quarta-feira, 30 de abril de 2014

Mulheres! – David Coimbra

Que o tema “mulheres” é suficiente para se escrever um compêndio infinito não se tem dúvidas. Agora adicione a esse tema outro, “homens” e se terá o dobro de argumentos para se escrever não apenas um compêndio infinito, mas vários compêndios infinitos. A relação homem/mulher é assunto suficiente para crônicas, contos, romances, trilogias, enciclopédias e qualquer coisa volumosa composta por incontáveis páginas. Ambos não sabem viver separados, tampouco conseguem viver juntos sem dá início a discussões infindáveis sobre os mais variados temas.
Esse é o ponto de partida de Mulheres! Do jornalista gaúcho David Coimbra. São contos e crônicas publicadas no Jornal Zero Hora entre os anos de 2003 e 2005, tendo como núcleo não apenas a mulheres, como o tema sugere, mas a sua relação com seu maior “desafeto”, o homem. Com um indefectível bom-humor, David se debruça sobre os mais variados perfis de mulheres, das mais novas às mais velhas, das mais novas às mais conservadoras, das bem-sucedidas às nem tão bem-sucedidas assim.
A mulher é aquele espécime de ser vivo que faz a pergunta, ela mesma responde, mas nunca está satisfeita com a resposta. E David Coimbra trabalha com essa característica tipicamente feminina com maestria, a tal ponto que o leitor fica na dúvida se está lendo um conto ou a história verídica de algum exemplar com quem conviva. Com histórias curtas, o livro é divertidíssimo e um ótimo passatempo. Ou quem sabe não sirva de referência bibliográfica para o estudo do ser feminino? 

segunda-feira, 28 de abril de 2014

Cinema nacional: Vai que dá certo

Ao assistirmos Vai que dá certo (2012), do diretor Marcelo farias, a única certeza que temos é que o filme é uma paródia de tipos caricatos paulistas. Depois disso, o que se vê é uma sucessão de falta de lógica, como alugar armas de verdade para cometer um sequestro e um assalto de mentira, ponto de partida de todas as trapalhadas dos personagens. Nem o quartel-general do chefão do tráfico, de quem os atrapalhados personagens alugam as armas, parece de fato uma periferia.
Rodrigo (Danton Mello) falta ao trabalho para farrear com os amigos, é demitido e expulso de casa esposa; os irmãos Vaguinho (Gregório Duvivier) e Amaral (Fábio Porchat) são donos de uma loja de games à beira da falência; o professor de inglês, Tonico (Felipe Abib), não consegue dá aulas e vive na mesma pindaíba. Esses homens-adolescentes vão receber o convite do amigo de infância, Danilo (Lúcio Mauro Filho) para forjar um sequestro e assalto na empresa em que ele trabalha. Aí começam as trapalhadas...
Colocar comediantes cariocas interpretando personagens paulistas não pode dá em outra coisa que não seja tipos caricatos com sotaques típicos de novelas da Globo. E caricatura é o que não falta: Bruno Mazzeo aparece como um político caricato, Paulo. O que escapa é a interpretação de Gregório Duvivier: sabe fazer piadas sem parecer calculado e sem atropelar a fala dos outros personagens. Um filme para relaxar, tão somente isso...


