quarta-feira, 30 de julho de 2014

Os varões assinalados – Tabajara Ruas



Quem lê Os varões assinalados, do gaúcho Tabajara Ruas, tem a impressão que a autor cavalgou ao lado do exército farroupilha. Com uma riqueza de detalhes assombrosa, as cenas de batalhas são memoráveis e cheias de emoção. Como diz o próprio autor, a sua intenção era escrever um livro de ação, não um épico. Conseguiu os dois!
A partir de anotações extraídas de documentos oficiais, notadamente do lado perdedor, Tabajara Ruas faz uma revisão da mais longa guerra civil da história do Brasil, a Guerra dos Farrapos, quando estancieiros gaúchos se sublevaram contra o governo central e proclamaram uma república no sul do país.
Enfatizando as várias trajetórias de cada um dos líderes do movimento, o autor não os absolve muito menos os condena. Restringe-se a redimensionar alguns desses personagens, como o general Antônio de Souza Netto, grande estrategista militar, segundo homem na hierarquia militar do movimento e responsável pela proclamação da República Rio-grandense.
As diferenças entre os líderes eram tamanhas que nem todos eram separatistas e republicanos. O próprio líder do movimento, Bento Gonçalves, era monarquista, mas isso não impediu a proclamação da república. Os varões assinalados está entre os maiores clássicos da literatura gaúcha. Eu diria mais: esse livro deveria ser colocado entre os maiores clássicos da literatura brasileira.

segunda-feira, 28 de julho de 2014

Cinema nacional: Proibido proibir



A juventude dos anos 60 e 70 tinha uma ditadura para combater e ídolos para venerar, mesmo que hoje esses ídolos ( Guevara, Stalin, Fidel e afins) sejam contestados. A juventude dos anos 80 tinha o novo rock e seus ídolos que surgiam como referência. A juventude dos anos 90 e 2000 não tinha ditadura para combater nem ídolos a seguir e por isso foi obrigada a criar novos paradigmas. Esse é o tema de É proibido proibir (2006), do diretor chileno radicado no Brasil Jorge Duran.
Paulo (Caio Blat) é um estudante de medicina que está mais preocupado nos prazeres que a vida universitária oferece (drogas, sexo, festas) até que termine o curso e seja obrigado a assumir responsabilidades. Ele divide um apartamento com Leon (Alexandre Rodrigues), estudante negro de ciências sociais que vive proferindo seus discursos panfletários prontos (e rasos) sobre a situação do país e namora Letícia (Maria Flor), estudante de arquitetura. A amizade dos dois rapazes é colocada a prova quando Paulo e Letícia se apaixonam, criando um triângulo amoroso.
A situação se complica ainda mais quando Paulo conhece, durante uma aula no hospital, a paciente terminal Rosalinda (Edyr Duqui), e tenta atender o seu pedido de ter notícias dos seus dois filhos, ambos enrolados com a polícia. O roteiro tenta adotar uma linguagem política dando a entender que a violência tem como única e exclusiva causa a falta de oportunidades dos menos favorecidos. Não aprofundar a discussão e mesmerizar as conclusões é o grande pecado do roteiro, que tinha tudo para se aprofundar na discussão. Mas o filme é bom!  

sexta-feira, 25 de julho de 2014

Ariano Suassuna (1927 – 2014)



