quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Neve - Orhan Pamuk

Narrado em primeira pessoa, o livro conta a história do poeta Ka, exilado político na Alemanha, por atos praticados durante a juventude, que retorna a Istambul para o enterro da mãe e, de lá, para a sua cidade natal, Kars (neve, em turco), com o pretexto de fazer um reportagem sobre o alto índice de suicídios entre jovens que usam o manto sobre o cabelo. Apesar de exilado político, Ka não se interessa mais por política. O caso dos suicídios das jovens é um mero pretexto para justificar a sua viagem a Kars. O que ele pretendia mesmo na sua cidade natal era escrever poemas e namorar a bela Ipek, colega de escola e sua paixão de adolescente. No entanto, o poeta acaba se envolvendo com militantes islâmicos, militares golpistas, espiões da polícia secreta e até um suposto líder terrorista.

O livro retrata a posição geográfica e cultural que a Turquia ocupa entre o Ocidente e o Oriente. O lenço que cobre o cabelo das muçulmanas, pivô de toda a confusão no enredo do livro, tornou-se um símbolo do “Islã político” em contraposição aos secularistas, que querem um Estado separado da religião, mas que são acusados pelos muçulmanos de ser pró Ocidente. Toda a narrativa se passa alguns anos após a passagem de Ka por Kars, quando um amigo do poeta, que narra a história, obcecado por encontrar seu caderno de poesias, tenta refazer seus passos durante os três dias que passou na cidade e entender as mudanças radicais que a viagem provocou em sua vida.

É possível fazer um paralelo entre Ka e o autor do livro, Orhan Pamuk, que também não gosta de se envolver em temas políticos, mas se viu envolvido numa polêmica ao ser processado por suas declarações sobre o genocídio de armênios durante a I Guerra Mundial, assunto tabu entre os nacionalistas turcos. Entre 1914 e 1918, foram assassinados mais de um milhão de armênios e mais de 30 mil curdos. Esses crimes são imputados aos nacionalistas turcos. Pamuk foi absolvido. A celeuma em torno do tema é tão presente na Turquia, que o país se dividiu ao ser anunciado o prêmio Nobel de 2006, concedido ao escritor. Os ultranacionalistas que moveram o processo contra Pamuk consideraram a premiação como um insulto à alma turca.

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