sexta-feira, 25 de abril de 2014

O golpe, a comissão e a patrulha

Demorei para falar sobre assunto por que , na realidade, não queria falar sobre o assunto, mas sobre as manifestações que aconteceram sobre o assunto. Falo sobre os cinquenta anos do Golpe Militar de 1964. E o que vi não me surpreendeu. De um lado, a esquerda festiva se manifestando a cada esquina, celebrando os seus “heróis”, e repudiando os excessos cometidos pela ditadura. Do outro lado, os simpatizantes do Golpe se escondiam, fazendo suas manifestações em ambientes fechados para não atrair para si a ira das patrulhas ideológicas.
Falo que isso não me surpreendeu por que nunca me iludi com a suposta democracia apregoada pela esquerda, que só existe para os seus aliados. Que o diga Cuba, Venezuela e congêneres. O autoritarismo está no DNA da esquerda. Não sou a favo de nenhuma ditadura, muito menos a que foi instalada no Brasil em 1964, mas seus simpatizantes tem o direito de celebrá-la. De mais a mais, esse evento cabe algumas releituras.
A primeira dessas releituras refere-se à duração da ditadura, de 1964 a 1985. Vejo aí um equívoco! Não podemos dizer que o Brasil vivia numa ditadura de 1964 a 1968, no máximo num estado autoritário. Como poderia uma ditadura permitir os festivais de música, onde cantores de esquerda cantavam músicas “subversivas”? Como poderia uma ditadura permitir que editoras, como a Civilização Brasileira, publicassem autores “subversivos”, como Celso Furtado e Fernando Henrique Cardoso? E o Cinema Novo? E as eleições diretas para governador, ocorridas em 1967?
Podemos afirmar que vivemos uma ditadura entre 1968 e 1974. Porém, de 1974 até 1985 voltamos a viver num estado autoritário.    
Outra releitura a ser feita é sobre o espectro politico antes do Golpe. Temos que parar com o maniqueísmo segundo o qual a esquerda “boazinha” queria evitar que a direita “malvada” acabasse com a democracia no Brasil. Mentira! A esquerda era tão golpista quanto a direita. A esquerda não deu um golpe e implantou uma ditadura tão mais sangrenta por que é incompetente para isso. Mas se tivesse um mínimo de organização, teria implantado uma aberração a la Cuba no Brasil.
Como o mundo dá voltas, hoje a esquerda “boazinha” está no poder e quer apurar os crimes cometidos durante a ditadura, através de uma tal Comissão da Verdade. Se for uma apuração buscando tão somente a verdade histórica, estou de acordo. Se for uma apuração objetivando uma revanche, sou contra. E que essa tal de Comissão da Verdade apure também os crimes cometidos pelos militantes de esquerda, afinal os excessos foram cometidos de parte a parte.
Não me venham com esse papo de evocar o “direito inalienável de resistência”, segundo o qual ações violentas contra membros do aparato repressivo de um Estado ditatorial e ilegal não são violações dos direitos humanos. Se formos usar esse raciocínio, os militares também não cometeram violações dos direitos humanos, afinal estavam combatendo os membros de organizações que queriam implantar no Brasil um aparato repressivo de um Estado ditatorial e ilegal de esquerda.
É inegável que excessos existiram por parte de agentes do Estado no combate à esquerda. Mas não se pode negar que os excessos foram dos dois lados. Se a Comissão da Verdade fala tanto nos 424 mortos de militantes de esquerda, número fornecido pelo livro Dos filhos deste solo, do ex-ministro Nilmário Miranda (um número provavelmente inflado, comprovados são 293 mortos), por que não lembrar dos 120 mortos pelos grupos de esquerda, muitos deles sem nenhuma vinculação com a luta armada? Seus familiares terão direitos às reparações financeiras generosas dadas pela Comissão da Verdade?
Deixemos bem claro uma questão de princípio: não deveria ter morrido ninguém, seja de esquerda, seja de direita, muito menos inocentes perdidos entre dois lados ideologicamente insanos. Nenhuma ditadura presta, seja de direita ou de esquerda, civil ou militar. Mas não podemos semear mitos históricos ao sabor de quem estar no poder, muito menos disfarçar uma ditadura dentro de Estado democrático através de patrulhamentos ideológicos, instrumento fartamente e abusivamente utilizado pela hoje “esquerda festiva”, outrora “esquerda armada”.  

quarta-feira, 23 de abril de 2014

Pulp – Charles Bukowski

Pulp é o ultimo e mais atípico dos romances de Bukowski. Não é autobiográfico e o protagonista não é o alter-ego do autor, Henry Chinasky.  Concluído alguns meses antes da morte do autor, em 1994, o romance é uma mistura de história noir de detetive, subliteratura e filmes B, porém é impossível não observar as marcas registradas do “escritor maldito”, como os palavrões, o humor ácido e as reflexões pessimistas sobre a vida.
Neste romance de Bukowski somos apresentados a Nick Belane, um detetive beberrão, encrenqueiro e de maus modos, autointitulado o “melhor detetive de Los Angeles”. Com uma tendência para resolver casos no mínimo inusitados, Belane é contratado por uma certa Dona Morte para encontrar um homem chamado Celine, que vem a ser o escritor francês maldito, falecido em 1961, que influenciou Bukowski.
Enquanto tenta achar o falecido escritor, Beline é contratado por um marido desconfiado para descobrir se a sua esposa é adúltera. Sendo o “melhor detetive de Los Angeles”, Beline só consegue flagrá-la uma vez na cama com um homem: o próprio marido. Outra missão inusitada de Beline é livrar um vendedor de caixões de um extraterrestre que o domina. O problema é que o extraterrestre é uma exuberante mulher que também domina Belane.
Mas a missão mais difícil de Belane é encontrar o Pardal Vermelho. Mas o que vem a ser o Pardal vermelho? Entre as bebedeiras e as trapalhadas de Belane você descobrirá. Mas antes verá a forma desdenhosa como Bukowski via a vida humana. A presença de um personagem que simbolizava a morte pode ser um indício de que o “velho Buck” sabia que estava em seus últimos suspiros.     

