem perde o emprego sem justa causa, quem tem o pagamento suspenso em virtude de participação em curso ou programa de qualificação, pescadores impedidos de exercer sua profissão por causa de períodos de procriação das espécies ou trabalhadores resgatados de condições análogas às de escravidão. No ano passado o governo brasileiro destinou R$ 19,3 bilhões para amparar 6,6 milhões de desempregados.

O seguro-desemprego existe em quase todo o mundo. Em alguns países da Europa ele pode durar a vida toda. No Brasil, dependendo do tempo em que passou empregado, o trabalhador pode receber de três a cinco parcelas. O grande problema são as fraudes. Não há números exatos. Calcula-se que, dos R$ 19,3 bilhões destinados ao programa no ano passado, 15% seja fruto de fraudes. Somente esse ano, entre janeiro e março, o governo destinou R$ 5,6 bilhões para o seguro-desemprego. Um aumento de 18% com relação ao mesmo período do ano passado. Para ter direito ao benefício, o trabalhador tem que permanecer pelo menos no emprego. Tem gente que vive do seguro-desemprego. Passado o tempo mínimo, o sujeito pede demissão e corre até a Caixa Econômica.

O sujeito que frauda o seguro-desemprego é o mesmo que cobra honestidade dos políticos. Qual a diferença entre esse sujeito e o batedor de carteiras da esquina? Esse sujeito se traveste de pai de família trabalhador! Mas é tão bandido quanto o político desonesto e o batedor de carteiras. O problema não está no benefício, que é justo e necessário. O problema está em quem deveria se beneficiar dele honestamente, mas prefere burlar a lei como qualquer criminoso. O governo faz mudanças nas regras do benefício para apertar o cerco aos fraudadores e tirar, definitivamente, a honestidade da fila do desemprego.



quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Voyeur

A prefeita da cidade de Aalst, na Bélgica, Ilse Uyttersprot, resolveu tirar umas férias merecidas na Turquia na companhia do namorado. Depois de visitar a Mesquita de Suleymanye, o Palácio de Topkapi e a Catedral de santa Sofia, o casal resolveu dá uma esticadinha a uma torre que é um ponto turístico do país. Não resistiram a tentação de dá uma rapidinha num local público. Não contavam com um grupo de jovens que filmavam o local e pimba! Flagraram os dois no bem bom. A prefeita disse que o ocorrido faz parte da sua vida privada e que isso em nada interfere no seu trabalho na administração pública.

Ponto para a Prefeita!! Ela está certa. O pecado de querer transar em local público é perdoável (e quem nunca teve essa fantasia?). O ocorrido faz parte do lado privado da sua vida que não pode ser confundido com a porção pública. Político também trepa! Aqui no Brasil todos acompanharam com lupa nos olhos e veneno na boca o processo de separação dos senadores Marta e Eduardo Suplicy e como também o fato do vice-presidente ser casado com uma estonteante moça algumas décadas mais jovem. É o que poderíamos chamar de “voyeurismo social”.

As pessoas gostam de olhar a vida dos outros. De preferência emitindo juízo de valor. Todos têm, dentro de si, um juiz de plantão. E se envolver aspectos da sexualidade do observado, aí a curiosidade beira o patológico. Big brother, A Fazenda, novelas, revistas de fofocas, tudo que incluir a observação da vida alheia faz sucesso. Na ausência de tudo isso vale uma sentadinha na beira da calçada para falar do vizinho. De preferência mal. Vamos continuar dando uma espiadinha. Que se cuidem todos. Estamos de olho.



segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Um fato inexorável

De nada adianta as Igrejas espernearem. De nada adianta as Igrejas invocarem Deus, Buda ou Alá. De nada adianta as Igrejas citarem a Bíblia ou o Alcorão. O avanço das conquistas dos homossexuais é um fato inexorável. Não adianta a Casa de Oração de Ribeirão Preto estampar pela cidade outdoors condenando a relação homo afetiva as vésperas da Parada Gay. Poderiam usar esse dinheiro nas suas obras sociais, seria mais proveitoso. De nada adianta eu ser a favor ou contra. Os homossexuais vão conquistar direitos que grupos conservadores condenam. Podem não conquistar tudo de imediato, mas conquistarão paulatinamente. E essas conquistas avançam por espaços antes inimagináveis. Prova disso é a Renosp-LGBT (Rede Nacional de Operadores de Segurança Pública – LGBT) que reuni policiais (militares e civis), bombeiros, agentes penitenciários e delegados. Lembro-me que há vinte anos, um policial militar assumir publicamente sua homossexualidade era o primeiro passo para sair da corporação.

Mas o sucesso do movimento se deve a outros fatores. Um deles é que a lei não cria uma realidade. Ela passa a existir para normatizar uma realidade preexistente. E a relação homo afetiva é uma realidade. O IBGE constatou que existem hoje no Brasil 60 mil casais homossexuais. Esses são aqueles que assumem publicamente a relação. Não como calcular os que não assumem publicamente, que devem ser outros milhares. Se o fato existe, então uma lei deve ser criada para normatizar esse fato. Esses 60 mil casais não podem viver a margem da lei e da sociedade. Mesmo por que não violaram lei alguma.

