quarta-feira, 10 de julho de 2013

A noite escura e mais eu – Lígia Fagundes Telles

Lançado em 1995, A noite e escura e mais eu, de Lígia Fagundes Telles, cujo título foi inspirado num poema de Cecília Meirelles, é composto de nove contos, sete deles são contados do ponto de vista de mulheres, os outros dois do ponto de vista de um cachorro e de um anão de jardim. Nesse livro, o 12º de sua vasta produção literária e considerado a sua obra prima entre seus livros de contos, a autora volta a temas recorrentes, como a morte, a solidão, o amor e a velhice. Apostando no absurdo, Lígia mantém seu estilo intimista, mesmo quando seus personagens passeiam em ambientes sórdidos.
É o caso do primeiro conto, Dolly, ambientado nos anos 20 e narrado por Adelaide, uma jovem ingênua e conservadora, que, através de um anúncio de jornal, conhece Dolly, que quer ser artista de cinema. Em Você não acha que esfriou?, Kori, mulher rica e infeliz, se envolve com um homem que é apaixonado por seu marido.  Em O crachá nos dentes, um cachorro, maltratado no circo, assume por algum tempo a vida humana.
Em Boa noite, Maria, a paixão de uma mulher de 65 anos por um homem quinze anos mais novo expõe a crise da personagem diante da velhice e da solidão. Em O segredo, a inocência da menina que, ao jogar a bola no quintal do prostíbulo, tem um vislumbre da prostituição. Uma mulher madura que construíra um passado para si, vê esse passado colocado em dúvida pela professora decrépita que supostamente a perseguira, em Papoulas em feltro negro.
Em A rosa verde, uma órfã de pai e mãe vai viver na fazendo dos tios e, observando insetos e seres minúsculos com uma lupa, vê as semelhanças entre esses e os humanos, com suas crueldades e mesquinharias. A paixão lésbica está presente em Uma branca sombra pálida, quando uma mãe à beira do túmulo da filha, questionando-a como ela foi capaz de se relacionar com uma mulher, ao mesmo tempo em que entra numa disputa de flores com a amante da filha (a mãe leva flores brancas, a amante, vermelhas). Por fim, Anão de jardim, narrado, como o próprio título sugere, por um anão de jardim, que tudo vê e desvenda os segredos dos moradores da casa.

Impossível não ler. Se ler, impossível não gostar...    

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