quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Fred

Todos chegavam à casa de Frederico pra visitá-lo. Era a primeira vez que isso acontecia. Frederico, que todos chamavam de Fred, recebera esse nome numa homenagem que a mãe fizera a um vizinho. A sua alegação para a homenagem era que ela achava que o vizinho ainda seria um escritor famoso. Depois, descobriu-se que eram amantes e que Fred era, na verdade filho de Frederico, o vizinho. Por causa disso, o marido da sua mãe abandonara a casa e o vizinho se mudara com toda a sua família para evitar o escândalo. Sua mãe perdera o marido e o amante. Restara-lhe Fred. Na escola teve um desempenho mediano. Não era dos piores, mas estava longe de estar entre os melhores. Terminou o ensino médio sem nunca ter namorado, nem mesmo beijado alguém, o que era motivo para gozações dos poucos colegas com quem se relacionava. Sempre fora muito introvertido. Ainda assim, a mãe acreditava que Fred seria alguém famoso seja escritor, ator, cineasta ou qualquer outra coisa.
Tentou fazer vários cursos e não concluiu nenhum. Psicologia, sociologia, direito, nada lhe interessou. Resolveu fazer um curso de cinema. A sua carreira de cineasta teve vida curta. Gravou apenas um filme homoerótico, intitulado “Me atirei no pau do gato”, que fez um relativo sucesso entre alguns homossexuais que freqüentavam umas saunas de reputação duvidosa numa área da cidade de reputação mais duvidosa ainda. Aos 25 anos perdeu a virgindade com uma prostituta que resolveu fazer-lhe a caridade, já que Fred não tinha dinheiro para pagar o programa. Antes de completar 30 anos, escreveu um livro de poemas, intitulado “Poemas ao vento” que, ao que parece, o vento levou, pois ninguém leu por que não encontrou quem o publicasse. O melhor comentário que recebeu de editores a quem recorreu foi que “se fizesse algumas mudanças de rumo, seria um poeta promissor”. Nada foi feito e ele não se tornou poeta. Quando completou 35 anos, a sua mãe, já idosa, morreu sem vê-lo famoso. A sua família resumia-se, a partir de agora, a ele mesmo.
Depois dos 40 anos, resolveu procurar empregos mais convencionais. Conseguiu um como vendedor numa loja de sapatos. Dois meses depois tinha vendido apenas quatro pares. Percebeu, e o seu patrão também, que essa não era a sua área de atuação. Continuava vivendo sozinho na mesma casa onde nascera, na companhia da gata Bruna Lombardi. Não tinha amigos nem família, apenas a Bruna Lombardi. Não conversava com os vizinhos. Uma vez por semana, as sextas freqüentava uns bares de alta classe como guardador de carros e, mais tarde, uns bares de baixíssima classe, onde tomava uns tragos e conversava com alguns boêmios, que conhecia de passagem, sobre quem era mais cantor: Nelson Ned ou Altemar Dutra. Os outros dias eram tomados com leituras de livros refugados que conseguia num sebo, cujo dono se compadecia da sua situação. Chegou aos 60 com a convicção de que a vida fora-lhe um túmulo. Já não saía mais de casa para conversar com os boêmios nem para buscar os livros refugados do sebo. Agora, alguns vizinhos, alguns boêmios e o dono do sebo chegavam a sua casa para visitá-lo pela primeira e última vez. O enterro seria às 16.

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

É Natal!!