segunda-feira, 21 de abril de 2014

Cinema nacional: Paixão e acaso

O mundo é comandado pelo acaso? Será que é para se defender do “acaso” que procuramos razões para tudo que acontece nas nossas vidas? Em paixão e acaso (2012), o diretor e roteirista Domingos Oliveira brinca com o tema através da personagem Inês (Vanessa Gerbelli), uma psicanalista que se apaixona por dois homens ao mesmo tempo sem saber que seus amores são pai e filho.
Há muito tempo sem emplacar um relacionamento, rápido ou duradouro, Inês conhece Fábio (Pedro Furtado) por acaso numa livraria, que se diz vítima duma paixão a primeira vista. É lá que se dá um diálogo “charmoso” entre os personagens, quando os dois vão procurar livros que tenham a palavra “amor” no título. Um diálogo de olhares, sem palavras. Uma cena que vale o ingresso!
Também por acaso, Inês conhece Bento (Aderbal Freire Filho) num bar onde a psicanalista foi conversar com uma amiga. Bem mais velho, Bento também conquista o coração de Inês. Para quem não tinha um relacionamento há três anos, agora Inês tem dois namorados. Começa aí as confusões, pois ela terá que emendar uma mentira na outra para evitar que os dois se encontrem.
Paixão e acaso tem cenas divertidas, mas personagens que não disseram a que vieram. É o caso dos dois pacientes de Inês, Tavares, um endividado marido que não sabe como agradar a esposa; e Otávio, um sujeito sistemático cuja filha tem um acaso com um vizinho casado. Era para ambos fazerem um contraponto às conturbadas relações de Inês, mas não funcionou.
Apesar das falhas do roteiro, os diálogos conseguem ser ora provocantes, ora engraçados. Um filme que vale a pena assistir...


quarta-feira, 16 de abril de 2014

Misto-quente – Charles Bukowski

Bukowski é aquele sujeito que consegue transformar o bizarro, o degradante, o marginal em arte. E ele faz isso em Misto-quente, seu quarto romance, lançado originalmente em 1982 e, até agora, seu melhor romance. Nele, Bukowski é o “escritor maldito” que conhecemos, com sua escrita simples e direta é capaz de dizer tudo o que quer sem meias palavras. Considerado o romance de formação do autor, muitos dizem que quem não leu Misto-quente não leu Bukowski.
Henry Chinaski é o alterego do autor (o romance é praticamente uma autobiografia, com Bukowski na sua fase de juventude) que vive sua infância num ambiente viciado: o pai alcoólatra e violento, batia cotidianamente no filho; a mãe, apesar de carinhosa com o filho, é omissa diante da violência do marido por temê-lo. É durante suas reflexões sobre esse período que Chinaski consegue manifestar o mais fidedignamente seus sentimentos com relação à vida, a sua infelicidade embaixo da casca de durão, como essa quando frequentava o jardim de infância:   
“Foi no jardim de infância que conheci as primeiras crianças da minha idade. Elas pareciam muitas estranhas, sorriam e conversavam e pareciam felizes. Não gostei delas.”
A acidez das palavras e das ideias de Bukowski, expressa através de Chinaski, transparece de forma límpida quando se ele toca em temas sensíveis, como no trecho abaixo;
“Eu havia rompido com a religião alguns anos atrás. Se houvesse alguma verdade por trás dela, era uma verdade que idiotizava as pessoas ou atraía as mais idiotas. E se por acaso a religião não contivesse em si verdade nenhuma, os tolos que nela acreditavam seriam então duplamente idiotas.”
Chibaski (ou Bukowski) era um pessimista com relação à humanidade (alias, com relação a tudo), tanto que quase não se relacionava com colegas de escola. Seu único amigo era u marginalizado como ele:
“Joe não ia vir. Não valia a pena confiar em nenhum outro ser humano. O que quer que fosse preciso para estabelecer essa confiança, não estava presente na humanidade.”
Considero Bukowski melhor romancista do que contista, mas em Misto-quente ele supera até mesmo o romancista Bukowski de outros livros.


