quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

O dia seguinte

Há muito custo abro os olhos. Observo o ambiente, a TV desligada, O rádio tocando uma música que não consigo entender por que a estação está mal sintonizada. Sinto um mal estar terrível, aquele gosto amargo na boca denuncia que, mais uma vez, bebi mais do que o razoável na noite anterior. Sinto uma fraqueza nas pernas e nas mãos que provoca tremores. Finalmente reconheço o lugar onde estou. È o meu quarto! O cérebro ainda encharcado pela noite anterior funciona em marcha lenta. Tento lembrar como cheguei ao meu quarto. Reviro na cama, mas o mal estar persiste. Tento levantar. Péssima idéia!! O mundo gira, a cabeça dói, então resolvo continuar como estou. As lembranças do dia anterior começam a vir aos poucos, espontaneamente. Não adianta forçar a barra. A ressaca não permite pressa. Começo a suar. Sei que não é calor, mas o mal estar da ressaca. Tenho sede, mas não disposição para ir até a cozinha beber água.
Em pleno delirium tremens, tenho a impressão que há alguém ao meu lado na cama. Sinto o cheiro da ausência de amor, sexo feito sob o efeito do álcool. Gradativamente, a minha memória começa a funcionar e a ressaca moral vem com ela. Tento me erguer para ver o rosto dela. Não consigo. Tudo o que queria era que ela não estivesse ali. Na maioria das vezes em que isso acontece, eu não consigo disfarçar o embaraço de acordar com uma estranha na minha cama e algumas delas ficam sinceramente magoadas. Lembro-me que a conheci no bar. Trocamos olhares e a convidei para a mesa, para ficarmos com a minha turma, já que ela também estava acompanhada por amigos. Depois de muita conversa, resolvemos sair para dançar. Dançamos soltos, depois nos aproximamos até ficarmos agarrados, de tal forma que parecia que entraríamos um no outro ali mesmo na pista de dança. Resolvemos ir para o meu apartamento. Quanto mais eu bebia, mais acreditava que tinha achado a mulher perfeita. E ela demonstrou a mesma coisa, não sei se também foi o efeito do álcool. O álcool me leva a um estado de amor eterno, cuja eternidade dura o tempo de uma embriaguez.
Ela se mexeu. Fico esperando quieto de olhos fechados. Ela levanta o tronco e senta na cama. Eu finjo que acabei de acordar:
- Bom dia! - Falo
- Bom dia! – Responde ela- Quem é você?
- Como “quem sou eu”?- Respondo indignado.
- Desculpe-me. Acho que bebi um pouco demais ontem...
- Você vem para a minha casa, bebe comigo, transa comigo a noite toda, dizendo que me ama e agora vem me dizer que bebeu demais. – Interrompo com fingida indignação, mas no fundo indignado de verdade.
Ela vestiu -se e foi embora. Confesso que das vezes em que isso aconteceu com outras mulheres, não senti a falta delas. Mas a sensação de ter sido usado me dá saudade daquela noite.

Um comentário:

  1. "O álcool me leva a um estado de amor eterno, cuja eternidade dura o tempo de uma embriaguez".
    Gostei do texto, Alexandre. É uma narrativa muito bem construída.
    Abraço,
    Jefferson.

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