Natal é época de confraternização. A família se reúne para a ceia de Natal. Parentes se abraçam, desejando uns aos outros que permaneçam sendo as pessoas que são, desejando felicidades e que todos os sonhos dos outros se realizem. É época de ajudar o próximo: todo mundo adota uma criança ou uma família inteira. Todo mundo abraça todo mundo: feios, fedorentos e maltrapilhos. Celebridades distribuem caminhões de brinquedos e de cestas básicas a crianças carentes em bairros pobres da periferia. É época de assistir a cantatas de Natal. Fazer aquela cara de serenidade enquanto o coro entoa músicas cheias de compaixão e amor espiritual.
Natal é epoca da dissimulação. Parentes se abraçam desejando uns aos outros que permaneçam sendo as pessoas que são, desejando felicidades e que todos os sonhos dos outros se realizem, mesmo quando o abraçado não passa de um crápula da pior espécie e o desgraçado que você abraça logo depois não tenha nenhum motivo para sonhar, apenas para ter pesadelos. No resto do ano esses mesmos parentes vão brigar pelos motivos mais banais. Se tiver dinheiro envolvido então... Natal é época de muita paciência, afinal nada mais sonolento, modorrento e chato do que cantata de Natal. Para dormir é ótimo! A solidariedade natalina é sazonal. A criança ou a família adotada no período natalino é solenemente ignorada no resto do ano. A celebridade que vai a periferia distribuir presentes e cestas básicas, no resto do ano esquece que aquela periferia existe. Quer coisa mais chata do que amigo oculto? Se comprar presente para quem conhece já é chato, imagine para quem você só convive algumas horas por dia no trabalho. E se o amigo oculto for em família? Nessas horas é melhor ser órfão...
Aqui no Brasil, não existe espírito natalino sem panes. Não vou nem falar nas panes nos aeroportos e rodoviárias, que são comuns nessa época do ano. Já estamos acostumados! Esse ano cartão de crédito resolveu seguir o exemplo. O sistema Redecard entrou em pane na véspera de Natal por cinco horas. Nesse período (do meio-dia as cinco da tarde) ninguem comprou nada. Até que não é tão ruim assim... Seguindo o exempo de aeroportos, rodoviárias e cartões de crédito, o abastecimento de chope também sofreu pane... Epa, isso não!! Não viajar e não comprar tudo bem. Mas ficar sem o chopinho aí já é demais. Segundo a Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes) uma das razões é o aumento do consumo. Ou seja, a culpa é de quem bebe. Só falta dizer que Papai Noel não existe por que não acreditamos nele...

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

COP15

Se alguém me perguntasse onde eu não gostaria de está hoje, não teria a menor dúvida, seria taxativo: Copenhagen. Pior do está em Copenhagen hoje, somente ouvir um discurso de duas horas da Marina Silva com aquela vozinha de taquara rachada que só ela tem. Pior do que as duas coisas juntas, somente almoçar em restaurante de comidas naturais ou ler um livro de autoajuda. As duas coisas juntas é motivo para suicídio. Fiquei me perguntando por que COP 15 e descobri que essa é a 15ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas. Isso me deixou extremamente feliz por que eu não me lembro das outras 14. Não é apenas por não dá a mínima para a questão ambiental. Mas é por que não existe pessoa mais chata do que o militante ecológico. Então, você junta centenas de ecochatos com dezenas de governantes que fazem de conta que estão mas não estão nem aí para climas e baleias e fica muito mais interessante assistir a Turma do Didi aos domingos ou a Luciana Gimenez entrevistando ex-BBB.
Mas hoje, apesar da minha insensibilidade, fiquei preocupado com um dado da Agência Internacional de Energia. Segundo a IEA (sigla em inglês) cada brasileiro emite dois balões semelhantes ao da foto acima por ano de gás carbônico. Cada balão equivale a uma tonelada do gás. Mas qual brasileiro? O que tem carro ou o que não tem? O que mora na cidade ou o que mora no campo? Ainda de acordo com a IEA, cada americano emite 20 desses balões por ano. Aí o bicho pega. Pela lógica, quem polui mais, contribui com mais dinheiro para salvar o planeta. Os nossos amigos yanques não pensam assim. Para eles, e os demais países desenvolvidos, os países em desenvolvimento (Brasil, China, Índia) devem contribuir com a maior parte das despesas.
Não sei se o desequilíbrio ambiental tem afetado o clima no mundo, as opiniões divergem. Mas tem tem afetado sobremaneira o clima eleitoral no Brasil. A oposição ( o governador de São Paulo José Serra e a senadora e pré-candidata verde a Presidência Marina Silva,) acha que o Brasil deve contribuir com recursos financeiros. A senadora Marina até sugeriu a módica quantia de U$ 1 bilhão. Já o governo, representado pela Ministra-chefe da Casa Civil e candidata oficial a Presidência da República, defende a idéia que de que temos que tomar medidas reais e concretas para resolver o problema. Só não disse quais seriam essas medidas. É, acho que tá na hora do Superpop, com a Luciana Gimenez...

