segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Cinema nacional: Kátia

Nascida José Nogueira Tapety Sobrinho, em Colônia do Piauí (PI), Kátia tornou-se a primeira travesti eleita para um cargo público no Brasil. Kátia ingressou na carreira política em 1992, quando foi eleita vereadora na sua cidade natal e reeleita outra duas vezes. Tornou-se vice-prefeita da cidade em 2004, cumprindo mandato até 2008. Nesse ano, tentou voltar para a Câmara de Vereadores, sem sucesso. Filha de uma família de políticos, Kátia viveu enclausurada em casa até os 16 anos, sem nem mesmo ir à escola, pois sua orientação sexual representava uma vergonha para a família.
Para fazer o documentário Kátia (2012), a cineasta piauiense Karla Holanda fez o primeiro contato com a personagem em 2007, por telefone. Em 2008, seguiu para Oeiras, onde vive Kátia e, com uma pequena Câmera, gravou algumas conversas, paisagens da região e ambientes familiares. Somente em 2010 voltou com uma equipe maior de filmagens para três encontros com sua personagem. O filme só foi concluído em março de 2012.
Dirigido por uma piauiense, filmado no Piauí e com uma personagem piauiense, o documentário mostra a força e a audácia de um travesti. Se nos grandes centros urbanos do país a vida de um travesti não é fácil, imagine no longínquo interior do Piauí. Para Kátia não foi fácil, mas as dificuldades do dia-a-dia não foram suficientes para impedi-la de representar aqueles que, como ela, briga contra o preconceito. Um filme (e uma lição) e tanto... 

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

J. M. Coetzee

John Maxwell Coetzee nasceu em 1940, na Cidade do Cabo, África do Sul, onde concluiu dois bacharelados, Língua Inglesa e matemática. Em 1962, mudou para a Inglaterra onde foi trabalhar como programador de computadores e fazer o doutorado, cuja tese foi sobre o novelista inglês Ford Madox Ford. Em 1968 foi morar nos Estados Unidos, trabalhando como professor de inglês na Universidade do Estado de Nova York, mas em 1971 teve seu visto de residência negado pelo governo americano em virtude de sua participação em manifestações contra a Guerra do Vietnã, regressando à África do Sul para trabalhar na Universidade da Cidade do Cabo, onde ficou até 2000. Em 2002, emigrou para a Austrália e foi lecionar na Universidade de Adelaide.
Sua carreira literária começa em 1969, quando ainda morava nos EUA, com Terras de sombras, que só foi publicado na África do Sul cinco anos depois. Em 2003, foi agraciado com o prêmio máximo da esfera literária, O Nobel de Literatura, por sua luta contra o regime de segregação racial no seu país natal. Antes disso, tinha sido o primeiro escritor a ganhar duas vezes o Booker Prize, o maior prêmio literário em língua inglesa, por O cio da terra: Vida e época de Michael K., em 1983, e por Desonra, em 1999. Coetzee tem vários títulos de doutor Honoris Causa por várias universidades, além de ser comparado aos grandes escritores do século XX.
Nas próximas quatro quartas-feiras, esse blog estará falando sobre quatro obras de J.M. Coetzee: Terras de sombras, de 1974; O cio da terra: vida e época de Michael K., de 1983; A idade do ferro, de 1990; e Desonra, de 1999, destes, o mais genial.   

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Manifesto do nada na terra do nunca – Lobão

