Laicismo: ausência do caráter religioso. O Brasil vive uma crise de identidade quando o assunto é a relação entre o laicismo do Estado e a religiosidade do seu povo. A diferença entre o que está na lei e a prática é gritante. O país é laico, de acordo com a Constituição Federal, mas o calendário não é. Existe o feriado no dia da padroeira do Brasil e as cidades feriam no dia das suas respectivas padroeiras. Vários estados adotaram o feriado do dia do evangélico em seus calendários. O país é laico, mas há ensino religioso na grade curricular das escolas públicas. O país é laico, mas as cédulas de real saem do Banco Central com a frase “Deus seja louvado”, impressa em uma das suas faces.
A decisão do diretor do Hospital Regional do Agreste (HRA), em Caruaru, fez valer as prerrogativas de um Estado laico constante na Constituição Federal: proibiu os religiosos de realizarem pregações ou orações em grupo nas enfermarias ou corredores da unidade. Segundo o diretor do hospital, José Bezerra, quem quiser orar utilize o local apropriado para isso: a capela ecumênica do hospital, aberta a todos que queiram utilizá-la. Está certíssimo! José Bezerra recebeu o apoio do presidente da Associação Interreligiosa do Agreste, o padre Everaldo Fernandes, que não entende a decisão como uma violação à liberdade religiosa,mas um respeito ao ecumenismo religioso e aos princípios éticos da religião.
É necessário discutir e rever os princípios éticos na religião. A prática de algumas pessoas nessa área vai de encontro ao que se espera de uma postura religiosa: introspecção, reflexão, serenidade e recolhimento. Impera a teatralidade e a gritaria no afã desesperado de trair novos fiéis. Compreende-se que quem está padecendo de uma enfermidade, muitas vezes, necessita de apoio espiritual, porém esse apoio tem que ser empenhado obedecendo a princípios éticos pré estabelecidos. Princípios condizentes com um Estado laico, de respeito à diversidade religiosa e à ausência de espiritualidade. Quando teremos o dia do judeu? E dia do ateu? E o dia do Candomblé?
Para sermos mais corretos, em termos conceituais, é preciso revermos os princípios morais. São eles que determinam a ética. A ética é, tão somente, o meu agir, em relação ao outro. E o meu agir é determinado pelos princípios morais que desenvolvo, construo, e reconstruo, cotidianamente.
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