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Bullyng

A nova "onda" nas escolas, entre os alunos, é o bullyng. Esse é o termo em inglês para descrever atos de violência física ou psicológica praticado por um indivíduo ou grupo de indivíduos com o objetivo de agredir ou intimidar pessoas ou grupo de pessoas. Em outras palavras, o termo serve para designar a violência dentro da escola. Violência física ou psicológica. Infelizmente, a violência tem dominado as escolas em todo país. Esse é um mal não apenas das escola públicas, mas também das escolas particulares. O jovem não vai mais a escola para estudar, mas para marcar encontros onde extravasarão todas as suas mágoas, raivas e frustrações através de uma violência desmedida e irracional. E não são apenas os alunos adolescentes e adultos. As crianças também "aprendem" desde cedo a resolver as suas diferenças através da violência.
Sabemos que violência na escola sempre existiu. Quem nunca brigou ou presenciou uma briga nos seus tempos de escola? Independente da idade. Nos anos 80, quando fazia o ensino fundamental vi, repetidas vezes, brigas entre colegas. Mas eram brigas sem consequências graves, no outro dia todos já eram amigos de novo. Hoje há uma banalização da violência. Se briga por qualquer motivo. E o que é pior: a briga não fica restrita a dois indivíduos que usam apenas as forças dos seus braços e pernas. As brigas envolvem grupos contra grupos ou, suprema covardia, um grupo contra um desprotegido adversário, onde se usam as armas que encontram pela frente (paus, pedra, cadeiras) ou trazem de casa (facas, canivetes e, até mesmo, revólveres). Mas o que aconteceu para a violência virar o prato principal nas escola brasileiras?
Buscar respostas em uma só causa seria muito simplista. Não restam dúvidas que a miséria afetiva contribui para isso. Os jovens não encontram amparo afetivo nas famílias, quando elas existem. A regra geral é o desfacelamento da família. Quando falo em família não me refiro ao formato tradicional (pai, mãe e filhos). Mas num núcleo de pessoas (só mãe, só pai, duas mães, dois pais, avós) que consiga influenciar e exercer autoridade sobre esse jovem. Existe hoje uma crise de autoridade na escola e na família. O jovem não conhece limites. A miséria intelectual também contrubui para essa situação. O jovem não frequenta teatro, não frequenta bibliotecas e nem é estimulado a isso. Quando frequenta cinemas é para assistir filmes cujas cenas de violência ultrapassa os limites do razoável. Voltaremos ao assunto...

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Futebol: paixão e violência

Não restam dúvidas que o futebol desperta paixões. No Brasil, desperta muito mais do que qualquer outro lugar do mundo. Ontem foi a última rodada do campeonato brasileiro e o país praticamente parou antes, durante e depois dos jogos que definiram o campeão, o vice e os rebaixados para a segunda divisão. Nos estádios, as expressões nos rostos durante as partidas demonstravam o quanto aqueles noventa minutos representavam na vida de cada torcedor. Na realidade a última rodada começou na segunda feira e durou a semana inteira. A grande discussão era se o Grêmio, que não tinha mais pretensões no campeonato iria ou não facilitar a vida do Flamengo, postulante ao título. Isso por que, se o tricolor gaúcho vencesse ou empatasse a partida, poderia ajudar o seu grande rival, o Internacional, a ser campeão. Ao que parece, a última rodada continuará essa semana, pois os colorados garantem que o Grêmio facilitou.
Mas essa paixão, que em alguns momentos transforma o futebol num espetáculo, em outros momentos descamba para uma violência irracional. Foi o que aconteceu em Curitiba, onde o time da cidade, o Coritiba, foi rebaixado para a segunda divisão após empatar com o Fluminense. Após o fim da partida, a torcida invadiu o campo e agrediu o árbitro, os auxiliares, jogadores, diretoria do clube e até a polícia. Até a casa do técnico do Fluminense na cidade foi apedrejada. A direção do Coritiba estima os prejuízos causados no estádio Couto Pereira em R$ 500 mil. Ocorreram outras cenas de violência Brasil afora, mas as registradas em Curitiba, mostram o quanto a paixão por uma equipe pode animalizar um torcedor.
Por outro lado, mesmo com casos de violência localizados, a torcida do Flamengo deu um show na comemoração do título, depois de um jejum de 17 anos. Começou no Maracanã, com mais 80 mil torcedores. Segundo o IBOPE, o rubro negro carioca detém a maior torcida do país, com aproximadamente 35 milhões de apaixonados. Acho que ontem eles se multiplicaram! Para onde olhávamos tinha uma uma camisa, uma bandeira, até mesmo toalhas nas cores vermelho e preto. Sou flamenguista!! Deu pra notar? Que a nação rubro-negra continue comemorando muitos títulos. Que os atos de quem diz entender de futebol não tire o sorriso do rosto nem a felicidade do coração de tantos apaixonados. Somos hexa!