Quando li a repercussão do livro Manifesto do nada na terra do nunca, de Lobão, imaginei que o livro era uma bomba, afinal, o autor é conhecido por ser uma metralhadora verborrágica. Mas fui traído pela minha própria expectativa. Não que o livro seja ruim, mas eu esperava mais “bombas” levando em conta a indignação de “alvos” de Lobão, como Mano Brown, do Racionais MC’s. É certo que lobão não perdeu sua veia polêmica, mas o que ele fala é do conhecimento público, apenas a imprensa e o mundo artístico evitam falar em nome do famigerado “politicamente correto”.
No primeiro capítulo, intitulado A terra do nunca, Lobão critica a o mundo artístico, entre eles Gonzaguinha (“Uma das figuras mais insuportáveis da nossa MPB”) por suas músicas politicamente engajadas e seus “sambões maníaco-depressivos”; Racionais MC’s, a quem chama de “ridícula caricatura” da doutrina petista, com seus “clichês anacrônicos”, um “idiota útil”; Roberto Carlos, “que era genial e virou uma múmia deprimida”; e Gilberto Gil e Paula Lavigne, o “rei” e a “rainha” da Lei Rouanet, por pedirem muito dinheiro para Ministério da Cultura para seus projetos. Lobão fala que a MPB era elitista e não popular, os artistas verdadeiramente populares nunca fizeram parte do movimento. Sou obrigado a concordar com ele...
No terceiro capítulo, Vamos assassinar a presidenta da República?, Lobão faz críticas à nossa governante por sua participação na guerrilha armada durante a ditadura militar, no que eu discordo, já que vivíamos uma guerra civil e os dois lados brigavam para ocupar o mesmo espaço. Mas concordo plenamente com ele quando crítica a chamada Comissão da Verdade que quer investigar os crimes cometidos pelos militares, mas se recusa a investigar os crimes cometidos pelo outro lado, o lado em que estava a atual presidente.
Há capítulos, como Um pequeno mergulho no mundo sertanejo universitário (acidentalmente gonzo), O reacionário e Viagem ao coração do Brasil, que poderiam ser utilizados em uma extensão da sua biografia. Mas são muito engraçados, como Um pequeno mergulho..., em que ele conta como a cobertura de um evento sertanejo se tornou o fim da linha para a sua participação no programa A Liga, da Rede Bandeirantes.
No capítulo Por que o rock continua errando?, Lobão fala sobre o curioso caso do Festival Lollapaloosa, quando se recusou a tocar por que colocaram seu show às duas da tarde. Se sentindo diminuído, gravou um vídeo e postou no youtube convocando todos a boicotarem o festival. Não deu certo. Nesse caso, concordo com a organização do festival. O Lobão dos anos 80 era digno de tocar em horário “nobre” de qualquer festival, depois que começou a fazer músicas “intelectualóides”, nem tocando às dez da manhã.
Hoje, prefiro o Lobão escritor: polêmico, com seus argumentos bem fundamentados e sua acidez insuperável. Um livro imperdível para quem quer conhecer o pensamento de quem conhece bem os bastidores do universo artístico brasileiro e fala o que pensa. 


segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Cinema nacional: Zé Ramalho – O herdeiro de Avôhai

José Ramalho Neto ou, simplesmente, Zé ramalho é daqueles compositores e cantores cujas músicas, compostas há décadas, ultrapassam gerações, nunca saem da memória do público, independente da idade. Uma prova disso foi o dueto que o artista fez com a banda de heavy metal Sepultura no rock in Rio, que passou a ser chamado, carinhosamente de ”Zepultura”. Quem poderia imaginar que aquele sertanejo de voz possante, cujas músicas remetem à MPB, daria certo num dueto com os “metaleiros”? Mas deu!  
É por essa versatilidade, entre outras coisas, que torna-se justa a homenagem que o jornalista e documentarista paraibano Elinaldo Rodrigues faz no seu documentário Zé Ramalho: o herdeiro de Avôhai, lançado em 2009. Com 126 minutos, o filme cobre a trajetória de Zé Ramalho de Brejo do Cruz, no sertão da Paraíba, onde nasceu, até o sucesso nacional, depois de passar por Campina Grande e João pessoa. O filme também pontua as várias influências do artista, desde a cultura popular nordestina até o rock inglês.
A entrevista com Zé Ramalho, que serve de guia para o documentário, foi feita no teatro Santa Roza, em João Pessoa, com o artista pontuando todas as fases da sua carreira e fatos de sua vida pessoal, como os três casamentos, o envolvimento com drogas e as dificuldades quando  chegou ao Rio de Janeiro, nos anos 70.  Estão presentes no documentário, depoimentos de amigos da época do início da carreira, como Alceu Valença, Geraldo Azevedo e Elba Ramalho. Uma bela homenagem a essa artista visionário que encanta a todos com sua voz e sua criatividade...

