sexta-feira, 20 de julho de 2012

A Idade Média é aqui


A imposição de ideias e valores está na essência de todas as religiões. Toda religião é autoritária na hora de impor padrões de comportamento aos seus membros. Isso todo mundo sabe. Não se espera que os rituais, princípios teológicos ou maneiras de agir de determinada religião se dê por escolha democrática dos seus membros. Mas isso são mecanismos internos que cada religião. Quem se converte à uma determinada religião sabe que as coisas acontecem assim. Se convertem por livre e espontânea vontade. Mas quando as coisas descambam para a intolerância com outras religiões, o quadro muda e torna-se mais grave.
Aconteceu em Olinda no último domingo. Um grupo de evangélicos fez uma manifestação em frente a um templo de umbanda aos gritos de “Sai daí, satanás!” (imagens nos links abaixo). Segundo o filósofo e babalorixá Érico Lustosa, o grupo forçou o portão do templo e fez ameaças verbais aos membros da religião de matriz africana. Tudo isso, ainda de acordo com o babalorixá, seria consequência da morte de uma criança no interior do estado cujo assassinato foi atribuído a um pai de santo durante um ritual de “magia negra”. Por essa lógica perversa, teríamos que destruir todos os automóveis, pois alguns deles atropelam e matam pedestres.
Sei que o assunto é delicado, mas me atrevo a abordá-lo. A felicidade e a verdade são  valores pessoais e intransferíveis. Aquela verdade que me proporciona felicidade não necessariamente irá ter o mesmo efeito sobre outras pessoas. Se um sujeito converte-se a uma religião (qualquer uma!) e sente-se feliz mesmo com todas as limitações aos “prazeres do mundo” que a religião escolhida lhe impõe, ele está no lugar certo. Mas ele não pode impor a outrem essa verdade como o caminho da felicidade.
Impor seus valores tem um nome: intolerância, que é filhote do fundamentalismo. E o fundamentalismo não é condizente com uma sociedade civilizada e harmoniosa. O fundamentalismo turva o discernimento e não permite que o sujeito contaminado siga os princípios que ele mesmo apregoa.  Deixemos que cada um encontre por conta própria a sua verdade e a sua felicidade. Não deixemos que a Idade Média seja aqui!

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