sábado, 10 de dezembro de 2011

Nunca lhe apareci de branco

Durante os seus 56 anos de vida, a poeta americana não publicou mais do que dez poemas, alguns deles anonimamente. A sua obra só foi (re)conhecida após a sua morte. Sua vida discreta e misteriosa até hoje intriga os estudiosos. Em sua enigmática literatura, criou um idioma poético próprio, desprezando fórmulas e convenções. Tudo o que se sabe da vida de Emily Dickinson tem como fonte a correspondência que ela manteve com algumas pessoas. Nessas cartas, além de falar do seu cotidiano, havia também alguns poemas. Estima-se que Dickinson tenha escrito mais de 1.800 poemas, a maioria deles entre 1860 e 1870. A poeta morreu em 1886, em Amherst, Massachusetts.

Acabei de ler Nunca lhe apareci de branco, um romance epistolar da vida de Emily Dickinson, escrito pela biógrafa Judith Farr. A autora reuniu sessenta e seis cartas da poeta e de pessoas próximas, algumas reais, outras não e, através delas, revelou o mundo emocional de Emiliy, descrito por ela mesma e pelo vários personagens que aparece no livro. É indiscutível a perplexidade que Emily, através da sua produção e do seu comportamento, despertava. As cartas revelam as mil facetas da poeta. Algumas claramente, outras de forma velada. Cabe ao leitor decifrá-las e construir o perfil da verdadeira Emily Dickinson.

Por coincidência, enquanto lia o livro de Farr, deparei-me com o texto de Sérgio Rodrigues na VEJA on line, E-mail não tem eu lírico, onde o cronista nos coloca uma questão: em que buracos de fechadura irão os críticos e historiadores culturais do futuro bisbilhotar a intimidade dos escritores atuais, agora que a boa e velha carta é um gênero praticamente morto? Era comum entre intelectuais, até o advento da internet, a troca de cartas para tratar dos mais diversos assuntos, da discussão de idéias a conversas cotidianas. Essa correspondência servia de documento para pesquisas posteriores, como é o caso do livro de Farr. O e-mail, tecnicamente o sucessor das missivas, é volátil e facilmente se perde nos descaminhos da tecnologia. Será o fim do romance epistolar?

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