sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

O bloco do eu sozinho


Magistral o artigo do escritor e jornalista Carlos Eduardo Doné para a edição de novembro da revista FILOSOFIA Ciência&vida, com o título Amor e relacionamento versus felicidade. Baseando-se nas ideias do filósofo alemão Arthur Schopenhauer e do francês André Comte Sponville, Doné faz severas críticas ao cinema, às letras de músicas, aos livros de autoajuda e até mesmo ao senso comum que estabelecem que somente é possível encontrar a felicidade em dois tipos de relacionamento: aquele ortodoxo, “a dois”, ou num estilo vida hedonista, comumente chamado de “vida de solteiro”. 
Para Schopenhauer, a sabedoria e, por consequência, a felicidade é alcançada pela autossuficiência, pela tranquilidade e pela busca ao ser em si. Para ele, todo desejo, seja o de laços duradouros, seja o de relacionamentos efêmeros, nasce da falta, da carência, e uma vez concretizado, perde o seu valor. Eis uma de suas máximas: “Bastar-se a si mesmo; ser em tudo para si, e poder dizer ‘trago todas as minhas posses comigo’”. Muito semelhante ao pensamento aristotélico: “A felicidade pertence àqueles que bastam a si mesmos”. Sponville afirma que o amor não é o contrário da solidão e sim a união de duas solidões que se completam. Para o pensador, o amor “é a solidão compartilhada, habitada, iluminada pela solidão do outro”.
Realmente, as pessoas não conseguem conceber a ideia de que é possível ser feliz sozinho. A solidão é costumeiramente (e equivocadamente) associada à tristeza. Para muitos, é preferível viver num relacionamento falido e danoso ao seu bem estar a viver somente consigo mesmo. As pessoas não compreendem que a companhia de objetos como livros e quadros pode ser mais salutar que companhia de pessoas. Ou atividades como leitura, escrita e pintura podem ser mais proveitosas do que inefáveis relações sexuais. As pessoas não se acostumaram a voltar-se para si mesmos nem aprenderam a voltar-se para o outro, buscando sempre transformar esse outro numa mero apêndice de si mesmo.
Vou concluir com uma frase do poeta português Fernando pessoa: “A liberdade é a possibilidade do isolamento. Se te é impossível viver só, nasceste escravo”. 

Um comentário:

  1. Achei interessante o texto, parabéns!
    Vou pensar sobre isso.
    Gostaria de deixar aqui um link para outro texto que vai nessa mesma linha, recomendo a leitura:

    “Não se pode esquecer que para ser realmente independente é preciso aprender a passar pela solidão. O amor não é o contrário da solidão, e sim a solidão compartilhada”, diz Darder.

    http://brasil.elpais.com/brasil/2015/01/29/ciencia/1422546931_773159.html

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