segunda-feira, 20 de junho de 2011

Porvir

O escritor Sérgio Rodrigues não aconselha um escritor começar uma história afirmando que o personagem abriu os olhos ao acordar. Segundo ele é clichê! Tudo bem que Kafka começa “Metamorfose” mais ou menos dessa forma, mas tudo bem. Kafka pode. Se seguir o conselho do Sérgio Rodrigues vou ficar numa situação complicada por dois motivos: o primeiro é que sempre abro os olhos quando acordo (creio que não apenas eu); o segundo é que a história que quero contar começa quando eu acordo. Logo, não me resta muita alternativa. Sem querer comparar o incomparável: se Kafka pode, eu também posso. Mas Kafka não ficaria incomodado com a comparação se vivo fosse, pois não haveria concorrência entre nós, já que não sou escritor, quero apenas contar uma história de um sonho acordado, como também não tenho o talento do escritor tcheco. Mas vamos lá!

Abro os olhos quando acordo e fico tentando lembrar-me do sonho que tive. Durante muito tempo tive a certeza de que não sonhava. Mas como dizem que sempre sonhamos, cheguei à conclusão que, na realidade, eu nunca lembro o que sonho. Mas o sonho não lembrado deixa vestígios em mim, fragmentos que ficam lutando para alcançar a minha memória numa briga inútil. Ele nunca vence! Apesar de não lembrar-me do sonho dessa noite, o fragmento do sonho dá a impressão de ter sido bom, pois sinto uma leveza no espírito, uma lascívia irrefreável. Devo ter sonhado com sacanagem, concluo. Apesar de que devo sonhar com sacanagem quase todas as noites, pois sempre a libido desperta comigo.

Sempre acordo com o pênis intumescido (de pinto duro, em outras palavras). Uns dizem que o relaxamento da musculatura durante o sono faz com que uma maior quantidade de sangue migre pra os vasos do pênis, provocando a ereção; outros dizem que é o famoso “Tesão do mijo”. No meu caso é lascívia pura e simples. Acordo com a imaginação fertilíssima. Começo a imaginar todas as fantasias inconfessáveis. Imagino aquilo que não ouso imaginar no restante do dia, para não correr o risco de alguém ver ou ouvir a minha imaginação. O pênis fica cada vez mais duro à medida que a imaginação avança. Pressiono-o contra o colchão, transformando-o em amante imaginária. Nessas horas, torno-me mais audacioso e garanto a mim mesmo que vou mandar um e-mail ou uma mensagem de celular para a coadjuvante das minhas fantasias, confessando o inconfessável. Essa empolgação dura (sem trocadilhos, por favor) até a hora do banho, o melhor momento do dia. Depois vem o sepultamento no escritório... Até amanhã...

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