quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Os meus cem anos

Vou viver cem anos. Pelo menos pretendo. Não canso de alardear que não morrerei antes dos cem. Não quero nem saber se cem é número cabalístico ou coisa do tipo. O que me importa é viver até lá. Não que seja uma obsessão. Não é. É uma convicção! Sou um cara esclarecido e sei que encontrarei alguns obstáculos, é certo, mas nada que não possa ser transposto. Tenho um sobrinho médico, o Leonardo, que diante da minha determinação de viver até os três dígitos, resolveu me dá uns conselhos. Adianto desde já que, se eu for seguir os conselhos dele, já estou lá.

Sentou do meu lado com aquele ar sério de médico conversando com paciente. Ri por dentro. Pensei: Um dia desse era um fedelho que mal tinha cabelo no saco e agora vem me dá conselhos. Mas numa boa, vamos lá.

Ele me disse que o primeiro passo é parar de fumar, pois o tabaco, segundo ele, mata três milhões de pessoas por ano no mundo. Estou fora. Não do cigarro, mas dos três milhões. Não faço parte deles. Quando era menino, tinha um tio chamado Quirino, que não bebia nem fumava. Morreu antes dos trinta de uma chifrada de uma vaca. Eu não tenho vaca! O segundo passo, segundo ele, é usar fio dental, pois 78% dos casos de endocardites são causadas pela falta de limpeza dos dentes. Dei uma gargalhada.

- Meu filho, eu uso dentadura. Disso eu não morro. O próximo!

- Que tal parar de beber, tio? –

- Meu filho, você já falou do meu cigarrinho. Se eu parar de fumar e de beber, os poucos prazeres que ainda tenho, eu vou querer viver até os cem anos para que? Vamos em frente!

- Casar é bom, tio. - Prosseguiu ele na sua ladainha. – Com esse item, pelo menos, o senhor não precisa se preocupar.

Segundo o Dr. Leonardo, meu sobrinho, os solteiros estão cinco vezes mais expostos a doenças infecciosas e violência. Sem contar que tem 38% a mais de chances de morrer do coração. Meu sobrinho querido, disse eu, a sua tia, a minha querida Odete, com quem estou casado há 30 anos, já quase me matou bem mais do que cinco vezes. Principalmente quando vamos ao supermercado e ela quer trazer até a pobre da caixa pra casa. O próximo!

Ele ainda me disse que tenho que ser otimista sempre. O otimismo evita doenças como a depressão. Respondi na bucha:

- Mas eu sou otimista, meu filho. Acredito piamente que a sua tia vai morrer primeiro do que eu. O próximo!

Exercícios físicos. Pô, Dr. Leonardo! Na minha idade só me resta caminhar. E caminhar sem chegar a lugar nenhum é coisa de doido. Mas eu vou tentar. O próximo!

- Ir para igreja, tio. Dizem que aumenta de dois a três anos a vida do sujeito.

- Posso viver até os 97, meu filho. O próximo. – Falei meio desanimado.

Ele me falou que sexo é bom. Isso eu sei, meu filho, falei para ele com ar de especialista e com o ânimo repentinamente renovado.

- Ejacular duas vezes por semana – Continuou ele – evita problemas de próstata e prolonga a vida nuns 10 anos. Abri um sorriso:

- Depois de trinta anos de casamento, a D. Odete já não colabora muito, meu filho. – Falei – Mas se contar as punhetas que bati quando menino tenho crédito. Eu chego aos duzentos lépido e faceiro.

Conclusão: somando daqui, subtraindo dali, dividindo acolá e multiplicando mais na frente, chegarei com folga aos cem anos.

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