quarta-feira, 10 de agosto de 2016

Carol – Patrícia Highsmith

“Seria quase amor o que ela sentia por Carol, só que Carol era uma mulher. Não chegava a ser loucura, mas certamente lhe deixava feliz”.
Therese Belivet é cenógrafa recém-formada e trabalha na seção de bonecas numa loja de departamentos. Carol Aird é uma dona-de-casa misteriosa e linda. Therese trabalha como vendedora enquanto tenta construir a carreira de cenógrafa de teatro. Carol está recém-separada e disputa a guarda da filha com o ex-marido. As duas vão se conhecer no local de trabalho de Therese quando Carol procura uma boneca para presentear a filha em um natal dos anos 50.
“E não precisava perguntar se aquilo estava certo, não era da conta de ninguém, por que aquilo não poderia ser mais certo e perfeito”.
Desse momento em diante, os encontros entre as duas serão frequentes. E os dramas também. Therese namora Richard, mas não terá muito problemas em pôr um fim no relacionamento. Já Carol começa a ser chantageada pelo ex, que descobre a relação e passa a pressiona-la a abrir mão da guarda da filha. Para fugir da tensão do divórcio, Carol convida Therese para uma longa viagem de carro. É durante essa viagem que grande parte da trama se desenrola.
“Porém a questão mais importante não foi mencionada nem pensada por ninguém – que o ajuste entre dois homens ou duas mulheres pode ser absoluto e perfeito, de um modo que jamais pode ser entre a mulher e o homem, e que talvez certas pessoas desejam exatamente isso...”
Publicado em 1953 com o pseudônimo de Claire Morgan, Carol é o segundo livro da escritora norte americana Patrícia Highsmith. E é mais do que justificado o uso do pseudônimo. Contar uma história de amor entre duas mulheres numa época em que a luta das mulheres por direitos iguais ainda engatinhava e o direito de amar outra pessoa do mesmo sexo se mostrava algo impensado era, no mínimo, um atrevimento desmedido. Mas ela conseguiu a façanha com um texto que permite uma leitura ágil. Destaque para as descrições de várias cidades americanas nos anos 50, que a autora consegue fazer muito bem. 
“– Já se apaixonou por um rapaz? 
– Um rapaz?– Richard repetiu, surpreso.
– É.
Talvez tenham se passado uns cinco segundos, antes que respondesse:
– Não – num tom positivo e final.
(...)
– Já ouviu falar nisso? – ela perguntou.
– Ouvir falar? Você diz, de gente assim? Claro – Richard estava de pé, enrolando a linha em forma de oito.
Therese disse, com todo o cuidado, porque ele estava prestando atenção:
– Não estou falando de gente assim. Estou falando de duas pessoas que se apaixonam de repente uma pela outra, sem mais nem menos. Por exemplo, dois homens ou duas moças".

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