quarta-feira, 9 de novembro de 2016

O poder e a glória – Graham Greene

“Enfurecia-o pensar que ainda havia pessoas no país que acreditavam num Deus bondoso e misericordioso”.
No final dos anos 30, o escritor Graham Greene viveu no México fugindo de uma ação judicial movida pela Twentieth Century Fox após o escritor te feito críticas à atuação da atriz Shirley Temple (então com oito anos) no filme Wee Willie Winkie (1937). No período em que ficou no país, Greene visitou as províncias de Tabasco e Chiapas, palco de ferozes perseguições a padres católicos nos anos 20, durante a Revolução Mexicana. O resultado das visitas foi o livro O poder e a glória, seu oitavo livro, publicado em 1940 e considerado pela revista Time um dos cem melhores romances do século XX.
“Acreditar em Deus faz as pessoas covardes”.
A história se passa nos anos 20, durante a Revolução Mexicana, quando a perseguição aos padres das regiões pobres do país fez com que mais de 4.000 padres fugissem ou fossem fuzilados como traidores da pátria. Menos dois: padre José, que abjurou da sua fé e casou, sendo constantemente ridicularizado por todos; e o outro, que não ganha nome na narrativa, é bêbado, teve uma filha com uma camponesa e vive fugindo da perseguição policial com o apoio de moradores pobres da região. O terceiro personagem é o tenente, também sem nome, que empreende uma obsessiva perseguição ao padre fugitivo.
“A esperança é um instinto que só o raciocínio humano pode matar”.  
A ironia está nos personagens do padre fugitivo e do tenente que quer “limpar” o país das superstições e da corrupção clerical. Enquanto o padre é pecador, vive seus dramas de consciência e recusa-se a ouvir a confissão dos fieis, o tenente é austero e abstêmio, vivendo indiferente às paixões da carne.  É impressionante a capacidade de Greene de narrar cenas admiráveis, como aquela em que o tenente reúne todos os habitantes da aldeia onde o padre se escondia e este fica esperando ser delatado; ou aquela em que o padre, faminto, disputa um pedaço de osso com uma cachorra moribunda.   

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