quinta-feira, 3 de março de 2011

O prazer perverso contra o mau gosto

Quando estou no trânsito, gosto de observar, com um prazer perverso, o que os outros motoristas estampam nos vidros dos seus carros. Tanto no vidro dianteiro como traseiro. E tem de tudo: nome dos filhos, do marido ou da esposa, frases religiosas (alguns chegam a estampar enormes passagens da Bíblia). Digo que o meu prazer é perverso por achar de um mau gosto colossal. E o mau gosto não está apenas no ato de colocar nomes e frases nos vidros dos carros. Os nomes e frases são de um mau gosto de ruborizar Elke Maravilha. Não basta colocar a frase ou o nome, eles têm de ser de gosto duvidoso.

E quando se trata de nomes de filhos, aí a coisa desanda. É uma proliferação de letras e sons que não tem fim. São Wallysson, Keverson, Marlisson, stephânnya estampados nos vidros. Pobres crianças! Levarão uns dez anos para se alfabetizarem, nove dos quais gastos para aprender a escrever o próprio nome. Alguns chegam a estampar o foto do rebento. O consolo, nesse caso, é que nos poupa de apreciar o nome da criaturinha. O mais comovente são as frases de amor à amada ou ao amado. “eu amo Fulana”. O amor é lindo... e de mau gosto.

Quando as frases são de caráter religioso, a coisa fica meio confusa, suscitando interrogações daqueles que não têm a profundidade dos homens de fé. A mais comum delas (e a mais criativa também) é “Deus é fiel”. Fiel a quem ou a que ninguém sabe ou pelo menos ninguém falou para esse ignorante que escreve. Outra questão: se Deus é o mestre, não seriam seus seguidores que deveriam ser fiel a Ele e não Ele aos seus seguidores? Não sou a pessoa mais indicada para responder. Sem contar que em Cuba essa frase não deve fazer muito sucesso: “Deu es fidel”.A outra “presente de Deus”, me leva a avaliar a injustiça divina. Por que aquele cidadão merece aquele presente e eu e tantos outros não? O único automóvel que consegui comprar tive que fazê-lo em sessenta longas e salgadas prestações. Será que Deus teria esse prazer perverso?

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