domingo, 29 de novembro de 2015

Fim – Fernanda Torres



 Primeiro livro da atriz Fernanda Torres (depois dele, já publicou um livro de crônicas, Sete vidas, em 2014), Fim, publicado em 2013, é uma incursão no submundo masculino da meia idade. Segundo a própria autora, é “um livro de macho”. Álvaro, Silvio, Neto, Ciro e Ribeiro são amigos cariocas que já passaram das suas fases áureas, estão naquela altura da vida em que o Viagra e o remédio contra hipertensão substituem o cachorro como melhores amigos do homem.
O humor que estamos acostumados a ver na atriz em seus trabalhos na TV e no cinema aparece logo no primeiro capítulo do livro, intitulado Álvaro, um velho ranzinza e rabugento que vocifera contra desde as  coisas mais banais do dia a dia até contra a humanidade. E isso é só começo de histórias hilárias dos cinco amigos que viveram intensamente no ápice da vida e que agora se encontram às vésperas da morte. E cada capítulo começa no momento que precede a morte de cada um deles.
Fim fala sobre morte e velhice, mas longe de ser um melodrama, é uma celebração da vida que esses homens levaram. Mostra o impacto à longo prazo de pequenas e grandes escolhas feitas na juventude, mas não se ver tristeza na velhice dos personagens, apenas nostalgia. Digamos que eles estão vivendo uma ressaca terminal de quem tentou fugir de uma vida banal. Uma boa estreia!    

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Das paredes, meu amor, os escravos nos contemplam – Marcelo Ferroni

Depois de um bem sucedido romance de estreia, Método prático de guerrilha (2010), o escritor e editor paulista Marcelo Ferroni resolveu fazer uma incursão pelo romance policial com Das paredes, meu amor, os escravos nos contemplam (2014). O livro é “bonzinho”, mas não vá esperando algo parecido com Agatha Christie. Eu diria que a história está mais para as aventuras de “Scooby-Doo”. Ferroni peca pelos lugares-comuns e situações sem explicação, sem “liga”.
Humberto Mariconda é um escritor estreante que vive a procura de uma resenha favorável ao seu livro. Numa certa ocasião, num restaurante japonês, conhece Júlia Damasceno, jovem, mimada e que não manifesta o menor interesse por Humberto e seu livro recém-publicado. Mesmo assim, por persistência dele, se envolvem, ficando Humberto sempre no encalço dos porres da jovem ricaça. Surpreendentemente (e aí vem uma passagem sem “liga”), a jovem o convida para passar um final de semana na fazenda da família.
Reunida a família Damasceno, o cenário para um crime se forma. E ele acontece: o patriarca, Ricardo damasceno, é encontrado morto. O que poderia evoluir para um romance de Agatha Christie vai em direção às aventuras de “Scooby-Doo”. Em meio a lugares-comuns, como Luzes que se apagam repentinamente, tempestades com raios e trovões, rangidos no teto, passagens secretas e paredes falsas, empregados suspeitos e deduções à Sherlock Holmes manco, Ferroni  discute temas como ganância e ciúmes enquanto tenta descobrir quem é o assassino.  