segunda-feira, 14 de abril de 2014

Cinema nacional: Loki – Arnaldo Baptista

A vida de um dos maiores expoentes da música brasileira que ajudou a fundar Os Mutantes, um dos grupos musicais mais importantes da história da música no Brasil e fundamental no movimento conhecido como Tropicalismo. Loki (2008), documentário dirigido por Paulo Henrique Fontenelle nos apresenta a vida e a obra dessa figura curiosíssima e que teve um papel relevante na música brasileira, mesmo estando esquecido.
O documentário mostra o personagem fascinante que é Arnaldo Baptista. E mostra sem meias palavras! Fundador precoce dos Mutantes, quando ainda era menor de idade, Arnaldo Baptista evoluiu para “guru” de uma turma movida a muita loucura, experiências musicais e muito ácido. O filme não omite as incursões de Arnaldo e companhia ao LSD entre outras drogas, suas internações em hospitais psiquiátricos até que, em um deles, caiu ou se jogou do quarto andar no dia 31 de dezembro de 1981.
Ferido gravemente, Arnaldo sobreviveu, mas a sequelas estão presentes até hoje. Vivendo isolado numa fazenda no interior de Minas com sua terceira mulher, se tornou um pintor diletante. E aí reside uma das falhas do filme: o fato de não se deter em sua pintura. Em 2004, depois de mais de vinte anos afastado dos estúdios, lançou o CD Let it bed; e dois anos depois, ao lado do irmão Sérgio, do baterista Dinho Leme e da cantora Zélia Duncan (que substituiu Rita Lee), ressuscitou os Mutantes. Depois de vários shows no Brasil, nos EUA e na Inglaterra, que serviu para alimentar o culto a banda, novamente os Mutantes de desfizeram.

Um documentário IMPERDÍVEL!!!   

quarta-feira, 9 de abril de 2014

Salamina – Javier Negrete

No século V. a.C., o poderoso império persa pretende destruir a Grécia e cabe à incipiente democracia ateniense enfrentar o desafio de derrotar o até então indestrutível exército de Xerxes. Esse é o ponto de partida de Salamina, do escritor espanhol Javier Negrete. A Pérsia, governada pelo temido Xerxes, era a maior força bélica da época, já tendo ganho batalhas épicas como Maratona e Termópilas, enquanto Atenas passava por uma incipiente experiência no campo político, instaurando uma democracia, algo estranho em um mundo onde a origem do nascimento era fundamental para a posição do indivíduo na sociedade. 
É nesse contexto que surge Temístocles, um aristocrata e estrategista que toma para si a árdua tarefa de vencer o poderoso Xerxes. Temístocles, que é um personagem histórico, é o herói e a coluna de sustentação da trama, para quem toda a trama converge. Diante da invasão persa, ele opta por enfrentar o inimigo na Baía de Salamina, contrariando todos os outros estrategistas gregos. Para ele, a desvantagem ateniense só poderia ser compensada pelo fator geográfico que a Baía de Salamina oferecia, o que de fato aconteceu.
A reconstituição histórica feita por Javier é perfeita. Através da sua narrativa é possível ao leitor percorrer ambientes como as cidades de Atenas e Babilônia, observar as estratégias dos exércitos persa e ateniense para derrotar o inimigo, como também compreender como funcionavam as sociedades antigas, com sua estrutura social rígida. Um livro não apenas para quem trabalha com a história, mas todos aqueles que gostam de estudar e entender as civilizações da Antiguidade.    



segunda-feira, 7 de abril de 2014

Cinema nacional: Caixa 2

Baseado na peça homônima de Juca de Oliveira, Caixa 2 (2007), do diretor Bruno Barreto, traz temas de uma atualidade inegável, como ética, corrupção e desemprego. O texto foi adaptado para o cinema pelo roteirista Márcio Alemão, que conseguiu deixar o texto bem cinematográfico, sem resquícios da sua origem teatral. No entanto, para um filme que se propõe ser uma comédia, o roteiro derrapa na grande quantidade de ambientes em que se passa a história, além dos dois cenários principais, o que interfere no ritmo do longa.
A trama se desenrola em dois núcleos. No primeiro deles o banqueiro Luiz Fernando (Fúlvio Stefanini) recebe R$ 50 milhões fruto de uma transação ilícita. Para pôr a mão na bagatela, precisa de um laranja e a escolhida é sua secretária Ângela (Giovana Antonelli). No entanto, por um engano que só acontece em filmes de comédia pastelão, o dinheiro é depositado na conta errada. E aí vamos para o outro núcleo.
O dinheiro é depositado na conta da professora honesta e trabalhadora Angelina (Zezé Polessa) esposa do dedicado bancário Roberto (Daniel Dantas), que foi demitido com mais outras 500 pessoas do banco de Luiz Fernando por causa da informatização da empresa. Angelina também é mãe do namorado de Ângela, o universitário estudioso Henrique (Tiago Fragoso).
A grande discussão ética é se os honestos devem devolver o dinheiro de origem duvidosa aos desonestos. Um filminho divertido que, se for apenas para passar o tempo, vale a pena assistir... 