sábado, 5 de dezembro de 2009

Ela, a barriga

Durante a maior parte da minha existência, o meu maior problema foi a falta de peso. Tive que me esforçar muito para ganhar míseros quilinhos ao longo de meses. Ficava feliz da vida quando ganhava cem graminhas. Durante a adolescência, não chegava a pesar 50 quilos, tendo mais de 1,80. Veja que eu não era magro. Eu era um suspiro!! Eu era tão magro que a minha barriga era negativa. Vocês ja viram uma barriga negativa? É aquela para dentro. A verdadeira barriga tanquinho. Depois de muitos polivitamínicos e estimulantes de apetites (na verdade, falta de apetite nunca foi um problema) cheguei aos 25 anos pesando 57 quilos. Com a minha sifose, tinha apelidos carinhosos como "vírgula", "interrogação", "bengala". Claro que isso nunca foi suficiente para me levar ao divã. Eu aceitava a minha magreza como algo inexorável, algo que seria intrínseco a minha existência. Essa semana, três fatos me mostraram que, o que parecia definitivo, não era mais. O que parece definitivo agora é a barriga.
Na segunda-feira, entrei numa farmácia para comprar um remédio para tratamento contra fungos no pêlo da minha cadela. Enquanto esperava o balconista buscar o medicamento, vi a balança bem ao meu lado, me chamando. Não resisti e fui me pesar. Ao colocar os dois pés sobre a balança, o painel mostrou de forma frenética, durantes pouquíssimos segundos, a troca de números que revelariam o meu peso. De repente para!! Aqueles três dígitos, por poucos estantes, me paralisaram. Eu estou pesando 100 quilos!! Eu estou o dobro de mim mesmo quando adolescente. O que nunca foi um preocupação em minha vida, passou a andar alguns centímetros na minha frente.
O outro fato aconteceu na terça-feira, quando estava lendo um livro de crônicas da Martha Medeiros, "Doidas e santas" (por sinal, muitíssimo interessante) e me deparei com um crônica escrita em 21 de janeiro de 2007, intitulada "Ela". Se você ainda não desconfiou, "Ela", do título, é a barriga. Segundo a autora, é uma praga universal, masculina e feminina. Não se isso serve de consolo. Na quarta, recebi um e-mail de um grande amigo me informando que hoje, dia 5 de dezembro, é o dia do barrigudo. Por que será que ele me mandou esse e-mail? Será que tem algo a ver com a minha barriga? O e-mail traz um texto de uma psicóloga chamada Carla Moura (especialista em sexologia) em que ela faz uma exaltação ao barrigudos. Pedem para que as mulheres prefiram esses aos malhadões. Ela chega a dizer que "homem bom de verdade precisa, obrigatoriamente, ostentar uma barriguinha de chopp." Olha que maravilha!! Isso sim serve de consolo...

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Diálogo entre o encarnado e o reencarnado

