quinta-feira, 2 de agosto de 2012

E.F.M.M. – 100 ANOS


Ontem, 01 de agosto de 2012, a Estrada de Ferro Madeira-Mamoré completou cem anos. No entanto, a história dessa ferrovia remonta ao ano de 1846, quando o engenheiro boliviano José Augustin Palácios convenceu o governo do seu país de que a melhor saída de seu país para o Atlântico seria pela Amazônia. No entanto, as duas tentativas de construir a ferrovia no século XIX, em 1872 e em 1879, não deram certo. Os motivos foram as dificuldades do terreno, a distância, que dificultava o abastecimento, as doenças e a hostilidade dos indígenas, que atacavam os trabalhadores.
A terceira tentativa ocorre no início do século XX. Após a assinatura do Tratado de Petrópolis (1903), o Brasil se compromete com a Bolívia em construir uma ferrovia que atravesse o trecho encachoeirado do rio Madeira, entre Porto Velho e Guajará-Mirim, para que os bolivianos pudessem escoar seus produtos sem colocar em risco a vida dos comerciantes daquele país, um total de mais de 360 KM. As obras começam em julho de 1907, realizadas pela empresa Madeira-Mamoré Railway Company, do norte-americano Percival Farquhar.
Essa terceira tentativa de construção da ferrovia enfrentou as mesmas dificuldades das tentativas anteriores, no século XIX, que dobrou seu custo. De acordo com o jornalista Manoel Rodrigues Ferreira, autor de A Ferrovia do diabo, um dos livros mais importante sobre o tema, o contrato previa um pagamento final de $ 41.543 contos de réis. No entanto, a empresa construtora totalizava seus gastos em $ 96.690 contos de réis. Depois de uma longa discussão, o governo brasileiro pagou à M.M.R.C $  62.000 contos de réis, o suficiente para comprar, na época, 28 toneladas de ouro.
Ainda de acordo com a mesma fonte, vieram para a região 21. 783 trabalhadores de várias nacionalidades, inclusive brasileiros. Reza a lenda que cada dormente da ferrovia representa a vida de um trabalhador morto. Lenda mesmo! Eram 549.00 dormentes, para atingir esse total de mortos, seria necessário morrer 300 trabalhadores por dia. O que não aconteceu. Pelos dados oficiais, morreram nos cinco anos de contração, 1.552 trabalhadores. Para Manoel Rodrigues Ferreira seria necessário multiplicar esse número por 4 para chegar próximo ao número real de mortos, ou seja, algo em torno de 6.200 óbitos.
A ferrovia foi inaugurada em 01 de agosto de 1912, ligando o nada ao lugar nenhum. Foi uma obra inócua. Explico: quando da sua inauguração, o primeiro ciclo da borracha estava em franca decadência, o preço do produto caía enquanto o frete cobrado na ferrovia aumentava. Para os produtores de borracha, era mais lucrativo continuar trazendo seus produtos de barco. Por erro de cálculos e fatalidade histórica, a E.F.M.M. passou a ser, desde o seu primeiro dia de atividade, somente um monumento histórico.  

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