Outro fator a ser considerado para entender o sucesso do movimento gay é que não há força que consiga ir de encontro a um movimento social organizado. Esse momento pode ser comparado ao que antecedeu a aprovação do divórcio no Brasil, em 1977. Grupos conservadores alertavam que era o fim da família brasileira. Passados 34 anos, a família brasileira não acabou e o divórcio faz parte do cotidiano da nossa sociedade como algo banal. Os argumentos utilizados pelas Igrejas pra se contrapor ao divórcio e aos direitos dos homossexuais estão contidos na Bíblia. Vale lembrar que o Estado brasileiro é laico, portanto argumentos religiosos não podem e nem devem ser levados em consideração. A Constituição Federal garante aos religiosos o direito de pensar e se manifestar de forma contrária aos direitos dos homossexuais, mas também protege a intimidade, a honra e a imagem daqueles que se sentem atingidos por críticas como as que foram colocadas nos outdoors em Ribeirão Preto (foto). Esse é o Estado democrático de direito. Cada qual no seu cada qual.



domingo, 14 de agosto de 2011

Caro Francis

O politicamente correto é chato e monótono. Tão chato como a Missa do Galo celebrada pelo papa Bento XVI. Tão monótono como viver na Finlândia. O politicamente correto não polemiza. Nada mais chato e monótono do que uma vida sem polêmica. Um texto politicamente correto é tão emocionante quanto um filme iraniano. Eu comparo o discurso politicamente correto àqueles discursos que se faz sobre o morto em pleno velório. Ninguém fala mal, o morto era uma maravilha (mesmo que não tenha valido nada), uma pessoa que só construiu. Que só praticou boas ações. Um discurso politicamente correto só não é mais chato do que os discursos de Fidel, que são imbatíveis. Prefiro assistir a Angélica apresentando o Vídeo Game.

No sábado à noite assisti o documentário Caro Francis, do jornalista Nelson Haineff, sobre o também jornalista Paulo Francis (foto). Nada mais politicamente incorreto do que Paulo Francis. Mordaz, cáustico, polêmico, contraditório, brigão, temperamental. Assim era Paulo Francis. Só não brigou com Deus, por que questionava sua existência, mas o mundo entrou no seu rol de desafetos. Mesmo aqueles que elogiava, eram alvo dos seus comentários incisivos, como foi o caso do então presidente Fernando Henrique Cardoso, que num momento era o maior estadista do mundo, e logo depois era um presidente vacilante.

Paulo Francis era um homem fora de sua época, e exatamente por isso era polêmico. Quando ninguém era ou tinha medo de ser de esquerda, Paulo era trotskista. Quando ser de esquerda era charme e quase uma palavra de ordem, ele tornou-se conservador. Às vezes era insensato. Como quando disse que era um absurdo um nordestino caipira como Gustavo Krause (que era pernambucano) ser nomeado ministro. Era insensato, é verdade. Fala muitas vezes besteiras, também é verdade. Mas pensava. E numa época em que predomina o jornalismo chuchu, com seus discursos insípidos politicamente corretos, Paulo Francis faz falta.



quarta-feira, 10 de agosto de 2011

A gente somos inútil

Finalmente alguém teve a coragem de falar a verdade. Finalmente alguém teve a coragem de bater de frente com o politicamente correto e falar o que todo mundo já sabe. Os professores são inúteis! O autor da façanha foi o vereador de Jacareí (SP) Dario Bueno (DEM), conhecido como Dario Burro (calma pessoal, nada de julgamentos precipitados, é só um apelido). O vereador postou na rede social Facebook que os professores são inúteis e não gostam de dá aulas ( http://www.youtube.com/watch?v=nwtYK4oVB8w ). O vereador Dario, não se sabe se fazendo jus ao seu epíteto, talvez não tenha conseguido dá prosseguimento ao seu raciocínio. Ou não lhe deram chance, já que “choveu” protestos na sua página no Facebook. Vamos tentar ajudá-lo.

Boa parte da aprendizagem depende de fatores fora da sala de aula. Como um estudante com problemas de saúde, tão comum entre as famílias mais pobres, vai aprender? A pobreza é um dos fatores que atrasam a aprendizagem. Ser professor em lugares pobres é lidar ainda mais com a violência. O professor, muitas vezes, fica quatro horas em sala de aula enxugando gelo. Nada mais inútil do que enxugar gelo. A nossa classe política (e nela podemos incluir o vereador Dario Bueno), até hoje se mostrou incapaz de resolver esses problemas sociais. Inúteis! Outra solução para tornar os professores úteis seria atrair bons profissionais para a carreira de magistério. Mas como torná-la atraente se não há nem mesmo um plano de carreira para a categoria? Os bons profissionais preferem abraçar outras carreiras mais valorizadas. Ficam em sala de aula, na maioria, aqueles que não encontraram espaço em carreiras mais promissoras. Mais uma vez os nossos homens públicos (e mais uma vez podemos incluir o vereador Dario Bueno) não conseguiram resolver esse problema, preferem resolver seus próprios problemas, concedendo reajustes aos seus próprios salários. Inúteis!

Nesse imbróglio todo, os professores não são inocentes. A maioria é mal preparada (mais um problema que a nossa classe política, e mais uma vez teremos que incluir o nosso vereador, não teve competência para resolver. Inúteis!) e prefere ancorar-se nesse pretexto para não fazer um trabalho pelo menos razoável. Faltou inteligência ao vereador Dario Burro (sem querer fazer trocadilho), mas falta sensatez ao sindicato dos professores ao querer processá-lo por injúria. Por mais absurda que a sua afirmação possa parecer, ele tem o direito de externá-la. Ele Só não pode achar que não tem responsabilidade em resolver o problema. Quando o sistema educacional de um país não funciona, todos (inclusive os professores e o vereador falastrão) são responsáveis. Todos são inúteis...