Na sala, uma mesa com duas cadeiras eram os únicos móveis presentes. Uma lâmpada pendurada sobre a mesa jogava o resto da sala na penumbra. No canto da sala, num local onde a penumbra não deixava que se visse com nitidez estava alguém, apenas uma silhueta, um ser amorfo , que não se sabia se era alto ou baixo, gordo ou magro, branco ou negro, se tinha barba ou tinha a cara lisa. Mas sabia que estava lá. Sentado nas duas cadeiras, dois indivíduos se olhavam como se tivessem diante de um espelho, tamanha era a semelhança física entre eles. Mas o clima não era amistoso.
- Quem é você, afinal?- Pergunta o encarnado.
- Eu sou você amanhã. – Responde o reencarnado.
- Que história é essa de você sair por aí dizendo que sou Eu?- Pergunta, novamente, o encarnado.
- Não sou eu que falo. Mas o meu Pai.- Responde o reencarnado, inflando as bochechas ao pronunciar o P, como quem vai tossir. – Eu apenas obedeço uma voz no interior da minha cabeça...
- Isso é esquizofrenia!! – Interrompeu o encarnado – O senhor é esquizofrênico!!
- O meu Pai disse que as pessoas não acreditariam em mim, como não acreditaram há dois mil anos...
- Há dois mil anos era eu que estava na cruz, não você!- Interrompeu novamente o encarnado, já encolerizado. – E, por falar em cruz, eu sofri barbaridades para convencer as pessoas que eu era o filho de Deus. Fui açoitado, colocaram uma coroa de espinho na minha cabeça e fui crucificado. Você quer se passar por mim usando essa coroa de tecido ridícula, comendo bem, dormindo bem, tomando seu wiskynho, só anda de carro...
- Hoje existem estratégias de marketing mais eficazes do que o martírio – Interveio o reencarnado – Temos a internet, a TV. Não há necessidade de tanto suplício.
Nesse momento, o ser na penumbra se mexe, inquieto. O encarnado e o reencarnado se olham.
-Onde você arranjou esse sotaque ridículo? Você está me envergonhando...
- Esse sotaque foi o meu Pai que me deu...
- Pare de encenar! Isso já tá me irritando...
- Isso atesta que você é o impostor – Interrompeu o reencarnado.- Eu jamais vou perder a paciência com aqueles que não acreditam em mim. Meu Pai já tinha me dito que eu seria insultado, humilhado, odiado...
-Dai-me paciência...- Suspirou o encarnado.- Que história é essa de você cobrar das pessoas para fazer “milagres” ou dá aconselhamento? Eu nunca fiz nada em troca de dinheiro!
- Por que não quis. – responde o reencarnado – Há dois mil anos foram cometidas falhas que não se repetirão. Os outros fazem isso até hoje em seu nome. Por que eu não poderia fazer também? Tem representante Seu por aí que só não cobra ingresso para o cristão entrar na igreja, mas o resto... Até uma oraçãozinha de nada vem acompanhada de uma fatura.
- O senhor deve ser maluco...
- Mas nesse mundo quem não é? – Balbucia o reencarnado com uma certa dose de cinismo – Às vezes é necessária uma dosezinha de loucura para sobreviver e convencer...
-Por que o senhor não se mete a dizer por aí que é a reencarnação de Maomé?
- Você tá louco! – Sobressaltou-se o reencarnado – Qualquer coisinha os muçulmanos vão logo soltando bombas, querendo matar. Os cristãos são mais tolerantes com certas extravagâncias.
- Tem mais outra coisa: o senhor diz por aí que é a minha reencarnação. Mas eu não andava na companhia de várias mulheres, como o senhor.
- É por isso que uns e outros já ousaram insinuar coisas a seu respeito. Todos aqueles apóstolos juntos... Apesar de que você e a Madalena...– Falou o reencarnado, fazendo gestos cínicos com as mãos.
- Isso já está passando dos limites!! – Esbravejou o encarnado. – Eu não admito que o senhor fale assim!
- Eu só estou falando o que ouço por aí – falou o reencarnado, encolhendo os ombros- E o que tem demais? Afinal, a Madalena não era de se jogar fora. O povo fala, né. De mais a mais, eu estou na terra para nos defender de qualquer calúnia.
- Nos defender?! – Pergunta o encarnado, com cara de incredulidade.
- Sim. – Fala o reencarnado, como se tivesse falando a maior das obviedades.- Afinal, eu sou você.
Na penumbra, um ar de inquietação.



quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Strippers, pó e o Rio 2016

