"Gangue da Matriz"

“Liberdade pressupõe responsabilidade”. Assim o hoje deputado federal Giovani Cherini (PDT-RS) tentou justificar a ação que move contra o músico Tonho Crocco (foto acima). Cherini era presidente da Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul quando, no final do ano passado, os deputados concederam o aumento de 73% nos próprios salários, que pularam de R$ 11.564,76 para R$ 20.042,34. Crocco, em forma de protesto, compôs o rap “Gangue da Matriz” (http://www.youtube.com/watch?v=SukPLNWgY7M), que relaciona o nome dos 36 deputados que votaram a favor do aumento. Hoje deputado federal, Cherini afirmou através da sua assessoria, que pretende retirar a ação contra o músico.

Cherini tem orgulho de ser o deputado da assembléia gaúcha recordista de projetos aprovados entre 1995 e 2010. Ele é o autor de projetos que instituíram o dia do chimarrão, o dia do churrasco e o dia da torcida gremista. Sem contar que o deputado tem um currículo digno de orgulho, ostentando o certificado de “Aprendiz de mago”. Esse certificado ele conquistou após participar do curso para desenvolver a espiritualidade “Avatar Resurfarcing”, em Salvador, que durou nove dias. Ele afirma de pés juntos (separados também) que tudo foi bancado com recursos próprios. Mas isso é o de menos. O importante é o orgulho que o povo gaúcho dever sentir do seu representante. O que justificaria o salário de mais de vinte mil reais.

O “auto-aumento” de salários não é, infelizmente, um privilégio da Assembléia Legislativa gaúcha. Muito menos do legislativo. O Poder Judiciário também adora fazer “justiça” com as próprias mãos. Os auto-reajustes não são ilegais, mas são imorais e só engordam os bolsos de deputados, juízes e desembargadores. Enquanto assistimos várias categorias profissionais Brasil afora mendigando aumentos que não passam dos 5% (“a inflação do período”, de acordo com a cantilena do governante de plantão) deputados e membros do judiciário se deleitam com aumentos para si que extrapolam, em muito, a tão malfadada “inflação do período”. Eles têm a liberdade de se auto-concederem aumentos vultosos. Mas será que têm responsabilidade?