Na última sexta-feira acordei com a notícia da morte do escritor João Ubaldo Ribeiro, o que me deixou triste. Na quarta-feira a notícia era da morte do escritor e dramaturgo Ariano Suassuna. Não quero transformar esse espaço num necrológio, mas não dá para passar em brancas nuvens a morte desse intelectual que teve a rara felicidade de transformar o erudito em popular sem perder a qualidade.
Ariano Suassuna nasceu em João Pessoa quando a capital paraibana ainda se chamava Paraíba. Filho do presidente do estado, cargo que equivalia ao de governador, Ariano se mudou ainda adolescente para Pernambuco, estado que adotou e que foi adotado. Foi em Recife onde iniciou o curso de direito e conheceu Hermilo Borba Filho, com quem fundou o Teatro do Estudante de Pernambuco.
Ariano escreveu sua primeira peça em 1947, mas o seu grande sucesso, O Auto da Compadecida, foi encenada pela primeira vez em 1956, no teatro Santa Isabel, em Recife. A peça vai marcar sua carreira, principalmente por causa dos dois protagonistas, João Grilo e Chicó, personagens identificados com a alma brasileira, mas, principalmente, com a alma nordestina. Esses dois personagens são a cara do povo nordestino!
Apaixonado pela cultura popular, mas adepto da cultura erudita, Ariano criou o Movimento Armorial, na década de 70, que tinha como objetivo criar arte erudita a partir de elementos da cultura popular do Nordeste brasileiro. Ariano Suassuna foi internado na segunda-feira após sofrer um AVC. Definitivamente, o mês de julho está sendo triste para a literatura brasileira. Que acabe logo!

quarta-feira, 23 de julho de 2014

Hollywood – Charles Bukowski

“Dinheiro é como sexo. Parece muito mais importante quando a gente não tem...”
Sem metáforas, sem alegorias. Assim são os diálogos de Bukowski. E é nessa simplicidade que reside a genialidade do velho Buk. Em Hollywood, quinto romance do autor, não é diferente. Nele, Henry Chinaski, um escritor de contos e poesias, recebe um convite para escrever um argumento para um filme de longa-metragem. Apesar de ter aversão ao cinema e à pompa Hollywoodiana, Chinaski topa o trabalho por causa dos vinte mil dólares prometidos e pagos. E não esconde isso de ninguém.
“Contar histórias repetidas vezes parece tornar elas mais reais do que devem ter sido.”
A reação dos fãs não é positiva. Muitos o acusam de ter se vendido. O que ele não nega. Bukowski tenta levar a discussão para o fato de seu alterego conseguir manter ou não sua autenticidade mesmo trabalhando por dinheiro. A linguagem e o estilo do próprio livro mostram que não. O velho Bukowski continuou o mesmo, com sua linguagem crua e desconcertante, o seu (mau) humor ácido e sua sinceridade que beira a deselegância.
É publico que Bukowski tinha aversão ao cinema e a Hollywood e o romance foi escrito a partir da experiência vivida por ele em meados dos anos 80, quando foi convidado a escrever para o cinema. O velho Buk aceitou por dinheiro. E não escondeu isso de ninguém. Não é preciso dizer que Hollywood, a exemplo de toda a sua obra, é extremamente autobiográfico. Independente do tema abordado, sempre vale a pena ler Charles bukowski.


segunda-feira, 21 de julho de 2014

Cinema nacional: Mamonas pra sempre



A banda Mamonas Assassinas foi um fenômeno meteórico dos anos 90. Em apenas oito meses de carreira, venderam quase 3 milhões de se único disco, de 1995. O documentário Mamonas pra sempre (2011) do diretor Cláudio Khans, tenta mostrar o que havia de tão extraordinário naqueles cinco jovens de Guarulhos que não paravam de fazer brincadeiras um instante sequer.
A ideia inicial do diretor era fazer um filme de ficção ou uma minissérie, mas depois de três anos de pesquisas e um acervo que incluía depoimentos de namoradas e familiares dos músicos, como também com empresários e produtores da banda; fotos e vídeos caseiros, alguns feitos pelos próprios membros da banda; e arquivo de TV’s da época, Cláudio Khans não resistiu à tentação de fazer um documentário
Com um misto de rock e piada, a banda criou o que poderíamos chamar de “rock cômico”, conquistando adultos e crianças, levando o público ao ponto da histeria. O grande mérito do filme é não tentar inovar, é ser simples para ser bom, mostrando a banda no seu estado bruto. Para quem viveu o sucesso do quinteto, ver aquelas imagens desperta uma saudade imensa.