sexta-feira, 23 de maio de 2014

Um povo bipolar


Se pudéssemos diagnosticar o povo brasileiro com uma doença, com certeza poderíamos dizer que o brasileiro padece de uma espécie de Transtorno Bipolar, oscilando momentos de liberalidade excessiva e momentos de um ferrenho conservadorismo medieval. O principal sintoma desse mal, no caso desse povo que fala um misto de português e língua nativa e que vive em regiões abaixo da Linha do Equador é uma profunda hipocrisia de caráter crônico e progressivo.
Entre tantos, poderíamos ver o caso do filme Praia do futuro, uma co-produção entre brasileiros e alemães, do diretor Karim Ainouz, que estreou recentemente e que tem uma cena de sexo entre um salva-vidas e um piloto, interpretados pelos atores Wagner Moura e o alemão Clemens Schick, respectivamente. Em Niterói, na Grande Rio, em São Luís, no Maranhão e em Aracaju, em Sergipe, espectadores retiraram-se do cinema, constrangidos com a cena.
Em João Pessoa, o público é avisado na entrada sobre a cena de sexo homossexual e o ingresso vem carimbado com a palavra “avisado”. O curioso é que ninguém é avisado se o filme tiver cenas de sexo hétero ou de violência. Ver cena de pessoas se matando pode. Ver cenas de pessoas fazendo sexo, não. Alias, pode desde que essas pessoas sejam de sexos diferentes.      
Em Sergipe, um imbecil travestido de espectador de cinema diz que se sentiu “constrangido” ao ver três cenas de sexo homossexual em 30 minutos e se retirou do cinema. Mas se ele tivesse visto três assassinatos em 20 minutos nesses filmes hollywoodianos onde se mata por hobby, será que a reação seria a mesma?

Ser conservador não é crime nem demérito. O que causa repulsa no povo brasileiro é essa bipolaridade. Para os “gringos”, somos um povo cordial, liberal, cujas beldades desfilam seminuas no verão escaldante dos trópicos, para deleite dos “branquelos” que vem ao Brasil e se derretem em elogios a esse povo tão “receptivo”.

Para consumo interno, a postura é de intolerância não apenas quando o assunto é orientação sexual. Essa postura de inobservância aos direitos elementares do próximo é vista em todos os níveis: o brasileiro é racista, apesar de ser um povo mestiço (vira-latas mesmo!); na política, Bolsonaro, um notório brutamonte intolerante, já tem até movimento conclamando a sua candidatura à Presidência; as mulheres são importunadas sexualmente no ambiente de trabalho, nas ruas, na escola com muita naturalidade. Como soltar “gracinhas” para uma mulher fosse algo muito natural!

O “cidadão de bem” que se indigna com uma cena de sexo homossexual na TV ou no cinema, em muitos casos é o mesmo que deixa sua “respeitável” família em casa e recorre aos serviços de travestis nas esquinas dos centros urbanos brasileiros. Eis o brasileiro: uma imagem para consumo público, outra imagem para os mais “íntimos”.

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