Na segunda-feira, 30 de novembro, o ator e comediante americano Robin Willians resolveu fazer, em entrevista no programa "Late Show With David Letterman", uma avaliação irônica da vitória brasileira para a realização da Olimpíadas de 2016, que será no Rio de Janeiro. Criou, com isso uma confusão sem tamanho. Willians afirmou que Chicago disputou com o Rio de Janeiro o direito de sediar as Olimpíadas de 2016 em "desigualdades de condições". Ele afirmou que, enquanto Chicago enviou a primeira-dama Michelle Obama e a entrevistadora Oprah Winfrey, o Rio de Janeiro teria levado "50 strippers e meio quilo de pó". Se existe um povo que não sabe contar piada, esse povo é o norte americano, observamos isso em filmes e programas de auditório. Mas essa do Robin Willians além de sem graça é de extremos mal gosto. Demonstra desinformação e preconceito. Ou as duas coisas, já que a desinformação leva ao preconceito.
É certo que o comediante americano não será o primeiro nem o último a ter uma visão estereotipada e preconceituosa do Brasil ou de alguma outra parte do mundo "não civilizado". Um exemplo foi o filme "Turistas", de 2006, que mostra um grupo de jovens turistas que vêm passar férias no Brasil e são assaltados, drogados e vítimas e uma quadrilha de tráfico de órgãos (selvagens, nós, hein!!). Para muitos, o Brasil é samba, sexo e futebol. Mas o preconceito motivado pela desinformação existe aqui dentro também. Moro numa região em que muitos pensam que só tem onça, indios e mata. Já me perguntaram até se aqui tinha sexshop. Respondi que índio também faz sexo com sacanagem. Há quinze anos, quando vim morar em Porto Velho imaginei que fosse um local atrasado, por localizar-se na região Amazônica. Puro preconceito!
Mas voltando à piada de Robin Willians. Obviamente que os representantes brasileiros na cerimônia de escolha da cidade sede para as Olimpíadas 2016, vencida pelo Rio de Janeiro, não presentearam os membros do Comitê Olímpico Internacional (COI) com strippers e cocaína. Nem Chicago, a outra concorrente, perdeu por causa da Oprah Winfrey e da Michelle Obama. Mas se esse fosse o motivo da derrota seria justo. Michelle, por mais bonita e elegante que seja, não tem como competir com cinquenta strippers com metade da sua idade e dobro de disposição. Já entre Oprah Winfrey e o "meio quilo de pó", tenho certeza que a maioria escolheria a segunda droga. Não sei Robin Willians, já que de cocaína ele entende, afinal já esteve internado em clínicas de desintoxicação para se livrar do vício...

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

De Cuba, com carinho

Vocês já ouviram falar em Yoani Sánchez, a blogueira cubana, cujo blog, Generación Y, foi o primeiro a ser criado no feudo dos irmão Castro e transformou-se em sucesso internacional (olha a minha inveja!), mesmo por que o acesso está bloqueado em território cubano? No blog, Yoani fala livremente do cotidiano na ilha, da ausência de liberdade e da escassez de gêneros de primeira necessidade. Claro que toda essa desenvoltura com as palavras não agradou em nada aos irmãos Castros, que já mandaram o recado. Na tarde do dia 6 de novembro, ela foi brutalmete espancada por três homens não identificados, possivelmente policiais. Até então, a blogueira tinha sido mantida em permanente vigilância, mas nunca tinha sofrido violência física. Além do falar do cotidiano na ilha, Yoani, em seu blog, derrubou três mitos cubanos, orgulho dos socialistas de todo o mundo e pretexto para a manutenção de um regime caquético: o alto índice de alfabetização da população, a medicina cubana e o aumento da expectativa de vida entre os súditos dos Castros.
Yoani aceita o fato de que 99,8% da população é alfabetizada. Um dos questionamentos é que, mesmo antes da Revolução Cubana, a ilha já apresentava um dos menores índices de analfabetismo da América Latina. Coube ao novo regime alfabetizar o restante da população. O grande questionamento da blogueira é: O que ler depois de alfabetizado? O governo controla tudo!! Não adianta saber ler e não poder ler. As informações chegam com atraso de décadas. A queda do Muro de Berlim só chegou ao conhecimento dos cubanos em 1999!! O que é contado a exaustão nas salas de aula é a guerrilha da Sierra Maestra e o assalto ao quartel de Moncada. Impera o culto à imagem de Fidel. O outro mito é o do aumento da expectativa de vida dos cubanos. São dados oficiais, sem comprovação. De acordo com Yoani, a olho nu percebe-se que a situação é outra. Os idosos estão em estado deplorável e não há estatísticas sobre a quantidade de pessoas que fogem do país, sobre o índice de abortos, o número de suicídios (talvez um dos mais altos do mundo)
O terceiro mito é o da medicina cubana, que foi modelo enquanto recebia petróleo e subsídios da União Soviética. Quando a têta secou, o modelo desmoronou. O salário de um médico não passa de R$ 60,00. Os hospitais estão sucateados e os pacientes tem que levar tudo na hora da internação, desde alimentação, até medicamentos, passando pelo material utilizado em curativos. Esse é o modelo reverenciado pela esquerda de todo o mundo, inclusive a nossa. Enquanto Fidel perdura, outro líder surge com um modelo que já nasce falido: Hugo chavéz e sua Revolução Bolivariana, também reverenciado pela esquerda brasileira. Poderíamos pegar o MST, que a esquerda considera um grupo político e não uma quadrilha armada, e mandar para Cuba para contribuir na construção dos ideiais revolucionários, da mesmo forma que eles contribuem aqui. Quem sabe a primeira terra invadida não fosse de propriedade do próprio comandante...