sexta-feira, 4 de abril de 2014

O brasileiro merece ser estuprado

Pesquisa do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) mostra que 65% dos entrevistados concordam que “mulheres que mostram o corpo merecem ser atacadas” e para quase 60% acham que se as mulheres soubessem “se comportar” haveria menos estupros. Definitivamente, o brasileiro é um povo surreal. Vou dizer surreal para não dizer hipócrita! Ao mesmo tempo em que enaltecemos a beleza da mulher brasileira, realizamos um carnaval onde predominam peitos, bundas e roupas sumaríssimas e nas praias a mulheres vestem (vestem?) adereços com o nome sugestivo de “fio dental”, mais da metade de nós acredita que as nossas belas mulheres se comportam mal e por isso merecem ser estupradas.
Para protestar contra o resultado da pesquisa, a jornalista e escritora Nana Queiroz criou o grupo virtual “Eu não mereço ser estuprada” e passou a ser ameaçada de estupro. O cordial brasileiro não apenas pensa absurdamente, mas faz questão de mostrar, na prática, que os dados da pesquisa não estão errados. A hipocrisia brasileira não conhece limites, ela permite que “o homem cordial” aja como um povo de um país tropical liberal durante o carnaval e o verão, mas pense como um talibã afegão no restante do ano.
A dinâmica do raciocínio do brasileiro é uma incógnita. A culpa nunca é dele e da sua estupidez crônica! Se o Brasil é uma merda, a culpa um dia foi dos portugueses, depois dos Estados Unidos e do FMI e agora é da FIFA. Se há estupros no Brasil e não podemos culpar os portugueses, nem os EUA, nem a FIFA, então a culpa é das mulheres. Nada mais lógico (?)! É a lógica do “não sei por que estou te batendo, mas você sabe por que está apanhando”.
Brasileiro não vende seu voto, ele “rouba o político”. Depois fica reclamando quando o político dilapida o patrimônio público. Diante de tal raciocínio, não me resta alternativa a não ser propor o estupro mental do brasileiro. Quem sabe assim ele comece a raciocinar “para dentro” e consiga perceber que o inferno em que ele vive “não são os outros”, mas ele mesmo.
 

quarta-feira, 2 de abril de 2014

Elizabeth I (O anoitecer de um reinado) – Margareth George

Se eu tivesse que definir Elizabeth I (O anoitecer de um reinado), da norte-americana Margareth George, diria que é um livro que tinha tudo para ser bom, mas não é. O leitor atravessa quase 800 páginas esperando o romance “deslanchar”, mas isso não acontece. É um calhamaço de descrições monótonas dos passeios da rainha pelo interior da Inglaterra, de procissões e de festas da corte com seus salamaleques. Em alguns momentos o leitor chega a acreditar que a “coisa” vai, mas aí voltam as monótonas descrições dos rituais da nobreza.
O romance cobre os últimos quinze anos do reinado de Elizabeth I, a rainha virgem, como era conhecida, filha de Ana Bolena e Henrique VII, o rei que deu início à Reforma Anglicana, que rompeu os laços da Inglaterra com a Igreja Católica. A narrativa vai de 1588, quando a Inglaterra vivia a ameaça da invasão espanhola, que contava com o apoio da Igreja católica, até 1603, com a morte da monarca. Uma fase essencial para os ingleses, pois a postura da rainha foi de fundamental importância para a formação do país enquanto nação.
A edição brasileira adicionou um aspecto negativo à obra: os erros de revisão. São frases faltando palavras ou com palavras duplicadas. Erros grosseiros! Em alguns casos, acredito que houve erros de tradução, como nessa frase: “Prendi a respiração, permaneci imóvel, para que não me movesse e mandasse uma mensagem por engano”. A frase não ficou sem sentido, mas ficou estranha, poderia ser melhor.  Mas nem tudo é ruim no livro. As descrições dos “salamaleques” da corte permite ao leitor reconstituir a vida dos nobres na Inglaterra do século XVI. Mesmo assim, não recomendaria a leitura...