domingo, 14 de agosto de 2016

Bom crioulo – Adolfo Caminha



”Como é que se compreendia o amor, o desejo da posse animal entre duas pessoas do mesmo sexo, entre dois homens?”
Quando foi publicado, em 1895, Bom crioulo, do escritor cearense Adolfo Caminha causou polêmica, pois trazia como personagem principal Amaro, um ex-escravo homossexual que se torna marinheiro. Essa obra pode ser considerada a primeira obra com temática gay da literatura brasileira. De físico avantajado, bom trabalhador e obediente (daí o apelido “Bom crioulo”), Amaro se transforma quando bebe, tornando-se agressivo.
“E consumou-se o delito contra a natureza”.
Aleixo, um grumete loiro (marinheiro de posição inferior), ainda imberbe, de apenas 15 anos, chega para servir na mesma corveta em que Amaro trabalha, mexendo com o coração do ex-escravo. Ingênuo e ligeiramente afeminado, o jovem grumete termina se tornando amante de Amaro, que o leva para morar num quartinho na pensão de D. Carolina, amiga do Bom Crioulo. Em um dos longos períodos em que Amaro fica embarcado, D. Carolina seduz o jovem Aleixo, despertando a fúria do amante traído.
“Agora compreendia que só no homem, no próprio homem, ele podia encontrar aquilo que debalde procurara nas mulheres”.
Pertencente à escola literária do Naturalismo, que destaca os ambientes sujos e sórdidos (numa clara contraposição ao Romantismo, em que tudo era perfeito e ideal) e defende a teoria do determinismo, onde a personalidade do ser humano é definida pelo meio em que ele vive, não havendo livre arbítrio, Bom crioulo foi um livro de conteúdo explosivo para a época por retratar não apenas um romance entre dois homens (o que, por si, já seria um escândalo), mas por trazer a história de um amor inter-racial, o negro Amaro e o loiro Aleixo. 

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