segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Reflexões de um adolescente quase sessentão

Sou um ciclotímico em tempo integral. Meus amigos preferem dizer que sou bipolar. Alterno estados de melancolia e euforia, agressividade e fraternidade, vontade de amar e ser amado e medo do contato humano, principalmente feminino. Mas o que mais chama a atenção de quem não me conhece é alternância de idade. Há momentos em que pareço ter a idade que realmente tenho, compartilhando da amizade de senhores da minha geração e conversas condizentes.

Mas também sou um jovem de 20 anos, no máximo. Adoro rock, tatuagens e namoradas jovens. A minha tem 22 anos, Jéssica, quase um terço da minha idade. A minha filha mais nova é um ano mais velha.

Mas estou sempre aberto às grandes efusões do amor e da amizade. Independente da idade!

- Meu garotão! – costuma dizer ela para mim.

Meus amigos dizem que a frase é ridícula e que ela só quer o meu dinheiro. Pra mim soa como música, mesmo por que não tenho dinheiro.

Uma geração não se faz de idades e sim de afinidades. Pertenço à geração dos mais jovens apesar de está na geração dos mais velhos. Tenho mais afinidades com Jéssica do que com a mãe dos meus filhos, que tem quase a minha idade. Vivi vinte eternos anos num casamento que já nasceu velho. Jéssica fez nascer em mim o espírito báquico.

- Você é um velho gagá que quer ser jovem – é o que mais escuto, inclusive dos meus filhos.

- A forma como você vive é uma forma de fugir da solidão – essa é a frase preferida do meu filho mais velho. Não sabe ele, e não serei eu que irei dizer que vivi 20 anos de completa solidão enquanto fui casado com a mãe dele. Onde a única aproximação possível era através do sexo mecânico e reprodutivo.

Não sou um homem alto, tenho 1,75 m e a pele curtida pelo sol. A genética me foi generosa, não permitindo mais do que uns poucos cabelos brancos na minha ondulada cabeleira e não aparento mais do que 50 anos. Mesmo assim fui obrigado, em mais de uma dúzia de vezes, a esclarecer que Jéssica não é minha filha.

As pessoas quando me vêem pela primeira vez se surpreendem em ver um quase sessentão com uma enorme argola no lóbulo esquerdo e pelo menos meia dúzia de tatuagens espalhadas pelo corpo. Não costumo vestir roupas sociais, somente em ocasiões muito especiais. Prefiro o estilo esportivo. Estou sempre de bermuda ou jeans e tênis.

- Por que ela está comigo? – já me flagrei perguntando algumas vezes.

Jéssica estuda jornalismo e está em contato com dezenas de belos jovens que gostariam de namorá-la. No entanto, ela está comigo. Com esse “velho gagá”. Como já disse, não tenho dinheiro. Então devo ter algo que a prende.

A idade não me permite maratonas sexuais. Então não nos preocupamos com a freqüência com que fazemos sexo, mas com a forma. Fazemos amor com desenvoltura, cheio de elementos mágicos, deixando fluir todas as nossas fantasias, vivendo num mundo dionisíaco que só a nós pertence.

Costumamos sair com freqüência com os amigos dela da faculdade. Percebo um embaraço mal disfarçado por parte deles em compartilhar a noitada com um sujeito que está beirando a terceira idade. Confesso que às vezes me sinto ridículo tentando ficar e deixá-los à vontade.

- Oi, tio. – era dessa forma que me cumprimentavam no inicio.

Percebi que enfrentaria uma maratona para ser aceito entre eles. Tenho conseguido resultados satisfatórios. Resultados melhores do que entre os meus filhos, que tem a mesma idade que eles.

Estou em meu apartamento esperando Jéssica. Sei que aqui temos a mesma idade.

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