sexta-feira, 5 de março de 2010

Aos velhinhos, com amor

Quando tenho que encarar filas, costumo levar algo para ler. Quando isso não é possível (você pensa que a fila está pequena, não leva nada para ler e se dá mal), fico lendo tudo ao meu redor. Em agências bancárias não falta material de leitura. São tabelas de tarifas bancárias (por enquanto somente não estão cobrando ingressos nas agências), cartazes vendendo seguro residencial, de vida, seguro do cartão de crédito, seguro do seguro, empréstimos para comprar carro, reformar ou construir casa, aquisição da casa própria, propostas (irrecusáveis) de como investir o seu dinheiro, plano de capitalização que promete sorteios de milhares de reais todos os meses, e uma infindável quantidade de serviços bancários. É um verdadeiro mercado!! Só faltam as prateleiras para que o cliente, empurrando o seu carrinho, escolha o que mais lhe aprouver.
Semana passada estava numa dessas filas quando me deparo com um anúncio: “Crédito consignado INSS. R$ 2.000,00. R$ 65,00 x 60 meses.” E emendava: “Prestações que cabem no seu bolso”. Naquele momento de ócio, resolvi calcular por quanto ficaria o empréstimo. R$ 65,00 X 60 meses = R$ 3.900,00. O velhinho incauto pagaria, em 5 anos, quase o dobro do que pegou. As prestações realmente cabem no bolso, só não cabem na inteligência. Quero deixar bem claro que não sou comunista, nem tenho nada contra banqueiros. Como qualquer outro empresa privada, vive do lucro (em 2009, o Itaú lucrou R$ 10,067 bi; o Bradesco R$ 8 bi; o Banco do Brasil R$ 10,1 bi), mas não precisa exagerar. Isso não é busca por clientes, é busca por vítimas!!
Nas sociedades pré-industriais, os idosos eram vistos como fontes de conhecimento. A partir daí, a idade passou a ser um estorvo, pois o idoso, além de não produzir, ainda tem que ser sustentado pelo Estado. Mesmo algumas sociedades primitivas que viviam em ilhas do Pacífico, não viam o idoso com bons olhos. O velhinho era estrangulado (com o seu consentimento) pelo filho predileto, num ritual que envolvia toda a família. O homem moderno fica chocado com tal relato. Deveria ficar chocado com o anúncio do banco. Nesse caso o velhinho está sendo estrangulado pelo bolso.

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