quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

O irmão alemão – Chico Buarque

O já mais do que consagrado Chico Buarque não precisa de pressa. Aos 71 anos, pode se dá ao luxo de fazer o que quer no ritmo que desejar. Como cantor e compositor, lançou um disco a cada cinco anos, em média. Como escritor, nos últimos 25 anos publicou cinco romances. O quinto romance, O irmão alemão, publicado no ano passado, é, na verdade, um misto de ficção e autobiografia. Em nenhum momento fica claro para o leitor o que é verdade e o que é fruto da fértil e prolixa imaginação do autor.
Francisco, filho do intelectual Sérgio de Hollander, acha, entre os livros do pai, uma carta de uma mulher alemã datada do início dos anos 30, época em que Sérgio realmente morou na Alemanha. Nas cartas, a tal mulher fala do nascimento de uma criança que seria filha de Sérgio e, obviamente, irmã de Francisco. Chico cria confusão no leitor ao deixar a dúvida, apesar das coincidências dos nomes, se o que é relatado é ficção ou realidade. Afinal, a mãe de Francisco, uma típica italiana escandalosa, em nada se assemelha com a mãe de Chico e o irmão do personagem é vítima da Ditadura Militar, fato não acontecido na vida do autor.
Fazendo uso de pistas encontradas entre as páginas dos livros do pai (fotografias e cartas), Francisco sai em busca do irmão alemão, chamado de Sérgio Ernst. Ao contrário de Chico, Francisco parece ser dotado de poucos talentos, caçula preterido pelo pai que prefere o irmão mais velho, mais bonito e mais popular (aquele que será vítima da Ditadura). Para confundir um pouco mais o leitor, o fato é que Chico tem um irmão alemão de nome Sérgio e o livro traz fotos do irmão e da viagem que Chico fez à Alemanha para conhecê-lo, o que ficou impossível em virtude da sua morte no início dos anos 80.

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