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

A luz no fim das trevas

Nesse mesmo espaço, quando da sua visita ao Brasil, em julho, falei que tinha sido seduzido pelo papa Francisco. Reitero o que disse: o papa Francisco me seduziu naquela ocasião e tem me seduzido cada vez mais com suas posições claras, objetivas, tolerantes e humildes. Num ambiente marcado pela intolerância, onde cada um se declara detentor da verdade absoluta e exclusivo representante divino no reino terrestre, onde uma demencial soberba não permite que se encare a verdade como algo subjetivo, as posições que Francisco tem assumido representam um acalanto.
Numa carta aberta direcionada ao fundador do jornal La Repubblica, Eugenio Scalfari, que não é católico, Francisco afirma que os não crentes serão salvos se agirem conforme as suas consciências na conduta de vida. É a segunda vez que o papa faz essa afirmação. Na primeira vez, meses atrás, ele foi contrariado pela Igreja Católica através de um comunicado. Lembro-me do papa Bento XVI, logo após assumir seu pontífice, deixar bem claro, sem meias palavras, que a única forma de salvação era através da Igreja católica, que a verdade somente seria encontrada dentro da Igreja católica.
Naturalmente que isso não fará nenhuma diferença na vida daqueles que, como eu, são ateus. Não me tornarei católico, nem mesmo cristão. Mas é simbólico! Simboliza uma possibilidade de diálogo com outros credos (ou com a ausência deles), significa respeito aos que não compartilham da mesma opinião que ele. Um bom exemplo para outros lideres religiosos, cristãos ou não. O papa Francisco mostra, com sua humildade e tolerância, que pode ser a luz no fim das trevas. 

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

49 contos de Tennessee Williams

O escritor norte americano Tennessee Williams (1911-1983) é mais conhecido pelas peças de teatro, principalmente Um bonde chamado desejo, de 1947, adaptada ao cinema, em 1951, pelo diretor Elia Kazan, estrelada por Marlon Brando e Vivien Leigh, que fez dele um dos mais brilhantes dramaturgos dos Estados Unidos.  Mas Williams não nos deixou apenas peças de teatro, nos deixou também uma vasta obra de ficção curta, publicada pela Companhia das Letras em 49 contos de Tennessee Williams.
O prefácio, O homem da poltrona estofada, é uma nota autobiográfica de Tennessee em que ele esclarece muitas das suas obsessões temáticas. Na introdução, o escritor Gore Vidal divide os contos de Tennessee em quatro grupos: o primeiro deles inclui as narrativas escritas antes de 1941, destaque para A vingança de Nitócris, escrito quando o autor tinha apenas dezessete anos; e Alguma coisa de Tolstói, a história de um livreiro abandonado pela mulher. O segundo grupo inclui os contos escritos entre 1941 e 1945, período em que Tennessee se transforma num dramaturgo bem sucedido e foi viver em Hollywood. Destaque para Uma moça em vidro, que serviu de esboço para a sua primeira peça, À margem da vida.
O terceiro grupo são contos escritos entre 1945 e 1952, considerada a sua melhor fase, quando todas as suas ideias estavam em forma de contos ou nos palcos. Destaque para Dois na gandaia, onde os personagens, Dora e Billy, vivem uma vida desregrada regada a álcool e aventuras amorosas. O último grupo reúne os contos que Tennessee escreveu a partir de 1953, período em que teve dificuldades de encenar seus textos. Destaque para Andanças de um cavaleiro, em que um jovem, ao retornar para sua cidade natal, encontra dificuldades de relacionamentos com a sua família e com a sociedade.
Embora se diga que os contos de Tennessee nada mais eram do que esboços para sua composição dramatúrgica (nove dos 49 contos do livro deram origem a peças de teatro), isso em nada diminui a importância dessa parte de sua obra. É um livro fantástico, em que o autor tem como matéria-prima a alma humana e como objetivo compreender o mundo em que vivia. 

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Cinema nacional: Totalmente inocentes

O único compromisso de Totalmente inocentes é com o riso. Não espere outra coisa do filme. Lançado em 2012, com uma produção orçada em R$ 3,5 milhões, dirigido e roteirizado por Rodrigo Bittencourt, o filme é uma sátira à grandes produções nacionais, como Tropa de elite  e Cidade de Deus. Na verdade, não é apenas uma sátira, é um esculacho. É puro besteirol, mas é bom, pelo menos para relaxar.
O branquelo Do Morro (Fábio Porchat) toma o poder na comunidade DDC do travesti Diaba Loira (Kiko Mascarenhas) e passa a comandar o tráfico de drogas na região. Do Morro é apaixonado por Gildinha (Mariana Rios), que também é a paixão do adolescente Da Fé (Lucas de Jesus). Para impressionar a sua musa, Da Fé sonha, junto com seus amigos Bracinho (Gleison Silva) e Torrado (Carlos Evandro), todos sem nenhuma vocação para o crime, em tomar o poder no morro.
Tudo não passaria de um devaneio inocente de adolescentes se não fosse a ação desastrosa do desastrado repórter Wanderlei (Fábio Assumpção) que, para impressionar sua chefe na revista “taras e tiros”, forja uma capa com os três adolescentes como “os novos donos do morro”. É uma bela comédia para rir muito. E somente para isso...  

