sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Réquiem ao homem preso*

18 de novembro,

O dia parece calmo.

5 horas da manhã,

O sol ainda não nasceu.

No campo, os galos cantam,

Como cantam todas as manhãs.

Mas hoje é um dia diferente,

Embora seja como um outro qualquer.

Às cinco horas da manhã,

O orvalho da noite inda molha a ruas da cidade,

Os cães ladram à toa, a toda hora.

Aqui, acolá e mais acolá, alguém pedala para o trabalho.

Não há bêbados na rua,

Nem bandeiras desfraldadas,

Nem um acontecimento importante na véspera.

O time da massa empatou

(E já perdeu a esperança do título).

5 horas da manhã:

A cidade acordando para mais uma sexta-feira clichê.

Mas, embora seja um dia qualquer,

É um qualquer diferente.

Um acontecimento novo,

Embora pareça um filme em reprise.

Às cinco horas da manhã, o sono parece sem fim:

Tranqüilo, como quem enxerga de fora a sua consciência.

Não há peso no travesseiro,

Nem aperto no peito pelo dinheiro que falta para o que era, porque foi tirado.

Nem lhe constringe o coração o doente

Que, às cinco horas da manhã, geme na maca:

Não há leito no hospital.

Mas o homem tranqüilo

Dorme tranqüilo às cinco da manhã.

Sua esposa felicíssima encanta-se ao lado do melhor homem do mundo.

Talvez tenha sido loucamente possuída

Ou desejado que isso acontecera.

Ao lado do melhor homem do mundo, bastam os sonhos.

Dorme tranqüilo às cinco da manhã

(Ele sonha com planícies verdes, como o verde das notas que guarda em seu cofre).

Às cinco da manhã, este homem mesmo dormindo é só orgulho do que fizera.

(Daqui à meia hora, aquele outro homem da maca vai morrer: o seu leito foi parar no cofre do homem que dorme tranqüilo ao lado de sua esposa).

Mas é um dia qualquer com um qualquer diferente

Às cinco da manhã, ele vai ser acordado:

Há um mandado de prisão a ser cumprido.

(A esposa vai soluçar no canto do quarto: o bom homem preso. Ele que, no dia anterior, deu oferta na igreja e pediu a benção ao pastor – um pedaço do leito do homem sem leito que morreria na maca foi a dádiva, alegrando o reverendo).

Este homem público preso!

Sacudido em sua glória!

Que felicidade aos cidadãos!

Alvoroço na cidade,

As verdadeiras boas almas regozijam felizes e discursam nas ágoras do silêncio:

Que o cárcere lhe seja eterno!

*Elio Oliveira Cunha

Um comentário:

  1. LUCRECIA
    Outro q merece parabens ao descrever o inicio de dia com tanta singeleza, dito que não fora um dia tao singelo. mas que regozijaremos na ansia de mais uma manhã como essa.

    ResponderExcluir