segunda-feira, 13 de agosto de 2012

O caso da testemunha “amiga” *


A procuradora da reclamada adentrou na sala de audiências “carregando” a testemunha a tiracolo. Via-se perfeitamente que esta se encontrava ali a contragosto – muito a contragosto, alias - e com pouquíssima disposição para colaborar na elucidação e na aplicação da justiça. Noutras palavras: ela não queria depor e carregava consigo uma “tromba” imensa.
Daí a pouco, chegada a hora da audiência, fizeram-na entrar igualmente a contragosto na sala e sentar-se ainda mais a contragosto à direita do juiz, como manda o figurino e a disposição dos móveis na sala.
Deu-se início então ao interrogatório da vítima, isto é, daquela testemunha renitente:
- O senhor tem algum interesse nessa ação?
- Não, nenhum.
- É amigo ou inimigo de alguma pessoa presente nesta sala?
- Ham? Não... quer dizer, sim. Não e sim...
- Ué, mas como assim? Como é que o senhor pode ser amigo e inimigo?
- Bem... Não, por que não sou inimigo de ninguém aqui presente. E, sim, por que sou amigo.
- É amigo?
- Sim!
- É amigo! – disse o juiz não se dirigindo a ninguém em especial, mas lançando um olhar esclarecedor sobre a procuradora que houvera trazido a testemunha.
- Está vendo, doutora. A sua testemunha é amigo, disse o juiz já neste momento se dirigindo especialmente para a advogada.
- Mas se o senhor é amigo – tornou o juiz agora na direção da testemunha – possivelmente o seu depoimento não vai servir.

Virando-se novamente para a testemunha, prosseguiu o interrogatório:

- É possível que o senhor “puxe” o seu depoimento para um dos lados. De preferência para o lado daquele de quem é amigo, não é!?

A testemunha continuava calada. Calada e a contragosto.

- Mas me diga: afinal, o senhor é amigo de quem – perguntou o juiz – É amigo do reclamante ou do dono da empresa? Quem é seu amigo nesta sala?
- Bem, doutor, eu... eu sou amigo... sou amigo... ora, sou amigo de todo mundo aqui! Na verdade não há uma única pessoa nesta sala que eu desgoste ou não admire! Isto mesmo: sou amigo de todos e todos são meus amigos. Sou amigo do Zé Ronaldo (o reclamante) e do Dr. Marco Túlio (o dono da firma). E se bobear, seu juiz, no final das contas posso até me tornar amigo do senhor também. Pois então: tais afim? topas...?


* Luís Antônio Matias Soares

Um comentário:

  1. Venho agradecer a postagem e a divulgação dos meus textos, Alexandre. Ótima semana para todos. Atenciosamente, Luís Antônio Matias Soares.

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