domingo, 22 de novembro de 2015

Biofobia – Santiago Nazarian

Depois de Miguel Sanches Neto, outro talento da literatura nacional contemporânea é Santiago Nazarian, escritor paulista de 38 anos que já publicou oito livros, sendo seis romances e dois de contos, além de fazer parte de diversas coletâneas de contos. Eleito, em 2007, o escritor jovem mais promissor da América Latina pelo júri do Hay Festival em Bogotá, Nazarian batiza seu projeto literário de “existencialismo bizarro”, uma mescla de referências clássicas da literatura existencialista com cultura pop, trash e horror.
Em Biofobia, oitavo livro de Nazarian, publicado no ano passado, André, um roqueiro de meia idade que desfrutou de todos os excessos da sua geração, mas com a carreira em baixa, se isola na casa de campo deserta e sinistra onde vivera sua mãe, que cometera suicídio há pouco tempo. Entre garrafas de bebida, drogas e telefonemas para a ex-namorada, André se vê às voltas com o tema “morte”, tanto de uma perspectiva filosófica quanto prática (tem que providenciar o enterro e resolver as questões relacionadas à herança materna). Como se isso não bastasse, as incertezas sobre p seu futuro o atormenta.
Além de André, a natureza é outro “personagem” da trama. Ao mesmo tempo em que a mata tenta retomar seu espaço invadindo a edificação, as paredes da casa parecem tomadas por livros, um subproduto das árvores que tentam invadir o espaço. Ao mostrar o conflito entre o concreto da casa e a natureza a invadi-la, Nazarian faz um excelente contraponto entre a decadência psicológica-emocional de André e a vida a brotar na natureza ao seu redor.    

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

A primeira mulher – Miguel Sanches Neto

Lendo A primeira mulher, do escritor Miguel Sanches Neto, fica-se na dúvida se é um romance policial, uma história de amor, uma crônica ou um romance filosófico. Na definição do autor, o livro é um romance “quase policial”. Então eu poderia afirmar que é também quase história de amor, quase uma crônica ou um romance quase filosófico. O importante é que, ao terminar a leitura, conclui-se que o livro é tudo isso e, o que é melhor, sem clichês.
O narrador é Carlos Eduardo, um professor solitário de 40 anos, perdedor incorrigível de relógios e guarda-chuvas, que fugiu do clichê da família burguesa (casa, família, paternidade) e abraçou outro, o clichê da suposta liberdade plena do isolamento e de “casinhos” com alunas bem mais novas. O suspense começa quando entra em cena sua ex-mulher, Solange, agora casada e bem sucedida, cujo filho desapareceu misteriosamente.
Agora transformado em detetive, Carlos Eduardo não busca a verdade e a justiça, mas sim reconstituir o seu passado a partir da investigação da sua intimidade e da sua ex-amada. A primeira mulher, publicado em 2008, é a prova da qualidade da literatura brasileira contemporânea que tem Miguel Sanches Neto como um dos seus expoentes. Vale a pena ler!

domingo, 15 de novembro de 2015

A coisa terrível que aconteceu a Barnaby Brocket – John Boyne



Não costumo ler livros infanto-juvenis por não gostar da linguagem muitas vezes politicamente correta. Gosto de uma literatura transgressora, que tire o leitor do seu pensamento cômodo. A coisa terrível que aconteceu a Barnaby Brocket, décimo livro do escritor irlandês John Boyne, publicado em 2012, veio mudar esse meu conceito. O livro é infanto-juvenil, mas pode ser lido por qualquer um, independente da idade. E o que é melhor: a história é capaz de tirar o leitor do seu pensamento cômodo.
Barnaby Brocket é um garoto australiano que teve o azar de nascer numa família que se orgulha de ser “normal”. Seus irmãos, que o precederam, abraçaram a normalidade e foram abraçados pela família Brocket. Já Barnaby nasceu com uma peculiaridade que o torna anormal aos olhos dos seus pais: ele flutua. Contra a sua vontade, já que nada pode fazer para evitar. Para evitar que o seu filho os exponha ao ridículo, os pais resolvem manter o filho constantemente com uma mochila pesada nas costas. Até que um “acidente” faz com que Barnaby sai voando mundo afora, inclusive por uma fazendo de café no Brasil.
Nessas viagens, o garoto encontra os mais variados tipos pessoas em diversas circunstâncias. Mas a pergunta que sempre fica no ar é: o que é ser normal? Não há respostas! Jonh Boyne deixa claro que o que é imperativo é o direito à diferença, que há espaço para todos no mundo. Uma leitura obrigatória, mas principalmente para os jovens, que já nascem sob o signo do preconceito. Talvez a sua leitura transforme o mundo num ambiente melhor no futuro.