domingo, 21 de agosto de 2016

Apartamento 41 – Nelson Luiz de Carvalho

"Certo de que havia um desvio moral em meu caráter, passei da infância à adolescência aprendendo a mentir, como na vez em que comecei a namorar Berta só para ficar próximo do irmão dela, meu querido Dori."
Podemos afirmar com segurança que o escritor Nelson Luiz de Carvalho amadureceu muito a sua narrativa no intervalo de sete anos que separa O terceiro travesseiro, seu primeiro romance, e Apartamento 41, publicado em 2007. No seu segundo romance, o principal personagem da trama deixa de ser jovens descobrindo a sexualidade e passa a ser um homem maduro que reprimiu por anos a sua verdadeira identidade sexual em nome da família.
“Envolvido demais nesse admirável mundo novo, já não consigo só me masturbar pensando em alguém; tenho de me realizar nesse universo de corpos em que beijos e olhares insinuantes predispõe um inusitado balé de falos”.
Leonardo trabalha numa editora de revistas, casado há mais de uma década e pai de uma criança de cinco anos.  O cidadão modelo para os padrões tradicionais se não fosse por um detalhe: Leonardo é homossexual e sente o vazio de quem não suporta mais levar uma vida dupla, fazendo papel de pai e marido por um lado e, por outro, buscando prazeres com homens em lugares obscuros e marginais.
“Não quero que o futuro me seja indiferente, por eu interpretar com a máscara da obediência meus verdadeiros sentimentos”.
As dificuldades para quem está numa situação semelhante à de Leonardo não são poucas. A primeira delas é contar para a esposa e enfrentar a sua frustração por se sentir enganada em seus sentimentos. Decidido a assumir a sua verdadeira personalidade, Leonardo se depara com outros dilemas: como encontrar novos parceiros? Que lugares frequentar? Vencida mais uma etapa, vem a exposição e Leonardo, antes o queridinho do patrão conservador, perde o emprego depois que esse descobre a sua condição sexual. As provações não para por aí: Leonardo sofre com a falta de compromisso de vários parceiros e com as desilusões com o gueto homossexual.    
“Acostumado ao cabresto social, nunca sei se estou mais próximo de Deus ou do Diabo”.
E Nelson consegue retratar todo esse drama com maturidade entremeado de momentos quentes e eróticos (e bastante interessantes...)

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