A imposição de ideias e valores
está na essência de todas as religiões. Toda religião é autoritária na hora de
impor padrões de comportamento aos seus membros. Isso todo mundo sabe. Não se
espera que os rituais, princípios teológicos ou maneiras de agir de determinada
religião se dê por escolha democrática dos seus membros. Mas isso são
mecanismos internos que cada religião. Quem se converte à uma determinada
religião sabe que as coisas acontecem assim. Se convertem por livre e
espontânea vontade. Mas quando as coisas descambam para a intolerância com
outras religiões, o quadro muda e torna-se mais grave.
Aconteceu em Olinda no último
domingo. Um grupo de evangélicos fez uma manifestação em frente a um templo de
umbanda aos gritos de “Sai daí, satanás!” (imagens nos links abaixo). Segundo o
filósofo e babalorixá Érico Lustosa, o grupo forçou o portão do templo e fez
ameaças verbais aos membros da religião de matriz africana. Tudo isso, ainda de
acordo com o babalorixá, seria consequência da morte de uma criança no interior
do estado cujo assassinato foi atribuído a um pai de santo durante um ritual de
“magia negra”. Por essa lógica perversa, teríamos que destruir todos os
automóveis, pois alguns deles atropelam e matam pedestres.
Sei que o assunto é delicado, mas
me atrevo a abordá-lo. A felicidade e a verdade são valores pessoais e intransferíveis. Aquela
verdade que me proporciona felicidade não necessariamente irá ter o mesmo
efeito sobre outras pessoas. Se um sujeito converte-se a uma religião (qualquer
uma!) e sente-se feliz mesmo com todas as limitações aos “prazeres do mundo” que
a religião escolhida lhe impõe, ele está no lugar certo. Mas ele não pode impor
a outrem essa verdade como o caminho da felicidade.
Impor seus valores tem um nome:
intolerância, que é filhote do fundamentalismo. E o fundamentalismo não é
condizente com uma sociedade civilizada e harmoniosa. O fundamentalismo turva o
discernimento e não permite que o sujeito contaminado siga os princípios que
ele mesmo apregoa. Deixemos que cada um
encontre por conta própria a sua verdade e a sua felicidade. Não deixemos que a
Idade Média seja aqui!
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