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Bienal do livro do Rio de Janeiro

Homenageando a Alemanha, que devolverá a homenagem na Feira de Frankfurt, em outubro, a 16ª edição da Bienal do Livro do Rio de Janeiro que terminou no último domingo, 08 de setembro, superou as expectativas dos organizadores. Comemorando 30 anos do evento, a organização estimava um público de 600 mil pessoas, para quem seriam vendidos 2,5 milhões de exemplares. Compareceram 660 mil pessoas (100 mil era professores) que compraram 3,5 milhões de livros.
Se na Bienal de São Paulo, em 2012, predominaram os livros eróticos, no Rio a predominância foi dos infanto-juvenis. As editoras faturaram R$ 71 milhões, R$ 20 milhões a mais do que a arrecadação da última Bienal, em 2011. Cada visitante comprou, em média, seis livros a um custo médio de R$ 20, cada exemplar. E as boas notícias não param por aí: segundo os organizadores, 51% dos visitantes tinham entre 15 e 29 anos, ou seja, são novos leitores que entram no mercado.
Espero que os números apresentado pela coordenação da Bienal do Rio sejam alvissareiros para o mercado editorial. A expectativa é que vendendo mais, é possível baratear cada vez mais os preços dos livros. A consequência disso é cada vez mais o aumento do número de leitores no país. Com isso, ganham as editoras e ganha o Brasil...

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Um estranho no ninho – Ken Kesey

O escritor norte americano Ken Kesey nasceu em 1935, no estado do colorado, e faleceu em 2001, no estado do Oregon. Em 1962, era um ilustre desconhecido até publicar Um estranho no ninho, baseado em suas experiências com drogas, quando participou como voluntário de pesquisas com substâncias psicoativas (LSD e mescalina) em um centro psiquiátrico para veteranos de guerra. O sucesso do livro foi tão grande que ofuscou os livros que Kesey escreveu posteriormente, mas transformou-o no elo entre a contracultura Beat e o surgimento do movimento hippie dos anos 60  e seu livro num clássico do movimento da contracultura. 
Narrado em primeira pessoa pelo Chefe Bromden, um índio do colorado que estava internado como indigente e que se fazia de surdo para escutar todas as histórias dentro do sanatório. (“Eu tinha que continuar fingindo que era surdo, se quisesse continuar a ouvir”.). Na enfermaria em que estava Bromdem, tudo funcionava de forma inalterada dia após dia, conforme determinava a enfermeira-chefe do local, Mildred Ratched, a “chefona”, uma profissional fria, calculista e manipuladora.
Até que chega ao local R. P. McMurphy, um criminoso comum, fanfarrão e cínico que simula loucura para fugir dos trabalhos forçados na colônia penal. McMurphy passa a liderar os internos e desafiar a autoridade da “chefona”, tentando mudar a todo instante as regras estabelecidas, a ponto dos dois se tornarem inimigos viscerais. Apesar de muitas atitudes repreensíveis, McMurphy nos mostra que pensar diferente e mostrar os erros do sistema, faz do sujeito uma ameaça a quem detém o poder.  Em 1975, o livro foi adaptado para o cinema por Milos Forman e estrelado por Jack Nicholson.    

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Cinema nacional: Cabeça a prêmio

Filme brasileiro de gangster sempre parece caricato. Talvez o problema esteja em mim, que não estou habituado a ver esse tipo de produção por essas paragens. Foi assim que vi Cabeça a prêmio (2009), primeiro filme como diretor de Marco Ricca, que também roteirizou, ao lado de Felipe Braga. Marçal Aquino, autor do romance homônimo, assessorou no roteiro. O filme se passa em algum lugar perdido na fronteira do Brasil com a Bolívia e tem todos os personagens necessários para um filme de bandidos (no caso em questão, não há mocinhos): traficantes, pistoleiros, latifundiários, prostitutas de beira de estrada, pilotos que levam mercadorias ilícitas.
Miro (Fulvio Stefanini) é um latifundiário criminoso líder da família Menezes, casado com Jussara (Ana Braga) e pai de Elaine (Alice Braga). Elaine tem um caso com o piloto do pai, Denis (Daniel Hendler), que é assediado e chantageado por Abílio (Otávio Muller), o irmão problema que vive na sombra de Miro. Para proteger toda a família e resolver seus “problemas”, Miro usa os pistoleiros Albano (Cassio Gabus Mendes) e Brito (Eduardo Moscovis). O foco é a relação entre Miro e Elaine, marcada pela superproteção e pelo ciúme do pai e pelo desconhecimento da origem do luxo em que vive por Elaine.
Correndo em paralelo, temos o drama da relação entre Brito, o capanga, e Marlene (Via Negromonte), dona de um bar. Ambos disputam o controle da relação e Brito vive na fronteira entre seu instinto matador e o amor por Marlene. Curiosamente, as duas relações (Elaine/Denis e Brito/Marlene) nunca atingem a plenitude. Não por causa de um obstáculo ou outro, mas existência naquele ambiente marginal restringe as emoções humanas. Só assim para percebermos as semelhanças entre Elaine e Brito, duas pessoas que vagam pela vida sem saber exatamente para onde estão indo.
A minha falta de hábito em ver produções brasileiras com gangster não tira o mérito do filme de Ricca. Com um deslize aqui e outro ali, o filme tem qualidades.  Com um dos finais mais intensos que vi, Cabeça a prêmio nos deixa pensando no que pode ter acontecido depois que o filme acabou... 