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Mahmound, o pária

Semana passada, o presidente do Irã, Mahmound Ahmadinejad, esteve em visita ao Brasil. Por passou, provocou protestos. Por onde não passou também. O convite oficial do governo brasileiro para a visita de Ahmadinejad foi uma tentativa da diplomacia nacional em conseguir uns votinhos nos organismos internacionais para a tentativa brasileira de fazer parte do Conselho de Segurança da ONU como membro permanente. Não sei se conseguiu alguma coisa nesse sentido. O que se viu foi um festival de manifestações Brasil afora por causa das daclarações do visitante. Foram judeus, homossexuais, mulheres, democratas e quem não tinha causa nenhuma. O importante era protestar!! Não tenho nenhuma pretensão de defender Mister Ahmadinejad, mesmo por que ele e suas idéias são indefensáveis. O que vou fazer é criticar as atitudes dos seus detratores.
Os judeus protestaram contra a o fato de Ahmadinejad negar o Holocausto. Negar o Holocausto é uma prova de ignorância histórica. E só isso! Mesmo sabendo que Ahmadinejad não é um ignorante, o que ele pretende é provocar Israel, ele tem o direito de se passar por ignorante. O que ele, nem ninguém, pode fazer é defender o extermínio de quem quer que seja. É negar o direito de existência de um povo, seja o povo judeu ou outro qualquer. E se alguém quiser negar o massacre de cristãos nas arenas romanas, no início da Era Cristã? Isso representaria uma ofensa aos cristãos? Claro que não!! Seria apenas uma prova de desconhecimento da história. Esse alguém não deve, nunca e em nenhuma hipótese, pregar o direito de existência do povo cristão.
As mulheres também se manifestaram. A bronca delas é com relação ao fato da mulher ser considerada cidadão de segunda classe na maior parte do mundo muçulmano, inclusive no Irã. Seria uma sandice comparar essa situação com a condição feminina no mundo Ocidental. A diferença é que no Reino Tupiniquim impera a hipocrisia. Nada mais Taliban do que o caso Uniban (gostou da rima?). Estudantes universitários xingaram, vaiaram e hostilizaram uma colega apenas por que esta vestia um micro vestido. Isso dentro de uma universidade, onde deveria prevalecer o respeito a diversidade de pensamento e comportamento, onde, em tese (e parece-me que apenas em tese, mesmo!!) está a elite intelectual do país. E a universidade ainda expulsou a aluna por "conduta inadequada". Viva o Taliban!!! Já os homossexuais reclamaram das declarações do presidente iraniano de que a homossexualidade é doença. Isso é uma estupidez!!!Mas o brasileiro é precoceituoso com relaçãos aos gays. Preconceituoso e violento!! Segundo o Grupo Gay da Bahia (GGB), 122 homossexuais foram mortos no Brasil em 2007, um aumento de 30% em relação ao ano anterior. A despeito dos nossos defeitos e preconceitos, o único consenso, parece-me, é que a visita do senhor Mahmound Ahmadinejad seria perfeitamente dispensável...