domingo, 14 de agosto de 2011

Caro Francis

O politicamente correto é chato e monótono. Tão chato como a Missa do Galo celebrada pelo papa Bento XVI. Tão monótono como viver na Finlândia. O politicamente correto não polemiza. Nada mais chato e monótono do que uma vida sem polêmica. Um texto politicamente correto é tão emocionante quanto um filme iraniano. Eu comparo o discurso politicamente correto àqueles discursos que se faz sobre o morto em pleno velório. Ninguém fala mal, o morto era uma maravilha (mesmo que não tenha valido nada), uma pessoa que só construiu. Que só praticou boas ações. Um discurso politicamente correto só não é mais chato do que os discursos de Fidel, que são imbatíveis. Prefiro assistir a Angélica apresentando o Vídeo Game.

No sábado à noite assisti o documentário Caro Francis, do jornalista Nelson Haineff, sobre o também jornalista Paulo Francis (foto). Nada mais politicamente incorreto do que Paulo Francis. Mordaz, cáustico, polêmico, contraditório, brigão, temperamental. Assim era Paulo Francis. Só não brigou com Deus, por que questionava sua existência, mas o mundo entrou no seu rol de desafetos. Mesmo aqueles que elogiava, eram alvo dos seus comentários incisivos, como foi o caso do então presidente Fernando Henrique Cardoso, que num momento era o maior estadista do mundo, e logo depois era um presidente vacilante.

Paulo Francis era um homem fora de sua época, e exatamente por isso era polêmico. Quando ninguém era ou tinha medo de ser de esquerda, Paulo era trotskista. Quando ser de esquerda era charme e quase uma palavra de ordem, ele tornou-se conservador. Às vezes era insensato. Como quando disse que era um absurdo um nordestino caipira como Gustavo Krause (que era pernambucano) ser nomeado ministro. Era insensato, é verdade. Fala muitas vezes besteiras, também é verdade. Mas pensava. E numa época em que predomina o jornalismo chuchu, com seus discursos insípidos politicamente corretos, Paulo Francis faz falta.



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