sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Não gostamos ou não sabemos ler?


A Associação Nacional das Livrarias (ANL) publicou nessa semana o diagnostico do setor em 2012, apresentando os dados de 716 lojas de todo o país. O resultado é desalentador. A análise foi feita pela alemã GFK e podem ser comparados com levantamentos dos anos de 2006 e 2009, mesmo estes sendo feitos por outras fontes. A primeira tendência é o aumento das grandes livrarias com mais de 100 lojas, que passaram de 6% em 2009 para 15 em 2012 e a diminuição das redes que tem entre 2 e 100 lojas, que passaram de 31% para 22% no mesmo período. O curioso é que a receita com livros caiu: o número de livrarias que afirmam que os livros representam mais da metade do faturamento caiu de 81% para 48%.
As livrarias têm investido na venda de CDs, DVDs e material de papelaria. Dentre os livros, a categoria “religiosos” ganha espaço. Em 2009, 46% das livrarias comercializavam esse gênero, agora são 76%. As livrarias também tem diminuído o espaço para os livros e aumentado o espaço para eventos e cybercafés. O número de livrarias que possuem espaço para eventos aumentou de 16% para 31%. As que têm cybercafés aumentaram de 5% para 23%.  Esses dados seriam uma consequência daquele velho chavão de que brasileiro não gosta de ler?
Pra ser sincero eu nem acredito muito nessa história de que brasileiro não é afeito à leitura. Prefiro acreditar que ele, antes de não gostar, ele não sabe ler. E quando falo que o brasileiro não sabe ler, estou me referindo àquele sujeito que nada mais sabe fazer do que desenhar seu nome numa linha pontilhada na parte de baixo de um documento. Ser alfabetizado não é apenas isso! Ser alfabetizado é conseguir ler e entender o documento que assinou. Ou ler e interpretar um texto de tamanho médio ou longo. Os dados do inaf (Indicador de Analfabetismo Funcional) mostram que no Brasil abundam analfabetos com nível médio e até superior: 65% dos que terminam o ensino médio não conseguem ler e entender um texto longo; 38% dos que terminam um curso superior tem deficiência de leitura e escrita.
Sou um leitor voraz. Minha relação com os livros é existencial ou, até mesmo, umbilical. Mas não sei como me tornei esse leitor que devora quase 70 livros por ano. Não tive grandes exemplos durante a infância, exceção feita às minhas irmãs que liam aqueles romances açucarados Sabrina, Bianca e Júlia (terá sido isso?). No ensino fundamental, numa escola particular, e no ensino médio, numa escola pública, os professores adotam aquela velha estratégia de passar clássicos da literatura (José de Alencar, Machado de Assis) para lermos. Essa é uma boa estratégia para afugentar qualquer futuro leitor. Mesmo assim a escola não conseguiu estragar esse meu amor pelas palavras.
Por isso é essencial alfabetizar a criança no ensino fundamental, não no ensino médio ou superior, como acontece... às vezes. É necessário também desenvolver técnicas de leitura nas escolas para que a criança faça da leitura um hábito prazeroso, não uma obrigação enfadonha. Quem sabe dessa forma o brasileiro se torne mais leitor. Afinal, o brasileiro não ler por que não gosta. O brasileiro não ler por que não sabe...  

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