quinta-feira, 16 de julho de 2015

Mendigo letrado – 2ª parte

Recebi críticas de colegas pelo título do post do dia 28 de junho último. Resolvi refletir, pensar, matutar. Andei pra lá e pra cá, divaguei, ruminei, ponderei, devaneei, raciocinei e resolvi ceder. Tudo bem, retiro o “letrado”. O “mendigo” não tem como tirar, afinal é assim que o professor é tratado, se sente e se comporta no Brasil. Admitamos que existam professores que leem, escrevem, produzem e são seres pensantes. Mas temos que admitir também que a categoria é formada, no Brasil, por uma massa de seres incapazes de pensar de forma minimamente complexa. É uma categoria formada, numa quantidade nada desprezível, por meros reprodutores do livro didático. Aliás, podemos afirmar com segurança que a grande maioria tem como única leitura o livro utilizado durante as aulas.
Estou exagerando? Experimente perguntar ao professor do seu filho quantos livros ele leu nos últimos seis meses. Caro colega, experimente perguntar ao seu colega de profissão quantos livros há na sua biblioteca particular (não vale livro didático), se que é que ele possua uma. Ou será que o fato de alunos chegarem ao ensino médio mal sabendo ler e escrever é culpa somente dos indisciplinados aprendizes? Não tem como um professor ensinar a seu aluno o amor pelos livros se o próprio mestre desconhece tal sentimento. Não tem como o professor transmitir aos alunos a magia que há na leitura se o próprio não tem tal prática.
Estou exagerando? Lembro-me de um fato ocorrido na sala dos professores de uma escola em que trabalhei. A coordenação pedagógica apresentava aos mestres os novos livros da Educação de Jovens e Adultos (EJA) enviados pelo Governo Federal. De repente, todos escutam um grito de revolta, de autêntica indignação de uma professora, que bradando o seu maltrapilho livro didático de páginas ressequidas, amarelecidas e quebradiças como se uma arma fosse, pergunta:
- Vou ter que ler tudo de novo?
Com olhar vidrado e lábios trêmulos, a nobre professora parecia uma guerreira que, prestes a ir pra frente de combate, se depara com a substituição de seu velho e eficiente fuzil por uma arma menos eficiente. Mas não era nada disso. A professora só mostrava sua indignação diante do fato de que teria que ler todo o livro recém-entregue quando ela já tinha o seu aguerrido alfarrábio na ponta da língua. E exemplos como esse pululam no seio dessa categoria que chama para si a responsabilidade de ser a elite pensante da sociedade na hora de reivindicar benesses, mas se comporta como analfabetos na hora que são obrigados a pôr seus sofridos e enferrujados cérebros para funcionar.
Estou exagerando?

Nenhum comentário:

Postar um comentário