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

O plano infinito - Isabel Allende

Sou assumidamente fã da escritora chilena Isabel Allende. Li quase todos os seus livros, exceção feita aos infantis, gênero que não me trai. E tanto nos romances, como nos contos e nas memórias, Isabel Allende se caracteriza pela escrita fácil que prende o leitor. Não é diferente de O Plano Infinito, sexto livro da escritora, lançado em 1993, e o primeiro a ter como cenário os Estados Unidos e seus personagens tipicamente americanos.  Está longe do primor de A casa dos espíritos, de 1982, ou da sensibilidade de Os cadernos de Maya, de 2011, mas é uma obra que merece a atenção do leitor.
Gregory Reeves é filho de um pregador lunático e errante do Plano Infinito (religião? Filosofia? Os dois? Ou nenhuma dos dois?) e de uma mãe fria e distante. Depois da morte do pai, a família, a mãe e a irmã de Reeves e Olga, uma amiga da família, se estabelecem numa comunidade hispânica na Califórnia. Lá encontrará aqueles que lhe servirão de exemplos: Pedro e Imaculada Morales; Carmen Morales, que será sua amiga por toda a vida; e Juan José, que compartilhará com ele as experiências de morte no Vietnã.
Ao longo da vida, Reeves irá se relacionar com os mais variados tipos de pessoas, que de alguma forma irão influenciá-lo na formação do seu próprio Plano Infinito: Martínez, líder da gangue da escola, que o introduz de forma traumática no pesadelo do sexo; Olga, que lhe mostrará o lado bom do sexo; o negro King Benedict, que sofre de amnésia e será cliente de Reeves; Cyrus, um velho intelectual comunista que lhe inspira o senso de justiça social; Joan e Susan, feministas e vegetarianas, que mostrou a Reeves um novo conceito de família; Margaret, a filha drogada e rebelde; entre outros.
Plano Infinito mostra Isabel Allende com a mesma sensibilidade vista nas suas obras de memórias, como Paula e A soma dos dias, só que numa obra de ficção. Uma obra que mostra um homem na busca do amor, da amizade e de si mesmo. Apesar de denso, é um livro fácil de ler...   

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Cinema nacional: A cartomante

Um triângulo amoroso e, servindo de elo entre as três partes do triângulo, uma analista acima de qualquer suspeita. Esse é o ponto de partida de A cartomante (2002), dirigido por Wagner de Assis e Pablo Uranga, com roteiro de Wagner de Assis adaptado de um conto de machado de Assis. Rita (Débora Secco), paciente da Dra. Antônia (Silvia Pfeifer), é noiva de Vilela (Ilya São Paulo), que é colega de trabalho da Dra. Antônia, mas é apaixonada por Camilo (Luigi Baricelli), melhor amigo de Vilela e também paciente da Dra. Antônia.
Rita é uma jovem ingênua e romântica, noiva do ambicioso e competente médico Vilela. Certa noite, o Bad Boy Camilo, fica entre a vida e a morte e é salvo pelo amigo Vilela. Rita e Camilo se conhecem e se apaixonam durante uma visita de agradecimento que Camilo fez ao amigo. Em dúvida entre seguir o que manda o coração e o relacionamento seguro, Rita vai a uma cartomante para tentar descobrir o que o destino lhe reserva. Mas os conselhos da mulher mística são totalmente diferentes dos que Rita ouve da analista.
Os três personagens do triângulo oscilam entre o místico e o racional, entre livre arbítrio e fatos irremediáveis, e, no meio deles, a médica Antônia tenta interferir nas suas decisões. O longa de Wagner de Assis se propõe discutir se existe a coincidência ou se o que acontece nas nossas vidas é fruto do destino. Um bom filme...