domingo, 20 de novembro de 2016

A irmandade da uva – John Fante

“Meu velho nunca quis ter filhos. Queria estucadores e pedreiros assistentes”.
Publicado em 1977 depois de 25 anos de jejum no mercado editorial, A irmandade da uva é um livro pouco citado de John Fante. Diferente de outras obras de Fante em que o protagonista é seu alter ego mais famoso, Arturo Bandini, A irmandade da uva, ao lado de 1933 foi um ano ruim, lançado postumamente em 1985, traça um panorama de várias gerações dos Molise, também uma família de ítalo-americanos que vive às voltas com a pobreza, a escassez de trabalho e o alcoolismo. No entanto, a relação entre os Molise dos dois romances nunca é esclarecida, o que não tem a menor importância, os dois livros podem ser lidos na ordem que interessar ao leitor.
“Era deplorável, miserável embaraçoso, revoltante, desavergonhado, estúpido, grosseiro, feio e bêbado – o pior pai que um homem podia ter (...)”.
Enquanto que em 1933 foi um ano ruim o protagonista é Dominic Molise, um adolescente que luta contra o desejo do pai de torna-lo pedreiro e sonha em ser jogador de baseball, em A irmandade da uva vemos Henry Molise, um escritor de sucesso de 50 anos que retorna para a casa paterna para evitar o divórcio dos pais depois de mais de meio século de casamento. Henry foi o único dos quatro irmãos que conseguiu sair da pequena San Elmo e ser bem sucedido, o que já era motivo de conflitos entre os irmãos, todos eles carregando uma relativa dose de frustrações por sonhos não alcançados. Para complicar um pouco mais as relações familiares, o pai tinha uma personalidade difícil e tirânica.
“Quando sua fraqueza é sua força, você chora. O choro desconcerta as pessoas, elas não sabem lidar com ele, estão esperando violência e subitamente ela desaparece numa poça de lagrimas”.
Nicholas Molise, o irascível Nick, era um pedreiro bem sucedido na pequena cidade da Califórnia, mulherengo, alcoólatra, cujo único objetivo na vida foi, ao que parece, frustrar os sonhos dos filhos. Já idoso, pressiona Henry a acompanha-lo no seu último trabalho como pedreiro, exatamente aquilo de que Henry fugira a vida toda. Ironicamente, isolados nas montanhas carregando pedras e misturando argamassa, esse último trabalho irá aproximar de forma inédita pai e filho.  Para quem conhece a obra de Fante não passa despercebida uma das características dos seus escritos, o caráter autobiográfico das suas histórias.     

Nenhum comentário:

Postar um comentário