domingo, 27 de dezembro de 2015

Umidade – Reinaldo Moraes

Em 2005, Reinaldo Moraes publica Umidade, com dez contos, seu quarto livro, mas o primeiro de contos. Uma curiosidade é que Pornopopéia, que seria lançado em 2009, era o décimo primeiro conto desse livro. Como era muito longo (60 páginas), o editor Luiz Schwarcz falou que estava mais para “romance inacabado” do que para conto. “O que vou fazer com esse romance inacabado? Acabar!”, pensou Reinaldo, dando origem ao seu melhor livro, em minha opinião.
Mas voltando à Umidade. O conto que dá título ao livro traz a história de Liminha, um jovem profissional da “nova economia”, bem sucedido nos negócios, mas que tropeça nos seus ideais de mauricinho por causa de Mariana, “a mulher mais gostosa do cone sul”, segundo ele próprio, uma criatura virginal sempre vigiada de perto pela mãe, uma matrona portuguesa que quer a todo custo preservar a pureza da filha.
No primeiro conto, Love is..., Nóris nos mostra que pior do que marido, só ex-marido. Fantástico é o diálogo entre Horácio e Maria Helena em Sildenafil. Com anos de casamento no currículo, os dois conversam na cama antes de Horácio tomar o Viagra. Porém, antes mesmo do remédio fazer efeito, uma discussão sobre neuroses e picuinhas do casamento destrói um possível bom desfecho da noite. Em Bijoux, Edu, depois de levar um pé na bunda da namorada, acredita que se deu bem ao achar uma carteira cheia de euros no aeroporto e sair com dois mulherões.
Os personagens de Reinaldo Moraes são tipicamente de classe média, com sonhos que, geralmente, se transformam em pesadelos (se já não o são). Como diz Marcelo Mirisola na orelha do livro, o habitat natural desses personagens “é uma imensa e úmida colônia de bactérias morais chamada ‘classe média’”. 

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